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terça-feira, 19 de setembro de 2023

 Lá onde a coruja dorme!

A memória não precisou de muito esforço para alcançar as imagens e conversas da época. Esse enredo diz respeito a um fato pueril, despretensioso, leve e que alcança o mundo esportivo da bola dos gramados e chuteiras, hoje em certos recantos, milionários.

Waldir Amaral era um locutor de jogos de futebol. Vinha desde os anos 50, século passado, e tinha aquele timbre de voz inesquecível (qualquer um pode acessar suas narrações através das plataformas internéticas). Fã do Botafogo, dividia na Rádio Globo as transmissões com Jorge Curi. Jorge era um outro cracaço das eras gloriosas e glorificadas da rádio. Essa divisão passou a ocorrer quando ambos já estavam mais velhos. Waldir narrava um tempo do jogo, Jorge narrava o outro. Se bem que não era somente pela idade. Aqui meu relato se equivoca porque eles fizeram essa dobradinha na Copa de 1970. Aquela que ofereceu, para sempre, ao Rei Pelé, o seu trono devido. Informação importante já que cometi a indiscrição reveladora sobre a instituição esportiva predileta de Waldir: Jorge era muito flamenguista. 

Jorge era irmão de Ivon que por sua vez era cantor e ator conhecido. Foi um dos criadores, aqui no Brasil do que Japonês inventou com o nome de Karaokê. Um lugar em que as pessoas têm acesso, através de televisão ou computador, de uma música, uma melodia em que a voz do cantor/a está suprimida. A letra da música surge na tela para que seja cantada pelos amadores também conhecidos como clientes. Obviamente, surgiram nesses espaços pessoas que sabiam ou sabem cantar. Mas isso não é o mais frequente. O que temos na maioria dos casos é aquele desastre de vozes desafinadas, com impostação equivocada, etc. Quando estive nesses ambientes, o cenário para mim sempre foi de palhaçada geral. Afinal, todo mundo tem currículo. 

O Karaokê de Ivon Curi chamava-se Canja e restava ali na esquina da Ataulfo de Paiva com a Carlos Góes, Leblon. Essa esquina embalou as minhas tardes, pós- praia e noites, a dentro. Incontáveis fantasias, amigos revelados e eternizados. Como sabem, toda fantasia para a Psicanálise, desde Freud, é sexual. Foi no Canja que fui e num outro que ficava em Botafogo e que também se tornava célebre. Aqui, entre nós, que presente aos ouvidos, aos ouvintes. Hojendia, bem mais exigentes e sensíveis. 

Waldir eu conheci no Caiçaras. Clube localizado na Lagoa Rodrigo de Freitas, Epitácio Pessoa (nome palaciano) e que deveria se chamar Laguna Rodrigo de Freitas porque está conectada tanto com a água salgada do Oceano quanto a água mais adocicada de um rio.

 Entrei sócio do Caiçaras antes mesmo de saber escrever. Se é que aprendi.  Permaneci por 18 anos e recordo da primeira festinha para os colegas do colégio que detestava. E de diversos festejos outros. O melhor daquele colégio que, carinhosamente, chamo do meu primeiro exílio, eram as festinhas. Tinham uns garotos enricados cuja família fechava o Tivoli Park, também postado na Lagoa-Laguna, mas com nome de um outro político e que não foi Presidente do Brasil: Borges de Medeiros. Presidiu sim, na República Velha, O Estado do Rio Grande do Sul. 

O Tivoli merece esse parágrafo exclusivo à medida que foi para nós, tropicais seres, uma espécie de Disneylândia carioca. Uma década depois surgiu a Medinalândia, conhecida, até na estranja, como Rock in Rio.  E o Maracanã, apesar da destruição desrespeitosa que sofreu a partir de 2010. Provavelmente, o falecido Estádio Mário Filho é o maior campo de golfe do mundo.

 Portanto, após um sonho em estado de vigília, essa história acontecida reaparece nessas letrinhas:

Waldir narrando o jogo, Maraca raiz lotado. Ibrahim Sued, à época como fotojornalista e pouco se lixando para futebol, escalado para cobertura do jogo com sua máquina fotográfica a postos. Ele que, posteriormente, se tornaria apresentador de TV e colunista social com suas frivolidades típicas, repletas de mimos, badulaques, sem dar a mínima para aquela pelada séria, profissional, testemunhada por centenas de milhares de tarados (já diria Nelson Rodrigues. Irmão de Mário Filho e que batiza o estádio fincado na Tijuca) percebe algo diferente no cenário tão mundano do jogo de bola. Ali, na verdade, acolá, cochilando sobre o travessão (aquela trave terceira que fica acima do cocuruto do goleiro) dormia uma coruja. Pois É. Tranquilamente, uma coruja dormia.

Não sabemos se era macho ou fêmea, o tal bicho, mas Ibrahim garantia o fato e exibiu a imagem. Ele fotografou a ave, também conhecida como ‘a soberana da noite’, misteriosa, símbolo de sabedoria para tantos, dormindo enquanto a partida transcorria. Tão somente conhecemos sobre a anatomia do bichano para saber se possui glândula pineal e melatonina suficiente para adormecer quando o sol e o barulho da multidão parecem não atrapalhar seu repouso.  Morro de inveja.

Capa do Jornal, manhã seguinte, a fotografia, diriam hoje, viralizou. Naquele instante, Waldir Amaral também se torna um pouco mais imortal, através das suas futuras locuções. Na linguagem do boleiro, ao dizer assim:

 ‘É gooool!!! A bola entrou no ângulo superior esquerdo da baliza que está localizada à direita das cabines de rádio. Tem peixe na rede do fulano, choveu na horta do sicrano. Lá! Onde a coruja dorme! ‘


segunda-feira, 8 de maio de 2023

 Ruy Barbosa ,cujo texto era prolixo demais e os discursos tão longos que cansariam até Fidel Castro e seus seguidores, faz 100 anos de morto ...Isso é algo estranho para se dizer de alguém que, centenariamente, não pode mais se defender . E se ele fizesse ,ficaríamos até o fim do ano escutando as 'ruyzices'. Foi um herói( para Ruy sempre uma oxítona em ditongo aberto carregará o acento, ó pá ).

Quando em 1989 celebraram os 50 anos de morto do Dr. Freud,uma menina ( hoje deve ser uma mulher bem crescida) perguntou ao pai , psicanalista:
- Pai. Freud era muito chato?
O pai espantado, equivocado, respondeu com uma outra pergunta ( típico de praticantes irritantes desse campo):
- Por que minha filha ?- Como assim, chato?
- Não... Veja bem. Cinquenta anos que ele morreu e as pessoas ainda comemoram ....
Como se diz nas coxias teatrais burguesas,
' Fecha o pano'.

 Notas de perplexidade

😵

 Pedrinho Matador, sobrenome incorporado,  foi condenado 20 vezes pelos 71 homicídios  segundo dados oficiais. Contudo, ele se vangloriava de ter cometido ao menos 100. Número redondo. 

Sabe-se que boa parte dos crimes foram realizados na própria penitenciária, em SP, capital, onde cumpriu 42 anos de detenção.  Dentre os assassinados,  seu próprio  pai. O rapaz  se dizia um justiceiro e nessa terra de Cabral em que somente 10 por cento dos homicídios são solucionados , o serial matador devia ter apoiadores e financiadores potentes. E aos montes. 

Incrível não é mesmo ? Alguém matar dezenas de pessoas dentro de um  presídio e  ao longo de décadas! Um gênio na arte da invisibilidade. 

 Saiu da cadeia em 2018. Tinha dinheiro...Morava com uma irmã que deveria dormir com a porta do seu quarto bem  fechadinha.

Domingo último, Pedrinho , quase septuagenário, encerrou carreira para sempre.

Curioso o fato de  alguém que não foi contido,  isso também é bastante relevante,  'esquecer ' de se esconder ou sumir para bem longe, para sempre. Ao contrário,  esse Pedro Mau exibia sua rotina.  Chegou a  gravar  entrevistas para programas televisivos de grande audiência. E tinha também  conta em rede social.  Por exemplo : euzinho sabia que ele jogava sinuca tantas vezes por semana e num mesmo local; naquela mesma 'bathora'. 

Ele, por suposto,   era alguém bastante  contemporâneo, nesse aspecto, diante e mediante esse inacreditável mundo velho,ou seja :

 Vale mais se exibir, custe o que custar, nessa horda de baixos narcisismos. 

Mas ao que parece,  o fã clube do criminoso  resolveu lhe fazer uma visita à bala; à faca. Lá,   na tal  casa , da tal irmã,  onde morava e fazia questão que outros não euzinhos soubessem também.  

Perversidades com testemunho  midiático são virtuosidades para muita gente nesses nossos dias. E o      cinismo? E a burrice?

A terceira guerra mundial, realmente, já começou faz tempo. Aquela no Leste Europeu, a mais célebre  do momento,  tem estilo vintage.

 Caros Colegas,

Já está disponível no canal _Psicanálise Novamente_ (Youtube) o vídeo:

*…50...: Retorno _de_  Freud*

Potiguara M Silveira Jr

Apresentado no TecMen: Tecnologias da Mente, em 20 dezembro 2022.

...50...: Retorno de Freud



 Ótimo ator e diretor . Figura adorável da boêmia diurna vespertina noturna dos botecos que acolhem os bêbados mais dóceis e outros nem tanto.

Eu o vi algumas vezes nessa travessia quase que institucional do Rio, no teatro ,cinema e televisão. E houve aquele momento político quando esteve à frente da Secretaria municipal de Cultura, PDT, 1986. Brincava com Darcy Ribeiro quando Darcy levava a sério demais certas coisas , como por exemplo, a vida.


 Jocasta, Édipo, Laio , Creonte, Dionísio, Tebas .. Antígona. Andréa Beltrão , Amir Haddad estão em todos esses personagens seguindo a trilogia grega de Sófocles. Direção de Haddad, exuberância de Andréa. Atriz brilhante. Faz qualquer coisa..

Se puderes, Teatro Poeira.
Andréa é uma das donas ao lado da não menos exuberante, Marieta Severo. Creio que desde 2008.
Poeira e o caçula Poeirinha, bem ao lado.
Antígona dá pinta na Rua São João Batista, Botafogo. Até o final de Abril. 👏👏

 



 No consultório médico.

Sala de espera e uma segunda feira com o sol se exibindo com toda o esplendor.
Chega o casal mais idoso para a próxima consulta. Ele é o paciente. A moça que secretaria a recepção daquelel local de trabalho lhe diz o valor e ao notar que não teria troco para lhe dar , sugere que faça uma parte do pagamento através de um aplicativo de banco. Ele, sem reclamações ou rabugentices, faz o que lhe foi sugerido. Ágil, pragmático.
Sentada no sofá, sua esposa lhe pergunta o que está acontecendo. O senhor responde ao seu questionamento. Ela indaga novamente porque não escuta bem. 'Você sabe que estou surda. Falo alto e pergunto mais de uma vez se me der vontade.'
Ele não perde a calma . A senhora então se levanta e acomoda sua estrutura corporal bem ao meu lado. Silêncio.
Alguma eternidade depois, ela lhe pergunta mais uma outra coisa:
- Posso entrar contigo nessa consulta?
-Não. Já conversamos sobre esse assunto.
-Por quê? Esqueci. Sou surda, você bem que sabe.
-Depois , explico. Em casa ...
- Vou entrar com você então ..
- Não vai porque ele talvez tenha que me dar uma dedada no rabo..
-Dedada? O quê? Onde?
Nessa altura dos orifícios sagrados, todos, a secretária e euzinho saímos um pouco de órbita. Mas durou pouco. Retornando à terra menos plana dos terráqueos contemplados por certas pérolas matinais ( Em plena segunda feira !), foi quase impossível não olhar para o senhorzinho malcriado e tão gentil, ao menos com os verbetes, e que passava a me lançar um olhar bastante desafiador.
-Fala você agora. Ela está realmente surda e sempre foi um pouco chata.- disse-me rindo.
- O quê? Dedada ? - Ela estava, também, fascinada.
- Ele lhe disse ,cara senhora, que talvez o Doutor tenha que lhe dar uma dedada! Só não me pergunte o local ou destino traçado, de antemão a bem saber , pois também esqueci. Vida corrida...
Vida que segue.

 Sobre comidas...

Duas dicas gastronômicas bacanas em Ipanema. Mesma turma. Um deles é espanhol . Chama-se IZAR. Onde funcionava o Bazar e que por ali permaneceu por alguns anos. Não tem nem um ano de inaugurado . O outro é o RUDA. Especialistas na nossa comida bem brasileira. Uma delícia e com custo benefício bacana. Bacana mediante os abusos cometidos por outros lugares e o fato de que quebramos de novo.
A casa onde está o Ruda, casa bem antiga e que conheço desde os tempos em que a antiga proprietária , após a morte do marido, espreitava da janela quem ousasse passar pela Garcia D'Ávilla, junto ao seu refúgio-janela. Ela poderia tanto seduzir o transeunte , como no caso do marido de uma tia, quanto ofender os motociclistas que estacionavam suas motocicletas na calçada em frente. Hoje, tomada por canteiros de plantas devidamente cuidadas com capricho. Aquela senhora, temperamento difícil , tinhosa, chegava a jogar água com mangueira nas mãos , feito arma de fogo, nas motos. Houve muito buchicho. Vidas que passaram...

 Uma questão aritmética?

No programa Roda Viva, última segunda feira, o cara de pau, cínico ( e isso é elogio porque poderíamos dizer coisas muito mais graves, pois é só checar o currículo do moço Senador) , Ciro Nogueira, líder do PP , diz que o ex presidente, derrotado na última eleição, estava muito preocupado com questões relacionadas à moradia... " Ele é um homem muito simples ".
Aquelas "bijuterias " apreendidas diziam algo bem diferente.
Mas é espantoso que aquela fartura de patrimônio familiar não lhe poderia prover de algum teto. E uma indagação que chega à memória, por vezes distraída:
Ele vendeu aquela confortável casa, num bom condomínio, próximo à praia da Barra da Tijuca? Lugar bastante valorizado.
Mas ninguém ali,na Roda, sugeriu lhe indagar sobre o fato- porque o senador dizia que essa preocupação residencial por parte do Messias Despejado ( mentira deslavada para debiloide terra planista) estava relacionada à grana- que ele tem recebido mais de 80 mil por mês. Entre aposentadorias, duas , e um mimo de quase 40 mil por presidir o partido dito liberal, PL. Ciro é do PP. Considera sua própria trajetória como progressista...🫣
Jair Messias nunca teve respeito por sigla partidária, logo, mínima lealdade à legenda qualquer ou algo semelhante.
Contudo, não vai abrir mão do mimo que o partido de Valdemar Costa Neto lhe trouxe.
O que pensariam os milhões de desempregados, sub empregados, famintos ou a crescente população de sem tetos, problema crônico e tão grave, com essa 'declaração' do senador?
Quem viu o desastre de performance do 'legislador' , percebeu que ele estava quase rindo ao dizer tamanha sandice. Um deboche. Sujeito-Moleque.

 Coroação aqui pode ser assim.

O gaiato é uma pessoa quase incurável. No melhor sentido.
Pois então, o príncipe, agora, Rei Charles, ( tenho dificuldades com essa nova titulação porque Ray Charles era aquele outro mais bacana : músico, cantor brilhante e cego ), esteve no Rio. Não sabemos se mais de uma vez e também não iremos a nenhum Google mais próximo para checar. O certo é que esteve na área. Sambou e sambou.. E após tanto assassinato rítmico, na volta para o hotel, avistou uma formação que lhe era estranha porque familiar. Um orelhão!
Orelhão era um telefone público que fazia lembrar uma orelha. Era também acolhedor, essa orelha. Quantas vezes não nos abrigamos da chuva, fingindo telefonar para alguém ou algum lugar?
Charles, então príncipe, desceu da carruagem mecânica abrasileirada ( devia ser um Gálaxi. Automóvel grandão fabricado pela Ford do Brasil à época) e confrontou o orelhão.
Os malvados escutaram o diálogo:
'Espelho , espelho meu. Existe orelha mais bela do que a minha? E tenho duas..
Não houve resposta e sim correria daqueles seguranças para retirar o cidadão britânico que ficara preso, entalado. Ali, numa esquina carioca qualquer.
Preso pelas suas próprias orelhas de abano reais.
O Brasil, sobretudo o Rio, não é para amadores.

 São Sebastião do Rio dos Escombros.

Os moradores e a associação deles, lá no Jardim de Alah, defendem a restauração imediata do local, abandonado há anos. Mas não defendem a sua venda que é o que trama a prefeitura. Haverá barulho.
Impressionante também o abandono do entorno da Lagoa. Ali, onde funcionou um espaço que misturava espetáculos musicais, cinema e gastronomia , hoje reluz o lixo. Lugar completamente negligenciado. E aí, Dudu?
Ano que vem teremos eleições municipais...Ele deve aparecer sambando com aquele chapéu 'made in Portela' que só traz urucubaca par