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segunda-feira, 23 de março de 2009

Dois comensais

Dois Comensais


Dois jovens , na mesa ao lado, conversam. Uma menina e um menino. A menina, pequenina, tem os olhos apaixonados. O garoto , com ares aristocráticos , bebe uma cerveja. Tem olhos claros e distantes. Ela me lembra alguém. Apesar de jovem, parece uma senhorinha. Creio que é por causa dos gestos. Eles são medidos, bem contornados. Bebia, inclusive , bebida de gente mais velha: aqueles coquetéis coloridíssimos e sem graça, ou seja, sem álcool. Talvez por isso estivesse tão compenetrada. Ela falava, falava e o garoto ,de braços alongados, escutava e comia. Corretos os meninos. Comiam aquelas coisas saudáveis , verdes demais e ....também sem graça.
Alguém , creio que um Rei, dissera que as coisas melhores são imorais, engordam e também são proibidas. Perfeito. É bem provável que seja um Liberal de última instância, tipo Bob Field , o nosso falecido Roberto Campos, ou algum menbro do prestigiado ‘The Economist’. Tudo bem que cada um de nós deve ser responsivo sobre os atos praticados ou não, mas em termos de aplicação política é quase impossível. Estaríamos entrando numa espécie de anarquia, o que não é viável. Até porque observamos nessa crise econômica que muitos liberais estão correndo para o colo do Dr Marx, Dr Marcuse, Dr Engels, dentre outros.Um dos gurus dos liberais , O Sr.George Soros , está assustado!
Seriam os nossos jovens comensais liberais? Não creio que estejam interessados nesse tipo de conversa. Ela, por exemplo, está mais interessada em apreciar as folhas que se exibem no prato à frente e nos belos olhos do gajo. Que mané Liberalismo coisa nenhuma! Teria pensado intimamente se indagada fosse.
Tentar adivinhar a idade do jovem casal também seria uma tolice, pois eles todos são tão parecidos. Dezoito, vinte ou vinte e dois anos, qual seria então? Façam as apostas.
Sinto frequentemente um abismo entre mim e essas gerações mais novas. São inteligentes , mas desinteressados, a grande maioria , naquilo que me alimenta.Tanta informação, e cada vez mais rápida, para que mesmo? A tecnologia , que é uma grande obra poética, pode ser um imenso desperdício nas mãos de maus poetas. Na verdade, pretensos poetas. Já se chegou a cogitar se não seriam novos poetas os tais “hackers”?
Muitas vezes , sinto essa distância até mesmo no que tange banalidades , tais como futebol. A garotada não reconhece algo que tenha existido antes da banda larga, do DVD, ou seja, dos tempos digitais! Já chegaram a comparar qualquer um dos medíocres ,que enganam pelos gramados brasileiros, com Maradona. Maradona é insuportável pessoalmente , mas foi um grande artista da bola! Nada que se compare aos embustes que a mídia insiste em faturar sobre. Qualquer empulhação que possa trazer audiência e milhões de Reais, Dólares, Euros, vale a pena.
Imagino se para contemplar os concertos de Beethoven ou Mahler teremos que recorrer somente ao mundo digital. Existe maestro rigoroso que jamais aceitou gravar coisa alguma, pois alegava que nem todos os sons poderiam ser captados. E isso de forma analógica que, capta muito mais o que está em volta - aqueles chiados por exemplo-, do que o sistema digital que, obviamente, os elimina.
De repente, o casal está de pé. A comilança politicamente correta foi esquecida. Um outro casal, bem mais velho, chegara e iniciou uma prosa. Ficaram em pé e risinhos ecoavam. A jovem senhora ria e balançava as pernas. Parecia excitada. Pensei: ‘ Deve a ser mamãe da menina’. O homem, grisalho, não parava de falar. O rapaz sorria , constrangido. Eram, por certo, parentes ou amigos da mocinha.
Sentaram-se na mesa atrás. O cara não parava de falar. Solidão realmente é uma merda!
Olhei rapidamente e a jovem senhora olhou de volta. Tinha traços bonitos , mas bem machucados pela tal da idade. Francamente, era um daqueles rostos que já foram delineados por centenas de bisturis. A velha- moça sorriu , a perna se levantou. Permaneceram pouquíssimo tempo no restaurante. À saída, diante do jovem casal nova parada. Alguns comentários a mais e o falastrão resolve beber um gole da cerveja do menino. A sua acompanhante balança agora as duas pernas. A menina já não acha mais graça. Ufa! ‘- Foram embora!’ – celebraram alfaces, brócolis , tomates...
O silêncio atravessou o resto do restaurante. ‘ Beija a moça, beija’ . Havia torcida e tudo mais! Ela , com rostinho de santa , ou seja, repleto de veneno, tenta tocá-lo nas mãos. Ele não permite. O rosto dela agora está transfigurado. Sente-se humilhada, rejeitada, desprezada. Já me aconteceu algo semelhante. Faz tempo, porém, ainda integra o meu arquivo de ressentimentos.
O mocinho, com mais traços aristocráticos do que antes, impávido permaneceu. Pagou a conta e se levantou para partir.
Teriam sido as tolices do falastrão que afetara o humor do jovem mancebo?Imagino o grisalho dizendo: “ Olha lá, hein? Vai comer a filha da minha amante hoje, não é? Ou ainda: ‘ É melhor parar de beber senão a polícia vai te pegar’! Ou pior: “ Ô rapaz! Larga de ser viado e reboca logo para um motel!”
Com um sorriso de superioridade estampado na face, o tal viado, ou melhor, o mocinho segue a sua “partner” .
- O senhor está de carro?- indaga o segurança do restaurante.
- Estou, mas ela não. Peça um Táxi para a senhorita, por favor.
Sem dúvida, um liberal. Nosso futuro está garantido, não está?

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