Passeando pela Grécia e seus personagens egrégios, os tais filósofos, encontramos figuras fantásticas e bem doentinhas, tal como salientou Fernando Pessoa.Empédocles, Tales ( considerado o primeiro filósofo e que nos apontou a água como elemento fundamental da existência de todas as coisas), Parmênides e sua unicidade ,posterior a Heráclito e suas mudanças , seu mobilismo constante ( quem não se recorda da máxima DE Heráclito "um mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio.) , os Céticos e o homem que tinha como fundamento para sua investigação sobre tudo o que há e para nossa espécie, o número, o Sr. Pitágoras.Mas já que somente sou um diletante em assuntos filosóficos - gosto bastante de Russerl, Cioran, Wittgenstein,Nietzsche, Maquiavel, Marx,dentre outros) tomarei aquela fábula de Aquiles e seu algoz tartaruga , de Pitágoras, a exemplificar o que desejo descrever.
Na sua tentativa, elegante como quase tudo em Matemática, de apontar uma lógica formal ao afirmar que Aquiles- corredor herói grego, provavelmente descendente da cidade de Maratona ,que pega fogo nesse momento e recebeu tal nomeação pois um mensageiro percorreu, correndo, 42 kms até chegar a seu destino- não alcançaria jamais a tartaruga solta alguns metros antes , esqueceu-se , tal como demonstra Parmênides que a realidade das coisas, do haver , não fala necessariamente matemática. Portanto, de um certo ponto de vista matemático,pois qualquer que fosse a distância percorrida por Aquiles , ele jamais alcançaria a tartaruga que já teria percorrido alguma distância a mais e entre aquele ponto inicial de vantagem sobre o ponto em que Aquiles- com toda a sua disposição de atleta- se encontrava existe um espaço com infinitos pontos , impossíveis de serem percorridos inteiramente, e por conseguinte alcançar a famigerada tataruga, lerda desde sempre.Porém, com a evolução da Lógica, com o surgimento da Física , Pitágoras,por certo, teria que rever alguns pontos de seu teorema.Já fui alertado que toda teoria, Felizmente, tem prazo de validade.
Dando um pequeno salto - alguns milhares de anos- tomo tenência de Enrique Vila-Matas , esse catalão sessentão, que é um grande escritor. Amiga querida, em almoço recente, narra para mim algo que se passa em um dos seus brilhantes contos e que mostra um corredor que não alcança ou e´ultrapassado por um velho, ou será o velho que não alcança o jovem? Pra mim tanto faz , pois o que me leva a essas digressões todas é que a guerra há, o tempo todo, até na pista de Cooper da praia de Ipanema. Há a guerra permanente entre os mais aptos, mais bem condicionados e os que não são ou já foram e/ou jamais serão. Para quem aprecia tanto essa ontologia sobre fui, serei, sou, enfim , o tal do SER, ou seja, os filósofos, a junção de Aquiles/Pitágoras/Heráclito, coreografado lindamente por inspiração catalã de Enrique , não é inteiramente delirante.Um pouquinho só....senão não há falação que aguente!
Caminhava pela ciclovia de meu bairro , bairro em que nasci e vivo , o Principado outrora elegante ,de Ipanema,quando ouvi o seu coração.Ele batia acelerado, mas elegante. A respiração era suave e os passos inaudíveis.
Recusei-me a olhar para trás ( Mas só uma espiadela porra!!). Fiz por orgulho,tal recusa. Não podia crer que na madrugada , sabiamente silenciosa, alguém estivesse vivo e ainda por cima caminhando na orla , assim como eu!Não olharei e pronto! Quero que esse merda abusado morra!Que tenhas a cãibra!Como te atreves em me perseguir madrugada à frente!Fora daqui seu delinquente notívago!A praia não somente sou eu como é toda minha!!Tem noção de quanto tempo faz que conquistei essa exclusividade!!
Quando decidi por olhar já era tarde demais. Estava aniquilado. À minha frente, caminhando como que numa marcha atlética , suavemente, feito madrugada, ia um senhor totalmente grisalho, perto dos 80 anos. Nem precisava fazer-lhe uma "Blitz" a averiguar documentos. Era contemporâneo de meu velho pai que já conta os 80, à beira dos 81.
O desgraçado estava de branco feito pai de santo antigo.Só que era bem branquinho também.A pele alva ,algumas manchas e um tênis amigo. Quase berrei feito louco:" Ei!Qual a marca desse tênis!Vou te pegar no anti-doping desgraçado... que fura fila nos bancos(antidoping now?)!
Quanto mais aflito ficava, a distância aumentava.Logo, Pitágoras tinha razão. A única diferença é que aqui a realidade tinha se avessado: a tartaruga era eu.
Decidi reagir. Comecei a correr. De quem?Não sei, mas continuei a correr.De repente, ultrapassei Aquiles.A tartaruga triunfou novamente. Será?
Diabos!Vou ter que olhar para ele de novo. Dessa vez , virei-me inteiro para celebrar o trunfo do animal!
Ele, talvez um Aquiles longe de casa, sorria... suave.Na verdade (outra categoria que filósofo adora) quase indulgente parecia estar. Mas pra que perdão?E quem disse que os animais não estão soltos, correndo, fazendo a guerra errada,no lugar errado, na hora errada?
Estava lá , naquele sorriso.
Um comentário:
muito bom esse texto, querido! adoro!
Postar um comentário