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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Tecnologia a serviço da breguice

A tecnologia talvez seja uma das melhores articulações que a nossa famigerada espécie pode produzir. Saímos um pouco das trevas e ajudamos a minorar o mal estar nisso que MD Magno denomina enquanto o modo de existência da tal famigerada espécie: a cultura.
Para além e para aquém dos nossos vícios neo-etológicos, imitação animal para os mais iniciados, a disponibilidade criativa e a sublime capacidade de criação nos diferencia para melhor, ou pelo menos deveria , em relação aos bichinhos cujo cardápio é mais limitado. Já vislumbraram a cena ?Em pleno restaurante o cachorro pede um Merlot , Francês básico, de preferência um Gran Reserva, a fim de harmonizá-lo com uma ótima carne. Ao final da refeição , impaciente,declara estar com pressa já que vai ao cineminha assistir ao mais novo filme da senhora Xuxa Meneguel , com trilha sonora assinada pela não menos brilhante Ivete Sangalo.
Porém, é necessário cuidado, visto que a candidata, nas próximas eleições, a vice -presidência lá na terra dos " Ianques" , supostamente uma senhora que adora parir - também pudera, mora no Alaska-, declarou que a diferença entre o seu grupo de mamães ursas do Alaska e um Pit Bull está no batom. É bom saber. Não podemos alegar depois que não escutamos o latido.E latido Republicano significa : Guerra do Vietnã, apoio incondicional a indústria bélica , ao reacionarismo da família , das igrejas , etc , etc.Mrs Palin ( ou seria Sarah Pain ?) ruge forte.
Os americanos sejam eles cínicos democratas ou trogloditas republicanos têm muitos méritos. É uma pena que muito da produção tecnológica por lá desenvolvida ou sai a um custo altíssimo ou nem atinge o mercado. Ficam arquivados aos milhares, as engenhocas produzidas e que poderiam melhorar muito as nossas estupidezes corporais, por exemplo.Próteses necessárias , mas que são recalcadas e sofreram recalques das formações dominantes. E essa dominação é, obviamente,de cunho político.Disputa de poderes , entre poderes, pelo poder.
A falta de educação portanto é do tamanho do Globo Terrestre. E essas engenhocas que nos fazem amplificar as nossas vozes gastas, enxergar melhor, voar a quase 800, 900 kms por hora, também podem funcionar como objeto de repressão diante de outras tantas disponíveis ou em potência , quanto a se tornarem objetos de convivío insuportáveis. Vejamos , por exemplo, o abominável e maravilhoso telefone celular.
Outrora formação sofisticada, utilizada durante bastante tempo enquanto mero exibicionismo da média e alta burguesia, banalizou-se de tal ordem que agora não há quem não o possua. Os modelos cresceram em sofisticação, e o preço( que ótimo e que horror) despencaram. O horror é pelo mau uso dos brinquedos, cada vez vez mais acessível a qualquer falta de educação. E essa falta de educação não se deve somente às inadimplências econômicas. Existem inadimplências mentais que permeiam todas as classes ditas sociais.O que se torna vulgar, muitas vezes, é pelo fato de ter tido êxito, ter operado elegantemente em algum momento. E isso se dá em todos os campos do saber. Aprendi com o Psicanalista MD Magno que qualquer teoria tem prazo de validade.É uma teoria; É somente uma ferramenta , não um dogma.
Resisti bravamente a adquirir o aparelhinho. Achava que atrapalharia a minha privacidade, mas sobretudo considerava aquele desfile de aparelhinhos ,falando sem parar e nas ocasiões mais estapafúrdias ,uma breguice incoveniente. Melhor dizendo: falta de educação móvel.
Infelizmente , cedi ao mundo: a sua pressa que não cessa, ao sossego pela descoberta do paradeiro de quem se quer bem, aos compromissos atabalhoados do dia a dia e aos muitos outros quetais.Comprei-o numa loja popular, mas ainda era caro. Um recatado obsessivo que, não quer incomodar muito, passou a frequentar o meu organismo.Mais um...
Hoje, já com um novo modelo , vejo com espanto a multiplicação dos filhotes , sobretudo no Brasil. Suponho que já seja o país número um em aparelhinhos móveis ou está ali, na boca do gol ,para assumir a liderança.
Dentro de um ônibus, cuja etiologia dessa palavra nos remete a um para todos,os aparelhos tocam e vibram ao mesmo tempo. As mãos que os carregam, aflitas, atendem. Os sons , as chamadas campainhas, são cada vez mais altos, histriônicos. Parece haver uma competição em busca da maior poluição sonora a se alcançar. Por que gente humilde, não só eles, é claro, adora escutar música aos berros?Por que gritam, ao invés de falar. Já tive que pedir , certa vez em outro para todos, para gritarem baixo!
Duas criaturas então,compartilhando do conforto para todos, falavam a minha frente e uma outra estava sentada atrás. Duas delas discutiam com o marido e a outra tinha um amante com quem combinava uma macarronada para o "weekend". Só diziam tolices. Entendi porque fujo de muita gente: não gosto deles. Gosto de algumas pessoas. Faz anos que me exercito na mais democrática das academias de maromba do Rio: A Flinstone´s Gym. Fica logo ali no Arpoador, diante da praia do diabo, com seus pesos feitos de pedra e ferro.A vista é impagável. Contudo, até ali o diabo do telefone já tocou e quase houve tragédia: a Pedrita estava ocupada com seus halteres, quando o Barney ligou.Os pesos despencaram, mas o moço/moça não perdeu a pose apesar dos hematomas.E aí....
Os telefones ao redor silenciaram quase que ao mesmo tempo.Exceto o da senhorita e seu amante. Ela insistia: "Morzinho. Não adianta, não. Pobre não deveria ter essa tal de amante, que me tornei. Se tiver uma só , já é muito. Duas , além do trabalho, dá muita despesa.Amante é coisa pra rico. O resto é papo furado de novela de televisão pra enganar otário.Ah! Tenho que desligar. E sabe por quê? Você não comprou créditos suficientes pra gente poder namorar mais! Tá vendo! Pobre é assim!
O telefone ficou mudo. Merecia aplausos.

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