Não sei as razões que levaram os cineastas envolvidos no projeto, dentre eles um humorista famoso, a realizar o filme , na verdade um documentário, sobre um dos mais controversos cantores do país, e que morreu em Junho de 2000 ,aos 62 anos.
Wilson Simonal era filho de empregada doméstica e serviu o exército. No final dos anos sessenta , tinha tanta fama no país quanto Roberto Carlos. Dotado de um carisma pouco visto, Simonal mobilizava multidões, numa época em que multidões não eram bem aceitas por uma ditadura boçal. Aliás, perdoem-me a redundância!
Era mascarado confesso - nos dias de hoje um Romário é modesto comparando-se a ele-, agradava mulheres de todas as classes sociais - esse foi um dos motivos da condenação dele também e que não é abordado no filme, ou melhor, é abordado sim e com extrema sutileza e elegância numa cena em que uma bela Marília Pera seduz o ex-sargento diante do seu corno esposo-, e divertia o rebanho com habilidade musical inigualável no país.
Simonal foi um daqueles meninos pobres que deslumbrado se acabou. Era tão delirante que chegou a crer que poderia ocupar a reserva na seleção brasileira de futebol na Copa de 70. Imaginem! Reserva do furacão Jairzinho. Creio que é o Chico Anísio ou Nélson Mota - alguns dos que tiveram coragem em depor no filme - que relatam essa história divertidíssima.
Esse episódio corrobora com o que se sabe dele e dificilmente pode-se crer que ele fora um alcaguete a serviço dos órgãos repressores do governo. Errou feio ao contratar gorilas oficiais para dar uma coça num suposto contador picareta e também ao afirmar irado à abutres da imprensa que era de direita e tinha pacto com os "homem", etc.
Pagou caríssimo. Foi o exílio político mais longo da história da nação ( nação?). Foi o racismo mais escancarado que se tem notícia no Brasil. Foi a perseguição mais fascista e silenciosa , típica da esquerda alegre , que houve. Os rapazes do Pasquim admitem erros , exceto o pai do Governador do Rio, O Sr. Aposentado pelo Tribunal de Contas do mesmo Estado, Sergio Cabral , o pai, a quem o saudoso Paulo Francis apelidava de Dinamarquês. Não porque tivesse qualquer ascendência escandinava, mas por semelhança física com uma certa raça canina.
O velho e bom Jaguar, armado com uma caninha ou cerveja - não sei ao certo- e que levava o seu nome, reconhece, um tanto quanto constrangido que o Pasquim , aquele jornal brilhante , uma espécie de resistência intelectual jornalística à época, pegara pesado demais com o "Simona'.
O crioulo que lera certa vez num show , em 1967, fictícias notícias de um jornal datado de 24 de Junho de 2000, parecia antever o que estava por vir. Ele morre em 25 de Junho de 2000! Aquela brincadeira, trinta e poucos anos antes, foi das últimas. Morrera pobre, doente, esquálido, sem charme algum, fazendo shows na periferia de SP, apresentando-se em programas de TV de baixíssimo nível, dentre outros infortúnios.
Simonal , no país regido por referências inquisitivas, cometeu dois pecados imperdoáveis: traição e soberba. A primeira em relação a parte do seu público, quando afirmou irresponsabilidades; e a segunda ao abusar da máscara. Todo brasileiro é racista! Esqueceram de lembrar ao Simona que ele , inclusive ,também o era. Basta checar o que dissera dos militantes que combatiam a ditadura.
E justo o homem , ex-sargento, que passara fome e que reconhece num puteiro, no velho e bom Leblon, os tristes momentos de sua Infância e juventude.
O filme me fez um pouco triste. Tristeza mediante o nosso quase que eterno amadorismo, a nossa calhordice com molejo. Paticumbum, Paticumbum!
Creio que os autores do filme foram muito felizes. Eles apresentam diferentes versões para os fatos mais graves. Divertem, comovem. Há drama , alegria também há. Não tomam partido.O partido deles é o cinema!
Creio também que o momento é bastante favorável, onde a esquerda anda um tanto desmoralizada, onde os neo-liberais faliram, onde os negros estão na moda. Não tenho ilusões de Chico Anísio! Ele crê que há transcendência com anjinhos, talvez putas com asas, humoristas menos rabujentos e outros seres alados.
Todavia, seria divertido poder rir um pouco com o Simonal dessa boçalidade toda. Sem Champignon, malandro!
3 comentários:
adorei o post, querido! mil beijos
Super contente de ter conseguido acessar o blog! Yes, we can!
Aproveito para compartilhar um texto lindo da Cora Coralina
Bjos
Auto definição:
Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha e filharada.
Vive dentro de mim a mulher roceira. Enxerto de terra. Trabalhadeira. Madrugadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos, seus vinte netos.
Vive dentro de mim a mulher da vida. Minha irmãzinha..Tão desprezada, tão murmurada..Fingindo ser alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim: na minha vida – a vida mera das obscuras!”
Obrigado meninas. Somente hoje, dia 1 é que consertei o meu computador.
Beijo, Carlucho
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