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domingo, 4 de janeiro de 2009

Opinião formada

Apenas como esclarecimento: a sinfonia inacabada a qual me referi em algum artigo abaixo não é de Beethoven , e sim de Schubert.Trata-se da belíssima Sinfonia número 8 em B menor, D 759 com dois movimentos; um Allegro Moderato e um Andante con Moto.
Um dos primeiros sinais de que o nosso disco rígido está carregado, leia-se lobo frontal,hipotálamo, etc, etc, é quando alguns nomes passam a ser trocados e outros devidamente esquecidos.Creio que alguns devem ser esquecidos mesmo.
São tantos os nomes que atravessam nossas vidinhas, são tantos os rostos, são tantos odores que, não damos conta disso tudo.
Ao longo de muitos anos, era comum escutarmos que seria quase impossível para um psicanalista guardar todas as informações que um analisando lhe passava no decorrer de um tratamento.Além do mais , normalmente , você tem ao menos dois pacientes....
O certo é que a escuta analítica recorta esse emaranhado de dados. Ela é seletiva. E para selecioná-lo, esse vasto material, é preciso suspeitar e suspender aquilo que se ouve e sobretudo cuidar dos próprios sintomas, dos próprios juízos de valores que teimam em nos atazanar.
É um trabalho dificílimo, visto que o exercício tem que ser constante. Não há férias possível, no máximo um breve descanso. Uma espécie de até mais tarde.E esse até mais tarde remete a um dos maiores dramas dessa tarefa, desse exercício, pois psicanálise não é profissão, que é o fato de que qualquer sentido que se possa dar ao que fora dito só ocorre depois do acontecido. Logo, o famigerado 'Só Depois Freudiano' explicita que toda intervenção, por mais pertinente que seja, já está defasada. Todo processo curativo é precário.Fazer o quê...
Portanto, a brincadeira deveria ser preventiva ,isto é, quanto mais cedo se começar melhor. A possibilidade de se deslocar certas formações pode ser menos difícil.Aquilo não formou ainda um arrebite que vai se cronificando com o passar do tempo - sabe-se lá qual ou quanto-.
Em casos ditos psiquiátricos uma das dificuldades maiores que se observa é que após a exacerbação de uma afecção qualquer , o que se conhece popularmente como surto,é que além do aprisionamento em torno dessa sintomática, ou seja, a escravização total em relação aos sintomas , o alívio frequentemente dos mesmos vêm acompanhado de doses cavalares de medicamentos. Medicamentos esses que são necessários em casos mais graves, de extrema agitação acompanhados ou não por delírios e ou alucinações, agressões ou dificuldades para realizar tarefas cotidianas simples, etc.
É custoso suspender a certeza que supomos ter sobre tudo. Na verdade, isso é prova de ignorância. Sócrates teria dito: "Só sei que nada sei". E quem garante a ele que ele só sabe que nada sabe?Foi aí que um Descartes da vida deitou e rolou a garantiu uma única coisa: que a gente duvida.
Por aqui, nos trópicos, um moço que há vinte anos faleceu, Raul Seixas, teria ensinado: " Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha ( E BOTA VELHA NISSO!!- O GRIFO É MEU)) opinião formada sobre tudo".

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