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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Murphy's law

Na fila do banco mudamos de lado e o lado de lá caminha mais rápido. O pãozinho honesto da padaria, cujo cheiro da primeira fornada suscita em mim reminiscências, insisti em cair sempre com a face bronzeada de manteiga para baixo.
Essas pequenas estripulias da vida, fatos corriqueiros , recebem o nome dessa lei , imperativa no que tange acontecimentos não desejados e que insistem em se repetir. Por que não chamá-los de azar? Se bem que algum estatístico certamente sacará do bolso alguma propabilidade e acreditará que encontrou alguma verdade. A anedota nos lembra que Estatística é que nem biquini , ou seja, mostra tudo mais esconde o fundamental.
O que há de Murphy's Law ou acaso ou azar ou probabilístico nas últimas cafonices do governo?
A começar pelo azar relacionado à saúde da Primeira dama , de fato, da nação e que fora diagnosticada com um câncer. Nada pior para as pretensões palacianas. E a oposição comemora silenciosamente. O que há nessa imensa e aparentemente indelével crise inter e intra -institucional dos poderes determinados. Medidas provisórias que calam o Parlamento que por sua vez sempre quer controlar o Poder Executivo e acima de tudo e todos aqueles senhores de toga a convencionar regras para tudo quanto é lado. Alguém ali já se prestou a fazer análise?
Certa vez,um ilustre Desembargador,próximo a mim,indagou-me sobre a necessidade de se ter operadores da minha área colaborando em alguns casos jurídicos, pareceres, etc. Já há faz tempo,mas é tudo um tanto quanto incipiente. Porém, a minha questão é anterior : e os magistrados? Tratam-se para poder julgar os outros?
Vivemos uma crise institucional barras pesada e a gloriosa classe 'mérdia' , da qual faço parte, recalca esses problemas. Afinal, temos um planozinho de saúde, uma viagenzinha para o exterior, um restaurante legal na esquina, aquela televisãozinha digital para não assistir coisa alguma, etc, etc.Cito a classe 'MÉRDIA" pois apesar de tudo e de nós todos ela ainda é formadora de opinião. Até capangas foram convocados às falas num dos últimos duelos verbais na corte Suprema. Como é de praxe , tomaram partido daquele que acusou o outro de possuir serviços de capangas. Esqueceram-se que o mesmo vai coordenar as próximas eleições nacionais em 2010. Palanque armado para ambos. E por que não?Quinze minutos passam muito rápido.Agora,capanga no meu tempo.......
Por último , antes que os meus pãezinhos desabem pelo lado certo, isto é, o de baixo, assustei-me quando pensei que iriam tungar as poupanças dos velhinhos novamente. O fantasmA COLLORIDO, de volta ao Senado e comissões importantes, assombrou as nossas memórias.
Nada disso: uma medida séria para equilibrar o que não tem equilíbrio, ou seja, o mercado financeiro.
Mentirinha seja bem dita , os banqueiros não poderiam entrar em pânico. Não haveria Rivotril suficiente para todos, já que a turma de WALL STREET (SERIA ÚÁL STREET) acabou com todo o estoque no fim do ano passado.
Ainda Simoniando: " Sem Champignon, malandro".

terça-feira, 19 de maio de 2009

Simonal in concert

Não sei as razões que levaram os cineastas envolvidos no projeto, dentre eles um humorista famoso, a realizar o filme , na verdade um documentário, sobre um dos mais controversos cantores do país, e que morreu em Junho de 2000 ,aos 62 anos.
Wilson Simonal era filho de empregada doméstica e serviu o exército. No final dos anos sessenta , tinha tanta fama no país quanto Roberto Carlos. Dotado de um carisma pouco visto, Simonal mobilizava multidões, numa época em que multidões não eram bem aceitas por uma ditadura boçal. Aliás, perdoem-me a redundância!
Era mascarado confesso - nos dias de hoje um Romário é modesto comparando-se a ele-, agradava mulheres de todas as classes sociais - esse foi um dos motivos da condenação dele também e que não é abordado no filme, ou melhor, é abordado sim e com extrema sutileza e elegância numa cena em que uma bela Marília Pera seduz o ex-sargento diante do seu corno esposo-, e divertia o rebanho com habilidade musical inigualável no país.
Simonal foi um daqueles meninos pobres que deslumbrado se acabou. Era tão delirante que chegou a crer que poderia ocupar a reserva na seleção brasileira de futebol na Copa de 70. Imaginem! Reserva do furacão Jairzinho. Creio que é o Chico Anísio ou Nélson Mota - alguns dos que tiveram coragem em depor no filme - que relatam essa história divertidíssima.
Esse episódio corrobora com o que se sabe dele e dificilmente pode-se crer que ele fora um alcaguete a serviço dos órgãos repressores do governo. Errou feio ao contratar gorilas oficiais para dar uma coça num suposto contador picareta e também ao afirmar irado à abutres da imprensa que era de direita e tinha pacto com os "homem", etc.
Pagou caríssimo. Foi o exílio político mais longo da história da nação ( nação?). Foi o racismo mais escancarado que se tem notícia no Brasil. Foi a perseguição mais fascista e silenciosa , típica da esquerda alegre , que houve. Os rapazes do Pasquim admitem erros , exceto o pai do Governador do Rio, O Sr. Aposentado pelo Tribunal de Contas do mesmo Estado, Sergio Cabral , o pai, a quem o saudoso Paulo Francis apelidava de Dinamarquês. Não porque tivesse qualquer ascendência escandinava, mas por semelhança física com uma certa raça canina.
O velho e bom Jaguar, armado com uma caninha ou cerveja - não sei ao certo- e que levava o seu nome, reconhece, um tanto quanto constrangido que o Pasquim , aquele jornal brilhante , uma espécie de resistência intelectual jornalística à época, pegara pesado demais com o "Simona'.
O crioulo que lera certa vez num show , em 1967, fictícias notícias de um jornal datado de 24 de Junho de 2000, parecia antever o que estava por vir. Ele morre em 25 de Junho de 2000! Aquela brincadeira, trinta e poucos anos antes, foi das últimas. Morrera pobre, doente, esquálido, sem charme algum, fazendo shows na periferia de SP, apresentando-se em programas de TV de baixíssimo nível, dentre outros infortúnios.
Simonal , no país regido por referências inquisitivas, cometeu dois pecados imperdoáveis: traição e soberba. A primeira em relação a parte do seu público, quando afirmou irresponsabilidades; e a segunda ao abusar da máscara. Todo brasileiro é racista! Esqueceram de lembrar ao Simona que ele , inclusive ,também o era. Basta checar o que dissera dos militantes que combatiam a ditadura.
E justo o homem , ex-sargento, que passara fome e que reconhece num puteiro, no velho e bom Leblon, os tristes momentos de sua Infância e juventude.
O filme me fez um pouco triste. Tristeza mediante o nosso quase que eterno amadorismo, a nossa calhordice com molejo. Paticumbum, Paticumbum!
Creio que os autores do filme foram muito felizes. Eles apresentam diferentes versões para os fatos mais graves. Divertem, comovem. Há drama , alegria também há. Não tomam partido.O partido deles é o cinema!
Creio também que o momento é bastante favorável, onde a esquerda anda um tanto desmoralizada, onde os neo-liberais faliram, onde os negros estão na moda. Não tenho ilusões de Chico Anísio! Ele crê que há transcendência com anjinhos, talvez putas com asas, humoristas menos rabujentos e outros seres alados.
Todavia, seria divertido poder rir um pouco com o Simonal dessa boçalidade toda. Sem Champignon, malandro!

domingo, 10 de maio de 2009

Franceses in Rio

Resolveram estabelecer que esse ano, 2009, seria o ano dos franceses no Brasil. Há exatos 4 anos, o Brasil havia invadido a França.Era o dito ano do Brasil por lá.
A presença francesa no país é anterior a da cultura anglo-saxônica. Teve um início mais retumbante no nosso vizinho predileto, A Argentina, mas marcou forte presença no Brasil. São Luís do Maranhão, para citar apenas uma, é aquela cidade cuja presença francesa na Arquitetura de seus prédios e monumentos é gritante.
Outra invasão , desta vez grotesca , é o que alguns brasileiros fizeram com a Psicanálise lacaniana.Está espalhada pelas Universidades, ou seja, mataram-na. Temos notícias de transmissões conceituais que beiram a barbárie. Jacques Lacan se envergonharia. O lacanismo está se tornando uma seita, uma crença de baixo nível intelectual. O que não é compatível com um pensamento sofisticado como era o dele.Talvez uma das maiores inteligências do século vinte.Contemporâneo de Foucault, Sartre, Dali,Merleau Ponty, dentre outros mestres, Lacan retirou a Psicanálise de um certo ridículo em que a IPA( A entidade internacional fundada à época de Freud , com base em Londres) a tinha colocado. Por isso e por tantas outras é que ele fora expulso da mesma. Além, é claro, da velha rivalidade entre Franceses e Ingleses.Apesar disso, centenas de ingleses cruzavam o famoso Canal , em direção à França,semanalmente, para assistir aos não menos célebres Seminários de Lacan.
Muitas outras francesices continuam espalhadas por aí. Algumas ótimas, outras nem tanto. O perigo disso tudo é que possuímos aquele velho sintoma , que nos paralisa, de valorar tudo que vem de fora bem mais do que o que aqui produzimos. O que é um vetor inteiramente contrário do que os franceses costumam fazer. Lá, eles não gostam muito é do que vem de fora. São heterofágicos ao extremo.
A Revolução Francesa , O Período do Terror, foi sabiamente exportada. E serviu de base para Declaração dos Direitos Humanos. Aquela mentira que tem início assim: " Todos os homens nascem iguais....."Até parece! Perguntem a um Africano.
Os Franceses fazem parte da turma que vem tentando adquirir direitos para explorar a Amazônia.Andam dizendo por aí que ofereceram alguns trilhões de Reais ao 'CARA'.
Sarkozy e sua Musa passearam por aqui também. Conheceu-a em um banquete, na França que quero crer, e ali mesmo se engalfinharam. Teria dito o Presidente à bela senhorita :' Seremos mais famosos que o John e a Jackie Kennedy'.
Frase perigosa , pois é melhor o Sr. Sarkozy , de origem argelina, tomar cuidado. A Argélia ou qualquer outra nação árabe pode ser para ele o que Dallas foi para John Kennedy, em 1962.
Nessa contínua invasão , visitei a pequena , mas consistente exposição de Jean Antoine Houdon.Está no Museu Histórico Nacional, o mais antigo do País, fundado em 1922, cem anos após a nossa Independência. O museu passou por uma reforma em 2004 e está uma beleza.
Brasileiro não gosta muito de visitar esses lugares, aqui no próprio país. Lá fora entretanto.....
Houdon nasceu no fim do século 18. Esculpiu boa parte dos mais egrégios Iluministas tais como: Voltaire, Diderot, Rousseau, entre outros. Estão todos lá na praça 15. Os Estadunidenses o reconheceram de cara. Benjamim Franklin, quando era Embaixador americano em Paris, levou-o até os Estados Unidos para esculpir George Washington, o primeiro presidente.
O que impressiona em Houdon é o que ele fez com os olhos de quem retratava. Em mármore ou terracota, ele fazia um buraco fundo na íris , deixando-a côncava. O efeito dessa técnica somado à iluminação, produz a nítida impressão de que os olhos estão vivos, brilhantes e se movimentando.Todo o trabalho é muito minucioso. Cabelos, vestes, rugas, as faces marcadas pela varíola, tudo isso pode ser notado claramente.
Foi muito bom rever Voltaire, Diderot e seus camaradas, aqui tão pertinho, de frente para a Baía mais linda do mundo, A Guanabara.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mulheres e Casanovas

Mulheres e casanovas

Certa vez , alertaram-me para o fato de que ao se retirar uma máscara umas outras tantas surgiriam incontáveis.
Por certo, supunha que algo verdadeiro, isto é, algo que fosse importante e bem valorizado por todos os sintomas que me acossam iria prevalecer, iria se impor, ainda que somente enquanto um achismo qualquer. Aquilo que os gregos adoravam separar entre “Doxa” , opinião , e um conceito.Nunca foi muito clara tal distinção.
Quem é que nunca gozou ao triunfar numa discussão. Conheci e conheço pessoas que tem esse talento. Normalmente , podem se arrogar da própria arrogância. Não são enciclopédicos nem tampouco intelectuais. Possuem sabedoria , apesar, e sobretudo, da ignorância.Há muito o que se conhecer, o que sentir.Não daremos conta de tudo. Talvez o melhor remédio para pretensões obsessivas seja isso: não se dará conta da vastidão do cardápio e é melhor que faça um recorte de uma das tantas formações que nos acossa e lance a sua aposta. Com todo o risco que estará implicado.O arrependimento serve como alerta para se mudar de lado , da próxima vez. E ele advirá até o próximo....quebrar a cara. É mais ou menos como o que ocorre nas crises do mercado financeiro. Supunham, histericamente, que a farra não teria fim. Esqueceram-se de simples conceitos da nossa velha Física: entropia por exemplo. Chega uma hora que aquilo explode para poder haver. Haver recomeço. O que um adorável maluquinho como Nietzsche denominava de eterno retorno e que está no cerne do pensamento psicanalítico com o conceito mais importante já produzido no Ocidente, chamado Pulsão. Nosso tesão fundamental é assim: cheio de recomeços. Arriscaria até mesmo dizer que a idéia, delirante, de ressurreição indica algo dessa ordem. Porém, eles creem que se atravessou algo, alguma transcendência foi alcançada, e se retornou. Não há provas, evidências ou garantias.Tão somente um belo golpe político, vitorioso, e que move o mundo nosso há milênios. Ninguém se lembrou que entre um velho e um novo testamento passaram-se praticamente quatro séculos....Para o haver é uma espécie de até breve, mas para a nossa espécie não.
Esses fundamentos que parecem ter ruído, apesar do barulho de alguns sinos, vem a perturbar as mentes todas. Até mesmo as mais doutas.
O maior Filósofo Brasileiro,de fato, na minha opinião, Millôr Fernandes, costuma dizer que só conhece ateu de verdade quando esse está gozando de boa saúde. Acrescentaria eu: e com uma certa grana disponível ou amizades influentes. Até porque sem grana, dificilmente se terá saúde.
O problema com o ceticismo é que ele não pode ser levado às últimas consequencias – perdoem-me os adeptos de Pirro – pois seria como não ter fé – e fé tal como ensina MD Magno é puro movimento, é pura aposta, sem conteúdo algum , ao contrário de uma crença que é repleta de conteúdos, rostos, arquétipos, etc-, pois seria como não ter fé no próprio ceticismo. Estamos quase sempre num beco com raras saídas. Saídas para dentro, é claro.
Todavia, esse preâmbulo todo é para constatar também uma certa dose de melancolia fajuta que insiste em se fazer presente , sobretudo nos vínculos afetivos familiares ou não. Ou melhor, onde há gente há vínculos e eles estão se presentificando cada vez mais com sua face reacionária, reativa. Se em algum momento Nietzsche havia dito que o caracterizava uma covardia era a relutância em se aceitar uma quantidade mínima de verdades - e veracidade é algo que talvez tenha como única evidência, para além do sintoma sempre vigente de quem a declara , provas de realidade, dados de realidade, fatos, etc, o momento vigente é preocupante. Não é à toa que os movimentos religiosos, regressivos, fundamentalistas que pensam saber a verdade e a razão do mundo, ou seja, as astrologias da vida, as terapias milagrosas e breves, as runas, os arquétipos que buscam pelo núcleo,pelo início de tudo,ou melhor , pelas condições iniciais – como se fossem possíveis mapeá-los inteiramente !-, estão tão em voga! Para os neuróticos – que são aqueles que necessitam de mediação para tudo , tal como nos ensina a Nova Psicanálise -, essa mudança de dúvidas ( Salve Mário Quintana!) é o motor das suas vidinhas. É como supor que aparência engana. Não engana não. Ela mostra o que ela é naquele momento, isto é, aparência.Nos momentos seguintes, outras aparências advirão ou não. Se não for um troglodita, é claro!
E assim se sucede com alguns relacionamentos. Há uma crença tão antiga de uma suposta completude ao se vincular amorosamente com outro. Muito disso é sustentado por dogmas religiosos e afins.De dois fazer um! Quem não ouviu esse tipo de asneira em pregações mundo afora. Não ! Magno Machado Dias sempre fez questão de sussurrar alto: De dois fazer Dois!!
A desilusão provocada pelo reconhecimento de que traços seus é que detonam qualquer forma de encantamento, ou seja, todo vínculo amoroso-odiento é narcísico, provoca estragos em mentes ainda juvenis.Acreditam em salvação, em liberdade, em férias.....
Nos tempos obscuros que atravessamos – talvez estejamos entrando em um novo Iluminismo, num outro Renascimento, vide os avanços tecnológicos- , a adolescência se estende até os trinta e tantos anos. Ao menos nas classes mais abastadas.
Na reportagem de ontem, de um jornal voltado para o público infanto-juvenil, o tema girava em torno dos cabaços! Sim, cabaços. Valorizadíssimos por muitos. De ambos os lados: meninos e meninas.E tinha um , com quase trinta , que declarara seu amor ao hímem! O que havia de interessante na reportagem é que eles pelo menos não pensam que comem ou comeram alguma moça, tal como os mais grandinhos assim creem.
Elas,que comem o mundo todo, fingem que não sabem o que querem, fingem acreditar em qualquer casanova e seus truques baratos , pois casanova para valer tem grana e sabe que isso pode comprar sinceros fingimentos, sinceros gozos. Casanova descente sabe que as mulheres de verdade adoram o poder. Quem gosta muito de pau, piroca , dentre outros acessórios importantes é viado que finge que o faz por amor.E esse viado pode ser ela!
Perguntem a um baixinho feioso, careca, pobre quanto vale o amor de uma nobre e venenosa donzela?
Ah! E ainda há a tal da idade....
Em última instância , a idade que vale para certos órgãos ( vide menopausa, andropausa e outras pausas) é aquela que consta no famigerado RG.
Felizmente, já que não somos cachorros (Falecido Waldick Soriano que não nos deixa mentir) um outro órgão, denominado cérebro , pode suspender certas estupidezes da nossa mente.
Um poeta na vida tem todas as idades disponíveis. Basta utilizá-las sabiamente. Senão, adeus poesia. Passo a acreditar demais na língua que escrevo.