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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O dinheiro e as paixões.

Dinheiro não está interessado em comprar felicidade. Está interessado na compra de felicidades. É plural, múltiplo. Não promove totalizações. Indica, sim, diferenças, multiplicidades.
Multiplicidades que possuem as suas particularidades e podem ser nomeadas uma a uma. Felicidades múltiplas tipo automóvel bacana, bons planos de saúde, aquela viagem, aquela casa, a inveja do vizinho, aquele articulação sob forma de escultura, pintura.Bons livros, aquele restaurante...Até mesmo aquela paixão. Pensam que não? Quem já trafegou pelas rodovias dessa vidinha que se apresenta conhece do riscado. Os que cinicamente denegam a função curativa da grana, mentem. E sabem disso.
Minha geração se fez ingênua mediante ditadura militar à direita. E os de direita costumam acreditar cegamente naquilo que lhes ensinaram, alertou Millôr Fernandes. Homem sábio que conhecia do riscado. Inventou, juntamente com o estilo próprio das suas traduções o frescoball - aquele joguinho com raquetes de madeira e bolinha de borracha para se jogar na areia da praia de Ipanema. E que de frescura nada tinha. Millôr, falecido em 2012, acrescentou também que os canhotos e suas ideias fazem o caminho contrário dos destros adversários. Segundo ele, cegamente, acreditam no que ensinam.
Os tempos contemporâneos nos cercam com possibilidades de jogar com todas as possibilidades. Resta saber e aplicar o que for mais profícuo, eficiente naquele momento. É o que MD.Magno chama de um movimento político ad hoc. Não se toma partido, muito menos a priori. Considera-se cada situação, região, sem valoração disso ou daquilo outro. Sem catequese ou imperativos tampouco. Há uma tentativa de neutralização, suspensão, dos nossos sintomas e gostos para se poder considerar as possibilidades em jogo sem maiores pré-conceitos. Indiferenciar algo, um fato, uma coisa, alguém, não é desprezá-lo. E sim, considerar as disponibilidades, o máximo de formações possíveis, que se apresentam. Todo o sintoma racista e xenofóbico que sempre caracterizou a nossa espécie, e nesses tempos recrudescem com toda virulência, podem se diluir com tal estratégia. Política envolve disputa pelo poder. Qualquer um que se imponha. É uma guerra. Não se escapa disso. E qual a melhor guerra a se travar no momento que se está e por vir? Aliás, para o futuro....
Em distintos momentos do jogo político brasileiro em que se aplicou algo próximo, mas não bem isso que fora mencionado, as resultantes foram melhores. A dupla Campos Sales- Rodrigues Alves (ambos ex-presidentes na chamada Velha  República) 'locupletaram-se' sem saber. O primeiro optou por uma política austera, contenção de gastos, poderia até se dizer monetarista, ao colocar o trem em rumos mais aprumados.Saiu do Palácio do Catete (RJ) sob chuva de ovos, tomates. A multidão e suas razões. Tarefa bem feita, popularidade em baixa. Seu sucessor, Rodrigues Alves - distinta Avenida do centro do Rio de Janeiro- nascido em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, no vale do Paraíba, pode adotar uma política desenvolvimentista o que gerou enorme progresso para  a capital do país à época. Quem diria? Quiseram os  caprichos desse haver que dois paulistas trouxessem progressos para cariocas e fluminenses. Campos Sales também nascera no Estado Orgulho Brasileiro, na cidade de Campinas. Décadas depois, veio a Dupla Getúlio-JK. No segundo reinado de Vargas, as leis trabalhistas renderam vendavais esperançosos de um 'welfare state'. Aquele desenvolvimento socioeconômico de inspiração Keynesiana. Lei trabalhista exarada em pleno estádio futebolístico do clube desportivo que desde a sua fundação teve preocupações com inclusões sociais: O Clube de Regatas Vasco da Gama.
Juscelino Bossa Nova tocou o desenvolvimento para frente. Seu plano de metas acionava o cronômetro em cinquenta anos em cinco. Audácia para quem se deslocava em fuscas e outras potências tecnológicas do período em questão. Foi deveras gastador, perdulário com as contas públicas ao inventar a capital que se ergueu no centro-oeste do país: Brasília. Um sonho seu, pesadelo para muitos. Com a nobre participação inventiva de dois brilhantes arquitetos-urbanistas: Lúcio-Costa-Oscar-Niemeyer.
O que explodiu, após comício do homem mais marginalizado e desprezado da história fascista brasileira, o Ex-Presidente Assassinado João Goulart, repercute estilhaços até hoje na carne exposta de cinismo, covardia, molecagem carnavalesca. Até a música do filme dedicado a ele, filme de Silvio Tendler, foi incorporado à morte, aos funerais, do que ganhou no tapetão parlamentar e não desfrutou. Um destino Guimarães Rosa? Não. Sobretudo, sem a mesma genialidade e originalidade do escritor conterrâneo. Lá das montanhas de Minas, veio e se foi Tancredo Neves.
 Conta-se que Rosa faleceu vitimado por um mal súbito, algum incauto-douto nos convenceria que foi de virose sertaneja, três dias após a sua posse na Academia Brasileira de Letras. Alívio para certos idiotas imortais que proclamavam que Rosa inventava coisas, palavras que não existiam. Como não existiam se ele as dizia e eles proclamava? Esqueçamos ou não, somos povoados por entidades supremas e imortais. Diadorim, mais que suprema em sua singularidade menino-menina, deve ter se encantado feito de Rosa. Já Tancredo Neves adoeceu poucos dias antes da sua posse enquanto primeiro presidente civil pós ditadura militar. Morreu sem botar a faixa no peito e tirar aquelas fotografias feitas sem graça. Presidente por essas bandas deveria balançar um cetro abarrocado, porque maneirista seria.
A História brasileira é quase sempre ignorada pelos brasileiros. Perguntado sobre eventos , fatos, significantes da história mundial sempre aparecerá a Revolução Francesa, Russa, etc. Pelos nossos lados, nada há de especial. Talvez por essas e outras é que o assassinato de ex-dirigentes ou acidente aéreo que vitimou algum algoz ditadore nunca foram muito do interesse popular. E o que vem a ser de interesse popular seria algo tal como....Maquiavel mostrava o pão, alimento nobre, um circo de verdade e seus palhaços seríssimos. Nomadismo de malabares. E não se trata de nenhuma teoria conspiratória, paranoia válida e não necessariamente doença, mas que conforma vitimizados. Descobre-se que o mundo sempre foi esquisito, que a espécie homem produz - além das maravilhas protéticas e saberes importantes- muitas canalhices, sujeira. Logo, desinteressado por ele nos tornamos. Paralisados, estéreis. Pois, para que se mover visto que vasto mundo tem certos horrores e eu, tu ou ele "kiko" com isso? Contudo, não largamos o osso. Quanto investimento para o deslocamento quase zero! 'Jamais conheci alguém que tivesse levado porrada. São todos príncipes nessa vida'- Fernando Pessoa.
Há um filme de István Szabó , cineasta premiado húngaro," Sunshine o despertar de um século" , de 1999 , e que é exemplar. Retrata três gerações de uma família austríaca judia e seu périplo por diferentes épocas, regimes, sistemas de governo. Desde o fim do século XIX até a Revolução Húngara de 1956. Guerra e guerra. Nunca paz. Só há guerra entre as formações que querem mais e mais poder. Até o almoço familiar de fim de ano. 
Homenageia-se àquele que, numa tarde de elucubrações, momento para se despir para outro, traz uma cena para o cinema desejado.
Dizendo Adeus à máquina binária que só declama 0-1, por enquanto, e prestes a fechar a cortina vermelha do cinema de infância, eis que surge um menino, a menina e um convite. Dinheiro orgulhosamente apanhado no fundo da vida daquele bolso que por sorte não furara (bolso que conhece do riscado), após tantas batalhas e depois de tantos temporais ( Saudações a Ivan Lins e Vítor Martins!). " Que tal um sorvete"? 

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