Bundas de fora
Há de se ter prudência. Estamos vivendo tempos em que as bundas querem ficar de fora, de qualquer maneira , de qualquer tamanho, a qualquer hora.
É um horror. Faço Novamente a pergunta: aonde passa a fronteira entre a fama e a vulgaridade?
Existe uma idéia equivocada de que para se existir é preciso aparecer na mídia de qualquer maneira.
Recentemente, na porta do meu prédio, um rapaz que integra o “cast” de um programa veiculado à Internet , abordou uma rapariga para lhe fazer perguntas, obviamente , estúpidas. A mocinha, daquelas bem gostosas, sorriu e ajeitou o cabelo. Seria isso uma resposta? Talvez sim. Já que não tenho mais cabelo, não entendo o código secreto do balançar para lá e para cá capilar.
O importante, porém, foi a reação dela. Estava inebriada, excitada, já que falava ao microfone e havia testemunha, isto é , uma câmera e um suposto espectador.
Que encantamento é esse , do qual participamos todos?
Guy Debord , importante pensador Francês,falecido em Novembro de 1994, o ano em que o Brasil renasceu, ou seja, Ganhou uma Copa Do Mundo de Futebol depois de quase 25 anos, e que escreveu o conhecido “ A Sociedade do Espetáculo”, já havia denunciado o fenômeno midiático e alguns dos seus efeitos, vicissitudes, etc. Apenas não se incluiu enquanto membro do espetáculo também. Erro grave, pois a sua obra é bela e causou efeitos. Ninguém passa tão desapercebido assim, após algumas publicações importantes. Gente, é claro,que habita o mundo primeiro, sobretudo aquela turma francesa que possui tradição nesse tipo de produção, até porque a valoriza.
O Francês tem orgulho de sua história. Até mesmo daquela revolução patética , A tal da Revolução Francesa , onde milhares foram mortos, conhecida como período do terror. À época ,Um humilde comerciante , proprietário de uma taberna, foi levado à guilhotina porque colocara um aviso na porta de sua venda , onde se lia: ‘Vende-se vinho’.
Ele fora condenado pois não especificou se eram tintos ou brancos os tais vinhos. Coisa de burguês....
As pessoas estão certas que precisam integrar a brincadeira custe o que custar. Até concordo em parte, pois não devemos contemplá-la com olhar profano, tal qual vaticinou , há algum tempinho, aquele mobilista chamado Heráclito. Heráclito, filósofo pré-Sócrates, isto é, um pouquinho mais antigo que Debord, apostava que as coisas se moviam, se transformavam constantemente.Daí o mobilismo. “Um mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio”.
A exposição demasiada se transformou em vulgata. Creio que alguns perdem a noção do que realmente fazem, são e o que está , de fato, ocorrendo. Imaginem alguém como Foucault que, odiava carteira de identidade, diante dessa nudez cafona que assola o mundo. O livrinho 1984 é recomendável também para se entender esse imenso Big Brother.
Curiosamente, 1984 foi o ano em retornei ao planeta terra , ou seja, voltei a morar na minha cidade natal, Rio de Janeiro, depois de um exílio forçado na capital federal. A capital federal foi importante na minha vida. Por lá conheci muitas coisas e muita gente. Brincava-se de invadir garagem alheia, com nossas bicicletas abusadas. As belas casas do Lago Sul com suas cercas vivas, hoje, convivem com grades eletrificadas. Os sinais de trânsito já possuem a mesma cenografia cafona e cruel dos grandes centros urbanos, ou melhor,dos vastos sanatórios.Crianças pedem de tudo, oferecem suas vidas, jogam bolas para o ar e têm a secura, a aridez, do clima típico, estampada nos rostos, ainda juvenis.
Também se exibem. Fazem caretas, têm- ainda mantenho esse acento-, espasmos, etc. Vivem a vida dos outros, preferencialmente, a dos afortunados, famosos. Alguns até exageram um pouquinho mais: acham que são eles mesmos. E uma mera aposta, um mero tesão se transforma em crença.
Parece coisa de gente louca, ignorante, mundo amalucado. E é.
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