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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Uma criança quase à deriva

AOS BOTAFOGOS E VASCAÍNOS . PAPO DE BOLEIRO ÀS VÉSPERAS DA BATALHA.
Uma criança quase à deriva.
1972, o ano. E o dia, era 15 de Novembro. Aniversário do clube da Gávea e feriado republicano. Apesar de supor que continuamos monarquistas de fato ou em sonho. Vamos de rei Roberto, rainha dos baixinhos, rei do bacalhau, rei das tintas, rei momo, no banco de suplentes um aposentado rei da soja e por aí golpeamos a família real portuguesa.
Tinha 6 anos e o pai resolveu levar a criança para a tribuna em que um amigo, cheio de boas relações, conseguiria bom assento e civilidade por perto ( Mais crescidinho, gosto mesmo é de uma arquibancada). Jogo que rola, a tribuna com suas autoridades para uma época em que se impunha silêncio forçado e o massacre: 6x 0 para os Botafogos. Jairzinho e comissão de frente iniciando os ensaios do rei momo para o carnaval do próximo ano.
Dia seguinte, e aquele jornal com seu cheiro particular dobrado estava, dobrado ficou. Indaguei ao velho o que de fato ocorrera, mas ele mudava de jogo. Todavia, o telefone com aquele círculo enorme no centro de sua alma resolvia trazer-lhe a lembrança do massacre. Eram os irmãos a lhe sugerir que não levasse mais o pequeno para assistir aos jogos contra os grandes. Meus tios e primos são torcedores do time que porta a cruz de malta. O pai ficou encucado. Por alguns anos. E depois, viria um desses irmãos piorar ainda mais a situação. 'Não leve o garoto contra os times pequenos tampouco, pois se perder....Virá para o nosso lado.' Durante dois anos que pareceram séculos, frequentei assiduamente Olarias, Bonsucessos, Madureiras, Campuscas. Chegaram a nos acusar- quase fui condenado, apesar dos 8 anos de idade- de sadismo contra formações ditas inferiores. E tinha aquele outro tio, amalucado vascaíno beleza, a sugerir então que a obra daquele "patologista" lás das Europas, Um Marquês de Sade, fosse-me dada a fim de fazer jus à condenação imputada. Ele era amante de uma juíza. Entendia, de modo singular, dessas leis que não nos dão o direito de desconhecê-las. Se bem que essas são deliciosas.
Pois sim. Cheguei a assistir clássicos paulistanos antes de um mundano e regional FLA X FLU. Nelson Rodrigues talvez me condenasse pela segunda vez. Nesse caso, por causa do mundano e regional. Nova condenação. E ele nunca soube que no primeiro evento quarenta minutos antes do nada- era assim que nomeava um Fla x Flu-, tomamos uma enfiada daquela máquina tricolor infernal.
Nessa , o velho me retirou do estádio antes do fim, na verdade antes do tudo ou do nada, rádio de pilha a gaguejar perplexidades pelas rampas da arquibancada, sem que eu lhe fizesse a pergunta capital e que só não nos assombrou, por mais tempo, por causa de um Rei Galinho de Quintino e sua gandiosa guarda pretoriana sob o vôo indescritível de um zagueiro, paulista de nascimento, Rondinelli. Isso foi um 1978, num Dezembro de Noel. Ah ! Aquela pergunta balbuciada na rampa que nos retirava da humilhação sofrida:
' PAI. O QUÊ DE FATO ACONTECEU'?
Mesmo sem qualquer resposta, afora a fuga para proteger seu patrimônio, eu torço mesmo é pelo seu time.
BOAS DECISÕES, AMIGOS.

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