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terça-feira, 24 de julho de 2012

D'uma Argentina.

A primeira vez que nos vimos foi há pouco mais de vinte anos.Início da década dos anos 90,fim dos anos 80,de um século passado. Aqui faço uma pequena digressão ao acusar o desconforto que a realidade crua do conceito 'século passado' me proporciona.
Talvez por acreditar -feito tantos ,feito milhões, que o fim do século significaria fim de tudo.Crendice infantil.Infantilismo que custamos a abandonar.
O século passado é muita coisa e quase nada.Nasci por ali e o atravessei para um outro que o desconfigura ,e que o desconfigurará muito mais até o seu fim. Aí sim.Teremos um fim daquilo tudo,daquele conceito que vem junto com o século XX inteirinho. A tecnologia dos homens através das suas próteses engolirão vorazmente vários modos de existência que foram tão preservados por gente do tal século passado.
No século XX também foram desenvolvidas armas poderosas capazes de destruí-lo juntamente com quem      as criou. Apelidaram de cogumelo um oceano de sangue oriental que chamuscava horrores nossos.Tão íntimos que causaram aquele estranhamento esquisito. Igual ao crime do cinema recente,lá nos Estados Unidos da Disney-Metro-Universal,onde o personagem da história mágica para crianças-adulto aparece pessoalmente e faz girar sua metralhadora encantada.Ao fim do espetáculo ,o policial ,apavorado pela verdade,pergunta-lhe em fuga: " Who are you? ( Quem é você?)". E o anti-herói lhe respondeu:  'I'm the joker' ( Eu sou o coringa!).
Nesse século XX ,personagens como esses aterrorizavam nossas pretensões.Sempre se quis o automóvel mágico do herói de voz grossa,ladeado pelas mulheres-gato de então.Mulher-Gato é o cúmulo do pleonasmo! Se virasse coisa de realidade , os homens estariam liquidados para quase sempre.Para quase sempre já que alguma dentre elas - e isso já bastante século passado ,pois passa a excluir alguma coisa em termos de conjunto- entregará o ouro,ou melhor,o 'Batmóvel' aos 'Jokers' não menos redundantes.
Há de tudo isso um pouco na expectativa de se eternizar até mesmo um século inteiro.Pelo fato de que sem a gente presente ele não haveria,fazemos essas ilações.
E assim nos encontramos pela vez primeira ou derradeira - quem poderia supor jamais?- naquele aeroporto com 'olor' de conspiração. Tudo bem que a conspiração era ainda peça imaginada sob influência dos coringas de sempre,mas havia algo no 'aire'..
Era noite adentro e minha mãe fazia companhia. Nunca tinha saído do país Brasil e achava aquilo tudo fascinante e assustador. Não falava aquela língua curiosa - tão próxima em alguns verbetes e substantivos - e tão distante enquanto sonoridade. Aquela língua que tem que ser apontada para o céu da boca, a fim de que consigamos a compreensão necessária dos nossos 'nuevos' interlocutores.
Havia alguém para nos buscar no aeroporto.Era homem enviado por companhia contratada.Até então,e o vício persiste até hoje,sempre há alguém lá fora que fora contratado para nos buscar.Sou filho,neto,irmão,sobrinho de servidores públicos federais que insistem na tal estabilidade. Fiquei viciado por gente que apanha em aeroporto. Gente contratada,diga-se ,pois não quero parente ou amigo por lá.Senão serei obrigado a fazer o mesmo (a tal convenção social dos bons modos) e o aeroporto de minha cidade ,alcunha maravilhosa, transformou-se em local digno de escárnio,chacota,desrespeito.Não gosto nem um pouco de ter que estar ali  a não ser para partir ou partir de volta.Recalque acusado! Tive dois romances com  moças que residiam fora do Rio de Janeiro e o aeroporto era local de despedidas sofridas.Sofria com uma semana de antecedência.Os curiosos das questões relativas ao comportamento dos meninos-meninas chamavam isso de ansiedade. E eu lhes dizia que era uma forma de tesão desviada do tesão que movimentava aquilo tudo.Eles riam da gente."Arroubos de jovens"-classificavam.
De casa dos pais ,afastei-me aos 18 anos.Lembro-me do dia exato e de uma mãe aos prantos como se fosse perda irreversível.Ela era semi-irreversível,mas não perda absoluta. Aeroporto sempre foi sinônimo de saudade,de anteparo para irreversíveis de momento.
Essa senhora que pranteava naquele exato dia -do qual não me esqueço- apresentou-me as Recoletas,os Retiros, os Palermos e suas decantações,o tango e sua melancolia ,a imponência dos seus principais teatros, a soberba do seu mais humilde habitante ( nessa última estada,ocorrida há uma semana tão somente ,o habitante com moedas nas mãos vira-se para mim,plantado que estava diante de uma loja qualquer, e me diz ' Cúanta hipocresía'.), e todo o resto.
Percorreu-se muito desde então.Até os locais onde nos  refugiamos -chamam de Microcentro ,Puerto Madero-,quarteirões enormes são percorridos em largas avenidas -dentre elas a mais larga do mundo e que aniversaria em 9 de Julho- e outras ruas mais modestas.
O classicismo típico - valorizadíssimo por eles ,apesar de Borges- é um dos pontos que nos distingue.O brasileiro é maneirista,desde Camões.Depois vieram os Andrade,Mario e Oswald, Glauber,Guimarães Rosa,Augusto ,Um Anjo,Anísio.......Eles viram coisa barroca quando transam empresarialmente.E assim como aqui ,em terras macunaímicas, sacaneiam -se.Sacaneiam o próprio jeito que deram para reverter brilhantemente impossibilidades locais. O brasileiro faz o mesmo com o que batizou de jeitinho.Confunde flexibilidade,capacidade de suspender juízos e/ou convenções demarcadas,de jogar no aqui e agora da vida,com esculhambação.Nisso somos 'hermanos'. Uma outra diferença que nos marca é que o brasileiro,felizmente,não se leva tão a sério. Eles,'los hermanos', acreditam.
Desde aquela vez nos vimos ,pensei que poderia haver fusão.Depois, entendi que haveria ,aí sim, confusão demasiada.As diferenças que nos atraem são formações afrodisíacas.Temperamento, e esse tempero não se dissolve com qualquer feijoada ou 'chorizo', faz marca quase indelével. A confusão proposital entre as duas línguas oficiais e os seus sintomas indestrutíveis se incluem nessa transa latino-maneira.
E as 'chicas' ? Desafie o seu potencial para paciência: entre  numa loja para meninas -daquelas em que,sobretudo para  recém-enamorados,o infeliz  é torturado por ter que provar seu bem querer ao permanecer, pela eternidade, espremido,humilhado,esnobado por qualquer par de sapato reluzente-, e você presenciará os raios cortantes provenientes dos olhos das moças que vendem às moças que compram.Imagina-se que se por mais que ventura -quase um esporte radical - o tal evento ocorrer nas férias de verão,os modelitos desejados, e que se façam  mais que curtinhos, poderão descarrilar entraves diplomáticos graves.Uma guerra em que Malvina alguma - seja a da Ilha disputada ou a jovem rebelde nascida de um pai  Amado-Jorge  - gostaria de se omitir.
Ainda sobre aquela vez ,e que definitivamente já não sei mais se foi primeira ou agora-anteontem, o vento gélido do rio prateado nos empurrou avenidas e mais avenidas por detrás do 'coche viejo' daquele homem contratado para nos 'saludar'.
Sendo assim ,sempre se sonhará com  um automóvel velho,geralmente de cepa francesa,total século XX, e seu condutor impaciente caloroso,grosseiro de gentilezas, a nos esperar? Será que terei 'cambiado' realmente de século? Virou somente a folhinha do calendário?E o vento será aliado?E o rio? Continua rio.

terça-feira, 10 de julho de 2012

From Rio to Woody .Sir..Allen.

Woody Allen decidiu fazer das capitais europeias cenário novo para seus filmes.A crise financeira que atingiu o mundo em 2008 fez com que os custos da produção cinematográfica subissem aos céus. Além do mais,Woody preza por produções caprichadas,ótimo elenco e é democrata-estadunidense na pátria em que o cinema tem republicano enquanto chefe supremo.
Uma das coisas que mais gosto nele é que ele se põe na reta.Como dizemos aqui - e me perdoem pelo mau jeito- coloca o rabo próprio na reta. Ninguém,sobretudo o que ele acha que é ele mesmo, escapa da sua lente atenta,sarcástica,lúdica,sensível.
Presta honrarias aos países que o acolhem, para em seguida puxar-lhes o tapetinho. Critica os saudosistas e os convida a  uma viagem no tempo.Obviamente,ilusória.Já que tratamos do tempo.Demonstra vasta cultura ,mas não é feito de pedra ou cimento,visto que prossegue e joga pedra no que já foi apreciado.É um vai e vem de considerações sobre o que considera importante e desprezível.
Homenageia a atriz bela jovem tesuda e até talentosa, e em seguida mostra toda a sua ignorância  que fora recalcada.Ela vira coisa feia.Coisa horrenda.
O machão ,o galã,o diretor galinha-boçal,o esquerdista-revolucinário ingênuo,o patrimonialista direitista  também não são esquecidos.E a música? Sempre há ótima música para Woody Allen.Ele a prefere do que cerimônias formais,infantilóides de premiações e aplausos que mais parecem autômatos....Randômico Oscar. Prefere a companhia do seu saxofone e seus amigos "new yorkers". Não foi à toa que a única vez que soube de presença sua na cerimônia de discursos patéticos ,foi há tempos.Mas precisamente no ano seguinte aos ataques de' September Eleven 2001'. Estava ali para saudar sua pátria.Nova Iorque - hojendía infestada de Brazucas- é seu país dentro de um outro gigantesco,chamado Estados Unidos da América do Norte.Um californiano ou um ser do haver oriundo do Texas são iguais a um alienígena para Allen. Roma ou Paris estão mais próximas de alguns dos seus tesões.
'To Rome with Love' é uma declaração de amor à sensibilidade auditiva de quem a tem "woodianamente".
Ele captou o espírito italiano tal e qual os grande da Cinecittà. Descortina Roma e arredores feito ária mais bela.E a coloca no banho,molhado,pelado,ousado,bravo! E manda Freud devolver-lhe uma grana mediante a burrice interpretativa abusiva de um ouvido pouco atento.
Nesse último filme - penúltimo pois já já haverá mais e mais- o exibicionismo boçal,cafona que afeta o mundo apresenta-se feito o cantante debaixo do chuveiro.Só que o cantante sabe cantá-la.E coloca -assim como Woody- o seu traseiro na reta.Molhadinho....
Há de se saber cantar na chuva do chuveiro,na chuva do riacho,num temporal medonho sem se queimar para sempre.Talento para poucos.Mas não é impossível.