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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O Nono andar.

Faz onze anos que fora iniciado um esboço de texto. Ele se chamaria 'O Nono Andar'.
O nono andar se torna um personagem então. Tem vida própria. Protagonizando um semi-horror que vem a ser aquela sala enorme com dois boxes um pouco mais privativos onde algumas pessoas realizavam tratamento quimioterápico. Câncer. Um ataque histérico de certas células que passam a se reproduzir descontroladamente ocasionando tumores que podem se espalhar pelo corpo todo ou não. Os que não sofrem a famigerada metástase podem ser operados ou tratados radio ( queimação) ou quimioterapicamente ( Uma bomba química). Essa última pode provocar efeitos colaterais terríveis dependendo do tipo, região ou intensidade do câncer. As causas dessa desgraça, que já foi tratada como ' aquela doença', nunca foram bem esclarecidas. Existem fatores que facilitam, desencadeiam, com maior facilidade, mas que no fundo, até mesmo das pesquisas mais avançadas, a incógnita permanece. Um importante pesquisador estadunidense e oncologista publicou um livro, faz uns dois anos, em que declara que em última instância não se sabe ao certo o que desencadeia esse descontrole celular.
Tabaco, álcool, outras drogas ditas pesadas, certos elementos químicos ( mercúrio que vem a ser um metal líquido, por exemplo), raios ultra-violetas em certos horários e períodos do ano,  formam um clichê mundial no caso desses  agentes considerados cancerígenos. Radiação nuclear, radiação gama sobretudo, costuma ser fatal para o nosso organismo em caso de extrema exposição, etc. Lembremos daquela exposição a um elemento químico denominado Cloreto de Césio 137, em Goiânia, nos anos 80, ao qual foram submetidos moradores da cidade que manusearam ou tiveram contato com alguém que o tenha feito, provocando a morte, oficial, de 4 pessoas e que contaminou centenas. A cápsula estava acondicionada com segurança num invólucro de chumbo e era utilizado para bombear, através de um maquinário específico e seguro, radiações específicas que visam destruir as células doentes, cancerígenas, sem destruir as células normais ou saudáveis. O mais curioso é que aqui a ideia de saúde corresponde à normalidade....Isso daria uma tese sem fim. O que se sabe é que algum bisbilhoteiro resolveu manipular aquilo que fora descartado num lixão, num ferro velho, e ao abrir a cápsula se deparou com um brilho lindo, um espetáculo aos olhos. Logo, vamos tentar revender isso. Pode-se ganhar uma grana? Claro que sim. E quanto custará? Nesse caso, pagou -se com a vida ou com lesões graves e permanentes. Por exemplo, houve pessoas que sofreram amputações de seus membros. Durante muito tempo, esse caso permaneceu escondido.
O país saltava fora de uma ditadura militar que perdurara por vinte e um anos pulando para dentro de  uma ditadura civil ( apelidada de Nova República) e cujos preceptores eram velhos senhores de outrora. E no que tudo isso nos ajuda na condução da história que tentará ser pega por algum caminho, nos parágrafos que nascerão abaixo? Retirando essa explanação, muito pouco. Comecemos de novo sem retornar ao preâmbulo acima.
As sessões às quais a senhora minha mãe submetia-se a cada quinze dias ocupavam um pequeno boxe naquele nono andar que era destinado às sessões de quimioterapia. Confesso-lhes que não olhava para os pacientes outros. Lembro-me entretanto daquele rapaz que surgia vez ou outra na vã tentativa de entreter os pacientes. Motivo? Era sobrevivente de um câncer muito agressivo. Tinha realizado o tratamento naquela sala, no nono andar. Onde ele se encontra agora? Não se faz a menor ideia.
Quinzenalmente, íamos para guerra. Sim, uma batalha. As sessões duravam até 6 horas. Aquele pinga pinga de bombas químicas e uma ilusão reconfortante a ilusionar. Ela, a paciente. fingia que se iludia. Logo, dedicava-se ao máximo. Nunca faltava e éramos muito pontuais. Na hora marcada, sentávamos na sala de espera. Além do mais, realizava todos os exames solicitados por sua santidade o médico cuidador.
Passados 5 meses, a primeira reação grave.
Vamos à cena: cinco horas se passaram após o início da quimioterapia. Quase sempre éramos os últimos a deixar aquele terrível lugar. Digo terrível visto que a minha irmã e eu já sabíamos o prognóstico. Se tudo corresse bem, teria um ano de vida.
Essa cena se mistura com a do dia anterior ou o momento da sentença fatal.
Os dois irmãos sentados diante do oncologista. Ele manuseava uma página após a outra e nos entregava. Não dizia coisa alguma e evitava nos olhar. Tive vontade de interromper esse ritual semi-macabro e indagá-lo: ' O que isso tudo aqui espalhado pela mesa significa? Já temos um parecer bastante grave que nos foi apontado pelo clínico geral dela''.
Não houve coragem. Minha irmã teve: 'Quanto tempo'?  'Se tudo correr bem, um ano no máximo'.
O Real... AH! O tal do real... Sabem o quê significa? Um tijolaço na cara. Isto é: o beijo que não houve; o gol perdido; o erro do cálculo; o brinquedo que não veio; a chuva num dia de sol; a traição; a reprovação; a rejeição. A solidão absoluta.
Saímos da sala com tudo isso no corpo. Descemos até a garagem do edifício por onde circularia por quase cinco meses. Antes de chegar à rua principal, uma espiadela naquela lanchonete vagabunda  logo mali na esquina onde um sanduíche foi comido algumas vezes. Nenhuma saudade.
Estávamos então naquele carro branco e nele 'passeamos' pela orla de Copacabana onde ficava a tal clínica. Se consigo acompanhar a mim mesmo, utilizo a expressão 'tal´' motivado por um desconforto ainda presente. Fomos e voltamos diversas vezes em direção ao Leme e retornávamos na direção Ipanema. Aquela praia estava sem graça, sem boça. O telefone tocou e a amiga de vida toda da minha irmã telefonava para lhe dar apoio. Confesso que também não curto essa expressão ' amiga de vida toda. Assim como um 'beijo no coração, o níver do fulano...Porém esse capricho é meu e todo meu. 
Bem, o telefonema funcionou. Foi um reconforto. Decidimos parar numa loja de departamentos a fim de comprar um daqueles aparelhos que ajudam a melhorar a respiração. Nebulizador. Sim, é esse o nome. Simplesmente, pensei: Ela sempre foi muito alérgica. Como vai suportar a esse massacre químico no seu corpo? E os enjoos? Tão propagados e perversos. Conseguimos o aparelho e um medicamento- através da indicação de uma prezada e competente amiga, visto que para o 'Sir. Oncologista não faria diferença- que lhe trouxe um conforto extraordinário. Não sentiu nenhum enjoo ou náusea. E aquele filho da puta dizendo que ' Tanto faz...' Faça o mesmo com a sua filha, seu escroto! É isso. Tem que ser com a filha! Até porque é meio caretão, cara de CDF, pau pequeno. Risos de histeria. Preconceito?
 Desculpem-me. A sensação ao se descrever  essa guerra confirma o conceito freudiano da não temporalidade do inconsciente. Foi ontem. Foi agora.
Foram seis meses. Sem nenhuma esperança. Situação irreversível. Não lhe foi dito nada. 
Certo dia, ergueu um pouco o corpo da cama abruptamente e me perguntou: ' Filho. Quanto tempo?'
Nada respondi. Numa noite chuvosa, na verdade uma tromba d'água, típica do verão, o noticiário mencionava a morte do irmão de uma amiga de longa data. A causa dessa morte: um câncer de pâncreas. O mesmo órgão onde a metástase surgiu. Fatal.
Numa linda manhã de verão, nuvens de férias, fim de Janeiro, a guerra foi vencida. Pela doença. 
O nono é andar é aquele pesadelo que nunca te esquece. 








sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Que carnaval bacana!

Que carnaval bacana! 
Sabem o que é isso? Efeito inconsciente após a realização de uma colonoscopia, hoje, à tarde.
O problema não é o exame. É o pré-exame. A tal preparação. Dieta desde a antevéspera e uma diarreia que deve ser provocada no dia da tortura. Vai para o trono ou não vai? Vai e como.
Ao menos, não houve aquela pergunta : 'O Sr está feliz?' A noite foi agradável? Não se preocupe. O exame é tranquilo'. Exame tranquilo com o c....dos outros é biscoito globo num fim de tarde de sol do mês de Maio. E com aquele mate gelado à beira mar. Aquele paraíso chamado biquínis....
Pois, carnaval bacana foi o que emergiu, o que foi desrecalcado, enquanto era conduzido para uma sala de repouso pós penetrações, ou melhor, procedimentos médicos. O inconsciente é sempre presente. Ainda mais quando tocamos em partes mais baixas.
Melhor mesmo - eu lhe agradeço 'facebookianamente' , Dona Mônica, pelo apoio de sempre-, é assistir, ao lado da melhor companheira e após toda essa invasão maior de privacidade, a um programa chamado 'As verdadeiras Mulheres assassinas'😨.Em seguida, ' Sogras perigosas'😵😱.
Episódios baseados em fatos que aconteceram pra valer. Igual ao abominável exame. E todo esse 'pacote' apresentado num mesmo canal chamado ID.Esse último , 'Sogras Perigosas', deve ser ficção. Não é possível! Ao menos, os fatos ocorreram no distante EUA.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A Savana Carioca. 23 de Outubro de 2017.😡😨

A Savana Carioca. 23 de Outubro de 2017.😡😨
Sempre que vejo aqueles jipes, que são muito conhecidos de quem faz safari nos países africanos, fico a me perguntar o que pretendem com isso no Rio? Que tipo de 'bicho' acham que encontrarão por lá? Olho para o rosto daqueles desavisados
e ou idiotas e me pergunto: de onde vêm? Sabem para onde vão? O que pretendem? Viajar para colocar foto em rede social , nessa vulgata global? Eu boto quando volto.. Quando boto. Sabe-se lá.Os turistas se atiram assim num país e numa cidade violenta como o Rio?! Em qualquer ponto da cidade, ouvem-se relatos, causos. Contudo, alguns lugares superam bastante os outros. Transformaram-se nisso. E faz décadas. Um traficante VP- seria VIP, daqueles que estão sempre naquela mesma festa, naquele mesmo camarote?-, elogiou muito um ex-governador caudilho e sentou a bordoada num ex-governador, hoje presidiário. Ponto para quem? Ser muito elogiado por um marginal com folha corrida de 10GB traz voto ou não?
Curioso, pois sempre que viajo me informo. Tem roteiro, GPS, mapinha século 20 também serve, língua oficial , moeda oficial ,interesses ( nem que seja ficar plantado num café observando o ir e vir do gringo mais próximo, etc...)
Detesto favela. Acho feia, fedida, perigosa ( aqui no Rio a maioria é ) , opressiva ( para quem mora e não tem nada a ver com a criminalidade que ali prospera e para quem passa por lá ) . Trabalhei em favela. Conheço por dentro. Não só de fotografia sub- self. Fomos ameaçados lá. O trabalho teria um futuro até muito bom. Dizendo melhor: fomos expulsos. Inclusive houve intimidações feitas pela polícia e seu inestimável camburão. Bem no dia seguinte à exibição, pela televisão viciada, de um espancamento sofrido por moradores. Os algozes eram oficias fardados. Desceram a porrada com os seus cassetetes e outros apetrechos. Chocou a sociedade. Incrível, não? Chocava-se com porrada. 'Progredimos'.
A guerra na Rocinha já faz parte do 'turismo' oficial da ex-Guanabara e suas canalhices e desmandos.
Nesse caso penúltimo, mescle um motorista italiano - que pensa que conhece a cidade-, um dono de empresa de turismo também italiano e sua digníssima esposa 'brazuca', uma guia irresponsável ou desesperada por grana e 3 turistas espanhóis - duas mulheres- 'desavisados'.
Visitariam alguns dos seus restaurantes e lojinhas. Debaixo de chuva. E de uma chuva de balas igualmente.
Pelo nosso lado e a bem saber - apesar da global douta ignorância- , esperar o quê de uma polícia que mais mata e que mais morre? Seria a mais eficiente? Atirar nos pneus? Admoestar os ocupantes que 'furaram' o bloqueio, com o carro caro e bonito, que eles deveriam sair calmamente do veículo com as mãos para o alto e que teriam direito a um dos profissionais que mais lucram com tudo isso, ou seja, o tal do advogado/a? Arriscariam um 'portunhol'? Chamar o 'Spider Man' ou o maneirista Zé Carioca?
A senhora morreu. Tinha 67 anos. Nasceu no mesmo ano em que nascera o Maracanã. Ela era 3 meses mais antiga. Espanhola. A favor ou contra a separação catalã? Nunca saberemos.
Um tiro pelas costas. 'Ela foi lá para se divertir'. - resmunga a jornalista que está 'exilada' em NY.
Será que essa jornalista frequentava o Queens, NY, nos anos 70/80? Para se divertir? Que tal então uma temporada em Clichy-sous-Bois, Paris?
Cada um supõe saber o que faz ou até mesmo o que quer. E são libérrimos para isso. Até para estupidezes.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Economia Nobel

O Prêmio Nobe,l normalmente, ratifica a dominação - quase um monopólio- das universidades estadunidenses. 
Aqui no Brasil, faz muito tempo, que uma Psicóloga - não me recordo se ela é daqui ou de SP - faz um trabalho em que considera as questões econômicas - ou razões econômicas, tal como prefere o ganhador desse ano do Nobel- do ponto de vista das emoções, do comportamento, etc. Aliás, isso é muito antigo. 
Desde Freud. Economia Libidinal. Lacan fez diversos apontamentos sobre isso nos seus seminários. E MD Magno também já discorreu em seu teorema sobre o tema exaustivamente. E só para apontar alguns do campo que me concerne.. Tem mais gente. E aqui, na nossa Economia.
Desafio esses cidadãos da estranja ( Vejam a pretensão desse bacharel brazuca aqui) a compreender as 'razões econômicas ' do Brasil/ Brazil. Na área das economias , o troço é século 20.
Esse pesquisador estadunidense teve a competência de considerar as peras e as maçãs- tão saborosas- na sua explanação para o entendimento de um número maior de pessoas. Sua linguagem parece acessível. Não se enclausurou no hermetismo acadêmico. Até porque, assim/assado, o livro venderá mais.😎E que não se considere, o livro dele, enquanto uma cafonice de auto -ajuda econômica. Não é. Dinheiro diz muito sobre o sintoma de cada um. Há quem diga que compra até amor verdadeiro.
O tema é ótimo, mas não é original. 😴OEconomi

sábado, 23 de setembro de 2017

Cena pré e pós carioca

Avenida Vieira Souto, tarde de sexta.
Uma equipe filmava um capítulo de novela em que uma das personagens é menino/menina. Ela estava por ali. Sentada aguardando a chamada para cena. Bisbilhoteiros fuçavam a cena com seus abomináveis celulares. Passei correndo, malcriado. A ciclovia me acenava como se dissesse: ' Venha amigo velo. Você me usa e abusa desde a adolescência.' Diligente, obedeci. AS balas histéricas cantavam soltas na Rocinha.
Chego ao Arpoador onde frequentei por treze anos o espaço que batizei como 'Flintstones Fitness'. Uma academia de musculação feita de pedras e rochas e pedritas e freds e wilmas e o quê não foi e nunca será. Como avisa uma outra canção.
Não frequento mais os pesos porque arrebentei a coluna no ano passado por conta da brutalidade do material em questão.
Fico pendurado naquelas barras, paralelas que, gentilmente, espalharam-se pela orla toda. Feitas de material que não corrói. Que resiste à força da maresia e bebedeiras, melhor dizendo: ressaca do oceano próximo.
Antes de me retirar, um DOG alemão faz uma saudação. Dog Alemão é aquela mistura de cachorro com cavalo. Enorme, lindo e bobalhão. Adoro. Em seguida, uma senhora com o canto da boca um pouco torto para esquerda se aproxima. Tem os olhos arregalados e um sotaque turístico. 'Moço, por favor. Posso chegar a Copacabana seguindo por aqui?'
'Não, disse-lhe. Por aqui só se for a nado. E mesmo assim teria que transpor as pedras e rochas ( atravessaria portanto a Flintstones Fitness) , arrumando assim um outro problema. Terias que invadir aquele espaço ali e que pertence ao exército. Ao famoso e conspirador, Forte de Copacabana.'
Mostrei-lhe o sentido apropriado a seguir.
'A senhora está de férias?'
'Sou aposentada. Trouxe os meus sobrinhos para o Rock in Rio. Eles se mandaram para o festival e eu resolvi passear. Tenho 70 anos. Sou viúva.'
'Boa caminhada. Boa jornada, Seja bem vinda'.
Ela ajeitou, com muito esforço, a boca torta e fugiu feliz.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Sebastião Favelizado.

As barricadas em chamas me fazem lembrar os tempos em que trabalhamos numa comunidade chamada Costa Barros. Já deve ter virado bairro. Ao menos, Barros Filho, é bairro. Ali, pertinho da última estação da linha 2 do metrô, Estação da Pavuna. Não são, definitiva e factualmente, paraísos turísticos. E por lá se vão mais de 20 anos. Era uma comunidade sitiada. A mesma condição que também se estende, há décadas, ao resto da cidade. Toques de recolher, cemitérios clandestinos, grades horrorosas 'resguardando' prédios, cancelas determinando o vai e vem sexual dos veículos e seus condutores, nos condomínios menos antigos, enfim, uma paranoia que, para além de uma possível metodologia de segurança, tornou-se doença grave. Patologia incorporada.
Relembrando também que já se foi jovem, temerário. Partidário dos movimentos denegatórios da mente. Você viu, percebeu algo mas não quer enxergar. Como ensina o mestre, recusa-se a ver. Não quer agir de uma forma outra que não aquela que nos seja mais conveniente, menos desconfortável ( ainda que esse desconforto fosse necessário para haver entendimento e nova postura possível). Promove-se então um novo recalque. Um modo de manter fechadinho, trancado aquela formação que lhe trouxe, da qual fora afetado. Só que existe um problema. Está trancado, inconsciente, mas não desapareceu. Não adianta fingir que não houve, que não há . Esse é o aspecto tragicômico da nossa própria existência . Uma vez escrito, está posto. Você até apaga esse texto. Você pode ignorar o texto, lixar-se para ele ( o mais frequente) , curtir, etc e outros. Mas ele houve. E restará enquanto rascunho, na sua forma original, ou melhor : sintoma.
Quando Magno afirma, dentre outras tantas postulações e correções- que um sintoma nos remete ao SIM, a essa afirmatividade radical e indelével, sendo nomeado é simples de se entender, e difícil de operar. Diante da afirmatividade permanente do tesão humano e sua vontade de levá-lo ao extremo ( inconsciente que se manifesta. Um desejo 'nirvânico' de zerar esse querer) . E como não há passagem para um ouro mundo, ou seja, uma transcendência requerida , ele escapa. derrapa, quebra a fuça. Surge, manifesta-se, permanece enquanto um sintoma qualquer , ou seja,: os conhecidos e estranhos, atos falhos, chistes , sonhos, uma patologia qualquer, um ato criativo. Pronto. Apresentou mais um heterônimo nessa multiplicidade que se é enquanto Pessoas. Não somente Um Fernando.
O quanto que já se viu e compreendeu sobre o sintoma Rio de Janeiro e sua decadência pós 64 e perda da condição de capital federal ? Uma sequência de governos atabalhoados, porque não chamá-los a termo: péssimas gestões. Muitas desonestas inclusive. Houve até uma Doença de Chagas que deixou herança biliardária para seus estoicos. Configurou-se um dos maiores latifúndios urbanos do mundo.Curioso que a presença federal no Estado é grandiosa. Universidade, hospitais, servidores públicos da União que somados ( até meados dos anos 2000) formavam um contingente maior que o número de servidores da capital do planalto central. E isso nos atrapalha muito mais do que ajuda.
Oitocentas e cinquenta favelas que confinam cerca de um milhão e meio de cidadãos ( sem cidadania).
E outros cinco ou seis milhões, cinicamente, manipulados e manipulando denegações.Uma roleta russa.
Houve ainda a derradeira fusão-saideira do Estado do Velho Rio e uma Baía a naufragar Guanabaras.
Vilanias de um Sebastião Glorificado.




segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O Gato de Schrödinger

Nenhum texto alternativo automático disponível.

O filme do Selton

Selton Mello acaba de realizar o seu filme. Ele chamou de 'O filme da minha vida'. Nesse caso, da vida dele. Filme bom. Sobretudo, tão belo. Linda fotografia, trilha sonora preciosa e atores muito bons. É a versão Cinema Paradiso de Selton. 
Bacana. Fez até lembrar os bons filmes argentinos. 
Vida longa ao Selton. As letrinhas subindo e a pequena mas atenta platéia permanecendo na sala escura.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Chatices.

O que levaria a um encontro a mais? Era a quinta vez que se retornava ao mesmo médico para investigar umas sensações desconfortáveis no chamado tubo digestivo. Esse, ao contrário daquele outro do texto anterior, foi indicado.
Desde a primeira vez, ele não se levantou da cadeira. Um copo d'água à direita,sempre cheio, ao lado do computador. Curioso. Ele consulta o computador mas tem as suas fichinhas. Vai que a luz nos falta?
Seco. Olhos contundentes e um esboço de sorriso. Irritante. Completamente irritante.
' O senhor evacua normalmente? O senhor sente peso no estômago? O senhor ...'
O  desejo de lhe mandar à merda é colossal. O problema é que o seu desejo não tem maiores poderes do que isso, ou seja: desejar. Mandá-lo à merda significava embarcar sozinho nesse mar de odores não muito agradáveis. O desgraçado permaneceria por ali. Impávido na sua cadeira. AH! Há uma secretária que, nessas cinco consultas, e com espaço de tempo considerável entre uma e outra, sempre estava com uma incômoda coriza. Percebendo o olhar que lhe dirigia, respondeu com aquele ar burocrático de secretária: ' Alergia'. Depois, fingiu sorrir. O mesmo não sorriso do homem de gelo. Seria um pacto? Transferência amorosa-odienta entre criador e a abominável criatura?
O fato é que da primeira vez que estivemos juntos, ele pediu uns exames. Exames invasivos. Daqueles que você precisa fazer dieta, ficar desidratado, quase morrer e voltar com imagens que só o Dr. Gelo poderia decifrar. E não é que a gente retorna ao local do crime? Como se diz nas séries televisivas. Só que por esses lados, o sangue jorra, o pus fede, as excreções são excreções e que também são secreções. E esse médico- ótimo diagnóstico e sério-, homem de gelo, continua não se levantando para, digamos assim, saudar o próximo infeliz. E ele é bem chato. Feito esse texto. Deu pra sentir?

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Entranhas de baixo.

Um incômodo. Vindo de baixo. Permanecer numa certa posição estava se tornando impossível.
Resiste-se. Após uma inspeção cuidadosa e tendo aquele espelho íntimo para refletir o que não se consegue enxergar, a suspeita parecia se confirmar.
Fazia alguns meses que Ariobaldo utilizava um medicamento que poderia levar à constrangedora constipação. 'Mas como isso pode ocorrer? Por que comigo?' Frase típica do vitimizado patético.
O intestino sempre funcionara bem. Às vezes, até demais. Isso era motivo de orgulho. Nas eventuais consultas médicas vinha sempre aquela pergunta : ' O senhor evacua bem'. Constrangimento que normalmente era quebrado por aquela outra pergunta: ' O senhor bebe?- indagou o homem de branco. Sim. Aceito- respondeu Ariobaldo'. Afinal, não se deve recusar uma oferta como essa. Muitos considerariam falta de bons modos.
Constatado que o interior da bunda estava adoentado, aplica-se o procedimento caseiro na primeira tentativa de salvar o único traseiro que se tem. Pomada da vovó que passou para mamãe e que ainda funciona bravamente. Briosa, tinhosa, destemida. A pomada segurou o desconforto. Um alívio.
Prudentemente,  a bunda decide procurar pelo especialista. Estranhamente- ou seria preconceituosamente?- existem especialistas nessas partes menos pudicas. Mas será que haveria algum desses ou dessas com horário disponível mediante a urgência do caso? E se houvesse tão somente um horário disponível com uma doutora? Uma mulher?Como seria? Exibir a bunda e suas entranhas para uma desconhecida? E ela terá que manuseá-la... O narrador não consegue  imaginar. Ariobaldo muito menos.
Vejamos o preconceito. Por que não uma senhorita?
A questão é que o preconceito não pertence tão somente ao digníssimo proprietário do traseiro adoentado, mas esse modo de existir dessa espécie humana estranha chamada cultura.
Proctologista menina é coisa muito rara.  Já perceberam?
Livro na mão -- aquele com a lista dos médicos e laboratórios credenciados- dois nomes se exibem. E agora, Ariobaldo? A quem recorrer ? Não há recomendação. Par ou ímpar? Adedanha ? Lembram do joguinho? Maçã , jaca ou salada de frutas ou mista? Não era assim?
Os dois indicados para a manipulação das entranhas possuíam consultório próximos à residência do traseiro enfermo. Já que não havia nenhuma referência pregressa acerca dos doutores, o primeiro lhe conquistou. O segundo viria depois- óbvio- do primeiro. Como quem vem ... ôpa. Essa letra é do Chico Buarque. Meninas, senhoritas, mulheres, Atenas e um Buarque de Holanda. Conheceria, o Chico, alguma proctologista? Ou guardara o segredo para si? Poder-se -ia chamar Geni? Mesóclise. Não, Ariobaldo. Mesóclise não é o nome de uma proctologista grega e médica do Holanda. Vá estudar um pouco.
Decidido então. O primeiro da lista conquistara as partes íntimas de Ariobaldo.
Roupa escolhida no armário com esmero e a solidariedade da companheira. Perfume. Sim, perfume.
É preciso aparentar -mediante tantos personagens presentes- uma aparição perfumada, cheirosa.
A caminhada até o'matadouro' é curta. Talvez uns 400 metros. O prédio lhe era familiar. Naquele mesmo endereço, outros especialistas foram consultados. Menos mal. Essa familiaridade trazia algum conforto. Quarto andar? Pode ser. Era o quarto andar e o consultório não combinava com nenhum outro quarto visitado. Secretária muito simpática. Uma senhora. Um bom sinal. Será que o acompanha há muito tempo? Melhor não perguntar. Apesar da curiosidade, o cu de Ariobaldo ansiava por outras medidas. Os minutos passavam, passavam e nenhum sinal que o cu avariado fosse receber a devida atenção pelo tal doutor. Xiiiii! A sala começa a se encher. E agora? Qual o artifício para iniciar uma conversa com esses novos colegas tendo como tema principal essa região, no mínimo, constrangedora? Para um primeiro encontro- ainda que um 'blind date'- seria um pouco demasiado. Não acham?
Elucubrações à parte, esse senhor grisalho sentado ao lado do que parece ser a sua esposa deve ter experiências de sobra. E ele está bem! Sorriso de dentaduras e uma expressão serena. Mas.. Por que está sentado meio de lado feito barco à deriva? Xiiiiii...
Antes do pânico se instalar, a senhora secretária chama pelo nome de Ariobaldo: ' Pode entrar, Sr.'
É. A idade chegara. Um outro doutor havia lhe dito que após os 50 anos a validade expira. Os tais cinquenta e um não estavam ofertando uma boa ideia. Pode entrar senhor.... Esse chamamento de 'senhor' ainda ressoava enquanto se dirigia ao médico.
Jaleco branco, barba da moda. Voz grossa. Um certo tremor nas mãos... Seria doença? Estaria nervoso? Conversam. Não se trata de um papo. É uma anamnese entre o Doutor e aquele Senhor. Vocês bem sabem. A fim de se conhecerem um pouco melhor. É uma DR clínica.
Fim da entrevista. Uma maca lhe é apontada. 'Deite-se assim, assado'- disse-lhe. Kama Sutra? Não. Bem pior. De repente, aquele dedo por entre luvas e técnicas penetra fundo. Porém, é preciso que se diga: o cara é profissional.
Passado o primeiro trauma para os iniciados, ele já estava de volta à mesa de trabalho. Rapidinha.
'É... Uma hemorroida. Externa. A bem dizer'. Ariobaldo ficou intrigado. O que seria, por exemplo, uma hemorroida a mal dizer, doutor L.?
'Hemorroida? Que horror! Tanta pereba para se ter e essa 'óida'  com esse nome, aparência e local detestável. E como dói.Mas doutor? O que seria uma hemorroida a mal dizer? Insiste. Afinal de contas, o rabo é meu. - suplicou-lhe.'
Olhos negros, fixos, a barba da moda entre os dedos que lhe fazia carícias e o seguidor de Hipócrates ressuscita a frase de um personagem famoso de Melville, o Bartleby. Aquele escriturário.
'Melhor não'.


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Calibre 22

Leio o Calibre 22 de Rubem Fonseca como se estivesse degustando um vinho.
Essa frase significa quase nada. É tão somente uma frase para inciar uma dito qualquer pois deseja-se dizer alguma coisa. Então está dito. Toma-se um tiro calibre 22 e se faz uma analogia com a bebida preferida.
O livro foi recomendado. Um colega/amigo acabara de lê-lo. Através da rede social fez a divulgação.
Elogiou sobretudo o vitalismo contemporâneo de Rubem.
Nascido em Juiz de Fora, Minas, Rubem está com 92 anos. E deve estar seguindo a orientação de algum notório que teria dito que tinha todas as idades. A memória nos desenha um Ziraldo menino.
Mas esse bilhete-texto não é uma homenagem ao Rubem. Não sei fazer homenagens por escrito. Concordo com Pessoa. Cartas de amor são ridículas. E homenagens mal escritas também. E tampouco vou colocar cereja no bolinho do vascaíno egrégio. Estamos malcriados, por enquanto e portanto.
Mas antes de fuzilar com o derradeiro ponto, aconselho a leitura- é só uma dica- nesse livro mencionado, o primeiro conto que se chama 'Fantasmas'. Uma homenagem à impostura analítica. 



segunda-feira, 31 de julho de 2017

O fracasso da sociedade civil - mediante quase 3 décadas de ditadura militar- e da nossa própria incompetência resultam nesse quadro que se instala no Rio. Veremos os robocops e seus caminhões 'desfilando' pela cidade. 
O secretário de 'segurança' diz que a operação é inteligente e que existe uma logística eficaz,,,,, kkkkkkkkkkk. Gozador , o 'secretário.' População negra, jovem, pobre e honesta que se cuide... Já sabemos como será o patrulhamento de quem não sabe patrulhar. 
Em psicanálise isso se chama retorno de formações recalcadas.
Portanto, o infantilismo e sua neura triunfam. Temos os mediadores de Toga e a patrulha fardada ditando as regras. Reformas estruturais- que levam tempo- mas já se foram 32 anos que a 'Nova República" instalou-se- , nem pensar. É proposital esse genocídio contra a população, contra os policiais, contra os servidores públicos estaduais, contra euzinho e vocêzinha..
E o ministro Jungmann- ele já não foi comunista?- não quer pronunciar, mas pensou,e pronunciou o óbvio. Guerra.
Nenhum político brasileiro tem o culhão de falar, por exemplo, no necessário controle de natalidade. Uma certa classe média já pratica ou por falência ou por LUCIDEZ. 'BUT' ...
Tablóides ingleses afirmam que a formação conhecida como brasileira é idiota. Recorramos a Dostoiévski. Depois, se saco houver, continuamos o papo.
Operação Lava- Jato tem prazo de validade? A mocinha que matou os pais e que namorava na cadeia - não sei escrever o sobrenome dela que é alguma coisa parecida com nomes da Geórgia e que possuem 7 consoantes juntas numa única palavra- , segundo uma criminóloga e escritora paulistana ( muito articulada) trata seus vínculos paternos com prazo de validade. E nisso- ela , a maluquete , não está completamente errada. Só que ela é muito escrota. Quer ser escrota o tempo inteiro. PRAZO DE VALIDADE. o QUE NÃO TERIA prazo de validade?
Rádio Relógio Internética no face+ book. Vocês sabiam que o Guilherme Guinle, patriarca daquilo tudo e fundador da Cia Docas, chegou a ser sondado pelo Parido Comunista de Prestes- O cavaleiro e Cavalheiro da Esperança- a sair candidato? Não sei para quê. Mas o flerte ocorreu. O Partidão... Quem diria. O partidão... Mas partidão mesmo era o Guinle, não?😋

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O lixo e o 'lixo'

Veríssimo escreveu um belo texto sobre os vizinhos que se conheceram ao depositar o lixo na lixeira do prédio em que moram. Iniciou-se ali uma amizade. Uma parceria. Não me lembro desse texto. Foi Mônica que o trouxe de volta. Ela gosta muito do Veríssimo.
No meu caso, só encontrei uma única vez a vizinha na lixeira. Há muitos anos.Ela conversava com um funcionário do condomínio e chamava os outros de porcos.  ' Essa  gente porca' . Ao que parece , alguém sujou ainda mais o que já era sujo.
Quando me viu, levou um susto. Virou de costas e entrou no seu apartamento. Por quê o susto? Passados muitos ano, pergunto se um porco falante pode morder e machucar pra valer?!
Algum tempo depois, a malcriada se mudou. Tinha um filho surdo-mudo. E um outro que tagarelava pelos dois. Já o marido trabalhava num banco que não existe mais . A malcriada era uma recatada dona de casa. Vem de longe a qualificação.
Já a família , dona do banco, estaria numa situação bem difícil se a instituição financeira  ainda existisse. Irregularidades- e não foram poucas- surgiram à época. Os banqueiros têm o seu vasto mundo particular. É preciso desagradar, abusar muito dos seus sócios, de outros setores, para se arrebentarem. Os novos fatos indicam para isso.
Aquele marido da fulana malcriada, mãe do tagarela e do surdo mudo, tinha postura aristocrática. Elegante, esbelto. O casal era bem bonito. Assim como os filhos.
Antes do banco desaparecer do mundo, ele se aposentou. Venderam o imóvel e compraram um maior numa das melhores ruas do bairro. Deixaram os outros porquinhos para trás.
E eis que num final de tarde de Domingo, avistei-os num restaurante. O tempo é cruel. Feito de rugas, cicatrizes, celulites lembranças...Lixo.
Se ela retornou, essa recordação, é porque algo suscitou. A baixaria que a vizinha fez naquela manhã foi surpreendente.Contudo, foi instrutiva. Até então, não tinha a devida atenção com a lixeira e suas particularidades. Não que tenha havido alguma transformação militante chata das 'cousas' da chamada natureza, mas uma pequena elevação no nível de civilidade.
Mexendo no lixo, revisito aquele edifício em que nasci e que morreu. Ele era menos bonitinho, sem toques de contemporaneidade. Aconchegante. Próprio. O que pode significar próprio, não sei  Genética? Seus pilares e concretos familiares? Os vizinhos - apesar de certos pesares-  eram próximos. Sem se falar.
Por exemplo: nunca compareci a qualquer reunião do chamado Condomínio. E tudo se resolvia. Hoje, vivemos o contrário. Não que seja tão reacionário a ponto de não contemplar, apreciar e desfrutar das invencionices do mundo que acompanham o meu corpo débil. mas o  prédio morreu. No seu lugar, emerge um esconderijo necessário. Ao lado, um monstro de sei lá quantas patas de concreto, luxuoso, ultra-moderno, ergue-se sem cerimônia. Causou e ainda causa estragos. Mentira... Não é estrago. Atormenta a minha terrivelmente nesses últimos 3 anos. 
Uns canalhas. Despudorados, caras de pau, psicopatas da construção. Adoecem a vizinhança com um barulho inacreditável e substâncias tóxicas , alergênicas. Chegaram a trabalhar nos feriados e alguns domingos. O que é proibido por uma lei. Lei.... A que rege os desgraçados se chama 'faço o que quero e foda-se o resto. E não reclamem pois tenho razão'. Não há dúvida de que tens razão. Seu grande filho de uma puta! E quem não tem? Em que sanatório diriam o contrário?  Eles não obedecem às normas estabelecidas. Eles são a lei. Ao menos agem como se fossem.
Já se tentou de tudo. Brigar, processar, liminar... Tudo deu certo e errado. E aquele monte de operários que são surdos, pois não falam : berram, bostejam. Fora as canções...Desafinados. Mas segundo um poeta também tem um coração. Metáfora inteligente.
Nunca vistes o inferno tão próximo? Tão presente? Pois ele vez ou outra surge. Quando - frase do beatle assassinado- planejávamos outras coisas.




terça-feira, 18 de abril de 2017

Onde mesmo?

Saio. Guarda chuva aberto . Ela prometeu que vinha e veio . Anunciada, fez mistério . Caiu com duvidosa timidez. Era o início. Depois, chegou para valer. E as ruas estão tristes. 
A poça d´água mais próxima não faz mistério sobre o perigo que ela pode nos ocasionar. Sozinho. Absolutamente só. O mundo lhe parece distante. O ano parece que não passa. Por que as horas e seus minutos com os seus segundos não podem simplesmente estacionar, congelar? Eles são fictícios ou não? Esse tempo que não cessa de passar? 
Chega-se na esquina. As pernas mecânicas com seus motores e buzinas passam apressadas. Temerosos em não ultrapassar a próxima poça que acumula obstáculos. As nuvens são belas. Estão baixas. Encobrem o cristo. Contornam as montanhas. Ai está...
Ele se aproxima. Nada discreto. Amarelo reluzente. Há uma igreja mais à frente. O cidadão pouco diz. O caminho é indicado. Ele parece não falar. Emite um som gutural. É grandão, desajeitado. Não conhece o lugar onde está. Corajoso? Ele ou eu? Pista escorregadia... Vida de perigos. Deve ser a crise. E a oportunidade? Onde baila?  O cara está ali. Deixando-se conduzir pela necessidade. Pelo Tesão da sobrevivência. Seria mesmo? Será que ele sabe o que quer? Um bronco. Mas o broncos podem ser felizes. E os arrogantes? 'Aquilo ali é um estádio'?- perguntou. Sim e não. Respondi. É o Jóquei Clube. Lugar em que os cavalinhos pulam, correm, apanham. 'AH'....ou outro 'mugido' semelhante. E ali, caro senhor desorientado, logo, mais feliz, é a Lagoa. Lugar onde os peixes , antigamente, nadavam. .. Mostrou os dentes. Um sorriso?  O senhor pode pegar aquela rua principal para retornar a salvo. Alertei. 'Eu sei- num tom irritado-, conheço Copacabana.  ???????????????????
Não é por nada não, mas estávamos em Ipanema.  Boa noite. 

quinta-feira, 16 de março de 2017

A secretária eletrônica.

-A secretária eletrônica.
Fulano. Vem almoçar.
Não tenho fome agora.
E quando você tem fome?
O corpo me avisa .
E como ele lhe avisa?
Algo se manifesta por aqui. Feito a hora de cagar, mijar.Tem a ver com aqueles simpáticos e parassimpáticos.
Dispense essas figuras por algum tempo e venha almoçar .
A secretária eletrônica  gravava toda essa maluquice . Ela mesmo iniciava a conversa e continuava. Respondia automaticamente porque sabia as respostas que já tinham lhe sido dadas . A conversa foi repetida inúmeras vezes. Os argumentos não bastavam. Eram menos intensos do que aquilo que já tinha introjetado. Era a sua verdade. A sua visão tacanha , mas determinada sobre tudo.
Algo é inegável: certas formações mais ignorantes sofrem bem menos. E se forem arrogantes... Triunfam. O grau de semancol é zero,  É o gozo da cegueira feliz. É impressionante como não quer ver. Paga para isso. Você aponta e a criatura não quer ver. Fica feliz em permanecer cega . É o chamado recalque hiper-bem sucedido.  Aquilo fica- como diria corretamente um ex-ministro de estado nosso- imexível.  Palavra correta e cujo protagonista que foi sacaneado por todos - incluindo muitos  dos futuros eleitores  de um futuro presidente 'erudito'.
Essa criatura tinha essa característica. Velha era a vizinha de cima . Detalhe. Tinha 10 anos menos que  ela. Mas isso pouco importa. Nisso, sem saber, ela tinha razão. A idade e o tempo são ficcionais
Quantos anos você tem? Tenho todas as idades . Inclusive a que está na carteira de identidade. Já ensinava Millôr Fernandes. Artifício Social para se driblar o que não se é. Mas  ela não tinha essa sofisticação
E ela mentia a idade. E ela mentia sobre o fato ocorrido. Sobre o recado deixado. 'Não fui eu! ' Mas está gravado! É a sua voz!  'Deve haver algum engano'.
Trouxe a máquina. Liguei na tomada da sua casa . Chamei-a para escutar. Ela pediu para que repetisse. Botasse a fita novamente. Coloquei. Aumentei o volume  A voz estridente chamou a atenção da funcionária da casa que apareceu para ver o que estava acontecendo .
Perguntada sobre o que estava escutando, disse: ' É a voz da senhora';
Não adiantou. Nos chamou de mentirosos. E emendou: ' Detesto essa tecnologia toda '.  Não entendo disso e garanto : Essa máquina é mentirosa . Não é a minha voz'.
 Já tinha feito isso antes. Um amigo havia telefonado  , certo dia.  Deixou um recado para que eu lhe retornasse a chamada. Jamais me deu o recado. Não gostava do rapaz porque algum outro parente tinha bronca com ele.E por uma tolice juvenil. Ela resolveu então comprar uma briga com o ZÉ. Eu lhe lembrei que havia feito isso. Desmentiu. Quis uma acareação. Recusou-se.  Saiu vociferando contra tudo e todos. Até a secretária eletrônica se tivesse poderes de interagir teria lhe chamado atenção.
Nunca mudou. E era feliz.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Cores

Uma cidade pode ter as cores todas. Dependendo do fundo do olho em que você a enquadre , ela pode ser cinza feito aqueles dias mais cansativos ou de céu azulado feito a cor dos trópicos mais divertidos e ..enfadonho. Teria sido- futuro do pretérito - o alemão Goethe - aquele do adorável Fausto e seus demônios familiares- aquele que disse ' Nada mais aborrecido que uma sucessão de dias belos' ?
A cidade aborrecida de Goethe tinha céu poluído de azul quase sempre.
Goethe teria nascido em outro mundo?
Vejo um quadro de Magritte, o Belga, em que um beijo era nada mais do que um fantasma de lábios entrelaçados. Ao menos, para o olho de cá.