Rememorações em tempos de isolamento.Aquele primeiro carro maldito:
O Araken!
Lembram desse álcool poderoso? Reapareceu por causa do covid e suas vicissitudes.
Pode ser perigoso porque é muito inflamável. E evapora rápido. Portanto, para o vírus malvado que nos perturba não é o mais recomendado.
Mas ele trouxe uma rememoração dos tempos juvenis...
Alto da Boa Vista , pracinha. Nesse local onde também reside uma mansão cor de rosa - eu conheci um dos donos - e que abriga recepções, na maioria delas de casamento, havia também o Robin Hood: uma mescla de Pub inglês com boate, música ao vivo. Uma bagunça bacana. Ficava numa casa antiga e você comprava os " robins" que era a grana para
se usar no local. Não havia cartão de débito nem maquininhas eletrônicas. Cartão de crédito era luxo e cheque sempre foi aquela promessa que poderia não ser cumprida.
Numa das muitas vezes que ali tentei me fazer mosqueteiro e ao deixar o Robin sozinho, madrugada profunda, entro naquele maldito Chevette- eu tive um e reconheço todas as piadas sobre essa não saudosa " máquina " - e pronto para dar a partida e..nhec nhec nhec ( Não sabemos ao certo se essa é a sonoplastia correta , mas fica sendo portanto) . Resultado para o nhec nhec nhec:
Xingo alto, forte:
" Carroça abominável! Pobre é uma merda "!
Arroubos típicos de uma juventude, início nos anos 80 ( 84, 85). Juntamente com a indefectível arrogância; típica também de certos períodos da vida.
A culpa, todavia, não foi do carro dessa vez. Foi, sim, do infeliz, do pobre, do arrogante do seu dono.
A razão que levou esse desarrazoado a PROVOCAR o baque ? Sua possível morte precoce ( Ele ainda era jovem. Menos de 20 mil kms de vida):
Não tinha álcool no tanque; uma gotinha sequer.
Nessa época, a maioria dos veículos no Brasil só utilizavam o álcool como combustível. E por sua vez , os postos de gasolina não ficavam abertos 24 horas.
Esse dono infeliz , que se chama também de Eu, tentara economizar para comprar os também malditos 'Robins'! Ou seja: as benditas cervejas.. O preço da ressaca era então o maldito nhec nhec nhec..
O Rio de Janeiro tinha isso de bom: sempre aparecia o malandro bom na hora não muito bacana. "Malandro bom joga limpo" . Ensinamento sábio do pai de um querido amigo, Julio Cesar.
O cara então sentenciou:
"Acabou o álcool? Você não é o primeiro e não será o último" .
Imaginei que ele fosse mandar aquela máxima- pra mim seria a mínima-, e que só os mais íntimos dos Eus podem fazer, isto é: " Pobre é uma merda ! Só pobre para comprar essa carroça que se pensa um carro"!
Felizmente, o bom malandro nada disse semelhante a isso , e me indicou onde eu poderia adquirir a " cloroquina " daquela hora.
Cinco garrafinhas dessas aí exibidas na imagem, postas no tanque, e os 20, 25 kms que separam a Zona Sul daquele mosqueteiro- pub, através daquela pequena estrada tipo serra , mão dupla e perigosa, foram superados com segurança.
Primeiro dia útil seguinte ao vexame e o mecânico da época , residente na Cruzada São Sebastião, faz um diagnóstico:
" Desmontar o carburador , platinado, condensador e checar o resto. " Robins " malditos! Bendita sois vós, oh! cerveja de logo mais"- sonhei então .
Luciano era uma boa pessoa e um bom mecânico; quando não estava bêbado.
Uma coisa é certa: em álcool tinha vasto conhecimento. Sobretudo no que diz respeito aos danos possíveis . Vez ou outra se referia ao carburador como se fosse o fígado ou seu próprio estômago. Era alcoólatra, o rapaz.Morreu por causa disso. Ao menos, escutei dizer. Se não morreu, foi mal.
Quanto ao Chevette, esse por certo já bateu o motor, o carburador , o condensador , a alma de quem o comprou...
E agora resta nessa pequena lembrança de quarentenas. E o pior : eu gostava do desgraçado.
Foi o meu primeiro carro maldito.
#* Carlucho, o original, está isolado e tomando sol através da fresta possível na aérea de serviço do seu apto pelos 20 únicos minutos em que ele, o sol, faz charme.
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