A Partida é o nome do título de um filme Japonês que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, esse ano.
Há muito tempo, desisti de ler aquelas pequenas resenhas que são escritas nos jornais sobre os filmes em cartaz. Normalmente, o filme , ou melhor, o roteiro, a história tem muito pouco ou nada a ver com o que se desenrola na tela. Ainda mais se quem escreveu a tal sinopse não estiver com humor dos melhores.
A partida é um filme feito com cabeça de oriental. Logo, já há um abismo entre nós.O Ritmo da direção , por exemplo, é bem diferente, muito mais cadenciado do que o que estamos habituados.Graças a ele é que foi possível sentar na segunda fileira ,desses cinemas que ainda insistem em não ter lugares marcados.
Passado o desconforto, o filme revela surpresas e mesmices. O elenco é ótimo, a música ( mencionei Haydn em outro texto aqui) divina , o solo de violoncelo e aquela comida ( escatológica por vezes) tentadora.
A surpresa para mim é o humor quase chistoso. Algo dificil de se ver em produções japonesas. Os orientais geralmente têm o hábito de levar a vida muito a sério.E como se diz ,em sábio dito popular ou não, ninguém sai vivo dessa. Então para que se preocupar tanto?
O humor está presente na equivocação que se dá sobre o personagem principal e o que está em torno. O nome , Partida, lhe parecia indicar algo relativo à turismo, viagens, prazeres...NÃO é bem assim.Há prazeres, mas de outra ordem...
Creio que o que comove as pessoas é um cuidado sofisticado, caprichoso, com aquelas partidas, com aqueles que pereceram.Cuida-se de um defunto, preparando-o para o enterro, como se prepara um sushi, como se aplica um golpe de arte marcial: delicado, preciso,até mortal.
Há um trato com o tema que não se vê na nossa cultura.Vez ou outra , um chilique desloca o recato respeitoso que se faz. Afinal, ninguém é de ferro. Ainda mais quando se envolve mãe, pai, família e outras formações ruidosas.
A melhor figura é o velho.O que para mim soa como redundância, na minha ignorância, pois sempre achei que os caras por lá nascem já idosos.O velho é sábio, sabe o que quer, pois já descartara o que para ele não serve mais.Nunca mais!Ele conhece o sentido de uma tragédia.
O que se destaca é a reversão fundamental de um recomeço após o fim. Um fim que é modalizado, pois o fim para valer é aquele em que não há testemunho possível.Aquilo, aquela carne maquiada, já não está mais lá. A "nosotros" não está mais lá e nem eM-Canto algum.
O golpe final , e que me cansa porque é sentimentalismo religioso, cinica-mente correto, é o perdão papai-escroto=filhinho-traumatizado. Como se escroto não o fosse também.E um perdão de um lado só, porque o outro, a ser perdoado, já não perdoava mais nada nem ninguém.
Todavia, um mal necessário para o filhinho, visto que ele não pensava em outra coisa. Fez me lembrar fato recente envolvendo uma festa matrimonial. Se esses eventos não tivessem ocorrido - tanto a celebração fora da tela , quanto a vivenciada na película, os principais personagens teriam ficado bem piores.
Resta aos novos japoneses a compreensão de que - ensinamento de meu mestre - quem morreu mesmo foi essa tal de morte. Aliás, nunca houve.
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