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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A folha em branco

Escrever é uma árdua tarefa. Exige disciplina; o que contraria a habitual falta de educação.
Na última exposição que fizeram sobre alguns escritos e vídeos e depoimentos de Clarice Lispector, ela relatava sobre a famosa angústia do papel em branco. Tinha que escrever para sobreviver...o que não era bem verdade, pois a escrita é que sobrevivia brilhantemente nela. Ao mesmo tempo essa obrigatoriedade é que conduz ou é conduzida à tal disciplina. É como malhar. Tem que se ter uma frequência.Senão, a flacidez - que é até bonitinha em algumas espécies- dá Há-Deus.
Alguns notáveis dessa arte admoestam que ao menos uma frase há de ser dita-escrita por dia.Houve época em que portava uma espécie de guardanapo , nos bolsos das roupas que circulavam pelo mundinho._' Mas porque um guardanapo e não um papel comum.?'- Indagara um curioso não praticante. " Por que é mais romântico!"- disse-lhe eu sem ao menos saber o que estava respondendo.
Parece piada , mas o guardanapo fez falta em diversas situações.
E os sonhos? Deveríamos anotá-los também. Aquela maravilha de confusão, aquela riqueza onírica toda que o velho Freud teve tanta lucidez em desvelar ao afirmar que eles já estavam revelados nos relatos de cada um.
Os dois volumes da Interpretação dos Sonhos são duas das maiores obras científicas e literárias de todos os tempos.Além de ser um texto acessível a qualquer um....que ,obviamente, sonhe e acorde para continuar sonhando.Freud recebeu por ela- não somente por ela, mas é dela que estamos falando agora-, o prêmio Goethe de literatura.
O velho foi um herói. Diante de tantas tragédias, ou seja, das formações irreversíveis, não sucumbiu e teve postura exemplar. Postura psicanalítica, é claro. Logo, postura daquele que sabe articular, fazer articulações, ou seja, um artista.
Algo extremamente difícil. Um exercício permanente, assim como a escrita.
Na Microfísica do Poder - livro conhecido e adorável de Foucault- a escrita está condenada a um segundo plano ,no que diz respeito ao seu futuro enquanto potência persuasiva. Outras artes advirão. Estão todas aí a serviço da tecnologia. Sempre estiveram por aí com os seus textos específicos: a dança, a música, as artes plásticas, o cinema tão potente...quando bem escrito.
Talvez o mestre Foucault estivesse se reportando ao fato de que as grandes obras literárias estão cada vez mais escassas ou desapareceram de vez. Assim como na música erudita.
O virtuoso pianista Vladimir Horowits ( é assim mesmo que se escreve o sobrenome daquele gênio?) chegou a pegar um concerto de Beethoven ( Acho que foi de Beethoven ) que estava inacabado - teria sido a sinfonia inacabada?-, e se intrometeu naquilo. Escreveu lá: " Beethoven e Vladimir". Quase foi linchado.
É normal....Noutro dia , o sábio perguntou: 'aonde será que andam os poetas de hoje'. O outro sabiamente respondeu: ' Talvez sejam os hackers!'
Esses passeiam pelos nossos computadores. Invadem nossos corpos quando eles sonham, dormindo ou não. Bagunçam as nossas vidas e também as dos inimigos. Puxam literalmente os nossos tapetes que tampouco são tapetes e tampouco estão lá.São inconformados. A língua os limita. Ele, poeta, a atravessa.
A folha em branco agora é como cão sem dono.Oscila pra lá , pra cá, acolá, vai, vem.......revira.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

cabrochas

O Rio de Janeiro mescla gente de todos os cantos e sabores. O canto é alegre e afinado. Malemolentes que se preparem , pois o samba está de volta. Na verdade, jamais esteve de partida.
Ele dita o rumo e ritmo das cabrochas loiras ou menos loiras. As mulatas , que me perdoe Di Cavalcanti, é uma variação de loira, morena e ruiva. São , portanto, singulares. As mais singulares que desfilam por aí. Millôr já vociferara: ' O melhor movimento feminista que há é o dos quadris' .
Concordo com o mestre. Por certo, apanharemos muito. E se descobrem a minha cepa orgulhosamente freudista porque magniniana, barulho maior haverá.Com muito prazer!
Sejam bem vindos ao mundo de Sargento, Alfaiate,Aragão, Martinhos e Paulinhos,de Violas e Vilas e de toda cidade. Arrancando Varsovianamente pelas curvas de nossas montanhas e das cabrochas que ali não só cantam , encantam.
Temos Cidade da Música, cujo batismo é eufemismo de Césares. Ah! Os Césares! Júlio foi o maior. Irmão mais velho do Cristianismo? Com outro sabor, é claro, mas estava por ali, alguns ensinamentos! Acabou morto....como sempre. E eles, candidamente ensanguentados , se perguntavam aflitos, à beira da morte que não há: " Até Tú, Brutus!". "Pai. Eles não sabem o que fazem!" Como não sabem? Inimputável somente o meu rim, viciado em H2O.Já o meu cérebro prefere um bom tinto.
Ao menos a Cidade-Música receberá sons grandiosos compatíveis com a sua magnitude. Do clássico de verdade ao não menos genial maneirista .Assim esperamos.
Menos para essa vulgaridade oportunista Funk ou para porra louquice mimada Punk e outros Unks possíveis. Isso não é intolerância. É conceito, é fato. Perguntem ao grande Ariano Suassuna e ele lhes reponderá sobre os Unks que insistem em apurrinhar os tímpanos que podem escutar.
Não há regime democrático para o inconsciente. E se não há inconsciente, não há gente.Logo,
sou doente do pé e da cabeça também sou ( fiquei careca aos 27 anos e descobri que era culpa da minha mãe que não era careca), mas aprecio um bom samba e os seus recheios.

E o ano acabou?

Dois artigos chamam a atenção no Jornal o Globo, do dia 29/12. Um assinado por um jornalista britânico do 'Independent' e outro por um advogado de sobrenome Rocco, cujo primeiro nome não me recordo, mas já providenciei o meu "Ginkgo biloba". Ambos muito lúcidos.
O primeiro abordava a nova baixaria que acontece no Oriente Médio. Creio que não exista camisa de força suficiente para todos os sanguinários malucos que habitam a região. O fetiche pela barbárie parece não ter fim. No artigo, o tal jornalista afirma que ambos os lados incorrem em erros sérios e a resposta obtida é sempre a mesma: carnificina desnecessária. Na verdade, não é bem assim. As carnificinas sempre tiveram objetivos bem definidos: disputa de poder e pelo poder.As que, ao longo de séculos,foram patrocinadas pela santa igreja ( Inquisições, etc) foram das mais cruéis, o que é pura redundância.
Desde a criação do Estado de Israel , em 1948, que milhares de Palestinos foram expulsos ( aproximadamente 700 mil) ou massacrados. A disputa é acirrada entre irmãos nômades e sedentários de última hora. A intolerância por parte do lado árabe também não é recente. Querem o extermínio dos vizinhos a qualquer custo. Racismo estúpido. Propõem não somente um genocídio, mas um suicídio geral. Podemos até brincar um pouco , tal qual o fez, há anos atrás, o Humorista de origem judaica, Juca Chaves. Teria dito o menestrel : " O grande erro de Moisés foi não ter conduzido o povo hebreu para uma terra que tivesse petróleo".
E o petróleo ainda mantém grande parte dos países ocidentais reféns dos seus encantos negros.
E a disputa Islã- Israel mantém viva a tolice perversista da criação de novos mártires. De ambos os lados, pois mártires não são somente aqueles que se explodem supondo atravessar um mundo e atingir o imundo, ou seja, o outro mundo vislumbrado: quanta ambição! Quanta arrogância!Quanta bobagem!
Mais uma vez o populismo triunfará. A tal da humanidade e sua história no mínimo esquisita e fracassada desabam cada vez mais na cafonice e boçalidade.Ambas muito bem financiadas pelos fariseus de ocasião.
Ao menos os de Wall Street perderam um pouco da pose. Se bem que a punição lá, assim como aqui nos trópicos, é leve. Não se pode mexer no patrimônio do Gangster que, aliás, só tem glamour no cinema , com a pipoca e o refrigerante geladinho.
O amor tem dessas coisas....
O outro texto me chamou a atenção pela coragem em relembrar o Ai 5- quarenta anos esse ano que finda (finda?)-, e alguns dos seus males. Por exemplo: a lei que considera o usuário de droga necessariamente um criminoso.
O que é curioso é que o número de usuários de drogas sintéticas , produzidas em laboratórios, só faz aumentar. O Ecstasy e outros barbitúricos e outros anti-depressivos (vitamina de neurótico sem -vergonha) disparam no Hit -Parade.Só de anti-melancólicos, quero dizer anti-depressivos, listei recentemente no CID -10 E no Dsm 4 , reguladores das doenças psiquiátricas, uns 15 novos. São ministrados conjuntamente - tricíclicos, cíclicos, etc-, atingindo diferentes regiões do Sistema Nervoso Central . Já que não sabemos ao certo aonde vai parar isso tudo, vamos experimentando, com o c....dos outros , é claro.Os efeitos colaterais no nosso corpo são as formações mártires da "moderna psiquiatria". Ninguém mais fica exausto, após uma batalha , seja nas colinas de Golã ou diante do computador e sua recalcante tela em branco. A desse Blog possui uma vantagem; ela é meio verde-piscina, meio cinza, meio sei lá o quê.
Tampouco alguém ainda fica triste. Ficamos deprimidos. Existem frequências, intensidades e sobretudo algumas particularidades na história e no momento de quem relata sobre o seu mal estar. Não somente uma rede sináptica determina estados comportamentais ou discorre sobre o coração das razões , tal qual o meu mestre já ensinou.
Somos uma espécie viciada. De preferência em vários e diversos tesões. Meu organismo não resiste sem H2O e sem uma quantidade mínima de proteína e glicose.O tal do rim é viciado compulsivo e inimputável. Se o provocarmos demais , ele petrifica.É muito rancoroso o tal do rim.
Portanto, o Legislativo brasileiro deveria , ao menos , se aproximar do seu tempo. O cinismo contemporâneo está acertando o próprio traseiro.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O torcedor e o tempo

Sentaram-se lado a lado. Um vestia o uniforme do clube, o outro apenas olhava. O estádio cheio celebrava uma festa por vir ou uma tragédia a lastimar. Cores e cânticos e algumas celebridades, vulgares ou não, e anônimos. Muitos anônimos. Felizes, sorriedentes, alguns bêbados. A lei seca chegou ao estádio: só se bebe cerveja sem álcool. Nada mais estúpido! Cerveja sem álcool, camisinha, Garotinho ainda na política e outras estupidezes.
Logo, nos arredores do estádio, bebe-se e muito.
Nos meus tempos de jovem, via-se o jogo. Até porque havia jogo para ser apreciado. Tínhamos os craques todos por aqui. A Europa era muito mais distante. O Japão então...era mais longe que Marte. Um parente se aventurou por aqueles lados e quando retornou teve que explicar que não era um alienígena. E que tampouco trazia um nas sua mala de mão.
Sabíamos os times todos. A escalação era sagrada e no estádio repleto o locutor anunciava o camisa 10 da Gávea! Tinham outros camisas dez , mas para esse espaço aqui não importa agora.Eram anônimos pra minha audácia de menino.
O Maracanã sempre foi um local para catarse. Das mais brilhantes até as mais boçais, normalmente as mais comuns, as tais boçais.
De um ponto para o seu oposto , não há mediação necessária. Muda-se da alegria, do regozijo, para o ódio e decepção, num átimo de segundo. O herói e o vilão tem a mesma cara , o mesmo cheiro. Vestem a camisa idolatrada e a mais detestada.
O time do coração e do pulmão e dos rins também faz um gol, faz dois e faz três. Uma celebração de humores. Os dois torcedores, o vestido pra festa e o que acompanhava, apertam a mãos e sorriem.Não levantaram, não xingaram, não vociferaram.Seriam torcedores?
Nesses tempos de oportunidade, ou seja, tempos de crise, o que acompanhava parecia reger uma orquestra, com gestos suaves.
Retiraram-se antes do apito final. Olhei para os dois e contemplei, naquele que acompanhava, a sabedoria dos cabelos grisalhos.

Ainda sobre Hussein

A cara da subserviência brasileira na cobertura das eleições americanas. O exagero que vem desde o início do ano, quando da realização das primárias que decidiriam quem seria o candidato democrata à presidência ianque. Páginas e mais páginas no Jornal O Globo sobre as eleições de lá...quanto às eleições de cá?!!
Parece que a Time Life ainda controla , assim como os nossos satélites e assanhamentos são monitorados pelos "falcões", parte importante da nossa mídia número 1.
Na semana das eleições então, o chilique se espalhou ainda mais. Quase cancelei a minha assinatura do jornal, "afterwards, 'Im not American'.
Aliás, quando permaneci boa temporada sem ler o periódico , fiquei muito mais bem informado!
Jornalismo, salvo raríssimas excessões , virou fofoca. No plano político e nos debates esportivos tem que se ter por perto um bom saco de vômito.
Ah, que saudades de João Saldanha , Nelson Rodrigues, Sandro Moreira, Castelo Branco, as crônicas de Clarice, Sérgio Porto,Paulo Francis, Antonio Calado, etc, etc.Ainda bem que nos resta o Millôr, o maior filósofo do país, o Alberto Dines, O Marcio Moreira Alves, A Miriam Leitão....

domingo, 16 de novembro de 2008

No reino do Presidente Hussein

No reino do Presidente Hussein
Rio, 16 de Novembro de 2008



O Presidente Hussein venceu as eleições nos Estados Unidos.Nos Estados Unidos só se divulgam duas candidaturas: a republicana e a democrata. O partido democrata é o mais antigo do mundo....e também o mais cínico. Há quem diga que os verdadeiros assassinos de John Kennedy militam por ali. Aquilo tudo foi muito esquisito. É certo que a família era odiada por uma parte considerável do american way of life, afinal o pai de John e Robert e Ted faturou muito com o contrabando de bebidas na época da Lei Seca. Montou um império e enfiou os filhos no caminho da morte, ou melhor, da política partidária.Uma outra justificativa para se enfiar uma bala nos miolos de John , naquela manhã ensolarada em Dalas, Texas, era o fato do moço galã transar com a Marilyn Monroe que, pouco tempo antes , apareceu morta numa banheira ....sem espuma.
Política por aquelas bandas funciona mais ou menos como futebol por esses lados: você então é Vasco , ou seja , Republicano. Ah! Não! Sorry! É Palmeirense, isto é, democrata.
A impressão que se tem é que não há militância política , e sim associados de um clube marcados geneticamente. Em alguns Estados, um ou outro partido não consegue eleger seus candidatos há 50, 60 anos!Mesmo que os governos anteriores tenham sido um verdadeiro fracasso. Seria isso uma demonstração de fidelidade partidária ou um passo importante na solidificação de uma seita de fanáticos? Sem contar que existem os ditos partidos e candidatos independentes. O ator Sean Penn – por sinal um ótimo ator- vota nos independentes há muito tempo. Eles têm 2 representantes somente no parlamento.Apesar de diminuta, a presença é importante.
Os norte –americanos têm uma eleição complicada. Mas complicada pra quem? Eles vivem num regime federalista , e nós fingimos que vivemos também. Assis Brasil, uma importante figura do pensamento político brasileiro , logo após a proclamação da República ,já havia proposto que os eleitores elegeriam aqueles que iriam eleger o Presidente. Algo semelhante com o que ocorre com os famigerados delegados estaduais nas eleições norte americanas.
Por lá , Os Estados têm certa autonomia em relação à União. Aqui não. Acabamos de presenciar eleições municipais patéticas. Se não fosse a presença brilhante de alguém que é contemporâneo do seu tempo, Fernando Gabeira, nas eleições municipais do nosso Rio de Janeiro, não sei não...Teríamos uma quermesse de categoria duvidosa, espalhada pelos quatro cantos.
Candidatos que insistem em pousar , fingindo juras de amor e admiração, com os donos da máquina federal, tentam induzir o rebanho a uma armadilha. É claro que uma convivência inteligente entre os poderes pode facilitar a transa entre eles, mas não há garantia . Na nossa história recente- e uma outra não tão recente-, o resultado foi outro. O ex-governador Mários Covas se queixava um bocado de alguns tucanos federados , sendo ele um tucano não federado. O mesmo dizia, em suas tergiversações sem fim, o também saudoso ex- governador Leonel Brizola, em relação à época em que seu cunhado , João Goulart , ocupou a Presidência, nos anos 60.
Por que as eleições municipais não são realizadas juntamente com as estaduais , reservando à eleição presidencial e ao Congresso Nacional uma outra data? Por certo , confundiria menos o eleitor e diminuiríamos essa subserviência dos Estados e Municípios à União. Sobretudo, por parte dos Estados mais pobres.Questões regionais são muito específicas, quase idiossincráticas.E as rivalidades são eternizadas.
O Presidente Barack Hussein – será que é primo do Enigmático Osama ?-, terá vida dura daqui pra frente. Talvez até sinta saudades do Senado, pois é bem perigosa a onda de euforia que afetou uma multidão de americanos e de não-americanos também. Quanto a questão racial , creio que é secundária.Sem dúvida é um fato muito relevante, mas não foi razão fundamental para o triunfo do rapaz bem criado de Chicago.Ele a conseguiu com uma trajetória belíssima dentro do partido Democrata, além de uma consistente carreira acadêmica. Sem falar o óbvio: o pífio desempenho da dinastia Bush. M as será o fim dessa dinastia?O irmão de George governa um importante Estado Americano e dizem que é bem popular.
A semelhança com o Brasil, no que diz respeito à dinastias, pelos ládos de lá extrapola a de que cá. As nossas dinastias têm se contentado com comandos regionais. Nos Estados Unidos, ela atinge a Presidência. Nos últimos 20 anos,praticamente , duas famílias , num país de 300 milhões , ocuparam a Casa Branca: Os Bush e os Clinton. É muito pouco para uma nação tão gigante e que através do voto decide seus caminhos há tempos.
O desinteresse pela política parece ser generalizado. E isso é gravíssimo.José Murilo de Carvalho, importante historiador nosso, defende a obrigatoriedade do voto. Acha que se não houver a obrigação do voto, o desinteresse só aumentará.Facilitando assim a perpetuação dessas dinastias.
Pelo visto teremos mais 4 anos de dinastia Clinton, no reino do Presidente Hussein.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ponto pra crise

A palavra crise significa oportunidade.Muitos ignoram esse fato.O mega investidor americano Warren Buffett,77, um dos homens mais cheios de grana do mundo,radicado no Estado de Nebraska ( Estado Republicano ou Democrata?), afirma que ousa quando os outros são conservadores e que é conservador quando os outros ousam . É óbvio que Mr.Warren tem informações privilegiadas, paciência dos grandes criminosos e cabelos grisalhos. Está até sendo cotado para ser o homem do dinheiro do governo do Presidente eleito, Hussein e/ou Obama . Não deve aceitar, é claro.
E também é provável que não aproveitemos as oportunidades que surgiram ou surgirão no decorrer da tempestade vigente. Excesso de reacionarismo, é claro.E muito chilique também.
Um aspecto positivo dessa crise, aqui nos trópicos, é o fato de que o ritual cafona das festas natalinas está em depressão, tal qual as bolsas de valores. Normalmente, as histerias já têm início nos primeiros dias do mês de Novembro. Por causa desse empobrecimento global, está retardada. Com o perdão pela redundância...
Aquela imitação subserviente de uma festinha importada do hemisfério norte é patética. Além do mais , o propósito da tal celebração já se perdeu há muito.
Ponto pra crise.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Um ator e várias idades

Sergio Brito é um jovem ator de 85 anos. Não me lembrava da última vez que o assisti em cena. Vejo-o com frequência num programa de televisão , onde apresenta e discorre sobre espetáculos em cartaz: teatro, dança, cinema, artes plásticas, etc.
Estava em cartaz, ficou praticamente dois meses, no espaço Oi Futuro, no Flamengo. Entra-se, entretanto, pela Rua do Catete, para quem vem de carro,mas o espaço cultural fica no bairro do Flamengo. Coisas bem cariocas..
A peça se divide em 2 textos de Beckett: Ato sem palavras e A última Gravação de Krapp.
São textos do final dos anos cinquenta. Beckett estava triste com a iminente perda de uma das suas paixões: uma moça de olhos profundos, imensos.
O que importa para mim é a vitalidade de um ator que muda de pele suavemente. Ele inicia o seu trabalho feito um ancião melancólico, comedor de bananas, sujo e sarcástico diante das recordações dolorosas. Sombrio, despede-se.
Uma luz intensa se inicia. O cenário se tranforma. A preparação pode ser acompanhada sob as sombras , ainda relutantes, do primeiro ato que se foi.
O segundo ato tem início e o ator está mais despido do que nunca.
A angústia diante de tantas inadimplências, tesões e condenações nos toca. O ator ancião se transforma num jovem de idade qualquer. Ele é também homem e bicho.Os dois se misturam. Onde um começa e outro termina....não sabemos.Provavelmente, não saberemos.
O cenário é mais que vivo. Faz parte da trama e se mexe, e se dança.Tudo com humor.
Nas palavras de Sergio " Eu , ator, na minha solidão, aos 85 anos, tenho Beckett, tenho Krapp".
A " nosotros" na nossa alegria: temos Sergio Brito.

Ganhar e perder

Já foi dito por alguns entendidos que Fernando Gabeira ganha quando ele perde. E é verdade. Gabeira é um sobrevivente político , há pelo menos quarenta anos. Talvez a afirmação de que tenha se preparado para vida toda, não tenha sido compreendida pelos oportunistas de ocasião que afirmaram terem se preparado a vida toda para, por exemplo, ocupar cargos públicos.
Também é equivocada a leitura de que abstenções e praias , calor e sol e gandaias atrapalharam a trajetória do sempre guerrilheiro. Tudo ajuda e tudo pode atrapalhar também. A abstenção considerável por parte dos eleitores na Zona Sul é um sinal importante, mas não explica o resultado.
Faz anos, que uma parte dos cariocas demonstra a sua insatisfação, ojeriza em relação à política ,através da sua ausência ou apostando, sob forma de protesto, em candidaturas bizarras. Macaco Tião ou um Rinoceronte prefeito já mereceram milhares de votos na história dos nossos pleitos.
Eu mesmo, se não fosse a candidatura Gabeira e o apoio de gente brilhante como Armínio Fraga, teria ido passear no bosque , durante as tais eleições.
Houve um movimento de boicote ao IPTU, no início desse ano, seguido de iniciativas - algumas declaradas- de boicote as eleições municipais.
O que se viu foi esse amálgama de formações atuando juntos. Colaboraram ,mas prejudicaram também.
O apoio do prefeito , escondido nos últimos anos atrás de um Blog, ajudou e prejudicou. Conseguiu colocar na Câmara Municipal um número considerável de vereadores - creio que foram 6 do DEM, partido do Prefeito César Maia-, o que garantiria suporte importante , caso o candidato Verde vencesse. Ao mesmo tempo, a sua impopularidade funcionou tal qual um repelente. Um repelente bem mais potente do que aqueles que foram utilizados, durante os meses de epidemia de dengue.Muitos mortos, prefeitura negligente.
A derrapada no início do turno final, quando se referiu à mente suburbana, atrapalhou e muito, a caminhada de Fernando. O verde ficou vermelho. Constrangido.
Certas verdades não podem ser ditas assim.Afinal,o quanto de verdade alguém pode suportar? Essa indagação de Nietzsche perdura. Numa análise o processo é semelhante. O quanto conseguimos nos despir sutilmente, sem maiores reatividades?
Fernando Gabeira venceu, sim. Era o candidato de sonhos. Agora, realidade posta , o trabalho enquanto oposição está só começando.
Senão, o carioca terá que se preparar para mais alguns anos nas trevas.

Ah! Se o candidato eleito contrair o vírus da dengue, do tipo hemorrágica, na sua ausência o prefeito será ,obviamente, o seu vice. O Sr. Carlos Alberto Muniz é um dos principais colaboradores do abominável ex- Governador Garotinho.

domingo, 19 de outubro de 2008

aviso sobre suburbanos

Não disse que tenho vários aspectos, inclusive os do subúrbio. Há dois textos iguais sobre o mesmo tema. No primeiro , creio que não há erro ortográfico. No segundo, cortei uma palavra e a que vinha em seguida - estratégica - ficou sem sentido, sendo substituída por estratégia.Coisas da demência no manuseio dos teclados. Imaginem quando o hiper-computador surgir , xingando-me.
Aliás, no texto Sonho? também existe uma pontuação bem esquisita....Sorry!!

Suburbanos

Suburbanos
Fernando Gabeira tem razão: os suburbanos, não pela localização geográfica que ocupam, mas por uma postura mental provinciana, sem uma estratégia mais lúcida de futuro -futuro esse que pode durar a vida inteira- ,atrapalham. Eu, por exemplo, vez ou outra, comporto-me como um suburbano nascido e criado em ..... Ipanema,Zona Nobre do Rio de Janeiro ( Nobre?Zona?). Vejo-me também reacionário, moralista , machista , etc. Relembrando o grande Fernando Pessoa: " Todo mundo é vencedor em tudo...". e PROSSEGUE: "...são todos príncipes....".Os versos podem não ser bem esses , mas o sentido do Poema em Linha Reta de Pessoa indica exatamente o cinismo deslavado, a cara de pau e o nível de desfaçatez que nos acomete , em tempos de falsos heróis.Tempos de Pessoa que tinha todas as idades, todos os tempos. Ele os percebia enquanto mera invenção.A diferença é que Pessoa nada tem de suburbano. É, pois a sua obra não morre, um aristocrata.E essa refinada postura , a aristocrática, que nada tem a ver ,, ao menos para mim , com certas ascendências familiares ou títulos de nobreza, está cada vez mais rara.É necessário muito cuidado em tempos de cassino econômico. Barbáries serão permitidas e valorizadas mediante boa audiência, bom patrocínio.Recentemente, no reino das águas obscuras houve um caso policial. Situação dramática, perigosa, onde os protagonistas e aliados pareciam bem atarantados. Rapidamente ,o circo se formou, e só me causa estranheza que nenhum cineasta brasileiro oportunista não tenha se aproximado e revelado mais um mazela nossa para o resto do mundo, chamando-a de arte! Sei que soa como implicância , mas porque adoramos produzir filmes que só enfatizam as nossas misérias?Será que é porque vendem mais?O sensacionalismo chulo faz parte de um certo gozo "sado-masô" que permeia a mente daqueles, nomeados pelos mestres Oswald e Anísio Teixeira,mazombistas.Eles vivem lá pelo estrangeiro e morrem de saudades das coisas daqui. Porém, estrangeirismo também há , ou melhor, mazombismo há quando vêm pra cá. Passam então a tagarelar sobre as vantagens de se morar lá fora. Cheios de saudades......O caso se desenrola pateticamente.Os personagens principais são muito jovens, atarantados e arrogantes.A polícia, com os holofotes histéricos sob os seus ombros, está aturdida. Com o passar das horas , eternamente veloz, o drama vira tragédia. Objeto irreversível, a tal tragédia.Muitas vezes , a sequência de erros resulta em acerto. Em outras não. A eternidade foi mais rápida ainda.E o caso nem envolvia uma conspiração política, uma organização mafiosa competente ou uma suruba mal organizada. Envolvia um idiota - com cara de corno maluco- e sua ex-namorada, menor de idade.Ah! Havia uma outra mocinha. Ela achou que estava na novela das oito. Libertada, voltou para o cativeiro. Tudo por amor!Quinze anos, mal nasceu.No final, o ridículo triunfou. Dentro e fora do prédio.Uma emissora de televisão chegou a matar a moça antes. Audiência sobe. A Bolsa de Valores desce. A moça não morreu!! Berrou a concorrente.Teve só morte cerebral......E aí não morreu mais. Não se fala em outra coisa. -"Vai virar santa.- Alertou uma carola do hospício religioso próximo".Audiência para muitos , exercício sado-masoquista para tantos e a canalhice triunfante.O subúrbio floresce.

Suburbanos

Fernando Gabeira tem razão: os suburbanos, não pela localização geográfica que ocupam, mas por uma postura mental provinciana, sem uma estratégica mais lúcida de futuro -futuro esse que pode durar a vida inteira- ,atrapalham. Eu, por exemplo, vez ou outra, comporto-me como um suburbano nascido e criado em ..... Ipanema,Zona Nobre do Rio de Janeiro ( Nobre?Zona?). Vejo-me também reacionário, moralista , machista , etc. Relembrando o grande Fernando Pessoa: " Todo mundo é vencedor em tudo...". e PROSSEGUE: "...são todos príncipes....".
Os versos podem não ser bem esses , mas o sentido do Poema em Linha Reta de Pessoa indica exatamente o cinismo deslavado, a cara de pau e o nível de desfaçatez que nos acomete , em tempos de falsos heróis.Tempos de Pessoa que tinha todas as idades, todos os tempos. Ele os percebia enquanto mera invenção.
A diferença é que Pessoa nada tem de suburbano. É, pois a sua obra não morre, um aristocrata.
E essa refinada postura , a aristocrática, que nada tem a ver ,, ao menos para mim , com certas ascendências familiares ou títulos de nobreza, está cada vez mais rara.
É necessário muito cuidado em tempos de cassino econômico. Barbáries serão permitidas e valorizadas mediante boa audiência, bom patrocínio.
Recentemente, no reino das águas obscuras houve um caso policial. Situação dramática, perigosa, onde os protagonistas e aliados pareciam bem atarantados. Rapidamente ,o circo se formou, e só me causa estranheza que nenhum cineasta brasileiro oportunista não tenha se aproximado e revelado mais um mazela nossa para o resto do mundo, chamando-a de arte! Sei que soa como implicância , mas porque adoramos produzir filmes que só enfatizam as nossas misérias?Será que é porque vendem mais?
O sensacionalismo chulo faz parte de um certo gozo "sado-masô" que permeia a mente daqueles, nomeados pelos mestres Oswald e Anísio Teixeira,mazombistas.
Eles vivem lá pelo estrangeiro e morrem de saudades das coisas daqui. Porém, estrangeirismo também há , ou melhor, mazombismo há quando vêm pra cá. Passam então a tagarelar sobre as vantagens de se morar lá fora. Cheios de saudades......
O caso se desenrola pateticamente.Os personagens principais são muito jovens, atarantados e arrogantes.A polícia, com os holofotes histéricos sob os seus ombros, está aturdida. Com o passar das horas , eternamente veloz, o drama vira tragédia. Objeto irreversível, a tal tragédia.
Muitas vezes , a sequência de erros resulta em acerto. Em outras não. A eternidade foi mais rápida ainda.E o caso nem envolvia uma conspiração política, uma organização mafiosa competente ou uma suruba mal organizada. Envolvia um idiota - com cara de corno maluco- e sua ex-namorada, menor de idade.Ah! Havia uma outra mocinha. Ela achou que estava na novela das oito. Libertada, voltou para o cativeiro. Tudo por amor!Quinze anos, mal nasceu.
No final, o ridículo triunfou. Dentro e fora do prédio.Uma emissora de televisão chegou a matar a moça antes. Audiência sobe. A Bolsa de Valores desce. A moça não morreu!! Berrou a concorrente.Teve só morte cerebral......E aí não morreu mais. Não se fala em outra coisa. -"Vai virar santa.- Alertou uma carola do hospício religioso próximo".
Audiência para muitos , exercício sado-masoquista para tantos e a canalhice triunfante.
O subúrbio floresce.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

sonho?

E eis que as elocubrações oníricas não nos deixam em paz. Ali se encontram algumas das maravilhas do nosso cérebro. Uma riqueza sem igual.
Quando Freud advertiu que não adiantaria , ingênua e pretensiosamente, atropelarmos aqueles relatos, onde a tal hermenêutica já está desenhada a partir do próprio relato do sonhador. Ele falava então nas condensações e deslocamentos indicando assim que aquela imagem que se apresentava não era bem aquela, ou melhor, o significado daquilo tudo está em outra instância, tem outro sentido que não o que está enunciado, identificado. São muitas as formações que estão em jogo e não conseguiremos mensurá-las inteiramente - o conceito de formação aqui é retirado da obra de MD.Magno.
Lembro-me que relatei em análise sobre um suposto sonho de angústia - o que já era muita pretensão visto que a angústia pra valer- e a dupla face desenhada por Freud ainda está valendo- é coisa de gente grande. Então o sonho trazia alguns répteis ferozes com os quais "yo" estabelecia uma guerra sanguinária. Após algumas sessões , meu analista me convenceu que os répteis eram meras lagartixas.
Porém, o de agora tem conotação política e desejo interesseiros.
Na porta do famigerado salão de entrada do Congresso Nacional , o americano sem nome vocifera na direção do Deputado Fernando Gabeira:'Eu sou protestante! Esqueça os Estados Unidos'!Foi contido por seguranças estupefatos e que nada entendiam.
Elegantemente , O Deputado, futuro prefeito, respondia: "Vou ensinar uns passos de capoeira a esse malandro".Nada mais carioca!
A perversão desenfreada do mercado mundial nos colocou na rota de falência. Os incautos ignoram o momento de segurar as pregas. Imaginem que um diretor, desses bancos que viraram sucata nos Estados Unidos, há poucos dias, recebia salário de 17.000 dólares por hora!E era o diretor e não o Presidente.
A lição vem do sonho Gabeirista e da declaração do senhor , sambista de vida toda, de um morro carioca. Ao ser perguntado como estava passando, respondeu: " Se pra malandro está um horror imagina pra otário".

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre a cegueira e os ensaios

Não entendo de cinema. Certa vez, chamaram-me de cinéfilo porque tinha o hábito de ir muitas vezes , ao longo de uma mesma semana,assistir a um filme. Além do mais, assistia a fimes de todos os cantos: Irã, Turquia, Brasil....Aí a turma pensa que você pensa e entende de cinema.

Ando por uma fase em que duvido muito mais do que afirmo. Antes de declarar que isso é fruto de muitos anos de análise , afinal são quase duas décadas de militância, creio que estou me 'amineirando'. O que pode ser um bom sinal. Minas é terra de ótimos políticos e tem Governador Palaciano que crê em milagres. Lança candidato à prefeitura da capital que... não conhece muito bem a própria capital. E o pior ou melhor: deve se eleger!

Deixemos As Minas Gerais em sua quietude estratégica e voltemos ao reino das ilusões: o cinema. Ah! O cinema! Tudo funciona tão bem. As pessoas dormem e acordam maquiadas. Não há olheiras no cinema a não ser as do Benito Del Toro que se assemelham as do Governador de Sampa , José Serra."Of COURSE" que Del Toro é hispânico, logo pode aparecer com olheiras que se confundem com as costeletas do anos 70.Imaginem se permitiriam que as belezuras do cinema americano de hoje aparecessem com aquelas olheiras?! Tudo funciona direitinho.

Justamente por tudo funcionar tão dirteitinho é que decidi assistir ao filme sobre a cegueira, de Fernando Meireles, o cineasta brasileiro badalado, baseado na obra homônima de José Saramago.

Saramago é um brilhante escritor Português, laureado com o Nobel , há alguns anos. Militante do Partido Comunista, conhece portanto bem a cegueira. Do alto da minha ignorância e arrogância , Saramago me perdoe. Eu o respeito como escritor, afinal tu escrevestes Jangada De Pedra. Sou Brasileiro e aquilo nos atinge em cheio.Quanto a militância comunista , farei tal e qual uma certa personagem hilária da Tv Brasileira: prefiro não comentar.

Não li o livro, pois posso estar cego também, mas o filme me irritou.Saramago gostou do filme. Presenciei matéria televisiva em que ele se encontrava emocionadíssimo, ao lado de Fernando Meireles, contemplando a película.

Tecnicamente não tenho embasamento para avaliar o que vi. Percebo que já posso adivinhar alguns finais de filmes, por exemplo. Filmes de suspense então, estão cada vez mais previsíveis. Se estou ao lado de minha Mônica, ela me facilita o serviço. Não erra uma, a danadinha!

O velho Hitshcock declarara: 'filme de suspense é aquele em que o expectador sabe quem é o vilão desde muito cedo. Quem não deve saber são os atores do filme'.Perfect, Sir Hitshcock.
Achei o filme moralista. Da mesma forma que outras obras e outros textos trazem, nesse início de novo tempo, enquanto solução uma ode ao amor, amor sem ódio, é claro. Um livro excelente e que descreve para trás e para frente o que temos e o que teremos tido chama-se " Uma breve História do Futuro", do ex-colaborador do Presidente François Mitterrand,Jacques Attali. Ótimo até as últimas páginas , onde o autor se apavora e pede socorro. Quase evoca uma Ave Maria!Lembrei-me, já que estamos no reino da França, de um poema de Lamartine intitulado " O livro da Existência", para o qual esquecemos frequentemente que passamos o dedo na página em que se morre.
O filme em questão também repete cacoetes salvacionistas. Há um salvador pra valer e disso não há como escapar, ao menos em conjecturá-lo. Tal qual ensina, há mais de décadas , o Psicanalista Brasileiro MD.Magno, é inarredável a Hipótese de Deus. Não confundam isso com nenhum tipo de pregação ou catequese, e sim a advertência que, em situações extremas, dificilmente não se apela a algo que possa , ilusoriamente, nos salvar.
É óbvio que não só estamos cegos, mas somos ceguetas há milênios, a não ser quando dos passos a mais que alguns heróis como Saramago, por exemplo, dão.
Há outra coisa por ali que me soa como marca esquerdista: um maniqueísmo cínico. Todos os filhos da puta supõem que não o são.É difícil uma lucidez nas entranhas.
O elenco é ótimo, apesar de não ter mais paciência para Juliana +, a atriz "boazinha".
Talvez eu ainda seja aquele estúpido que, um dia no cinema ao lado de uma amiga que fora ao banheiro passando mal com o que via na tela grande, postado na porta do "bathroom" lhe dizia , cegamente: " Calma que é só um filme!!!" Do lado de lá , igual ao lado de cá, a resposta veio sem perdão: " Vai tomar no c....."!!
Ninguém passou mal na sessão de Domingo à tarde. Era dia da criança. A pipoca já acabara, faz tempo. Aliás, não havia pipoca alguma.
Ao menos uma certeza há, depois de alguns anos:acordamos para dormir mais um pouquinho.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O varal

O telefone tocou às nove horas de uma manhã recente. Do outro lado o moço , cujo narcisismo -exibicionista me espanta de inveja, indaga: " Bom dia , senhor. Como vai o seu varal?"
Sem perder tempo, respondi-lhe com uma certa dose de irritação: Estava bem até poucos dias, mas com essa mudança brusca de tempo, resfriou-se.
Garanto que havia sinceridade na resposta. Por certo , jamais havia sido acordado - estava acordado?-, por uma indagação sobre o estado do meu varal. Confesso , com culpa e tudo, que nem ao menos me lembro que possuo um.
Porém, percebo que ele fica ali do lado de dentro, e agora ganhou similar do lado de fora. Talvez, lembrando-se do pobre diabo que reside para fora, fiz a suposição de que havia adoecido.Ou teria sido vingança? Devo esclarecer que desde que fora instalado , o tal do lado de fora, tenho cuidado particular com o desgramado. Chamo-o assim pois ele me remete a alguns aspectos salvacionistas que, ingenua e perversamente, ainda mantenho. Já repararam que uma gama imensa de formações existentes não estão nem um pouco interessadas em ser salvas. Por exemplo: o tal do mundo.
O varal , devo reconhecer, é destemido. Exibe algumas das minhas intimidades sem pudor algum. Aliás, qual o varal de fora que não exibe as intimidades de todas as casas. Alguns outros, os de dentro, movidos por assanhamento neurótico, também não hesitam em exibir suas calcinhas, cuecas, sutiãs e outras privacidades. A vida tem vulgaridades indeléveis!
Imagino então o varal dos afortunados. O que será que está em cartaz no momento?
Muitos supõem ser uma imensa tolice essa minha preocupação com privacidades 'underwear', em tempos de Internet, em tempos de exibição do que quer que seja, do que quer que haja.
Relembrando o falecido Foucault, que era contra até carteira de identidade, como se exibir transparentemente?Que tal se deslocar sem ser notado, ou seja, caminhar corretamente!Qualquer mestre nas artes marciais assinará embaixo. Abaixo a força bruta! Vivemos tempos de flexibilidade, agilidade!Até os motores das próteses , denominadas automóveis, meras extensões do meu corpo débil, são menores, mais ágeis, econômicos e eficientes.
Os varais ainda são estúpidos e as máquinas que secam com discrição são deveras perdulárias.
Apaixonei-me pelo desgraçado ainda mais, após notar a sua importância e requisição. "- Interesseiro!- vociferou o dentro". Sim, tenho os meus interesses! Agora mesmo, observo a advogada ,da casa em frente ,estender a colcha que espantou o frio de ontem. Escutei um espirro. Não, a colcha não se resfriou. Era uma lágrima que caía. A colcha lhe foi solidária, encobrindo-lhe o rosto triste.Será que rompera com o namorado? "- Alcoviteiro!- Berrou o de dentro".Sim, e por que não? É vizinha, sozinha, veio do interior pra cidade grande e.....'- Mentiroso!- Desdenhou". Às vezes, tal qual os de fora e os de dentro.
Desliguei o telefone. Do lado que só posso conjecturar enquanto outro lado,o lado de lá, O Sr. Moura , o homem dos varais, justificava-se: " A coisa tá feia".
Compreensível, mas não às 9:00 de mais um amanhã.

domingo, 28 de setembro de 2008

Estamos a uma semana da famigerada eleição. Nesse exato momento, alguns patetas se debatem feito bichos na TV. Disputam uma vaga na prefeitura da maior cidade brasileira. Na verdade, eles querem comandá-la por mais alguns anos. Quatro agora, mais quatro adiante.
São todos maravilhosamente cínicos. O poema em linha reta de Fernando Pessoa os definiria bem melhor do que qualquer linha que aqui possa eu postar.Quem tem o desprazer em contemplar o tal programa finaliza finalmente : são todos príncipes e nós , eleitores obrigados, uns otários!
Para se ter uma idéia da gravidade do programa, havia um delinquente declarado por lá. Sim, declarado! Pois já fora preso, não pode por as patas fora do país, etc, etc e mais roubo, mais roubo, etc etc.É esse o programa de governo! E ali se encontra o pilantra a chantagear adversários visto que ainda hipnotiza alguns milhares de paulistanos, sócios nas maracutaias ou otários incuráveis. Se bem que: cada um tem o candidato que merece; o analista que merece e assim por diante. É a nossa condenação. Uma mistura de marionetes e iludidos. Recentemente , debruçando-me sobre a obra de Emmanuel Mounier, jovem filósofo morto aos 45 anos em 1950, e pai do que ficou conhecido como Personalismo, constatei o que o velho-jovem Freud já havia vaticinado: a religião sempre triunfará. Emmanuel, que merece todo nosso respeito apesar de ser muito chato, chega a reverter o cogito cartesiano para afirmar que o que há de ôntico , ou seja, da ordem do ser , na sua mais alta conta ,é a capacidade de amar. A vida vale a pena ser vivida porque se ama. E juntamente com isso vem a tal da liberdade....Um pouco demais , não acham?
Liberdade.... A nossa mais suprema ilusão. A não ser que a consideremos em termos tão somente modais, regionais.É mais ou menos quando nos reportamos a tal da felicidade. Ela existe? É claro! Quem de nós não teve, tem e até poderá ter Novamente, momentos de felicidade! Não é difícil. Aquela paixão, aquele calor súbito - não confundam com ataque de pânico ou fobia, por favor-, aquele arrepio, enfim , cada bichinho com o seu tesão particular e merecido chamado felicidade.
O problema é que Mounier e seus discípulos , espalhados por todo o mundo judaico-cristão, esquecem, ao falar de amor, de seu amigo mais íntimo, o chamado ódio. E a tal da liberdade , o livre arbítrio, recalcando nossa condenação em haver e a imensa rede na qual estamos arrolados.Somos meros atores- alguns principais , tais como os palhaços que mencionei há pouco-, e outros simples coadjuvantes, tal qual a maioria de nós. Há gente que supõe ser célebre porque tira fotos para revistas a serviço da pior das alcovas.Aliás, há gente- gente?-, que se exibe em qualquer circunstância: velório, prisão, falência, erro médico,briga de casal e outros vexames. O que cabe , inclusive, uma pergunta: Aonde se esconde a fronteira entre a fama e a vulgaridade?
Já estive em velório de gente nobre- nobre de verdade - que se transformou em festa gay! Sempre achei que velório fosse um local para recato, no mínimo.
Já que não apostamos numa reforma política decente, o quadro que há é esse aí.
Nessa semana que inicia ,e ela se inicia com o cheiro de mato-chuva à beira de minha modesta e arrogante janela, e se a Time Life permitir que a Globo permita, teremos o nosso neo-e tológico debate aqui, na capital do meu mundo, o Rio de Janeiro. Quem sabe não damos uma chance ao nosso alcaide novo. Alguém com inteligência , astúcia , coragem, educação, charme , probidade nos atos públicos e que tem Fernando no nome , assim como Pessoa , cujo personalismo não é a caretice de Mounier: Fernando Gabeira , Prefeito.

domingo, 7 de setembro de 2008

Envelheci, first part .

Envelheci. Saio pra rua com documentos e o celular ligado. Não! Desliguei o celular, pois se for roubado, o canalha em questão não acessará as minhas privacidades, os meus números secretos.
Aqui, na ex-cidade maravilha, os canalhas com os colarinhos multi-cores utilizam esses nossos segredos para chantagear o próximo. Entenda-se o próximo como o que está mais disponível, mas também o que virá.
Visto o meu aparelhinho que acompanha o compasso da minha angústia, fingindo serenidade. Estou mesmo é preocupado. E se esse troço marcar o que não sinto? Ou pior: o que não quero ver ou sentir?
Nos vigiamos mutuamente :a máquina e o controlador.A máquina é astuta e pede pra parar, afinal, está acabando a bateria. O controlador é burro, pois a bateria já acabou faz tempo.
Como era leve ser jovem e um pouco inconsequente. Só carregava a chave de casa e uma remota , mas consistente, sensação de que iria retornar. Pura ilusão juvenil.
-Identidade, seu guarda? Esqueci. - Passei os dedos pelas folhas do Sr Foucault e tive roubada a minha identidade.
Aprendo com o mestre MD Magno que A Psicanálise é o vale das desilusões....
Meu pai faz caminho contrário ao meu: tornou-se criança mais uma vez.
Tenho que lembrar-lhe de tudo ou quase tudo. Infelizmente, uma pessoa sem memória é uma pessoa que não há.
Pela manhã, chamei-o para o banho. É um horror! Meu pai já foi uma espécie de herói - herói meio torto, mas herói brasileiro que é assim mesmo- ,e hoje tenho que lembrá-lo que dentes devem ser escovados! A pele está de saco cheio.Vejo dobras mal intencionadas.Irrito-me! Proclamo em silêncio ruidoso um VIVA A Eutanásia! Calma....Vamos comer?
Retornando de um almoço marcado pelo silêncio - e bem que eu insisti para que falasse qualquer coisa freudianamente, ou seja, vai falando aí..-, olhei seu rosto e ele sorria.
O sorriso dele é como a suposta surdez de um Beethoven compondo. Ninguém sabe o que é aquilo.
Ao menos, para o bem e para o mal, ele ainda sorri. Os dentes foram escovados.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Tecnologia a serviço da breguice

A tecnologia talvez seja uma das melhores articulações que a nossa famigerada espécie pode produzir. Saímos um pouco das trevas e ajudamos a minorar o mal estar nisso que MD Magno denomina enquanto o modo de existência da tal famigerada espécie: a cultura.
Para além e para aquém dos nossos vícios neo-etológicos, imitação animal para os mais iniciados, a disponibilidade criativa e a sublime capacidade de criação nos diferencia para melhor, ou pelo menos deveria , em relação aos bichinhos cujo cardápio é mais limitado. Já vislumbraram a cena ?Em pleno restaurante o cachorro pede um Merlot , Francês básico, de preferência um Gran Reserva, a fim de harmonizá-lo com uma ótima carne. Ao final da refeição , impaciente,declara estar com pressa já que vai ao cineminha assistir ao mais novo filme da senhora Xuxa Meneguel , com trilha sonora assinada pela não menos brilhante Ivete Sangalo.
Porém, é necessário cuidado, visto que a candidata, nas próximas eleições, a vice -presidência lá na terra dos " Ianques" , supostamente uma senhora que adora parir - também pudera, mora no Alaska-, declarou que a diferença entre o seu grupo de mamães ursas do Alaska e um Pit Bull está no batom. É bom saber. Não podemos alegar depois que não escutamos o latido.E latido Republicano significa : Guerra do Vietnã, apoio incondicional a indústria bélica , ao reacionarismo da família , das igrejas , etc , etc.Mrs Palin ( ou seria Sarah Pain ?) ruge forte.
Os americanos sejam eles cínicos democratas ou trogloditas republicanos têm muitos méritos. É uma pena que muito da produção tecnológica por lá desenvolvida ou sai a um custo altíssimo ou nem atinge o mercado. Ficam arquivados aos milhares, as engenhocas produzidas e que poderiam melhorar muito as nossas estupidezes corporais, por exemplo.Próteses necessárias , mas que são recalcadas e sofreram recalques das formações dominantes. E essa dominação é, obviamente,de cunho político.Disputa de poderes , entre poderes, pelo poder.
A falta de educação portanto é do tamanho do Globo Terrestre. E essas engenhocas que nos fazem amplificar as nossas vozes gastas, enxergar melhor, voar a quase 800, 900 kms por hora, também podem funcionar como objeto de repressão diante de outras tantas disponíveis ou em potência , quanto a se tornarem objetos de convivío insuportáveis. Vejamos , por exemplo, o abominável e maravilhoso telefone celular.
Outrora formação sofisticada, utilizada durante bastante tempo enquanto mero exibicionismo da média e alta burguesia, banalizou-se de tal ordem que agora não há quem não o possua. Os modelos cresceram em sofisticação, e o preço( que ótimo e que horror) despencaram. O horror é pelo mau uso dos brinquedos, cada vez vez mais acessível a qualquer falta de educação. E essa falta de educação não se deve somente às inadimplências econômicas. Existem inadimplências mentais que permeiam todas as classes ditas sociais.O que se torna vulgar, muitas vezes, é pelo fato de ter tido êxito, ter operado elegantemente em algum momento. E isso se dá em todos os campos do saber. Aprendi com o Psicanalista MD Magno que qualquer teoria tem prazo de validade.É uma teoria; É somente uma ferramenta , não um dogma.
Resisti bravamente a adquirir o aparelhinho. Achava que atrapalharia a minha privacidade, mas sobretudo considerava aquele desfile de aparelhinhos ,falando sem parar e nas ocasiões mais estapafúrdias ,uma breguice incoveniente. Melhor dizendo: falta de educação móvel.
Infelizmente , cedi ao mundo: a sua pressa que não cessa, ao sossego pela descoberta do paradeiro de quem se quer bem, aos compromissos atabalhoados do dia a dia e aos muitos outros quetais.Comprei-o numa loja popular, mas ainda era caro. Um recatado obsessivo que, não quer incomodar muito, passou a frequentar o meu organismo.Mais um...
Hoje, já com um novo modelo , vejo com espanto a multiplicação dos filhotes , sobretudo no Brasil. Suponho que já seja o país número um em aparelhinhos móveis ou está ali, na boca do gol ,para assumir a liderança.
Dentro de um ônibus, cuja etiologia dessa palavra nos remete a um para todos,os aparelhos tocam e vibram ao mesmo tempo. As mãos que os carregam, aflitas, atendem. Os sons , as chamadas campainhas, são cada vez mais altos, histriônicos. Parece haver uma competição em busca da maior poluição sonora a se alcançar. Por que gente humilde, não só eles, é claro, adora escutar música aos berros?Por que gritam, ao invés de falar. Já tive que pedir , certa vez em outro para todos, para gritarem baixo!
Duas criaturas então,compartilhando do conforto para todos, falavam a minha frente e uma outra estava sentada atrás. Duas delas discutiam com o marido e a outra tinha um amante com quem combinava uma macarronada para o "weekend". Só diziam tolices. Entendi porque fujo de muita gente: não gosto deles. Gosto de algumas pessoas. Faz anos que me exercito na mais democrática das academias de maromba do Rio: A Flinstone´s Gym. Fica logo ali no Arpoador, diante da praia do diabo, com seus pesos feitos de pedra e ferro.A vista é impagável. Contudo, até ali o diabo do telefone já tocou e quase houve tragédia: a Pedrita estava ocupada com seus halteres, quando o Barney ligou.Os pesos despencaram, mas o moço/moça não perdeu a pose apesar dos hematomas.E aí....
Os telefones ao redor silenciaram quase que ao mesmo tempo.Exceto o da senhorita e seu amante. Ela insistia: "Morzinho. Não adianta, não. Pobre não deveria ter essa tal de amante, que me tornei. Se tiver uma só , já é muito. Duas , além do trabalho, dá muita despesa.Amante é coisa pra rico. O resto é papo furado de novela de televisão pra enganar otário.Ah! Tenho que desligar. E sabe por quê? Você não comprou créditos suficientes pra gente poder namorar mais! Tá vendo! Pobre é assim!
O telefone ficou mudo. Merecia aplausos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Re-Visitando Clarice - Clarisse

Faz 30 anos , na verdade 31, que Clarice Lispector faleceu, vítima de câncer.
Ontem , eu a visitei numa exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui no centro do Rio.
Região marcada pelos contrastes que caracterizam a nossa ex-cidade maravilha.
Desci do metrô , estação Uruguaiana, seguindo uns 3 quarteirões e pouco até alcançar a Rua Primeiro de Março. Primeiro de Março, nossa inauguração.
No caminho cruzei com quase tudo. A esculhambação e a produção séria convivem lado a lado nessa área da cidade onde sua primeira favela foi parida.Ao menos nomeada com tal.
O Glamour e a boçalidade também se misturam. Olho em volta de prédios históricos e viajo um pouco por outras vidas.Lá está o Teatro Municipal e logo em frente há O Majestoso Museu de Belas Artes. Do outro lado situa-se a grandiosa Biblioteca Nacional. Há um guarda que finge comandar o trânsito. Ele está gorducho e parece que tem numa das mãos uma coxinha de galinha. Êpa! Seria ele? Ressurgiu das tumbas a fim de celebrar os 200 anos de sua marcante presença? Não, não era. Dom João VI as comia, quero dizer as coxinhas, com mais talento e falta de educação aristocrática.E todos somos meio ingratos com esse senhor que ajudou a civilizar o que parece não ter civilidade possível.
Mais adiante, na Araújo Porto Alegre com Graça Aranha , os pontos de bicho apostam e o carioca-mau- malandro é campeão em tudo. A vida dele deve estar uma merda mesmo!
Lembro-me que certa vez ao tomar um taxi - aqui no Brasil nós tomamos Taxi . Algo que Dom João e seus patrícios não entenderiam até hoje-, o rapaz, entenda-se o condutor, iniciou prosa comigo, que não estava a fim de prosa alguma , pois encaminhava-me para o sepultamento do pai de uma amiga, mas quando soube que eu mexia com essa tal de análise, descambou a falar sobre a sua broxura e as queixas da , segundo ele, patroa. Hoje, eu o teria mandado comprar um Viagra ou trocar de patroa, mas naquela época quis saber um pouco mais e ele- aí é que foi pior-,contou.E contou também para os amigos de ponto , os tais príncipes medíocres que ,segundo Fernando Pessoa, são campeões em tudo.Mas o porquê disso agora? Estou tentando falar de Clarice. Mas acho que estou falando!Com cuidado e pretensão.
Agora, preciso esclarecer: esse trajeto que, descrevi acima, fora feito na volta e não na visita a Clarice.Senão, já teria me perdido inteiramente, coisa que ela volta e meia fazia, para se reencontrar nos seus belos textos.
E ela era densa e caótica também era. Sozinha e cercada de amigos.Nasceu na gélida Ucrânia e veio morrer aqui nos trópicos.O sotaque jamais perdera. Viveu em diversos países e sempre só: com marido e filhos.
Existem cartas na tal exposição. Uma delas me tocou. Era carta de mãe para filho. Afetuosa, preocupada, interessada, sobretudo saudosa.O filho mais velho estava vivendo no exterior.
Cartas assim me afetam. Mantive uma vasta correspondência epistolar com a minha mãe , durante anos. Eu no Rio, ela em Brasília. E nesse ínterim houve Proust e aquele beijo de Boa Noite, no Caminho De Swann. E lá fui eu desbravar os sete volumes e as dezenas de páginas que narravam o laço cor de rosa da roupa da Sra Verduran. Somente Proust para condensar tudo naquele laço de fita cor de rosa. Ensinamentos que, para além do também não menos saudoso Gilles Deuleze e outros estudiosos da obra do mais alérgico egrégio de que se tem notícia, ao menos na literatura, aprendi com uma das mais brilhantes criaturas que por aqui passaram: Adriana Raposo Ítalo.
Como já adiantei essas linhas, estou na exposição faz é tempo. Aliás, creio que nunca estive fora dela.
Vejo Clarice jovem ,bela e entregue a sua obra que era a sua vida, o seu maior tesão.Escondidinhos, mas disponíveis em gavetas semi-secretas, contemplamos opiniões, críticas e saudades dos amigos de sua breve, mas densa vida.
Ela também conversa conosco através de um entrevista que concedera à televisão.Foram algumas, apesar da timidez proclamada. Está menos bela. Acho que a doença já apresentava suas garras, tal qual uma folha em branco diante da máquina de escrever.
Ao morrer em 1977, deixou uma marca indefectível sobre quem se permitiu conhecê-la, através de sua obra .
- Estou muito ocupada:tomo conta do mundo.- Clarice anunciou certa vez.
Essa passagem , extraída do livro "O descobrimento do Mundo", revela parte da intimidade de quem se presta a escrever.
Nas madrugadas, com o silêncio à espreita, a solidão como parceira, a noite que não vem mais, pois a tecnologia triunfou há tempos,lembro Clarice que pra mim já foi Clarisse também.
Desse modo clariciano, tímido , mas audacioso, controlo a madrugada de mim.

domingo, 31 de agosto de 2008

1986-2008

1986. Abraçamos a Lagoa . Parecia divertido, mas havia um projeto ambicioso em jogo...
Éramos todos mutito jovens. Politicamente éramos umas crianças. Afinal, quase 25 anos de ditadura nos conduziram a uma infantilidade débil. E o pior: parece que resistimos bravamente em não deslocar esse automatismo obsessivo. E o tal do tempo, que não faz outra coisa senão passar, e está mais rápido e estou mais velho. Matematicamente isso é facilmente explicado: um ano para uma criança de 10 é muito significativo; já um ano para um adolescente de quarenta ou cinquenta é bem menos relevante.
Vinte e cinco anos em que ficou mais do que patente a ausência de um pensamento político brasileiro, e não é por falta de autores de alto nível, mas de aproveitamento das suas respectivas obras. Uma certa dose de Pragmatismo, ensinamento que Anísio Teixeira , através de seu mestre John Dewey, tentou aplicar nesse país , antes de morrer ( crime ou acidente?) no poço de um elevador cafajeste e analfabeto, no início dos anos 70.
Um método para ações, sem que se vise transcendências, metafísicas, sem olhar para passado algum , mas sim uma visada para frente, um “ Working Progress” permanente. Tal qual a análise. Freud talvez tenha sido um dos primeiros pragmatistas célebres.
Dificílimo , quase impossível, que isso haja ou se sustente num país com a marca e tradições religiosas como esse tal de Brasil.
Vivemos num populismo religioso escancarado. Que é indelével que não há condição para essa espécie de não conjecturar um tal de Deus, ou seja, lugar de exasperação e tentativa de salvação , que lamento e me resigno em repetir com os meus mestres , não advirá, mas há condição de se minorar tal mal estar, o mal estar por excelência, que na Psicanálise recebeu o nome de angústia. Exercitando nossas especificidades ao invés de imitarmos, tão somente, os outros bichinhos que por aqui transitam. Esse é o Pragmatismo , a Política Freudiana desde sempre. Tarefa dificílima, mas não impossível. Diferentemente de alguns também, carolas ao contrário , que supõem que seja possível a havência de um ceticismo radical. Como seria possível para um cético , daqueles convictos, discípulos de Pirro, não crer no seu próprio ceticismo? É preciso então apostar em algo. Ter fé , tal qual indica meu mestre MD Magno, não implica em crença ou conteúdo x ou y. Não há valoração ou desvaloração disso ou daquilo. É puro fluxo, puro movimento, pura aposta.
E esse movimento , que se iniciou muito antes de 1986, permanece insistindo. Ele amadureceu, ou seja, eternizou-se como adolescente. Aquele que está disponível para mudar. Durante um tempo , achei que isso era sinônimo de leviandade, mas dependendo do contexto o que há é flexibilidade. Fundamento para se sobreviver nos tempos de hoje e nos que estão por vir. Já que muitos fundamentos ruíram – e ainda bem- , faz-se necessário escolher estratégias menos estúpidas e/ou reacionárias. A tecnologia , prima irmã do inconsciente, com suas articulações imensuráveis, está varrendo o que estiver atrapalhando à sua frente. Sim, à sua frente, pois tal qual inspiração pragmática , o futuro é o caminho. Não há nem do que se lamentar. É inútil. Serve apenas como faxina, lamúria neurótica. A frase do meu mestre Magno que afeta os meus tímpanos , ecoando no meu coração: “ Aproveite , pois vai piorar”.
Temos que gozar agora e direitinho, pois não há garantia alguma do que advirá. Apenas suspeitas .....
Para quem pensava, até poucos dias atrás, em não comparecer às urnas, e sonhava com um boicote radical a esses pleitos perversistamente obrigatórios, mudei. Há uma razoável explicação....
A classe média brasileira, e sobretudo a carioca, é das mais cínicas e desorganizadas que se pode observar. A postura outorgando aos outros a responsabilidade por tudo o que lhes acossa , afeta, diz respeito – porém sem ser minimamente responsivo até mesmo por essa outorga-, é das mais neuróticas que se pode contemplar, na nossa famigerada sociedade civil.
Portanto, como não somos tão confiáveis assim, supor que mobilizações profícuas ocorreriam em tão curto prazo , a ponto de iniciar um movimento de forçação para , enfim, uma reforma política ocorrer, é da ordem da idealização e não daquilo que realmente há.
Fernando Gabeira surgiu sorrindo e de braços abertos. Passaram-se 22 anos e alguns votos, dentre os milhares que obteve, nesses anos todos. É uma presença. Verde, madura.
Quem sabe uma reversão se inicia. Aos poucos, pacientemente. Estamos sem saco, mas é bom apoveitar direitinho. Cuidado também é bom se ter. Vai piorar, mas melhorar também vai.....sempre.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Santos Brasileiros

Encerradas as Olimpíadas , as madrugadas silenciam heróis e vilões.
Os heróis são aqueles que competem, disputam, se esforçam dando o sangue pela arte escolhida. Os vilões se espalham com mais desenvoltura em tempos de boçalidade bem paga.Sejam atletas, mandatários ou postulantes a isso, exibicionistas que não saem do armário, voyerismo de narcisismo baixo, etc, etc.
Os vilões estão em todo lugar. Assistem a TV tal qual fanáticos que só possuem um único vício, limitando assim um vasto cardápio à disposição. Fingem investir demasiado, mas pouco se dá.É, na verdade, uma projeção estúpida.
O que eu tenho a ver e haver com aquilo, se mal pulo da cama?É um tesão como outro qualquer. Uma identificaçãozinha meio que de araque, uma idealização forçada. Tudo bem....é bonitinho, mas o exagero em torno dos saltos,com a vara ou sem a vara, merece cuidado.
Cuidado esse que não se vê na forçação de barra por parte de alguns elementos da mídia que transfomaram entrevista em drama banhado de lágrimas.Enquanto o infeliz não desaba , desculpando-se pelo que não fez ou até pelo que fez a mais, o sado-masoquista, de microfone em punho, não desistirá. Novela de rádio!E eu que pensava que a TV já era digital!
Temo. Temo pela minha pobreza em relevar demasiadamente conquistas não tão relevantes.Pela minha estupidez em me deixar levar por movimentos velhacos, aonde o cinismo transita desenvolturas.
Temo pela minha antiguidade. Aliás, esse termo é disfarce. Falemos em bom português: temo pelos meus bons e prezados pré-conceitos.No que de antemão já considero o que quer que seja, ou melhor, o que quer que haja, tão diferente do que a minha vasta estética pode conceber, absorver, reconhecer nesse momento, e ainda por cima esse o que quer que é xingado de esquisito, careço de cuidados...indeléveis.E vislumbro que talvez não seja possível me livrar deles inteiramente.E isso é grave. Ninguém mais vai me entrevistar ? E o meu pranto?
Ao menos uma grande alegria: não pernoitei na fila incrédula -pois havia a pergunta em suspensão: será que ele vem?-, a fim de ver o santo. O mais novo santo brasileiro: o Sr João Gilberto.
As duas moças enfileiradas, fascinadas se perguntavam, durante a audição , no teatro mais importante do Brasil:
" Será que eu posso peidar?Acho que não! Imagine - balbuciava a outra- , eu aqui louca para tossir e você querendo peidar! Nem pensar!Pode segurar tudo. Aliás, não é difícil assim já que tens prisão de ventre. Emocional ou não!Além do que , temos que ter cuidado. Lembra-se do caso do lanterninha que , foi chamado num canto pelo João, pois o mestre estava ouvindo o som proveniente da luz da lanterna que ele , lanterninha que faltara as aulas de física do telecurso,cuidadosamente, carregava? Pois sim: passou a ouvir o som também e....enlouqueceu!"
Moral da história: João Gilberto sabe domesticar peruas nativas e jamais subestime um lanterninha , pois alguns possuem ouvido absoluto.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Turbulência

O vôo seguia trajetória prevista. Estava atrasado, o que é normal.Seguíamos o rumo , ou melhor, o destino traçado. A cada instrução uma novidade, uma expectativa e uma certeza: não há certeza alguma.
O senhor ao meu lado, grisalho pela vida longa, lia atento. Folheava cada página como se fosse a última. Evoquei Lamartine :
' ...e o dedo passa a página em que se morre '. Passagem antológica do seu famoso poema , " O livro da existência".
Na verdade , não sei ao certo o que lia , o tal homem. Lamartine comparece , pois eu o admiro. O tal 'Livro da existência ' é um dos poucos poemas que sei declamá-lo inteiramente. Quando o escutei pela primeira vez, estudava outros poetas franceses. Valèry , Baudelaire, o irmãozinho de Camile, Paul Claudel, autor da célebre frase : ' Brasileiros são um povo com muitos reflexos mas sem nenhuma reflexão'. Estava certo.
Ele , contudo, prosseguia com a sua leitura....
Arrisquei "una pregunta", pois o senhor era Argentino. Respondeu-me desinteressado.Era quase monossilábico o seu discurso. Resolvi não importuná-lo, afinal estávamos numa avião de bandeira estrangeira. Era um avião antigo, mas parecia um teco-teco, transparecendo a falência que acossa a aeronáutica, não só no nosso combalido continente, mas no mundo inteiro.Onze de Setembro de 2001, a data que marca o início do século XXI, deixou fortes sequelas.
A aeronave inicia então um vôo tranquilo que subitamente se transforma em horror flutuante.
A impotência invade a alma e a tripulação se esconde em visível covardia e negligência.Nenhuma informação é dada. Arrisco uma espiadela para o lado de fora, mas não há fora.Tento saber sobre o que se passa , mas não há resposta alguma. Busco sumir dali, mas não há sumiço póssível. A porta está hermeticamente fechada.Respiro.AH, que ótimo! Ainda respiro! Ótimo? Por que ótimo? Ainda me encontro preso aqui. O que fazer? Poderia ir até a cabine do piloto e indagar algo.'E aí amigo piloto. Vamos cair ?' O amigo piloto não responde. Dormia tranquilo. O outro piloto, o automático, e que não possui direitos trabalhistas, comandava aquela mixórdia.Opto por não me aventurar mais.
Fico quieto, atrelado ao cinto. O livro à frente não prende mais a minha atenção. Não acaricio folha alguma, mas ainda me preocupa a minha existência. Melhor dizendo:a minha sobrevivência. Ela está em jogo e nas mãos de um piloto automático taciturno e de um comandante porra louca! Quero beber . Não há bebida possível. Quero gritar, mas a voz me falta. Deve ser o ar rarefeito.O ar rarefeito por sinal é um ótimo aliado dos bons tintos e brancos. Além de harmonizá-los com outras formações , potencializa os seus efeitos enebriantes.
Infelizmente, não haverá a dose final.
As moças próximas iniciam oração. Têm intimidade com alguns santos, cuja foto presentifica algum tipo de crença. - ' O rapaz aí da foto conhece algo sobre aviação e suas turbulências?'- indaguei.
A expressão de desdém e ódio que obtive, deixa-me ainda em dúvida sobre as competências indagadas.
De repente, o sacode-sacode daquela aeronave desaparece.
O senhor, aquele lá do início, desperta após um sono , aparentemente tranquilo.Sorri para mim. Indignado, pergunto-lhe: "Não teves medo"?
'Do quê?'- teria respondido.
'Desse horror de vôo. Achei que essa merda fosse cair! E ninguém a nos informar sobre o que se passava !"- vociferava eu.
'Bobagem.Na minha idade, 'hijo', já não me preocupo com esses incidentes. Estou no lucro há muito. Até sonhei que havia um probleminha e nos encontrávamos em apuros, mas aqui estou de novo. Avião só não é pior do que a nossa arrogância em supor que podemos controlar tudo, até mesmo o movimento das nuvens.Quando entro aqui, deixo-me levar. As turbinas são a minha última esperança de que as minhas pernas ainda têm considerável potência.Elas levantam vôo e alcançam distâncias inimagináveis rapidamente. É quase um milagre! Se não funcionar, há uma vantagem: não estaremos mais presentes. O que é um duro golpe para nossa arrogância,nossas ilusões, não é mesmo?'
A aeronave pousou. Perfeito.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O previsível

Já estava anunciado, pela nossa conhecida covardia, que o Presidente Lula, ao retornar de mais uma das suas incontáveis viagens no seu aviãozinho milionário,iria passar uma descompustura no seu ministro da Justiça, O Sr. Tarso Genro, pois esse havia solicitado punição aos milicos que cometeram torturas , durante os anos de chumbo.O ministro havia dito, aproveitando-se da viagem palaciana aos jogos olímpicos, que crime de tortura não é crime político, e sim crime hediondo. Nada mais correta, essa colocação do ministro, ele mesmo um ex-preso político e exilado em terras uruguaias. Aliás, o ministro Genro mais parecia a sua filha, Luciana, candidata à prefeitura de Porto Alegre, tamanha contundência em sua fala.
Os milicos então se reuniram, esbravejaram - um deles chegou a ameaçar o ministro Genro-, e conseguiram que tudo , mais uma vez, fosse engavetado.
A covardia parece ser uma característica de mandatários brasileiros, assim como ocorre na famigerada classe média.
Recém chegado da Argentina, esse novo blogueiro que aqui posta algumas opiniões, presenciou em terras portenhas o julgamento de mais um assassino, um general argentino de 81 anos, que cometeu diversos crimes durante a ditadura naquele país, nos anos 70, 80.A cidade de Córdoba, uma das maiores do país, mobilizou-se inteiramente para o evento. Ao final, a celebração. O desgraçado fora condenado à prisão perpétua. Não foi o primeiro e nem será o último. Há uma longa lista de futuros julgamentos. No Uruguai ,há um ex-presidente em prisão domiciliar. No Chile, vários ex-colaboradores de Pinochet também estão presos ou com os seus direitos políticos suspensos.
Aliás, na Argentina, a greve de motoristas de ônibus , deflagrada pelo assassinato de um colega, morto por um bêbado a punhaladas, não prejudicava a população. Era realizada à noite. Resultado: ganharam apoio pleno da população e seriam recebidos pelas autoridades do país. Imaginem no Rio de Janeiro se ,a cada assassinato, houvesse uma manifestação semelhante? Por certo, algo se transformaria. É impressionante, e deprimente para nosotros, o quanto é organizada a sociedade civil argentina. Os produtores rurais, por exemplo, causaram estrago no Governo da senhora Kirchner e um dos melhores eventos na capital portenha, nessas férias de inverno, era a feira ruralista, no bairro de Palermo. Toda produção argentina, trigo, vinho, gado e os seus derivados, além da cultura regional, exibida das mais variadas formas, mobilizaram locais e turistas, esses em pouco número, mas bem avisados. Um belo evento.
Retorno sempre deprimido , quando de minhas passagens por lá. E essa já foi a quinta ou sexta vez ,em vinte anos. Há uma elegância que passeia pelas largas avenidas e no tomar um simples café, num bar qualquer. Além do que , eles têm outra característica irritante: são patriotas. O que por esses lados é visto como sinal de cafonice.
Duas dicas para quem se bandear por lá: o restaurante Cabernet, em Palermo Soho, calle Honduras - ou seria El Salvador?-, com JORGE LUÍS BORGES. Ótima companhia. Harmoniza com qualquer prato. Vale também arriscar a Bodega Novaes Correa e seus vinhos. Não estou certo, mas há um vinho, de preferência prestigie a uva local, Malbec, chamado MONTEMAYO.O vinhos por lá estão baratos para nós. Não deixe de arriscar, por uns reaizinhos a mais, um Gran Reserva. Piazzola tocará sua garganta.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Parem o Brasil...

Parem o Brasil que eu vou saltar...com vara.
Convidei o Presidente Luís Inácio Lula Lá Da Silva a me acompanhar , mas infelizmente ele declinou do convite.Tinha compromisso de agenda com outros mandatários. Só não poderia fazer- alertado por um adulador palaciano- o famigerado 'TIN TIN' , durante a prática esportiva etílica matutina, pois tal expressão na língua chinesa diz respeito ao órgão genital masculino, o Sr. Caralho. Já imaginaram Luís Inácio brindando animado- e as refeições oficiais na China são verdadeiros banquetes , com inúmeras iguarias que incluem insetos para todos os gostos-,arrancando um 'tin tin' remanescente dos tempos do ABCD, e a Primeiríssima Dama, Marisa, ruborizada pelo assanhamento presidencial?Infelizmente, tal cena não ocorrerá.
O que se densenvolverá nessas próximas semanas serão os pulos, as braçadas, os golpes precisos, os Dopings , a correria, etc. O que temo é que os meios de Comunicação, responsáveis pela cobertura desses jogos, queiram com o passar dos anos transformar mais um evento esportivo no único interesse efetivo, na única atividade relevante do país. Já não basta a tal da Copa do Mundo de Futebol? A cada 4 anos, o país inteiro, norte a sul, interrompe tudo a contemplar Ronaldos, Travestis, imposturas, e outros tais!
Gosto de futebol, mas aqui no Brasil ele morreu faz tempo. Transferiu-se para Europa no início dos anos 90, mais precisamente após a conquista da Copa de 1994, e faz alguns anos , invadiu até as terras de Bin Laden, passando pela África e até na Ucrânia chegou com feijoada e tudo. Ninguém tira de mim a idéia de que há uma imensa lavagem de dinheiro por trás dessas operações milionárias. Assim como em outras áreas, nas artes plásticas também é visível, o futebol se prostituiu de maneira irreversível. É uma tragédia aos meus olhos. Meninos recém - criados nas escolinhas dos pobres clubes brasileiros partem sem promessa de retorno. Vão encantar os gringos e conquistar o mundo , defendendo os clubes de lá contra os nossos magrelos.
Enriquecem cedo. Perdem o interesse pela competição rapidamente. O clube é só mais uma passarela para desfiles patéticos.Só há ego em jogo: cruzando sobre a área, defendendo, driblando, chutando a gol.
O novo técnico não é técnico. Pra quê? Os alemães já fizeram o mesmo, porque nós, mazombistas no sangue , e sobretudo na mente, não os imitaríamos?
Vejam. Ia escrever sobre Olimpíadas e escrevo sobre religião, ou seja, o esporte bretão.
Porém, o que importa dizer é que essa indústria, tão lucrativa quanto a indústria bélica, farmacêutica - incluido-se aí as drogas lícitas e ilícitas -, d' entretenimento, etc, fomenta milhões em grana e gente.
O Brasil então se mudou pra China. Já imaginou se fossemos realmente uma potência olímpica tal qual o é aquele arquipélago situado na América Central, uma tal de Cuba?Não só o Presidente Viajante , mas também toda a corte se mudaria com caiaques e cuia para o lado de lá do planeta.
E eis que me acena com sorriso amarelo e olhinhos contraídos, o então governador da pobre ex- Guanabara. O atual estado do Rio , pós fusão desastrada no fim dos anos 70,, também tem o seu representante olímpico. Passeia por lá e se inscreveu no nado sincronizado. Tem como partner o seu vice, O Pezão. Defendem a candidatura da Cidade , ex- wonderful, enquanto sede dos jogos , num futuro não muito distante. Devemos nos matar antes? Quem comandará o jogo: Beira-Mar, polícia assassina de crianças , Milícias S.A, Família Mateus, O bispo Macedo ou Rodrigues ou o grande investidor brasileiro Daniel, que não é meu parente!!, Dantas.

Mais uma vez , estou por fora. Não me especializei no salto com vara.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sobre aviões e Containers

Sempre achei que não tinha medo de avião. Viajo desde muito pequeno e apesar de ter feito um pouso de emergência, no aeroporto de Brasília, vindo do Rio, mantive a calma por muitos anos.
Hoje, percebo que a força do recalque em manter escondido o fato daquilo, ou seja , o tal do avião, não passar de um ' Container' metido a besta ,com aquelas poltronas sofríveis, repleto de garçons bilíngues oferecendo uma comidinha de quinta categoria, pra quem é duro e viaja em classe econômica, é claro.Vinícius de Moraes já vociferava:
" O troço é mais pesado que o ar e o motor é a explosão".
Sem contar os pilotos. Confio somente num primo que voa e que creio, ou melhor, quero crer, não assassinaria parente tão dileto.O único senão é que ele pertence a tal empresa que surgiu sob a égide do amendoim....enquanto refeição.
Bons os tempos da Varig e suas janelinhas com cortinas inflamáveis.E as moças que serviam para lá e para cá tinham classe.A bebida era liberada. Os bêbados se comportavam melhor e a lei seca ainda não vigia. O Concorde era indestrutível e o momento da decolagem era supremo, com toda aquela velocidade . Pois aí, a minha ilusão fez análise...
O Concorde não era indestrutível e a decolagem é o momento mais perigoso de uma viagem. Dois acidentes, um com o supersônico mais glamuroso e o outro com um avião aqui mesmo, da terrinha,desrecalcaram as minha suspeitas. Como eu era um voador iludido feliz!!
Identificado o problema, relaxei. Eis que nos últimos dois anos,mais de trezentas pessoas morreram em dois acidentes estúpidos. Com eles a revelação dos porões, das condições patéticas dos aeroportos e de alguns dos profissionais que ali trabalham. Controlador de vôo que não conhece a língua inglesa, pista de aeroporto cercada de arranha-céus, aeronaves com manutenção deficiente,etc. _ "Como quer o seu vôo?Com pouca ou muita emoção?"- indaga o sadomasoquista, que somos nós.
O último vôo , semana passada, foi ruim. Turbulência quase todo tempo. Serviço de bordo suspenso e um silêncio em 4 oitavas assustador. Pouca ou quase nenhuma explicação e um tanto ininteligível a quem não tivesse familiaridade com o idioma hispânico.
Compartilhando a experiência, já soube de vários outros casos envolvendo outras companhias, outros roteiros, o mesmo drama.Felizmente, nenhuma tragédia a mais..... ainda.

Jovens e Velhos

Li , em revista para jovens, que os mesmos jovens não têm motivação alguma para retirar seus respectivos títulos eleitorais.Um deles faz cara de mau para reportagem.
Lembro-me quando o então jovem deputado constituinte, Aécio Neves, legislou a favor do voto para os guris de 16 anos.Certamente, o então jovem deputado tinha ótima penetração junto aos tais eleitores.Recordo-me também da jovem filha de ator famoso , Manuela, militante do PV à época, e defensora do voto aos 16 anos.
Manuela cresceu e parece que abandonou a militância partidária.Teria se decepcionado com a política vigente no país?Progressistas esquerdistas a teriam decepcionado tanto com os novos rumos Valerianos adotados ?E o fundo de investimento de médio e longo prazos bem aplicados nas roupas íntimas de uma figura, cujo nobre irmão ( irmão ou primo?), era figura palaciana fácil , e que um dia chegou a ser comparado ao Nelson Mandela?
Como diriam os cínicos: isso tudo não passa de especulação barata.
Manuela deve ter dirigido seu tesão para outras militâncias.Quem sabe se casou?Teve filhos?
O certo é que não há pensamento político nesse país.
Organizando a minha modesta biblioteca , acaricio a obra de Bernardo Vieira de Vasconcelos que, através das suas "Cartas aos eleitores da Província de Minas Gerais", apresentava não somente a sua posição política tomada como também a que seria adotada sobre os mais diversos e relevantes temas. Ao seu lado uma espécie de Montaigne ou Montesquieu brasileiro, José Bonifácio de Andrade.Frei Caneca, Assis Brasil, Joaquim Nabuco, entre tantos que produziram um pensamento político de alto nível, ainda que fortemente influenciados pelo iluminismo francês.Sem contar a obra profícua do nosso ex- Presidente , Fernando Henrique Cardoso.
Quando me deparei com esses autores, em curso de pós-graduação , a maior parte dos mestrandos e doutorandos na área de estudos políticos não conhecia a maioria desses autores.
Sintoma brasileiro.
Logo, tal qual o sonho que me acometeu e deve ter angustiado também a querida Manuela, o menino se dirige ao banheiro e se confunde com uma seção eleitoral.De posse de um título , estalando de novo, ele ouve a advertência do fiscal:" Não faça no banheiro o que se costuma fazer por essas bandas. O banheiro está mais limpo".

terça-feira, 5 de agosto de 2008

chegada

E aqui estamos. Iniciando essa falação a quem de fato possa se interessar por carluchices de outrora e por vir.
Apesar da resistência quanto a certos aspectos da tecnologia, puro sintoma reacionário de minha parte, decidi pela aventura da exposição bloguista, a compartilhar aquilo que deveras se sente.É fato que esse não é o único aspecto reacionário da minha existência - AINDA BEM!- , mas há algum tempo o incômodo desse sintoma se fazia presente, afinal tenho prevenção aos vizinhos que observam o varal alheio. Varal é algo cheio de intimidades!
O resto dessa história e de outros varais virão depois.Agora, preciso repousar um pouco, vítima de um ébrio bombom que poderia ter me tirado o direito de dirigir , em tão nobre nação.O que se pode ingerir a fim de se curar dessa ressaca cívica , seca e desidratada, tal qual o clima da capital federal, onde estupidezes como essa se erguem?
Psicanálise, Fernando Pessoa, Clarisse Lispector, Beethoven, Pelé.....
AH! Como é bom lembrar que podemos nos salvar, um pouquinho só, de vez em quando , a toda hora.