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terça-feira, 17 de março de 2015

A NOVA REPÚBLICA ACABOU E A GENTE CONTINUA. AONDE?

A Nova República acabou, diz filósofo Vladimir Safatle- FAÇO UM PEQUENO COMENTÁRIO ANTES.
Vladimir Safatle no meu modo de ver, toca no ponto que a Psicanálise Contemporânea, Novamente, já indicou, através do seu autor, há pelo menos uns vinte anos.
Uma afirmação nossa ,simples, em torno do ponto que Safatle sublinha na sua conversa: qualquer sistema representacional é mais ou menos como a ideia de relação ( conceito matemático). Em última instância não há. Não haveria como estabelecer ponto a ponto, correspondência biunívoca entre duas formações,simetria absoluta entre duas pessoas, por exemplo. 'Sorry'. Pode desistir. O príncipe vira sapo sempre e ainda bem. Lacan apelou para uma redundância e disse , num congresso romano, no século passado, que a relação sexual não existia. Fez uma intervenção que quase lhe custou os leões e o Coliseu todinho a devorá-lo. As pessoas transam, matam-se , odeiam-se, amigam-se, ( isso existe? palavra e sentido?) , namoram, ignoram-se , são castas. mas....É o faz de conta.Mas em última ou primeira instância não há como alguém representar plenamente outro alguém.
Não se trata, portanto, tanto de atores políticos não contemplados no jogo político, e sim que nenhum ator está inteiramente representado nesse jogo, como quer supor o filósofo citado. O teatro de faz de conta , efetivo nessa vida, conta com a consideração e inclusão do ,digamos assim, muito do que é possível e a cada situação, ad hoc. E sob suspeita permanente. Parece infernal, quase impossível, e é mesmo. Sobretudo para as nossas posturas pouco contemporâneas. Por exemplo: definir-se a priori como sendo uma pessoa de esquerda ou de direita não tem mais nenhum efeito profícuo nas intervenções de mundo. E não é falta de posição, covardia, leviandade ou inconsistência de argumentos saber dançar a dança de cada diferente momento necessário. TANGO É TANGO. Samba é Samba. Mas pode-se sambar conforme a música do...samba. Senão , vai pisar feio no pezinho da donzela.
No Brasil, mediante a barbárie ocorrida na segunda metade do anos 60, estendendo-se até meados dos anos 80, as posições foram deslocadas mais para esquerda ( apesar da presença semi-onipresente da igreja católica) pois a truculência e o mau gerenciamento ( houve muita incompetência com a gestão pública e econômica, fora a roubalheira, a destruição de direitos civis da sociedade) vinha de um malvado menino destro. Viciado no sentido londrino de conduzir. Por conseguinte, tomou conta das Universidades ( também aconteceu em países europeus, Maio de 1968 na França, por exemplo), o pensamento de esquerda , enquanto algo de ponta e apontado como o único modo de pensar e agir progressivamente, avançado.
Preferimos a palavra Vanguarda, já que progressista no caso da Nova Psicanálise indica um caminhar que pode querer sacanear demais o jogo, o tempo todo, e os outros todos, e ainda supor que não têm nada a ver com isso. Vitimiza-se quando se deixa pegar. Aparece o pânico. É O modo de se comportar e que aparece na literatura especializada como o velho e não tão legal psicopata. Esse senhor ou senhora , a bem saber, independem de partido ou ideologia.
O caminhar das décadas e as aproximações com o Velho e o Novo Mundo, além de tantas derrocadas, nos apresentaram também menininhos bem malvados com seus braços canhotos cansados.
Mas o que dizer, ou melhor, o que fazer com a formação brasileira? Tudo sempre remediado, visto que a antecipação diante das demandas, das novas formações, das novas Pessoas, gerações, redes tecnológicas, novos vínculos, não vêm? Ou quando vem, não o é. É precipitação ou atraso. O que dá na mesma.
Dois pequenos trechos, abaixo, da última ou penúltima entrevista do filósofo, atento, para os fatos de agora, revelando a contemporaneidade do que ele vem articulando sobre o momento político. Acho importante. Já começamos o papo , faz alguns dias. Nessa nossa ágora virtual.
UOL - O que poderia ser mudado? Como melhorar o sistema que está em crise?
Safatle - A primeira coisa que é preciso fazer é admitir que estamos nessa situação. Acabou. É preciso que todo mundo fale isso em voz alta para podermos produzir uma nova situação.
Trocar o PT por outro partido não muda nada. É como trazer Dunga de volta à seleção brasileira após a derrota na Copa. Continuamos aprisionados ao processo. Precisamos de uma consciência clara de que esse é um modelo singular, de esgotamento nunca antes visto. Enquanto não percebermos que acabou, nada vai acontecer.
Vivemos agora a lógica dos pequenos problemas, da corrupção, do estado inchado, quando na verdade o problema é muito maior. Todos os escândalos de corrupção dos últimos 13 anos envolveram todos os partidos relevantes do Brasil. Isso significa que trocar de partidos no interior do modelo de governabilidade é continuar uma piada. O modelo de governabilidade é o grande problema .
UOL- O que o senhor acha do debate a respeito de uma possível reforma política?
Safatle - Todo mundo sabe que não haverá reforma política. A reforma política que se propõe é pior de que a situação atual. O Brasil hoje é uma partidocracia. Os partidos vão tentar instituir o monopólio da representação política brasileira. Não é crível esperar que uma reforma política seja feita dessa maneira. Existe uma baixa densidade de participação popular em processos decisórios de estado. A população só é convocada para eleições a cada quatro anos. A população não tem poder de deliberação.
O que tem que ser posto é de uma Constituinte exclusiva para a reforma política. Isso tem que ocorrer fora do parlamento e do processo de escolha determinado pelo parlamento. A Europa pensou sobre isso depois de 2008, e o caso da Islândia é paradigmático. Eles fizeram uma Constituição fora do Parlamento. É preciso fazer um processo em que não são os políticos que são eleitos. Em crise de representação vai-se ao grau zero de representação, aproximando o máximo possível da presença popular, reconstruindo a estrutura institucional a partir disso. A Assembleia tem que ter pessoas simples participando, professores, enfermeiros, pessoas comuns, e não só políticos.
Precisamos de criatividade política. Os países que conseguem mobilizar a população são os que saem da crise. Ter medo, pensar em riscos para a democracia, vai nos deixar num processo infinito de degradação.

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