O telefone tocou às nove horas de uma manhã recente. Do outro lado o moço , cujo narcisismo -exibicionista me espanta de inveja, indaga: " Bom dia , senhor. Como vai o seu varal?"
Sem perder tempo, respondi-lhe com uma certa dose de irritação: Estava bem até poucos dias, mas com essa mudança brusca de tempo, resfriou-se.
Garanto que havia sinceridade na resposta. Por certo , jamais havia sido acordado - estava acordado?-, por uma indagação sobre o estado do meu varal. Confesso , com culpa e tudo, que nem ao menos me lembro que possuo um.
Porém, percebo que ele fica ali do lado de dentro, e agora ganhou similar do lado de fora. Talvez, lembrando-se do pobre diabo que reside para fora, fiz a suposição de que havia adoecido.Ou teria sido vingança? Devo esclarecer que desde que fora instalado , o tal do lado de fora, tenho cuidado particular com o desgramado. Chamo-o assim pois ele me remete a alguns aspectos salvacionistas que, ingenua e perversamente, ainda mantenho. Já repararam que uma gama imensa de formações existentes não estão nem um pouco interessadas em ser salvas. Por exemplo: o tal do mundo.
O varal , devo reconhecer, é destemido. Exibe algumas das minhas intimidades sem pudor algum. Aliás, qual o varal de fora que não exibe as intimidades de todas as casas. Alguns outros, os de dentro, movidos por assanhamento neurótico, também não hesitam em exibir suas calcinhas, cuecas, sutiãs e outras privacidades. A vida tem vulgaridades indeléveis!
Imagino então o varal dos afortunados. O que será que está em cartaz no momento?
Muitos supõem ser uma imensa tolice essa minha preocupação com privacidades 'underwear', em tempos de Internet, em tempos de exibição do que quer que seja, do que quer que haja.
Relembrando o falecido Foucault, que era contra até carteira de identidade, como se exibir transparentemente?Que tal se deslocar sem ser notado, ou seja, caminhar corretamente!Qualquer mestre nas artes marciais assinará embaixo. Abaixo a força bruta! Vivemos tempos de flexibilidade, agilidade!Até os motores das próteses , denominadas automóveis, meras extensões do meu corpo débil, são menores, mais ágeis, econômicos e eficientes.
Os varais ainda são estúpidos e as máquinas que secam com discrição são deveras perdulárias.
Apaixonei-me pelo desgraçado ainda mais, após notar a sua importância e requisição. "- Interesseiro!- vociferou o dentro". Sim, tenho os meus interesses! Agora mesmo, observo a advogada ,da casa em frente ,estender a colcha que espantou o frio de ontem. Escutei um espirro. Não, a colcha não se resfriou. Era uma lágrima que caía. A colcha lhe foi solidária, encobrindo-lhe o rosto triste.Será que rompera com o namorado? "- Alcoviteiro!- Berrou o de dentro".Sim, e por que não? É vizinha, sozinha, veio do interior pra cidade grande e.....'- Mentiroso!- Desdenhou". Às vezes, tal qual os de fora e os de dentro.
Desliguei o telefone. Do lado que só posso conjecturar enquanto outro lado,o lado de lá, O Sr. Moura , o homem dos varais, justificava-se: " A coisa tá feia".
Compreensível, mas não às 9:00 de mais um amanhã.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
domingo, 28 de setembro de 2008
Estamos a uma semana da famigerada eleição. Nesse exato momento, alguns patetas se debatem feito bichos na TV. Disputam uma vaga na prefeitura da maior cidade brasileira. Na verdade, eles querem comandá-la por mais alguns anos. Quatro agora, mais quatro adiante.
São todos maravilhosamente cínicos. O poema em linha reta de Fernando Pessoa os definiria bem melhor do que qualquer linha que aqui possa eu postar.Quem tem o desprazer em contemplar o tal programa finaliza finalmente : são todos príncipes e nós , eleitores obrigados, uns otários!
Para se ter uma idéia da gravidade do programa, havia um delinquente declarado por lá. Sim, declarado! Pois já fora preso, não pode por as patas fora do país, etc, etc e mais roubo, mais roubo, etc etc.É esse o programa de governo! E ali se encontra o pilantra a chantagear adversários visto que ainda hipnotiza alguns milhares de paulistanos, sócios nas maracutaias ou otários incuráveis. Se bem que: cada um tem o candidato que merece; o analista que merece e assim por diante. É a nossa condenação. Uma mistura de marionetes e iludidos. Recentemente , debruçando-me sobre a obra de Emmanuel Mounier, jovem filósofo morto aos 45 anos em 1950, e pai do que ficou conhecido como Personalismo, constatei o que o velho-jovem Freud já havia vaticinado: a religião sempre triunfará. Emmanuel, que merece todo nosso respeito apesar de ser muito chato, chega a reverter o cogito cartesiano para afirmar que o que há de ôntico , ou seja, da ordem do ser , na sua mais alta conta ,é a capacidade de amar. A vida vale a pena ser vivida porque se ama. E juntamente com isso vem a tal da liberdade....Um pouco demais , não acham?
Liberdade.... A nossa mais suprema ilusão. A não ser que a consideremos em termos tão somente modais, regionais.É mais ou menos quando nos reportamos a tal da felicidade. Ela existe? É claro! Quem de nós não teve, tem e até poderá ter Novamente, momentos de felicidade! Não é difícil. Aquela paixão, aquele calor súbito - não confundam com ataque de pânico ou fobia, por favor-, aquele arrepio, enfim , cada bichinho com o seu tesão particular e merecido chamado felicidade.
O problema é que Mounier e seus discípulos , espalhados por todo o mundo judaico-cristão, esquecem, ao falar de amor, de seu amigo mais íntimo, o chamado ódio. E a tal da liberdade , o livre arbítrio, recalcando nossa condenação em haver e a imensa rede na qual estamos arrolados.Somos meros atores- alguns principais , tais como os palhaços que mencionei há pouco-, e outros simples coadjuvantes, tal qual a maioria de nós. Há gente que supõe ser célebre porque tira fotos para revistas a serviço da pior das alcovas.Aliás, há gente- gente?-, que se exibe em qualquer circunstância: velório, prisão, falência, erro médico,briga de casal e outros vexames. O que cabe , inclusive, uma pergunta: Aonde se esconde a fronteira entre a fama e a vulgaridade?
Já estive em velório de gente nobre- nobre de verdade - que se transformou em festa gay! Sempre achei que velório fosse um local para recato, no mínimo.
Já que não apostamos numa reforma política decente, o quadro que há é esse aí.
Nessa semana que inicia ,e ela se inicia com o cheiro de mato-chuva à beira de minha modesta e arrogante janela, e se a Time Life permitir que a Globo permita, teremos o nosso neo-e tológico debate aqui, na capital do meu mundo, o Rio de Janeiro. Quem sabe não damos uma chance ao nosso alcaide novo. Alguém com inteligência , astúcia , coragem, educação, charme , probidade nos atos públicos e que tem Fernando no nome , assim como Pessoa , cujo personalismo não é a caretice de Mounier: Fernando Gabeira , Prefeito.
São todos maravilhosamente cínicos. O poema em linha reta de Fernando Pessoa os definiria bem melhor do que qualquer linha que aqui possa eu postar.Quem tem o desprazer em contemplar o tal programa finaliza finalmente : são todos príncipes e nós , eleitores obrigados, uns otários!
Para se ter uma idéia da gravidade do programa, havia um delinquente declarado por lá. Sim, declarado! Pois já fora preso, não pode por as patas fora do país, etc, etc e mais roubo, mais roubo, etc etc.É esse o programa de governo! E ali se encontra o pilantra a chantagear adversários visto que ainda hipnotiza alguns milhares de paulistanos, sócios nas maracutaias ou otários incuráveis. Se bem que: cada um tem o candidato que merece; o analista que merece e assim por diante. É a nossa condenação. Uma mistura de marionetes e iludidos. Recentemente , debruçando-me sobre a obra de Emmanuel Mounier, jovem filósofo morto aos 45 anos em 1950, e pai do que ficou conhecido como Personalismo, constatei o que o velho-jovem Freud já havia vaticinado: a religião sempre triunfará. Emmanuel, que merece todo nosso respeito apesar de ser muito chato, chega a reverter o cogito cartesiano para afirmar que o que há de ôntico , ou seja, da ordem do ser , na sua mais alta conta ,é a capacidade de amar. A vida vale a pena ser vivida porque se ama. E juntamente com isso vem a tal da liberdade....Um pouco demais , não acham?
Liberdade.... A nossa mais suprema ilusão. A não ser que a consideremos em termos tão somente modais, regionais.É mais ou menos quando nos reportamos a tal da felicidade. Ela existe? É claro! Quem de nós não teve, tem e até poderá ter Novamente, momentos de felicidade! Não é difícil. Aquela paixão, aquele calor súbito - não confundam com ataque de pânico ou fobia, por favor-, aquele arrepio, enfim , cada bichinho com o seu tesão particular e merecido chamado felicidade.
O problema é que Mounier e seus discípulos , espalhados por todo o mundo judaico-cristão, esquecem, ao falar de amor, de seu amigo mais íntimo, o chamado ódio. E a tal da liberdade , o livre arbítrio, recalcando nossa condenação em haver e a imensa rede na qual estamos arrolados.Somos meros atores- alguns principais , tais como os palhaços que mencionei há pouco-, e outros simples coadjuvantes, tal qual a maioria de nós. Há gente que supõe ser célebre porque tira fotos para revistas a serviço da pior das alcovas.Aliás, há gente- gente?-, que se exibe em qualquer circunstância: velório, prisão, falência, erro médico,briga de casal e outros vexames. O que cabe , inclusive, uma pergunta: Aonde se esconde a fronteira entre a fama e a vulgaridade?
Já estive em velório de gente nobre- nobre de verdade - que se transformou em festa gay! Sempre achei que velório fosse um local para recato, no mínimo.
Já que não apostamos numa reforma política decente, o quadro que há é esse aí.
Nessa semana que inicia ,e ela se inicia com o cheiro de mato-chuva à beira de minha modesta e arrogante janela, e se a Time Life permitir que a Globo permita, teremos o nosso neo-e tológico debate aqui, na capital do meu mundo, o Rio de Janeiro. Quem sabe não damos uma chance ao nosso alcaide novo. Alguém com inteligência , astúcia , coragem, educação, charme , probidade nos atos públicos e que tem Fernando no nome , assim como Pessoa , cujo personalismo não é a caretice de Mounier: Fernando Gabeira , Prefeito.
domingo, 7 de setembro de 2008
Envelheci, first part .
Envelheci. Saio pra rua com documentos e o celular ligado. Não! Desliguei o celular, pois se for roubado, o canalha em questão não acessará as minhas privacidades, os meus números secretos.
Aqui, na ex-cidade maravilha, os canalhas com os colarinhos multi-cores utilizam esses nossos segredos para chantagear o próximo. Entenda-se o próximo como o que está mais disponível, mas também o que virá.
Visto o meu aparelhinho que acompanha o compasso da minha angústia, fingindo serenidade. Estou mesmo é preocupado. E se esse troço marcar o que não sinto? Ou pior: o que não quero ver ou sentir?
Nos vigiamos mutuamente :a máquina e o controlador.A máquina é astuta e pede pra parar, afinal, está acabando a bateria. O controlador é burro, pois a bateria já acabou faz tempo.
Como era leve ser jovem e um pouco inconsequente. Só carregava a chave de casa e uma remota , mas consistente, sensação de que iria retornar. Pura ilusão juvenil.
-Identidade, seu guarda? Esqueci. - Passei os dedos pelas folhas do Sr Foucault e tive roubada a minha identidade.
Aprendo com o mestre MD Magno que A Psicanálise é o vale das desilusões....
Meu pai faz caminho contrário ao meu: tornou-se criança mais uma vez.
Tenho que lembrar-lhe de tudo ou quase tudo. Infelizmente, uma pessoa sem memória é uma pessoa que não há.
Pela manhã, chamei-o para o banho. É um horror! Meu pai já foi uma espécie de herói - herói meio torto, mas herói brasileiro que é assim mesmo- ,e hoje tenho que lembrá-lo que dentes devem ser escovados! A pele está de saco cheio.Vejo dobras mal intencionadas.Irrito-me! Proclamo em silêncio ruidoso um VIVA A Eutanásia! Calma....Vamos comer?
Retornando de um almoço marcado pelo silêncio - e bem que eu insisti para que falasse qualquer coisa freudianamente, ou seja, vai falando aí..-, olhei seu rosto e ele sorria.
O sorriso dele é como a suposta surdez de um Beethoven compondo. Ninguém sabe o que é aquilo.
Ao menos, para o bem e para o mal, ele ainda sorri. Os dentes foram escovados.
Aqui, na ex-cidade maravilha, os canalhas com os colarinhos multi-cores utilizam esses nossos segredos para chantagear o próximo. Entenda-se o próximo como o que está mais disponível, mas também o que virá.
Visto o meu aparelhinho que acompanha o compasso da minha angústia, fingindo serenidade. Estou mesmo é preocupado. E se esse troço marcar o que não sinto? Ou pior: o que não quero ver ou sentir?
Nos vigiamos mutuamente :a máquina e o controlador.A máquina é astuta e pede pra parar, afinal, está acabando a bateria. O controlador é burro, pois a bateria já acabou faz tempo.
Como era leve ser jovem e um pouco inconsequente. Só carregava a chave de casa e uma remota , mas consistente, sensação de que iria retornar. Pura ilusão juvenil.
-Identidade, seu guarda? Esqueci. - Passei os dedos pelas folhas do Sr Foucault e tive roubada a minha identidade.
Aprendo com o mestre MD Magno que A Psicanálise é o vale das desilusões....
Meu pai faz caminho contrário ao meu: tornou-se criança mais uma vez.
Tenho que lembrar-lhe de tudo ou quase tudo. Infelizmente, uma pessoa sem memória é uma pessoa que não há.
Pela manhã, chamei-o para o banho. É um horror! Meu pai já foi uma espécie de herói - herói meio torto, mas herói brasileiro que é assim mesmo- ,e hoje tenho que lembrá-lo que dentes devem ser escovados! A pele está de saco cheio.Vejo dobras mal intencionadas.Irrito-me! Proclamo em silêncio ruidoso um VIVA A Eutanásia! Calma....Vamos comer?
Retornando de um almoço marcado pelo silêncio - e bem que eu insisti para que falasse qualquer coisa freudianamente, ou seja, vai falando aí..-, olhei seu rosto e ele sorria.
O sorriso dele é como a suposta surdez de um Beethoven compondo. Ninguém sabe o que é aquilo.
Ao menos, para o bem e para o mal, ele ainda sorri. Os dentes foram escovados.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Tecnologia a serviço da breguice
A tecnologia talvez seja uma das melhores articulações que a nossa famigerada espécie pode produzir. Saímos um pouco das trevas e ajudamos a minorar o mal estar nisso que MD Magno denomina enquanto o modo de existência da tal famigerada espécie: a cultura.
Para além e para aquém dos nossos vícios neo-etológicos, imitação animal para os mais iniciados, a disponibilidade criativa e a sublime capacidade de criação nos diferencia para melhor, ou pelo menos deveria , em relação aos bichinhos cujo cardápio é mais limitado. Já vislumbraram a cena ?Em pleno restaurante o cachorro pede um Merlot , Francês básico, de preferência um Gran Reserva, a fim de harmonizá-lo com uma ótima carne. Ao final da refeição , impaciente,declara estar com pressa já que vai ao cineminha assistir ao mais novo filme da senhora Xuxa Meneguel , com trilha sonora assinada pela não menos brilhante Ivete Sangalo.
Porém, é necessário cuidado, visto que a candidata, nas próximas eleições, a vice -presidência lá na terra dos " Ianques" , supostamente uma senhora que adora parir - também pudera, mora no Alaska-, declarou que a diferença entre o seu grupo de mamães ursas do Alaska e um Pit Bull está no batom. É bom saber. Não podemos alegar depois que não escutamos o latido.E latido Republicano significa : Guerra do Vietnã, apoio incondicional a indústria bélica , ao reacionarismo da família , das igrejas , etc , etc.Mrs Palin ( ou seria Sarah Pain ?) ruge forte.
Os americanos sejam eles cínicos democratas ou trogloditas republicanos têm muitos méritos. É uma pena que muito da produção tecnológica por lá desenvolvida ou sai a um custo altíssimo ou nem atinge o mercado. Ficam arquivados aos milhares, as engenhocas produzidas e que poderiam melhorar muito as nossas estupidezes corporais, por exemplo.Próteses necessárias , mas que são recalcadas e sofreram recalques das formações dominantes. E essa dominação é, obviamente,de cunho político.Disputa de poderes , entre poderes, pelo poder.
A falta de educação portanto é do tamanho do Globo Terrestre. E essas engenhocas que nos fazem amplificar as nossas vozes gastas, enxergar melhor, voar a quase 800, 900 kms por hora, também podem funcionar como objeto de repressão diante de outras tantas disponíveis ou em potência , quanto a se tornarem objetos de convivío insuportáveis. Vejamos , por exemplo, o abominável e maravilhoso telefone celular.
Outrora formação sofisticada, utilizada durante bastante tempo enquanto mero exibicionismo da média e alta burguesia, banalizou-se de tal ordem que agora não há quem não o possua. Os modelos cresceram em sofisticação, e o preço( que ótimo e que horror) despencaram. O horror é pelo mau uso dos brinquedos, cada vez vez mais acessível a qualquer falta de educação. E essa falta de educação não se deve somente às inadimplências econômicas. Existem inadimplências mentais que permeiam todas as classes ditas sociais.O que se torna vulgar, muitas vezes, é pelo fato de ter tido êxito, ter operado elegantemente em algum momento. E isso se dá em todos os campos do saber. Aprendi com o Psicanalista MD Magno que qualquer teoria tem prazo de validade.É uma teoria; É somente uma ferramenta , não um dogma.
Resisti bravamente a adquirir o aparelhinho. Achava que atrapalharia a minha privacidade, mas sobretudo considerava aquele desfile de aparelhinhos ,falando sem parar e nas ocasiões mais estapafúrdias ,uma breguice incoveniente. Melhor dizendo: falta de educação móvel.
Infelizmente , cedi ao mundo: a sua pressa que não cessa, ao sossego pela descoberta do paradeiro de quem se quer bem, aos compromissos atabalhoados do dia a dia e aos muitos outros quetais.Comprei-o numa loja popular, mas ainda era caro. Um recatado obsessivo que, não quer incomodar muito, passou a frequentar o meu organismo.Mais um...
Hoje, já com um novo modelo , vejo com espanto a multiplicação dos filhotes , sobretudo no Brasil. Suponho que já seja o país número um em aparelhinhos móveis ou está ali, na boca do gol ,para assumir a liderança.
Dentro de um ônibus, cuja etiologia dessa palavra nos remete a um para todos,os aparelhos tocam e vibram ao mesmo tempo. As mãos que os carregam, aflitas, atendem. Os sons , as chamadas campainhas, são cada vez mais altos, histriônicos. Parece haver uma competição em busca da maior poluição sonora a se alcançar. Por que gente humilde, não só eles, é claro, adora escutar música aos berros?Por que gritam, ao invés de falar. Já tive que pedir , certa vez em outro para todos, para gritarem baixo!
Duas criaturas então,compartilhando do conforto para todos, falavam a minha frente e uma outra estava sentada atrás. Duas delas discutiam com o marido e a outra tinha um amante com quem combinava uma macarronada para o "weekend". Só diziam tolices. Entendi porque fujo de muita gente: não gosto deles. Gosto de algumas pessoas. Faz anos que me exercito na mais democrática das academias de maromba do Rio: A Flinstone´s Gym. Fica logo ali no Arpoador, diante da praia do diabo, com seus pesos feitos de pedra e ferro.A vista é impagável. Contudo, até ali o diabo do telefone já tocou e quase houve tragédia: a Pedrita estava ocupada com seus halteres, quando o Barney ligou.Os pesos despencaram, mas o moço/moça não perdeu a pose apesar dos hematomas.E aí....
Os telefones ao redor silenciaram quase que ao mesmo tempo.Exceto o da senhorita e seu amante. Ela insistia: "Morzinho. Não adianta, não. Pobre não deveria ter essa tal de amante, que me tornei. Se tiver uma só , já é muito. Duas , além do trabalho, dá muita despesa.Amante é coisa pra rico. O resto é papo furado de novela de televisão pra enganar otário.Ah! Tenho que desligar. E sabe por quê? Você não comprou créditos suficientes pra gente poder namorar mais! Tá vendo! Pobre é assim!
O telefone ficou mudo. Merecia aplausos.
Para além e para aquém dos nossos vícios neo-etológicos, imitação animal para os mais iniciados, a disponibilidade criativa e a sublime capacidade de criação nos diferencia para melhor, ou pelo menos deveria , em relação aos bichinhos cujo cardápio é mais limitado. Já vislumbraram a cena ?Em pleno restaurante o cachorro pede um Merlot , Francês básico, de preferência um Gran Reserva, a fim de harmonizá-lo com uma ótima carne. Ao final da refeição , impaciente,declara estar com pressa já que vai ao cineminha assistir ao mais novo filme da senhora Xuxa Meneguel , com trilha sonora assinada pela não menos brilhante Ivete Sangalo.
Porém, é necessário cuidado, visto que a candidata, nas próximas eleições, a vice -presidência lá na terra dos " Ianques" , supostamente uma senhora que adora parir - também pudera, mora no Alaska-, declarou que a diferença entre o seu grupo de mamães ursas do Alaska e um Pit Bull está no batom. É bom saber. Não podemos alegar depois que não escutamos o latido.E latido Republicano significa : Guerra do Vietnã, apoio incondicional a indústria bélica , ao reacionarismo da família , das igrejas , etc , etc.Mrs Palin ( ou seria Sarah Pain ?) ruge forte.
Os americanos sejam eles cínicos democratas ou trogloditas republicanos têm muitos méritos. É uma pena que muito da produção tecnológica por lá desenvolvida ou sai a um custo altíssimo ou nem atinge o mercado. Ficam arquivados aos milhares, as engenhocas produzidas e que poderiam melhorar muito as nossas estupidezes corporais, por exemplo.Próteses necessárias , mas que são recalcadas e sofreram recalques das formações dominantes. E essa dominação é, obviamente,de cunho político.Disputa de poderes , entre poderes, pelo poder.
A falta de educação portanto é do tamanho do Globo Terrestre. E essas engenhocas que nos fazem amplificar as nossas vozes gastas, enxergar melhor, voar a quase 800, 900 kms por hora, também podem funcionar como objeto de repressão diante de outras tantas disponíveis ou em potência , quanto a se tornarem objetos de convivío insuportáveis. Vejamos , por exemplo, o abominável e maravilhoso telefone celular.
Outrora formação sofisticada, utilizada durante bastante tempo enquanto mero exibicionismo da média e alta burguesia, banalizou-se de tal ordem que agora não há quem não o possua. Os modelos cresceram em sofisticação, e o preço( que ótimo e que horror) despencaram. O horror é pelo mau uso dos brinquedos, cada vez vez mais acessível a qualquer falta de educação. E essa falta de educação não se deve somente às inadimplências econômicas. Existem inadimplências mentais que permeiam todas as classes ditas sociais.O que se torna vulgar, muitas vezes, é pelo fato de ter tido êxito, ter operado elegantemente em algum momento. E isso se dá em todos os campos do saber. Aprendi com o Psicanalista MD Magno que qualquer teoria tem prazo de validade.É uma teoria; É somente uma ferramenta , não um dogma.
Resisti bravamente a adquirir o aparelhinho. Achava que atrapalharia a minha privacidade, mas sobretudo considerava aquele desfile de aparelhinhos ,falando sem parar e nas ocasiões mais estapafúrdias ,uma breguice incoveniente. Melhor dizendo: falta de educação móvel.
Infelizmente , cedi ao mundo: a sua pressa que não cessa, ao sossego pela descoberta do paradeiro de quem se quer bem, aos compromissos atabalhoados do dia a dia e aos muitos outros quetais.Comprei-o numa loja popular, mas ainda era caro. Um recatado obsessivo que, não quer incomodar muito, passou a frequentar o meu organismo.Mais um...
Hoje, já com um novo modelo , vejo com espanto a multiplicação dos filhotes , sobretudo no Brasil. Suponho que já seja o país número um em aparelhinhos móveis ou está ali, na boca do gol ,para assumir a liderança.
Dentro de um ônibus, cuja etiologia dessa palavra nos remete a um para todos,os aparelhos tocam e vibram ao mesmo tempo. As mãos que os carregam, aflitas, atendem. Os sons , as chamadas campainhas, são cada vez mais altos, histriônicos. Parece haver uma competição em busca da maior poluição sonora a se alcançar. Por que gente humilde, não só eles, é claro, adora escutar música aos berros?Por que gritam, ao invés de falar. Já tive que pedir , certa vez em outro para todos, para gritarem baixo!
Duas criaturas então,compartilhando do conforto para todos, falavam a minha frente e uma outra estava sentada atrás. Duas delas discutiam com o marido e a outra tinha um amante com quem combinava uma macarronada para o "weekend". Só diziam tolices. Entendi porque fujo de muita gente: não gosto deles. Gosto de algumas pessoas. Faz anos que me exercito na mais democrática das academias de maromba do Rio: A Flinstone´s Gym. Fica logo ali no Arpoador, diante da praia do diabo, com seus pesos feitos de pedra e ferro.A vista é impagável. Contudo, até ali o diabo do telefone já tocou e quase houve tragédia: a Pedrita estava ocupada com seus halteres, quando o Barney ligou.Os pesos despencaram, mas o moço/moça não perdeu a pose apesar dos hematomas.E aí....
Os telefones ao redor silenciaram quase que ao mesmo tempo.Exceto o da senhorita e seu amante. Ela insistia: "Morzinho. Não adianta, não. Pobre não deveria ter essa tal de amante, que me tornei. Se tiver uma só , já é muito. Duas , além do trabalho, dá muita despesa.Amante é coisa pra rico. O resto é papo furado de novela de televisão pra enganar otário.Ah! Tenho que desligar. E sabe por quê? Você não comprou créditos suficientes pra gente poder namorar mais! Tá vendo! Pobre é assim!
O telefone ficou mudo. Merecia aplausos.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Re-Visitando Clarice - Clarisse
Faz 30 anos , na verdade 31, que Clarice Lispector faleceu, vítima de câncer.
Ontem , eu a visitei numa exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui no centro do Rio.
Região marcada pelos contrastes que caracterizam a nossa ex-cidade maravilha.
Desci do metrô , estação Uruguaiana, seguindo uns 3 quarteirões e pouco até alcançar a Rua Primeiro de Março. Primeiro de Março, nossa inauguração.
No caminho cruzei com quase tudo. A esculhambação e a produção séria convivem lado a lado nessa área da cidade onde sua primeira favela foi parida.Ao menos nomeada com tal.
O Glamour e a boçalidade também se misturam. Olho em volta de prédios históricos e viajo um pouco por outras vidas.Lá está o Teatro Municipal e logo em frente há O Majestoso Museu de Belas Artes. Do outro lado situa-se a grandiosa Biblioteca Nacional. Há um guarda que finge comandar o trânsito. Ele está gorducho e parece que tem numa das mãos uma coxinha de galinha. Êpa! Seria ele? Ressurgiu das tumbas a fim de celebrar os 200 anos de sua marcante presença? Não, não era. Dom João VI as comia, quero dizer as coxinhas, com mais talento e falta de educação aristocrática.E todos somos meio ingratos com esse senhor que ajudou a civilizar o que parece não ter civilidade possível.
Mais adiante, na Araújo Porto Alegre com Graça Aranha , os pontos de bicho apostam e o carioca-mau- malandro é campeão em tudo. A vida dele deve estar uma merda mesmo!
Lembro-me que certa vez ao tomar um taxi - aqui no Brasil nós tomamos Taxi . Algo que Dom João e seus patrícios não entenderiam até hoje-, o rapaz, entenda-se o condutor, iniciou prosa comigo, que não estava a fim de prosa alguma , pois encaminhava-me para o sepultamento do pai de uma amiga, mas quando soube que eu mexia com essa tal de análise, descambou a falar sobre a sua broxura e as queixas da , segundo ele, patroa. Hoje, eu o teria mandado comprar um Viagra ou trocar de patroa, mas naquela época quis saber um pouco mais e ele- aí é que foi pior-,contou.E contou também para os amigos de ponto , os tais príncipes medíocres que ,segundo Fernando Pessoa, são campeões em tudo.Mas o porquê disso agora? Estou tentando falar de Clarice. Mas acho que estou falando!Com cuidado e pretensão.
Agora, preciso esclarecer: esse trajeto que, descrevi acima, fora feito na volta e não na visita a Clarice.Senão, já teria me perdido inteiramente, coisa que ela volta e meia fazia, para se reencontrar nos seus belos textos.
E ela era densa e caótica também era. Sozinha e cercada de amigos.Nasceu na gélida Ucrânia e veio morrer aqui nos trópicos.O sotaque jamais perdera. Viveu em diversos países e sempre só: com marido e filhos.
Existem cartas na tal exposição. Uma delas me tocou. Era carta de mãe para filho. Afetuosa, preocupada, interessada, sobretudo saudosa.O filho mais velho estava vivendo no exterior.
Cartas assim me afetam. Mantive uma vasta correspondência epistolar com a minha mãe , durante anos. Eu no Rio, ela em Brasília. E nesse ínterim houve Proust e aquele beijo de Boa Noite, no Caminho De Swann. E lá fui eu desbravar os sete volumes e as dezenas de páginas que narravam o laço cor de rosa da roupa da Sra Verduran. Somente Proust para condensar tudo naquele laço de fita cor de rosa. Ensinamentos que, para além do também não menos saudoso Gilles Deuleze e outros estudiosos da obra do mais alérgico egrégio de que se tem notícia, ao menos na literatura, aprendi com uma das mais brilhantes criaturas que por aqui passaram: Adriana Raposo Ítalo.
Como já adiantei essas linhas, estou na exposição faz é tempo. Aliás, creio que nunca estive fora dela.
Vejo Clarice jovem ,bela e entregue a sua obra que era a sua vida, o seu maior tesão.Escondidinhos, mas disponíveis em gavetas semi-secretas, contemplamos opiniões, críticas e saudades dos amigos de sua breve, mas densa vida.
Ela também conversa conosco através de um entrevista que concedera à televisão.Foram algumas, apesar da timidez proclamada. Está menos bela. Acho que a doença já apresentava suas garras, tal qual uma folha em branco diante da máquina de escrever.
Ao morrer em 1977, deixou uma marca indefectível sobre quem se permitiu conhecê-la, através de sua obra .
- Estou muito ocupada:tomo conta do mundo.- Clarice anunciou certa vez.
Essa passagem , extraída do livro "O descobrimento do Mundo", revela parte da intimidade de quem se presta a escrever.
Nas madrugadas, com o silêncio à espreita, a solidão como parceira, a noite que não vem mais, pois a tecnologia triunfou há tempos,lembro Clarice que pra mim já foi Clarisse também.
Desse modo clariciano, tímido , mas audacioso, controlo a madrugada de mim.
Ontem , eu a visitei numa exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui no centro do Rio.
Região marcada pelos contrastes que caracterizam a nossa ex-cidade maravilha.
Desci do metrô , estação Uruguaiana, seguindo uns 3 quarteirões e pouco até alcançar a Rua Primeiro de Março. Primeiro de Março, nossa inauguração.
No caminho cruzei com quase tudo. A esculhambação e a produção séria convivem lado a lado nessa área da cidade onde sua primeira favela foi parida.Ao menos nomeada com tal.
O Glamour e a boçalidade também se misturam. Olho em volta de prédios históricos e viajo um pouco por outras vidas.Lá está o Teatro Municipal e logo em frente há O Majestoso Museu de Belas Artes. Do outro lado situa-se a grandiosa Biblioteca Nacional. Há um guarda que finge comandar o trânsito. Ele está gorducho e parece que tem numa das mãos uma coxinha de galinha. Êpa! Seria ele? Ressurgiu das tumbas a fim de celebrar os 200 anos de sua marcante presença? Não, não era. Dom João VI as comia, quero dizer as coxinhas, com mais talento e falta de educação aristocrática.E todos somos meio ingratos com esse senhor que ajudou a civilizar o que parece não ter civilidade possível.
Mais adiante, na Araújo Porto Alegre com Graça Aranha , os pontos de bicho apostam e o carioca-mau- malandro é campeão em tudo. A vida dele deve estar uma merda mesmo!
Lembro-me que certa vez ao tomar um taxi - aqui no Brasil nós tomamos Taxi . Algo que Dom João e seus patrícios não entenderiam até hoje-, o rapaz, entenda-se o condutor, iniciou prosa comigo, que não estava a fim de prosa alguma , pois encaminhava-me para o sepultamento do pai de uma amiga, mas quando soube que eu mexia com essa tal de análise, descambou a falar sobre a sua broxura e as queixas da , segundo ele, patroa. Hoje, eu o teria mandado comprar um Viagra ou trocar de patroa, mas naquela época quis saber um pouco mais e ele- aí é que foi pior-,contou.E contou também para os amigos de ponto , os tais príncipes medíocres que ,segundo Fernando Pessoa, são campeões em tudo.Mas o porquê disso agora? Estou tentando falar de Clarice. Mas acho que estou falando!Com cuidado e pretensão.
Agora, preciso esclarecer: esse trajeto que, descrevi acima, fora feito na volta e não na visita a Clarice.Senão, já teria me perdido inteiramente, coisa que ela volta e meia fazia, para se reencontrar nos seus belos textos.
E ela era densa e caótica também era. Sozinha e cercada de amigos.Nasceu na gélida Ucrânia e veio morrer aqui nos trópicos.O sotaque jamais perdera. Viveu em diversos países e sempre só: com marido e filhos.
Existem cartas na tal exposição. Uma delas me tocou. Era carta de mãe para filho. Afetuosa, preocupada, interessada, sobretudo saudosa.O filho mais velho estava vivendo no exterior.
Cartas assim me afetam. Mantive uma vasta correspondência epistolar com a minha mãe , durante anos. Eu no Rio, ela em Brasília. E nesse ínterim houve Proust e aquele beijo de Boa Noite, no Caminho De Swann. E lá fui eu desbravar os sete volumes e as dezenas de páginas que narravam o laço cor de rosa da roupa da Sra Verduran. Somente Proust para condensar tudo naquele laço de fita cor de rosa. Ensinamentos que, para além do também não menos saudoso Gilles Deuleze e outros estudiosos da obra do mais alérgico egrégio de que se tem notícia, ao menos na literatura, aprendi com uma das mais brilhantes criaturas que por aqui passaram: Adriana Raposo Ítalo.
Como já adiantei essas linhas, estou na exposição faz é tempo. Aliás, creio que nunca estive fora dela.
Vejo Clarice jovem ,bela e entregue a sua obra que era a sua vida, o seu maior tesão.Escondidinhos, mas disponíveis em gavetas semi-secretas, contemplamos opiniões, críticas e saudades dos amigos de sua breve, mas densa vida.
Ela também conversa conosco através de um entrevista que concedera à televisão.Foram algumas, apesar da timidez proclamada. Está menos bela. Acho que a doença já apresentava suas garras, tal qual uma folha em branco diante da máquina de escrever.
Ao morrer em 1977, deixou uma marca indefectível sobre quem se permitiu conhecê-la, através de sua obra .
- Estou muito ocupada:tomo conta do mundo.- Clarice anunciou certa vez.
Essa passagem , extraída do livro "O descobrimento do Mundo", revela parte da intimidade de quem se presta a escrever.
Nas madrugadas, com o silêncio à espreita, a solidão como parceira, a noite que não vem mais, pois a tecnologia triunfou há tempos,lembro Clarice que pra mim já foi Clarisse também.
Desse modo clariciano, tímido , mas audacioso, controlo a madrugada de mim.
Assinar:
Postagens (Atom)