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domingo, 19 de outubro de 2008

Suburbanos

Suburbanos
Fernando Gabeira tem razão: os suburbanos, não pela localização geográfica que ocupam, mas por uma postura mental provinciana, sem uma estratégia mais lúcida de futuro -futuro esse que pode durar a vida inteira- ,atrapalham. Eu, por exemplo, vez ou outra, comporto-me como um suburbano nascido e criado em ..... Ipanema,Zona Nobre do Rio de Janeiro ( Nobre?Zona?). Vejo-me também reacionário, moralista , machista , etc. Relembrando o grande Fernando Pessoa: " Todo mundo é vencedor em tudo...". e PROSSEGUE: "...são todos príncipes....".Os versos podem não ser bem esses , mas o sentido do Poema em Linha Reta de Pessoa indica exatamente o cinismo deslavado, a cara de pau e o nível de desfaçatez que nos acomete , em tempos de falsos heróis.Tempos de Pessoa que tinha todas as idades, todos os tempos. Ele os percebia enquanto mera invenção.A diferença é que Pessoa nada tem de suburbano. É, pois a sua obra não morre, um aristocrata.E essa refinada postura , a aristocrática, que nada tem a ver ,, ao menos para mim , com certas ascendências familiares ou títulos de nobreza, está cada vez mais rara.É necessário muito cuidado em tempos de cassino econômico. Barbáries serão permitidas e valorizadas mediante boa audiência, bom patrocínio.Recentemente, no reino das águas obscuras houve um caso policial. Situação dramática, perigosa, onde os protagonistas e aliados pareciam bem atarantados. Rapidamente ,o circo se formou, e só me causa estranheza que nenhum cineasta brasileiro oportunista não tenha se aproximado e revelado mais um mazela nossa para o resto do mundo, chamando-a de arte! Sei que soa como implicância , mas porque adoramos produzir filmes que só enfatizam as nossas misérias?Será que é porque vendem mais?O sensacionalismo chulo faz parte de um certo gozo "sado-masô" que permeia a mente daqueles, nomeados pelos mestres Oswald e Anísio Teixeira,mazombistas.Eles vivem lá pelo estrangeiro e morrem de saudades das coisas daqui. Porém, estrangeirismo também há , ou melhor, mazombismo há quando vêm pra cá. Passam então a tagarelar sobre as vantagens de se morar lá fora. Cheios de saudades......O caso se desenrola pateticamente.Os personagens principais são muito jovens, atarantados e arrogantes.A polícia, com os holofotes histéricos sob os seus ombros, está aturdida. Com o passar das horas , eternamente veloz, o drama vira tragédia. Objeto irreversível, a tal tragédia.Muitas vezes , a sequência de erros resulta em acerto. Em outras não. A eternidade foi mais rápida ainda.E o caso nem envolvia uma conspiração política, uma organização mafiosa competente ou uma suruba mal organizada. Envolvia um idiota - com cara de corno maluco- e sua ex-namorada, menor de idade.Ah! Havia uma outra mocinha. Ela achou que estava na novela das oito. Libertada, voltou para o cativeiro. Tudo por amor!Quinze anos, mal nasceu.No final, o ridículo triunfou. Dentro e fora do prédio.Uma emissora de televisão chegou a matar a moça antes. Audiência sobe. A Bolsa de Valores desce. A moça não morreu!! Berrou a concorrente.Teve só morte cerebral......E aí não morreu mais. Não se fala em outra coisa. -"Vai virar santa.- Alertou uma carola do hospício religioso próximo".Audiência para muitos , exercício sado-masoquista para tantos e a canalhice triunfante.O subúrbio floresce.

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