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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Arteiros/Artistas

'Passei alguns anos tentando pintar como Rafael, mas a vida toda tentando pintar como uma criança'. ( Pablo Picasso)
Influenciado pelo pós-impressionista, Cézanne; pela obra do grande amigo, Braque; pelo infantilismo de um então pintor desconhecido, Henry Rousseau; e finalmente pela rivalidade profícua que alimentava com Matisse, surgiu Picasso e suas mil e uma possibilidades. Através do amódio por Matisse, ele inicia sua trajetória em direção ao cubismo.
Matisse lhe escondia o que fazia. Numa tarde parisiense - terra escolhida pelo espanhol furioso- na casa da amiga de ambos, Gertrude Stein, o francês lhe esconde por entre suas próprias mãos, a pequena escultura de um busto que retratava as feições de um homem africano. Picasso quase que lhe arranca das mãos a pequena peça, pois Matisse se recusava a lhe mostrar, e começa a contemplá-la. Epifania? Essa peça lhe muda o rumo. De uma quase certeza, inerte segundo ele, passa a se guiar por sensações, descobertas, incertezas e inconformismos.
Inconformado com as formas tão previsíveis, simétricas,  passa a decompô-las, fragmentá-las. Ao invés do bidimensional tão reconfortante, inclui diversas outras formas, infinitas possibilidades, mais dimensões. Atravessou praticamente todos os períodos da chamada artes plásticas. Não foi à toa que cutucou o brio de colegas como Modigliani, o próprio Matisse, e um Marcel Duchamp que lhe botou na frente e por trás um penico. As articulações que daquele penico emergissem - nossas considerações, certos olhares- comprovariam que era de obra de arte se tratava. Essa conversa vai longe...Há mais ou menos 5 anos, escapando da festa pagã movida por bebuns e colombinas e seus grossos gogós, estivemos em São Paulo para uma suposta exposição num novo centro cultural, antiga sede do Detran da capital do estado. Saíram os automóveis e suas multas e entraram pinturas e esculturas. Infelizmente, não avisaram aos mantenedores e patrocinadores do local que as obras expostas eram bem mais importantes do que uma presença opressiva de uma centena de seguranças para quase nenhuma testemunha. Muitas obras não estavam disponíveis para serem vistas pelo público. Uma produção burocrática confundiu as cores, texturas. Mas havia ao menos uma que se destacava: uma escultura enorme, toda de bronze, enorme, e que repousava na entrada prinicipal. Marília Martins se fazia presente. Sempre mandou às favas qualquer tentativa de institucionalizar qualquer protocolo que não combinasse com tal ato opressivo. Logo, ela, Marília. Embaixatriz brasileira e também ex- amante de Marcel Duchamp.
Quando se está numa exposição é preciso que se tenha alguma informação mínima sobre a trajetória daquele ou daquela artista. Caso contrário, simplesmente, não se conseguirá entender nada e algo como ' eu faria melhor' ou 'esse fulano é muito doido' continuarão a ressoar nas exibições mundo afora. 
Um Eduardo Sued, nosso conterrâneo e que entra para o time dos nonagenários, por exemplo, tem um processo de abstração figurativa, geométrica, e minimalismos na sua obra e que são de uma sofisticação impressionantes. Numa das últimas mostras suas, no CCBB-Rio, todas aquelas telas enormes, vermelhas e retangulares em sua maioria, eram únicas e traziam um vermelho de cada. Para quem pode ver melhor, existiam outras cores presentes. Talvez várias delas.
Cézanne ou seu conterrâneo, René Magritte, são exemplos de pinturas que -segundo seus estudiosos- você só poderá contemplá-los com um olhar atravessado, melhor dizendo; aquele olhar que atravesse o quadro. Mesmo as inúmeras telas que o mestre de Aix-en-Provence fez de uma mesma série de montanhas e planícies da sua terra provençal possuem singularidades. Não se trata- equívoco tão comum- de perfeccionismo, e sim, que eles descobrem mais e mais formações a cada nova perspectiva. A cada nova pincelada.
Toda neura começa na infância. Isso é mais do que sabido. Porém, parece possível mesclar todas as cores em suas diferentes gerações. Deslocar, portanto, sintomas que borram nossa arte. Seria também isso poder, finalmente, pintar feito criança?

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