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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Odorico-Gracindo-Paraguaçu.

Muito bom o documentário de Gracindo Junior sobre o seu pai, o ator, locutor e sábio, Paulo Gracindo.
Paulo Gracindo nasceu no Rio  mas dizia ter vindo das Alagoas, pois para lá foi bebê, para no retorno à cidade natal, um pouco mais crescidinho, metamorfosear-se  de Odorico Paraguaçu, Tucão, Coronel Ramiro Bastos, e outros personagens dele mesmo e das diversas regiões que encarnou. 
O documentário foi lançado em 2009. Paulo faleceu em 1995 aos 84 anos de idade. Trabalhou, apesar da cegueira e do Mal de Alzheimer, até o final. Na mini-série Agosto, direção de Paulo José, de 1991, Gracindo pai obtinha as orientações para marcações de cena vindas do Gracindo Jr, seu filho. Comovente a cena em que, ao lado do personagem interpretado por José Mayer, declara a sua mágoa e espanto pelo desprezo que a cultura brasileira, a gente, tem pelo velho, pelo idoso. Um país que prefere constituir-se de mediocridades juvenis. A carne fresca que só presta enquanto carne fresca para luxúrias. Sejam essas mesmas luxúrias efetivadas ou somente sonhadas. 
Supunha-se então que Paulo Gracindo tinha 257 anos. Um número bom e escolhido aleatoriamente.E que nascera ator na  e para vida. Trocava de pele feito camaleão na relva. Nascera inclusive antes do teatro brasileiro, da rádio nacional, da emissora oficial que o consagrara. A mesma emissora que não enviou nenhum grande dirigente de lá para os seus funerais talvez pelo fato de que Gracindo tenha declarado o óbvio e ululante aforismo, quase Rodriguiano: " Faço novela porque preciso ( na verdade queria) sobreviver". E isso há duas décadas atrás. Se ele presenciasse as besteiras que eles - espécie de onipotente ser-  insistem em chamar de teledramaturgia nos dias atuais.....Um dos seus últimos atos se fez numa peça-filme (creio que norte-americana, lembro-me de Henri Fonda no papel principal e seu derradeiro trabalho também) chamado num Lago Dourado. Há um momento em que alguém, uma moça bem bonita diz para seu personagem dourado: 'O senhor é muito velho'! O velho lhe responde sorrindo. A entonação de ambos provocou risos na platéia.
Gracindo pai quando trocou seu nome de batismo, Pelópidas, por algo mais simples, sofisticou-se. Odorico Pelópidas! Casou e assim permaneceu até o fim com a mesma senhorita. Moça rica, bonita e que se apaixonara aos 16 anos de idade. Tiveram um menino e duas meninas. O quadro cômico famoso em que  um personagem rico (primo rico) e um pobre ( primo pobre) vivido por Brandão Filho, no programa 'Balança mas não cai', surge dos diálogos, quase surreais, que Gracindo teve com o seu sogro abastado, no palacete que o então velho para ele possuía em Ipanema. O ator lhe contava sobre as dificuldades da profissão, os problemas financeiros que um jovem em início de carreira enfrenta e tinha que aturar as extravagâncias do afortunado ser e suas histerias, pois para o homem rico, o arranhão no seu Cadillac reluzente era o assunto mais relevante. As histerias sofrem de egocentrismo crônico, ou seja, o mundo só há por causa deles. O mundo só há para nós porque aqui estamos, logo, o mundo somos nós. Mas ele continua independente da gente. Ele, o mundo. Dos outros. Porque o nosso é esse que a gente considera aqui e agora. E é igualzinho a gente. Mas ele pode funcionar sem a gente. E funcionou antes. Se fizermos essa conta para trás, estaremos perdidos. O bonde já passou faz tempo. E ele sempre está em movimento. Só se pega, qualquer que seja o bonde, andando, movimentando-se sob trilhos. 
O egocêntrico portanto faz do seu sintoma a referência para o mundo. O mundo só  funciona de acordo com o meu sintoma. O sintoma meu é que tem que determinar as coisas. Elas funcionam a partir dessa referência. Logo, o Cadillac novo era mesmo o barato mais caro para aquele senhor do que o gotejar intermitente vindo daquele cano antigo e furado e cruel da casa humilde atrapalhando o repouso e as leituras do promissor ator, futuro genro. Surreal prosa, personagens eternizados. Max Nunes e Gracindo pai, seus autores.
Do alto da diversidade dos oito anos de um garoto assanhado - e movido por uma inveja que não abandonei ( ainda bem) , declarei guerra a Gracindo Jr. Ator, diretor e autor do documentário mencionado, mas tal-qualmente a outros galãs por um certo tempo, o ódio a se espalhar. Tudo isso misturado pois eu tinha traçado planos para me casar com a Sandra Bréa, uma bela atriz e dançarina, nos anos 70/80. Povoava o imaginário juvenil, a diva com trejeitos maluquetes, desde os tempos em que as imagens da TV eram não-coloridas. Tentativas, foram inúmeras e que se revelaram inúteis, para que a proposta matrimonial fosse recebida, e por um milagre, aceita. E esses meus planos, delirantes ou não, contrariavam os planos desses moços bonitos, e também mais velhos (Tipo Gracindo, Filho) , visto que bem mais experientes e cheios da grana, supunha-se. Eles a queriam só para eles.Sério problema! É o tal egoísta, talvez não egocêntrico. Aqui, o cidadão está se pondo em primeiro lugar nos seus interesses.O que lhe confirma alguma sabedoria, pois se não o fizer, quem o fará? Ele não deixa de reconhecer outros interesseiros. Não usa o seu interesse - bom ou mau- como guia para tudo, incluindo certas paixões. Não está centrado, focado, na sua configuração sintomática, egoica. E também seria em vão nesse caso já que a musa de outrora tinha uma constelação egoica imbatível. Desisti por negligência de musa. Insistia em não me receber. Quase acampei - e aí entende-se a dedicação patética dos iniciantes a esperar o aceno frouxo do ídolo distante- de alma e cuia na soleira da porta do seu templo midiático. Que mal poderia lhe causar? Uns beijinhos infantis sem más e mais intenções?! No mínimo, para fecharmos acordo de uma única interesseira parte, um tesão juvenil feito outro qualquer. Quem sabe capa em algum periódico, tal gesto? Esquecestes? Em qualquer um, desses que não têm maiores assuntos a tratar. Vivem disso. Ressentimento? Imagina.....
Com o passar dos bondes e cemitérios a inaugurar, os personagens foram mudando de rosto. O que era senhorita virara senhora, mas ainda bela se conservava. Contudo, Odorico-Gracindo permanece, para sempre, com quase 3 séculos de encantamentos. Talvez seja melhor preparar a festa para semana que vem? Junto com a inauguração daquele cemitério. E com o famigerado bêbado, o Nezinho do Jegue, a xingar a rodo. Em horário nobre. Feito de costumes.

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