Veríssimo escreveu um belo texto sobre os vizinhos que se conheceram ao depositar o lixo na lixeira do prédio em que moram. Iniciou-se ali uma amizade. Uma parceria. Não me lembro desse texto. Foi Mônica que o trouxe de volta. Ela gosta muito do Veríssimo.
No meu caso, só encontrei uma única vez a vizinha na lixeira. Há muitos anos.Ela conversava com um funcionário do condomínio e chamava os outros de porcos. ' Essa gente porca' . Ao que parece , alguém sujou ainda mais o que já era sujo.
Quando me viu, levou um susto. Virou de costas e entrou no seu apartamento. Por quê o susto? Passados muitos ano, pergunto se um porco falante pode morder e machucar pra valer?!
Algum tempo depois, a malcriada se mudou. Tinha um filho surdo-mudo. E um outro que tagarelava pelos dois. Já o marido trabalhava num banco que não existe mais . A malcriada era uma recatada dona de casa. Vem de longe a qualificação.
Já a família , dona do banco, estaria numa situação bem difícil se a instituição financeira ainda existisse. Irregularidades- e não foram poucas- surgiram à época. Os banqueiros têm o seu vasto mundo particular. É preciso desagradar, abusar muito dos seus sócios, de outros setores, para se arrebentarem. Os novos fatos indicam para isso.
Aquele marido da fulana malcriada, mãe do tagarela e do surdo mudo, tinha postura aristocrática. Elegante, esbelto. O casal era bem bonito. Assim como os filhos.
Antes do banco desaparecer do mundo, ele se aposentou. Venderam o imóvel e compraram um maior numa das melhores ruas do bairro. Deixaram os outros porquinhos para trás.
E eis que num final de tarde de Domingo, avistei-os num restaurante. O tempo é cruel. Feito de rugas, cicatrizes, celulites lembranças...Lixo.
Se ela retornou, essa recordação, é porque algo suscitou. A baixaria que a vizinha fez naquela manhã foi surpreendente.Contudo, foi instrutiva. Até então, não tinha a devida atenção com a lixeira e suas particularidades. Não que tenha havido alguma transformação militante chata das 'cousas' da chamada natureza, mas uma pequena elevação no nível de civilidade.
Mexendo no lixo, revisito aquele edifício em que nasci e que morreu. Ele era menos bonitinho, sem toques de contemporaneidade. Aconchegante. Próprio. O que pode significar próprio, não sei Genética? Seus pilares e concretos familiares? Os vizinhos - apesar de certos pesares- eram próximos. Sem se falar.
Por exemplo: nunca compareci a qualquer reunião do chamado Condomínio. E tudo se resolvia. Hoje, vivemos o contrário. Não que seja tão reacionário a ponto de não contemplar, apreciar e desfrutar das invencionices do mundo que acompanham o meu corpo débil. mas o prédio morreu. No seu lugar, emerge um esconderijo necessário. Ao lado, um monstro de sei lá quantas patas de concreto, luxuoso, ultra-moderno, ergue-se sem cerimônia. Causou e ainda causa estragos. Mentira... Não é estrago. Atormenta a minha terrivelmente nesses últimos 3 anos.
Uns canalhas. Despudorados, caras de pau, psicopatas da construção. Adoecem a vizinhança com um barulho inacreditável e substâncias tóxicas , alergênicas. Chegaram a trabalhar nos feriados e alguns domingos. O que é proibido por uma lei. Lei.... A que rege os desgraçados se chama 'faço o que quero e foda-se o resto. E não reclamem pois tenho razão'. Não há dúvida de que tens razão. Seu grande filho de uma puta! E quem não tem? Em que sanatório diriam o contrário? Eles não obedecem às normas estabelecidas. Eles são a lei. Ao menos agem como se fossem.
Já se tentou de tudo. Brigar, processar, liminar... Tudo deu certo e errado. E aquele monte de operários que são surdos, pois não falam : berram, bostejam. Fora as canções...Desafinados. Mas segundo um poeta também tem um coração. Metáfora inteligente.
Nunca vistes o inferno tão próximo? Tão presente? Pois ele vez ou outra surge. Quando - frase do beatle assassinado- planejávamos outras coisas.
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