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domingo, 8 de março de 2009

São Sebastião dos Mijões

São Sebastião dos mijões.


Há vinte e cinco anos , retornei ao Rio. Costumo dizer que havia me tornado uma espécie de exilado , após oito anos residindo em Brasília. A cada vinda para as férias anuais – e naquela época , as férias se prolongavam por meses – o regresso era sempre difícil, doloroso.
Era notório para mim que as minhas coisas estavam aqui. Sempre fui um turista na nova capital. Aliás, creio que é uma sensação que quase todo carioca tem quando o assunto envolve a tal capital centro-oeste: uma certa dose de antipatia. Não somente pelas mazelas políticas - sempre adscritas ao que lá ocorre , esquecendo-se do quintal nosso , onde situações terríveis acontecem também-, mas pelo fato de que a perda da condição de capital federal muito nos custou. Um preço alto no campo político assim como no plano econômico.
Até a primeira metade dos anos cinquenta , no século passado, O Rio era o centro político e potência econômica do país. São Paulo vinha em segundo lugar. Curiosamente , assume a liderança econômica do Brasil sem ter uma participação política federal significativa. Depois do surto histérico do Sr. Jânio Quadros,mediante a sua renúncia, as transas políticas ficaram ainda mais difíceis para Paulistas e Paulistanos, no decorrer dos anos 60 e 70.Sem contar com a imensa generosidade que o grupo de Comunicação mais poderoso do país sempre teve para conosco, cariocas e fluminenses.Mesmo assim os paulistas passaram a faturar tudo. E nós, sofrendo de síndrome brizolista, a partir do anos 80, pagamos o preço pela incompetência administrativa, política, etc. Esse pesadelo só terminou há muito pouco tempo. O certo é que ficamos para trás. Na verdade, muito para trás. E eles faturam , há pelo menos 15 anos, desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, politicamente também.As línguas mais informadas falam até em ‘paulistérios’ , etc.
Numa tosca comparação com o nosso mais querido balneário , visitem as estações rodoviárias das duas cidades. A de São Paulo tem sala de espera refrigerada, café ou chá, rodomoças educadas e atenciosas, boas lojas , restaurantes e lanchonetes iguais aos existentes nos melhores bairros de qualquer cidade, etc. Ah!Tratando-se de uma métropole de verdade, há metrô na estação rodoviária e pontos de táxi organizados. E é limpíssima, a tal estação. Levando-se em conta que o movimento por lá é intenso, o maior da América do Sul e da América Latina e um dos maiores do mundo, tal fato deve ser considerado.
Quanto a nossa, que de nova só tem o nome, Novo Rio,talvez seja melhor nem ao menos comentar. O nosso famigerado aeroporto está em condições mais precárias do que a rodoviária deles. Somos ou não somos uma capital apta para o turismo?
Volto no tempo e vejo as ilusões de quem ainda está por nascer. Projetos e ideais , normalmente míticos, passeiam lado a lado.
Naquele verão, quando a cidade do samba nascia, o resto da cidade ganhava as estradas , fugindo das folias de momo. Era comum o carioca desaparecer nos dias de folia.Restavam os bailes nos poucos clubes que , heroicamente, abriam os seus salões para os bêbados da época. Havia o festejado“Uma Noite em Bagdá” do Monte Líbano que, pouco a pouco, transformou-se em baile pornô. A televisão, evidentemente, estava lá. Eram os anos fim de ditadura de milico nesse país.
Logo após o carnaval , intensificaram-se as campanhas pelas eleições diretas. Um direito re-conquistado , depois de 25 anos. Sim, porque a emenda do já falecido Deputado Pmdebista , Dante de Oliveira ,que estabeleceria o retorno do povo às urnas em 1985 , foi derrotada em plenário.
A eleição desse mesmo ano, 1985, se deu no colégio eleitoral. O doente Tancredo Neves – ninguém consegue desenvolver um câncer tão fulminante em idade avançada em tão pouco tempo -, venceu as eleições , derrotando o inacreditável Paulo Maluf. Carnaval fora de tom.Ganhou e não levou.
Havia também os bailes do falecido clube Sírio Libanês ,em Botafogo. Eram menos picantes. Por lá , as meninas exibiam só um dos peitinhos. O outro,sabiamente resguardado, seria apreciado e etcs, mediante o talento do freguês.
E o Clube Federal? Na nobre área do Leblon, reunia as mocinhas e mocinhos das redondezas. Bailinho familiar. Ao menos era essa a fama. Porém, num dia de folia , alguém comentou sobre a fama do bailinho. Um conhecido meu teria respondido: ‘ era. Era um baile de família. Comprei um ingresso para mais à noite’.
Carnaval de rua nessa época era... ótimo. Sabe porquê? Porque poucos iam. Os ensaios dos Simpatias e Suvacos – que vi nascer no fim dos anos 80 – eram concorridamente civilizados. Drogava-se bem menos também. Os especialistas afirmam que a larica de hoje é mais intensa porque o baseado é bem mais forte. Assim ocorre com a cocaína e as drogas sintéticas que já invadiram o mundo. Fazendo um preâmbulo, vale conferir o artigo , publicado no jornal O Globo, de um prezado colega, Psiquiatra e Psicanalista , Paulo Próspero, sobre o tema.
É tudo normal e isso é que é o pior. A divulgação contamina. Todos tem ( antigo têm) o direito de gozar também. E por causa disso, os ensaios desses blocos pioneiros quase acabaram. Chegaram a realizar alguns, sem ao menos avisar local e horário,temendo invasão e balbúrdia.É claro que existem os oportunistas. Passaram a faturar grana alta. Quanto a qualidade da obra e o conforto de quem a aprecia.....
Consequentemente, alguns outros insatisfeitos fundaram seus blocos. Digamos que a moda é botar um bloco na rua. Cada um faz o seu, cada condomínio, cada síndico também! Seremos em 2015 uns cinquenta mil blocos. Tudo na maior ordem. Uma ode à nossa bandeira, cafonamente positivista: Ordem e Progresso. Aliás, ‘tudo o que há’ por esses lados brejeiros.
Vivemos tempos obscuros em que se supõe que o Glamour é exibir a bunda – e agora o xixi- para todos.Nada mais democrático, tal qual ônibus: para todos! Além, é claro, de toda a “cultura e erudição” existentes. É só ligar a famigerada televisão e dar o testemunho.
Nada contra o Botox,muito pelo contrário - já que sou favorável a toda produção protética que venha nos salvar um pouco das trevas-, mas ele não remove as pelancas do lado direito ou esquerdo do cérebro. Ele remove somente aquelas que a gente tem como esconder. As outras não podem não ser escondidas. E só resolve quando se morre, ou seja, não se resolve. Vida eterna!
E as escolas de samba? Igualmente chatas. Vamos ver se descolamos uma verbazinha para alguma escola de samba ( samba?) homenagear a minha loja favorita de artigos eróticos? Há quem alegue que o carnaval dura somente uma semana. Deveriam ser somente 4 ou 5 dias, não é mesmo? Caríssimo: a eternidade pode durar alguns átimos de segundo. Já imaginou um revólver na cabeça? Qual é o tempo marcado?Segura-se o revólver ou a ampulheta?
Respeitável público: o carnaval no Rio, assim como o futebol – e não é só aqui- ao contrário do que acreditam alguns , sonâmbulos ou virgens, e outros, oportunistas, acabou.
Virou, no máximo, um enorme penico.Sabem o porquê? Porque planejamos mal as nossas cidades, a nossa festa,a nossa vidinha, a nossa infra-estrutura ( ainda tem hífen?). Contudo, fiquemos tranquilos. A direção da Comissão de Infra-Estrutura do Senado Federal está nas mãos de um conhecido folião: Fernando Collor, ‘the ex-President’.

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