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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Homenagem a Jackson

Virada Russa é o tema de uma exposição ,em cartaz no CCBB, No Rio.
Tirando os cartazes comunas, a exposição é ótima. Chagal, Malevitch, Pável Filónov, Kandinsky, entre outros.
O trabalho de Filónov é pouco conhecido aqui no Ocidente e é lindo. Ele faz sutilezas com o que se conheceu como cubismo e futurismo. Na verdade, ele transita por diversas abordagens pictóricas, tal como informa o panfleto de divulgação da exposição.
O inverno , o verão, príncipes , vassalos, heróis e assassinos ( há menção a Lenin),cubistas, impressionistas, surrealistas, enfim, quase tudo lá. Mais de 120 obras vindas do Museu de São Petersburgo.
Homenagem maior a heróis-espantalhos do Ocidente.

Não morre (Michael e others)

Não morre um autor. Infelizmente, seja ele um boçal ou um gênio. Aqui no Brasil , temos o hábito de glorificar os boçais. VEZ ou outra , acertamos o alvo.
Já que somos um país que tem qualidades tal como absorver a cultura do outros,podemos glorificar os outros mestres e gênios . Quero dizer, os mestres lá de fora.
A questão é que com a queda de uma série de fundamentos, onde fronteiras se borraram e a idéia de soberania foi modificada , mediante uma tecnologia que carrega tudo para frente ( o que é para amanhã já está atrasado), Nova Iorque é ali, ou melhor, é aqui também.
As borboletas já bateram e continuarão a bater as suas asas e os terremotos sucedem-se no compasso de um devir que não garante aviso prévio. Aliás, nada tem garantia. Só a ilusão que ...garante somente outras ilusões.
Por isso que ao cruzar a movimentada rua do centro do Rio de Janeiro, o comerciante informal grita: "Michael Jackson não morreu!Olha ele aqui." E sacudia nos braços um CD do cantor-espantalho-dançarino genial-pintado de branco-negro-rei do Swing, presente na minha vida desde sempre.
Ele tem toda razão.
Espero somente que não seja decretado luto oficial no Brasil e que as bolsas de valores não despenquem. Se bem que ainda posso procurar por aquele compacto simples- conhecido como bolacha com um furo no meio- dos nos 70 , no qual ele cantarolava "Ben", uma canção-homenagem ao seu ratinho de estimação. Legal o tal do Jackson!Fazia música para ratinhos também....Sei não.

domingo, 21 de junho de 2009

Partidas

A Partida é o nome do título de um filme Japonês que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, esse ano.
Há muito tempo, desisti de ler aquelas pequenas resenhas que são escritas nos jornais sobre os filmes em cartaz. Normalmente, o filme , ou melhor, o roteiro, a história tem muito pouco ou nada a ver com o que se desenrola na tela. Ainda mais se quem escreveu a tal sinopse não estiver com humor dos melhores.
A partida é um filme feito com cabeça de oriental. Logo, já há um abismo entre nós.O Ritmo da direção , por exemplo, é bem diferente, muito mais cadenciado do que o que estamos habituados.Graças a ele é que foi possível sentar na segunda fileira ,desses cinemas que ainda insistem em não ter lugares marcados.
Passado o desconforto, o filme revela surpresas e mesmices. O elenco é ótimo, a música ( mencionei Haydn em outro texto aqui) divina , o solo de violoncelo e aquela comida ( escatológica por vezes) tentadora.
A surpresa para mim é o humor quase chistoso. Algo dificil de se ver em produções japonesas. Os orientais geralmente têm o hábito de levar a vida muito a sério.E como se diz ,em sábio dito popular ou não, ninguém sai vivo dessa. Então para que se preocupar tanto?
O humor está presente na equivocação que se dá sobre o personagem principal e o que está em torno. O nome , Partida, lhe parecia indicar algo relativo à turismo, viagens, prazeres...NÃO é bem assim.Há prazeres, mas de outra ordem...
Creio que o que comove as pessoas é um cuidado sofisticado, caprichoso, com aquelas partidas, com aqueles que pereceram.Cuida-se de um defunto, preparando-o para o enterro, como se prepara um sushi, como se aplica um golpe de arte marcial: delicado, preciso,até mortal.
Há um trato com o tema que não se vê na nossa cultura.Vez ou outra , um chilique desloca o recato respeitoso que se faz. Afinal, ninguém é de ferro. Ainda mais quando se envolve mãe, pai, família e outras formações ruidosas.
A melhor figura é o velho.O que para mim soa como redundância, na minha ignorância, pois sempre achei que os caras por lá nascem já idosos.O velho é sábio, sabe o que quer, pois já descartara o que para ele não serve mais.Nunca mais!Ele conhece o sentido de uma tragédia.
O que se destaca é a reversão fundamental de um recomeço após o fim. Um fim que é modalizado, pois o fim para valer é aquele em que não há testemunho possível.Aquilo, aquela carne maquiada, já não está mais lá. A "nosotros" não está mais lá e nem eM-Canto algum.
O golpe final , e que me cansa porque é sentimentalismo religioso, cinica-mente correto, é o perdão papai-escroto=filhinho-traumatizado. Como se escroto não o fosse também.E um perdão de um lado só, porque o outro, a ser perdoado, já não perdoava mais nada nem ninguém.
Todavia, um mal necessário para o filhinho, visto que ele não pensava em outra coisa. Fez me lembrar fato recente envolvendo uma festa matrimonial. Se esses eventos não tivessem ocorrido - tanto a celebração fora da tela , quanto a vivenciada na película, os principais personagens teriam ficado bem piores.
Resta aos novos japoneses a compreensão de que - ensinamento de meu mestre - quem morreu mesmo foi essa tal de morte. Aliás, nunca houve.

domingo, 14 de junho de 2009

Eu,a barriga,, o silêncio....

Somente a solidão nos possibilita um vínculo com o que quer que haja.
A grande ilusão de nossa espécie é supor que esse exercício de se estar só é a nossa ruína.
Existem muitas possibilidades de salvação , porém são parciais , modais tão somente, mas o estar só é essencial.
Confunde-se solidão com depressão. Depressão pode até advir de um momento de exasperação no qual vemos o beco sem saída. A maior de todas as aporias! Lê-se no fim do beco, sem nenhuma iluminação platõnica, " Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". É a frase para vida...toda. Mais ou menos como num vôo de avião, hoje em dia. Quando sobe há perigo; ao descer também. E quem diria?... que junto aos deuses de muitos, bem lá no alto, perigo também há.Sempre houve.
A nossa mente apronta dessas. Recalcamos, afastando da mal-dita consciência, formações indesejáveis, desprazerosas. Contudo, elas sempre retornam. Ainda que sob a face-disfarce de um sintoma qualquer.
Estamos enfiados numa guerra política pesada. Aquilo que se pratica em qualquer parlamento ,pelo mundo afora, é tão somente um pequeno recorte , uma das muitas guerras.
O Psicanalista está inteiramente só. Ele tem como recurso a sua experiência de exasperação, a sua lembrança de que ela há. De que há enquanto algo disponível para, tão somente uma ferramenta , ser utilizada eficazmente. Não deve haver juízo valorando mais ou menos o que quer que seja. E é aí que a sua impossibilidade se mostra. Somos quase sempre alguma coisa. Somos demasiadamente egóicos. E Ego é= doença que é = a racismo= a vaidade, etc.
Tenho uma única e singular dor de barriga que é toda minha.E nessa hora o eu é barriga, intestino, dor.Quem manda mais numa dor de dente? O Sujeito cartesiano - herança doentia- ou a dor que independe de qualquer homúnculo existente dentro ou fora? Sabe-se lá o que isso quer dizer, mas o tal do Inconsciente, descoberta maior de Freud, não é nenhum baú da felicidade ou infortúnio tampouco. Ele é isso tudo que a gente vive, isso tudo que está aí.Como é coisa muita e não daríamos conta de absorvê-lo inteirinho, a gente recalca um bocado.
O concerto de Haydn que escuto, a fim de me inspirar um pouco a dizer mais bobagens, foi composto a dois séculos , creio eu. Ou seja: ontem.
A dor , a barriga, eu, o dente, aquilo que creio ser eu, enfim, sós.
Alusão ao Sr.Wittgenstein, Filósofo dos mais brilhantes, morto no século que também acabou ontem, o século 20: silêncio.

domingo, 7 de junho de 2009

Quando divã torna-se tolice

Não é à toa que a Psicanálie vai mal das pernas,, ou melhor, não é a psicanálise que vai mal das pernas , ela é , felizmente , a crise que, etmologicamente, significa oportunidade. Quem vai mal das pernas são os tais analistas. Sobretudo, os tele-analistas. Aqueles que mostram a cara em programinhas televisivos , dizendo um monte de bobagens.
Recentemete, um desses, todo enfarpelado de roupas caras, conversava sobre os efeitos de acidentes aéreos nas nossas mentes. Quase nada disse, mas a asneira se fez presente. Após , a declaração de um dos convivas, escritor e também piloto de aeronaves, sobre o seu imenso tesão ( não foi esse o termo que ele utilizou, mas é esse o sentido que eu dou ao que foi dito ) por acidentes aéreos. Pronto! Estava aberta a porta para a burrice pretensiosa. Primeiro, o apresentador que, também se diz apaixonado por aviação, fica meio sem jeito, etc. Segundo , o analista televisivo dispara algo no sentido de que a declaração do escritor teria sido algo de ordem sintomática, patológica, etc.
No final do programa , o escritor fez um comentário inteligente sobre o que queria dizer ao afirmar tal preferência.
Onde se esconde a estupidez?Simplesmente, o tal analista , que parece tomar Champagne a bordo, ou seja, só viaja de "first class" , acredita que o tesão dele por neurose , psicose, entre outras 'oses' , é menos doentio, menos sintomático ,melhor dizendo, do que o daquele que se interessa por acidentes aéreos, estupros, etc. Afinal, Hospital psiquiátrico estabelece vínculos salutares de montão!
O mais grave é isso. Acreditar sempre que os nossos tesões, preferências, hábitos são salutares ou , como dizem os adeptos por linchamento, normais. Deslocou um pouco é doente. E pior ainda: não é mais preconceito. É conceito mesmo.
O escritor foi preciso. E para quem já perdeu a ilusão de que algumas formações em jogo são inteiramente seguras, a conversa mais franca é angustiantemente esclarecedora. O que está sendo desrecalcado e tendo acesso ao que chamamos de consciência é isso: entrou ali , está em risco. Tal qual ocorre na vida. Lembrando Guimarães Rosa: " Viver é muito perigoso".
O jogo é esse e em tempos de crise de mercado financeiro, passear muito tempo de elevador pode ser perigosíssimo. O que interessa é garantir uma quantidade mínima de subidas e descidas. Digamos umas dez. Na décima primeira , papai do céu ou papai noel , tanto faz, será a última esperança.
Quando o divã torna-se tolice dá nisso. Aliás, o divã não é lá muito uma formação que faça parte do nosso mobiliário tropical. Lacan, bezerro de ouro para alguns colonizados, tinha uma cama de casal no seu consultório. E um ouvido maravilhoso a afugentar burrices psi ou não.
Um colega, também analista e pessoa muito séria, certa vez sugeriu. Por que não uma rede? Daquelas que se adquirem em feiras artesanais, etc. Para lá e para cá a embalar as doidivanas!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Dependência Fatal

Falam mal dos analistas, mas a dependência maior, há muito, é com as placas mães, memórias, chips,softwares, etc, etc.
Hoje, faz dez dias que não me conecto com a dita grande rede. Será que perdi muita coisa? Será que o mundo conseguiu piorar? Na minha infância, brincando de Emília e questionando a tal mãe natureza , jamais uma nuvem derrubaria um jato de milhões e milhões de dólares. O pessoal da primeira classe mal terminara sua refeição-banquete e se viu dentro do inferno. Sim, o inferno faz até aeronaves de última geração tremerem.
O jornalismo de penúltima geração, ou seja, aquele que vive às custas do dízimo alheio, seja ele vivo ou desaparecido nas gélidas águas, nessa época do ano pelo menos, e que separam o Nordeste Brasileiro da África , inicia sua ofensiva dantesca. Podem aguardar que o espetáculo populista só está começando. O tom de civilidade só permanece , por parte das autoridades tupis, porque o avião era francês e ele não caiu em nenhum aeroporto-rodoviária do Brasil. Além do fato que o mapeamento aéreo , supostamente na hora da tragédia, era de responsabilidade do Governo ( Governo? ) do Senegal.E essa interrogação não é preconceito, mas conceito.
Se por acaso tivesse ocorrido mais um vexame aéreo nosso, talvez algumas autoridades européias iniciassem movimento de boicote e proibição do sobrevoo do espaço aéreo de seus respectivos países , por uma aeronave brasileira. Essa medida já atinge empresas aéreas de diversos países. A Angola Airlines, por exemplo, não pode sobrevoar espaços aéreos europeus. Talvez Portugal, antigo colonizador permita...voos ( tem acento chapeuzinho essa porcaria ainda?) suicidas...
Já declarei que diante da nossa incompetência , ou loucura, avião tornou-se um certo problema para mim. Já escrevi sobre isso aqui , no ano passado, após uma viagem da Argentina para cá.
Minha sogra, recém chegada de New Iorque , no mesmo dia e poucas horas após o horror , fez inclusive a mesma rota em território nacional, vaticinou; melhor morrer num acidente desses do que de câncer! Tem toda razão! Ainda mais se for bebendo um grande tinto. Daqueles que custam o preço de um carro. Aí é só avisar o barman ou barwoman dos ares que você pagará na próxima...
O computador quebrado me deixa na solidão do não recebimento de mensagens. Confesso que não me preocupei. Confesso que mudei alguns hábitos por causa desse evento. A pesar e sobretudo, a minha conta bancária não se alterou, nem tampouco as minhas práticas profissionais.Confesso que estar só , sem mensagens , sem chips, sem mouses, vinculou-me à outras coisas.
É assim com alguém que ousa atravessar uma análise. O recuo reflexivo que lhe compete, pode despertar-lhe para muitas coisas , inclusive o amor verdadeiro que é aquele que inclui o ódio , a inveja, o ciúme, que é aquele que pode se oferecer como coisa alguma para o outro, etc, etc. Coisa de gente e de chip e de placa mãe e de processador e de monitor e de outros nômades que não fazem só voar.