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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um pouco de política em tempos de chiliques. Pré-maresia.

Há um artigo, que li  num blog  e que fora recomendado por um conhecido 'faceebokeiro partner' ( deve ser bem prestigiado, visto que foi mencionado também  por pessoas com certa influência na mídia ), tecendo opiniões , com dados bastante precisos, sobre as eleições municipais desse ano, aqui no Rio de Janeiro. Lúcido e bem escrito. Não concordo com o título, pois o considero um tanto quanto forte e passional - a não ser que o articulista, quem escreveu o  tal artigo, conheça muito sobre o personagem - candidato. Não deveríamos misturar também ficção cinematográfica - ainda que baseada em fatos reais - com uma possível governabilidade por parte dos personagens atores-candidatos. Quem se recorda das elites, sabe muito bem que as tropas estão bastante desfalcadas, desde 1964, quando a ditadura militar arrebentou com o sistema educacional no Brasil. Recentemente, matéria jornalística denunciou o assassinato de Anísio Teixeira, um dos maiores educadores do mundo, pelos gorilas do regime. Além do mais, uma coisa é a campanha que normalmente vem permeada de fanatismos e infantilismos - como se estivéssemos num ringue "sanguinolento" de lutas marciais ou na arquibancada do futebol-, e outra é a postura , o trabalho realizado, projetos propostos, os chamados programas de governo, etc. Não se faz distinção, muitas vezes, sobre o que se discute. Seriam todos sócios? O quê pode nos afetar de tal ordem, quando sabemos que o próprio eleitor brasileiro costuma virar as costas para o que acabou de apostar, de enfiar urna abaixo?
O voto obrigatório traz essa faceta de vários gumes e perigos. Ao mesmo tempo que mantém uma certa mobilização, gera malcriação, rebeldia tola. Figuras pensantes importantes tais como Raimundo Faoro , já falecido, ou um José Murilo de Carvalho, defendem a obrigatoriedade do voto, pois consideram que se houver a não obrigatoriedade, a desmobilização por parte do eleitorado será muito grande e ainda mais prejudicial ao jogo político. Há controvérsias. Acredito que num primeiro momento haveria um comparecimento maior do que o de costume , já que os que defendem a obrigatoriedade do voto diriam que a não obrigatoriedade é golpe de estado. Mais ou menos como o plebiscito, realizado no início dos anos noventa, sobre a escolha do sistema e forma de governos. Monarquia, Presidencialismo, Parlamentarismo....Estão lembrados? Ganhou a República Presidencialista ou seja: mantivemos tudo como antes, sem ao menos discutir com calma, prudência, todo processo de forma e sistema de governos. O que talvez resultasse numa reforma político-partidária necessária. Reforma essa que é evitada a todo custo por todos nós que estamos implicados no processo político enquanto sociedade civil. De preferência sem chiliques.
 Lembro-me da figura austera e cautelosa de Ulisses Guimarães e dos seus olhos azuis da cor de um oceano singular e que se tornou seu túmulo. E ele dizia que ao morrer, naquele caixão suposto onde estaria o seu corpo inerte, haveria por ali um homem contrariado. Não houve caixão e seria impossível estar contrariado àquele do qual se diz morto. Mortos não se contrariam mais. Contrariado, enquanto obviamente vivo, ficara ao ver as tolices que cercaram os debates - e o velho Ulisses quase sempre sereno para ficar se debatendo-  sobre o tal plebiscito. Houve quem quisesse votar - e o voto era por escrito à época - no rei Roberto Carlos ou na rainha Xuxa. Não me pareceu nenhum absurdo! Isso está na chamada alma das pessoas! E ainda sobrava um gol para o rei Pelé. As pessoas são inteligentes e possuem o rei ou a rainha que merecem. O raciocínio está perfeito. Se há obrigatoriedade de voto, também para plebiscitos, que votemos, portanto, no rei que mais gostamos, ora pá!
Os presidencialistas já diziam que o tal plebiscito era tentativa de golpe. Recorda-se de ACM, Maluf e outros arautos da democracia no Brasil a vociferar essas palavras de ordem! Tinha gente também à esquerda a proferir sacrilégios semelhantes. Os tais institutos de pesquisa , desses que dizem em quem a turma vai votar ( e no pior dos casos há um imperativo que diz "devem votar") , afirmavam que se  muitos políticos apoiassem a ideia Parlamentarista, teriam diminuídas as chances numa pretensa eleição futura. Resumindo: a política enquanto a arte da distribuição dos poderes tornar-se-á tão somente ( perdoe-me Hilda Hilst pela mesóclise. Deve ser inspiração de Janio Quadros ) o meu quinhão, a minha turma, os meus dividendos e ponto. O resto não tem uma tal ética, logo, não presta. Nada de maniqueísmos, e sim uma perversidade eleitoreira a mais. Tudo, infelizmente para muitos, mais do que normal.
Nos últimos anos, assistimos a uma onda, quase que um fetiche, de denúncias e apurações e prisões - um show protagonizado pelas polícias e incentivado por autoridades de primeiríssimo escalão -, de políticos, empresários, servidores públicos, envolvidos com as maracutaias centenárias, milenares. Sempre haverá maracutaias. Alguns praticantes contumazes dessa farra com o erário público alegarão que fazia parte do processo de gerenciamento dos interesses públicos. O que é da ordem pública já se misturou com os interesses privados para muitos. O Estado, policialesco  por excelência , desmoralizou-se inteiramente e diversas milícias se multiplicam fazendo concorrência desleal. Os que defendem a manuntenção de uma presença do Estado cada vez maior, apoiam-se  no fato de que uma política econômica um pouco mais liberal tenha fracassado, esquecendo-se porém da falência em diversos níveis e regiões da política assumidamente estatizante que certos países praticaram por décadas. Deixar que as pessoas resolvam e decidam seus rumos com uma presença mínima do estado ou permitir que esse mesmo estado comande e decida sobre quase tudo sobre a vida da população estão na mesma ordem de cegueira.
A ordem política para os próximos tempos é o da consideração 'ad doc', ou seja, o caso a caso e  a cada momento. Igualzinho o que se deve fazer num processo de análise. Nesse momento econômico em que o país está estacionado - feito formação neurótica a reclamar do vizinho, a quem supõe enxergar no próprio espelho- , em que a mandatária maior decide reduzir as tarifas da nossa energia - e brasileiro tem de sobra , tal como nos apontava  o poeta , então diplomata e irmão da escultora célebre, Paul Claudel, "muitos reflexos e pouca reflexão", assim se reportava ao povo brasileiro- , a partir de 2013 , senão a energia da casa, dos palácios, cairá de vez. Portanto, depois da gastança do governo anterior, desenvolvimentista por demais , agora seremos monetaristas a fim de preservar a nossa moeda, nossas reservas até.....a próxima crise. Aprendo com a Nova Psicanálise, do poeta MD.Magno, que temos que lembrar que a crise - na sua própria etiologia nos aponta para oportunidades- e que a economia é sempre libidinal. Freud estava certo.
Logo, não há  aquele que é de esquerda ou  direita ou de centro. Existem sim aquelas formações que estão mais à esquerda, mais à direita ou em cima do muro no momento. E isso não é o cinismo contemporâneo da ocultação permanente do que está em jogo. Ao contrário: é assumir que nenhuma postura é definitiva. Sobretudo, a priori. Pois aí teremos preconceitos e maniqueísmos terríveis. O tal artigo que li indicava esse movimento, mas a nomeação ficou comprometida. Chamar qualquer um de fascista é até fácil. Agora mesmo, uma professora universitária , no Norte do Brasil e que tem vínculos com movimentos de estudos raciais e é até praticante de cultos religiosos de origem africana, está sendo processada por discrimação. Alguém lhe barrou o caminho e a solução adotada foi chamar, aquele que lhe barrou o passo, de macaco.
É extremamente difícil abordarmos o que quer que haja sem preconceitos. Nesse próprio texto do tal blog, com dados importantes, uma das comentaristas do artigo, publicado no blog, insulta quem o escreveu. E aí vem uma outra e insulta quem insultou o insultado primeiro. O quê é isso? No mínimo, deveríamos suspeitar dos insultos aos próceres envolvidos: articulista, candidato, eleitor, militante.
O ressentimento, praga indestrutível da nossa falta de educação, da falta de análise dos sintomas de cada um, funciona como projeto de governo, enquanto visão e postura de mundo. Há partido político- e partido político muitas vezes inviabiliza A Política - que não se definiu jamais em termos teóricos, ou seja, através de referências ideativas mais consistentes e que norteassem suas ações. No Brasil, os partidos multiplicam-se feito cupins. São meras rivalidades regionais, desde o coronelismo que ainda perdura, que alimentam essa procriação promíscua. Fora, é claro, a piada sem graça. Um país com seguidores religiosos aos milhões ( maioria absoluta) possui dois partidos comunistas e outros tantos ditos socialistas. Possui também diversas legendas à direita sem qualquer referência  nítida sobre os seus projetos. É uma confusão proposital. E quem é que acompanha tudo isso? Lembro-me dos debates - horríveis e semelhantes a programas de e para calouros- com os candidatos à Presidência da República em 1989. Ao final do ringue, a empregada de uma tia disse que finalmente entendera a tal "reserva de mercado". Eram as compras feitas no supermercado e que ainda restavam. Perfeito. Não deveríamos confundir ignorância com burrice. A moça sacou direitinho.
Nos tempos do Império ou no início da República, existiram políticos que escreviam cartas, memorandos, destinados aos eleitores. Um dos mais célebres - e depois fiquei a saber que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apreciava muito o livro-, foi a coletânea de artigos de Bernardo Vieira de Vasconcelos intitulado " Carta aos eleitores da Província de Minas Gerais ". Ali, o político esclarece fatos e intrigas e projetos e o que fez/faz. Decente, corajoso, brilhante.
Quando se estuda alguns dos autores da política brasileira como Bernardo Vieira, Assis Brasil, José Bonifácio de Andrade (um gigante), Frei Caneca, Joaquim Nabuco, percebe-se que havia ali um pensamento político genuíno e ignorado por estudantes , inclusive das ditas ciências políticas em cursos de doutoramento. Fui testemunha enquanto ouvinte num desses. Preferem exclusivamente o Montesquieu , o Montaigne , a Hannah Arendt, o Carl Schmitt, o Maquiavel e outros egrégios pensantes da estranja. Vivinho da Silva, pode ser nome próprio, temos um FHC pensando o novo século, faz tempo. Um Darcy, Ribeiro de saudades, e tantos outros tão importantes como os citados acima.
O poder vem de baixo para cima também. Alguns ceguetas se recusam a enxergar. Não é só de cima para baixo que se institui, que se configuram os poderes, mas daqui para lá também. Feito audiência de programa televisivo. Quem hipnotiza quem? De onde vem a demanda? Ninguém tem esse poder absoluto. Há uma cumplicidade de todos. É preciso entender onde nos situamos nesse momento e qual será a nossa de agora? Caso contrário é somente confusão, paixão = cegueira, racismo, egocentrismo, narcisismo barato, perversidade. Tudo isso movido por crenças que não deixam de ter fundamentos religiosos. E aí cada um que prepare a sua cruz para aquele vizinho do apartamento ao lado. Cheios de amor.
Só não venham dizer que eles não sabiam o que faziam. E nós todos? Sabemos?

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