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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Chatices.

O que levaria a um encontro a mais? Era a quinta vez que se retornava ao mesmo médico para investigar umas sensações desconfortáveis no chamado tubo digestivo. Esse, ao contrário daquele outro do texto anterior, foi indicado.
Desde a primeira vez, ele não se levantou da cadeira. Um copo d'água à direita,sempre cheio, ao lado do computador. Curioso. Ele consulta o computador mas tem as suas fichinhas. Vai que a luz nos falta?
Seco. Olhos contundentes e um esboço de sorriso. Irritante. Completamente irritante.
' O senhor evacua normalmente? O senhor sente peso no estômago? O senhor ...'
O  desejo de lhe mandar à merda é colossal. O problema é que o seu desejo não tem maiores poderes do que isso, ou seja: desejar. Mandá-lo à merda significava embarcar sozinho nesse mar de odores não muito agradáveis. O desgraçado permaneceria por ali. Impávido na sua cadeira. AH! Há uma secretária que, nessas cinco consultas, e com espaço de tempo considerável entre uma e outra, sempre estava com uma incômoda coriza. Percebendo o olhar que lhe dirigia, respondeu com aquele ar burocrático de secretária: ' Alergia'. Depois, fingiu sorrir. O mesmo não sorriso do homem de gelo. Seria um pacto? Transferência amorosa-odienta entre criador e a abominável criatura?
O fato é que da primeira vez que estivemos juntos, ele pediu uns exames. Exames invasivos. Daqueles que você precisa fazer dieta, ficar desidratado, quase morrer e voltar com imagens que só o Dr. Gelo poderia decifrar. E não é que a gente retorna ao local do crime? Como se diz nas séries televisivas. Só que por esses lados, o sangue jorra, o pus fede, as excreções são excreções e que também são secreções. E esse médico- ótimo diagnóstico e sério-, homem de gelo, continua não se levantando para, digamos assim, saudar o próximo infeliz. E ele é bem chato. Feito esse texto. Deu pra sentir?

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