Não entendo de cinema. Certa vez, chamaram-me de cinéfilo porque tinha o hábito de ir muitas vezes , ao longo de uma mesma semana,assistir a um filme. Além do mais, assistia a fimes de todos os cantos: Irã, Turquia, Brasil....Aí a turma pensa que você pensa e entende de cinema.
Ando por uma fase em que duvido muito mais do que afirmo. Antes de declarar que isso é fruto de muitos anos de análise , afinal são quase duas décadas de militância, creio que estou me 'amineirando'. O que pode ser um bom sinal. Minas é terra de ótimos políticos e tem Governador Palaciano que crê em milagres. Lança candidato à prefeitura da capital que... não conhece muito bem a própria capital. E o pior ou melhor: deve se eleger!
Deixemos As Minas Gerais em sua quietude estratégica e voltemos ao reino das ilusões: o cinema. Ah! O cinema! Tudo funciona tão bem. As pessoas dormem e acordam maquiadas. Não há olheiras no cinema a não ser as do Benito Del Toro que se assemelham as do Governador de Sampa , José Serra."Of COURSE" que Del Toro é hispânico, logo pode aparecer com olheiras que se confundem com as costeletas do anos 70.Imaginem se permitiriam que as belezuras do cinema americano de hoje aparecessem com aquelas olheiras?! Tudo funciona direitinho.
Justamente por tudo funcionar tão dirteitinho é que decidi assistir ao filme sobre a cegueira, de Fernando Meireles, o cineasta brasileiro badalado, baseado na obra homônima de José Saramago.
Saramago é um brilhante escritor Português, laureado com o Nobel , há alguns anos. Militante do Partido Comunista, conhece portanto bem a cegueira. Do alto da minha ignorância e arrogância , Saramago me perdoe. Eu o respeito como escritor, afinal tu escrevestes Jangada De Pedra. Sou Brasileiro e aquilo nos atinge em cheio.Quanto a militância comunista , farei tal e qual uma certa personagem hilária da Tv Brasileira: prefiro não comentar.
Não li o livro, pois posso estar cego também, mas o filme me irritou.Saramago gostou do filme. Presenciei matéria televisiva em que ele se encontrava emocionadíssimo, ao lado de Fernando Meireles, contemplando a película.
Tecnicamente não tenho embasamento para avaliar o que vi. Percebo que já posso adivinhar alguns finais de filmes, por exemplo. Filmes de suspense então, estão cada vez mais previsíveis. Se estou ao lado de minha Mônica, ela me facilita o serviço. Não erra uma, a danadinha!
O velho Hitshcock declarara: 'filme de suspense é aquele em que o expectador sabe quem é o vilão desde muito cedo. Quem não deve saber são os atores do filme'.Perfect, Sir Hitshcock.
Achei o filme moralista. Da mesma forma que outras obras e outros textos trazem, nesse início de novo tempo, enquanto solução uma ode ao amor, amor sem ódio, é claro. Um livro excelente e que descreve para trás e para frente o que temos e o que teremos tido chama-se " Uma breve História do Futuro", do ex-colaborador do Presidente François Mitterrand,Jacques Attali. Ótimo até as últimas páginas , onde o autor se apavora e pede socorro. Quase evoca uma Ave Maria!Lembrei-me, já que estamos no reino da França, de um poema de Lamartine intitulado " O livro da Existência", para o qual esquecemos frequentemente que passamos o dedo na página em que se morre.
O filme em questão também repete cacoetes salvacionistas. Há um salvador pra valer e disso não há como escapar, ao menos em conjecturá-lo. Tal qual ensina, há mais de décadas , o Psicanalista Brasileiro MD.Magno, é inarredável a Hipótese de Deus. Não confundam isso com nenhum tipo de pregação ou catequese, e sim a advertência que, em situações extremas, dificilmente não se apela a algo que possa , ilusoriamente, nos salvar.
É óbvio que não só estamos cegos, mas somos ceguetas há milênios, a não ser quando dos passos a mais que alguns heróis como Saramago, por exemplo, dão.
Há outra coisa por ali que me soa como marca esquerdista: um maniqueísmo cínico. Todos os filhos da puta supõem que não o são.É difícil uma lucidez nas entranhas.
O elenco é ótimo, apesar de não ter mais paciência para Juliana +, a atriz "boazinha".
Talvez eu ainda seja aquele estúpido que, um dia no cinema ao lado de uma amiga que fora ao banheiro passando mal com o que via na tela grande, postado na porta do "bathroom" lhe dizia , cegamente: " Calma que é só um filme!!!" Do lado de lá , igual ao lado de cá, a resposta veio sem perdão: " Vai tomar no c....."!!
Ninguém passou mal na sessão de Domingo à tarde. Era dia da criança. A pipoca já acabara, faz tempo. Aliás, não havia pipoca alguma.
Ao menos uma certeza há, depois de alguns anos:acordamos para dormir mais um pouquinho.
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