Mãe Valéria é o nome dado a uma suposta senhora que adivinha , prevê fatos futuros. Mãe Valéria não sabe que o futuro é uma espécie de presente postergado. Aliás, viu-se o rosto de Mãe Valéria, uma entidade que pode ser nome artístico para crenças e seus orixás , e ele era belo. O fato é que Mãe Valéria há e por muitas esquinas do Rio de Janeiro seus acólitos se encarregam da distribuição de farto material século XX -aqueles papeizinhos meio sujos, desbotados, cor de nada- para todos os transeuntes existentes e necessitados de algum préstimo, normalmente algum milagre de cepa amorosa. Pois um ponto forte da magia valeriana é trazer de volta o amor perdido em poucos dias, uma semana no máximo. Apesar do material propagandístico ser de quinta categoria, Valéria, A Mãe, tem a pressa das conexões cibernéticas. Seus discípulos mais otimistas ou adeptos radicais de um certo ufanismo, cercado de mistérios, tratam-na como um ser ultra pragmático.
Essas criaturas devotas passam horas a fio debaixo de trovoadas, picaretagens ou calor de estufa, a servir e serem servidos pelos poderes paranormais da senhora ( que também pode ser senhor. Dependendo da crença) . Eles acreditam, eles se alienam intensamente. Costumam se apelidar de fanáticos. E esse fanatismo pode não ser específico das adivinhações de fundo amoroso-odioso no sentido dos romances que envolvem casais independente do sexo próprio. Ele se junta a qualquer outro conteúdo, qualquer outra formação. Pode ser encontrado na política, nas religiões, nas instituições psicanalíticas, nos grupos musicais, teatrais ( sobretudo no teatro burguês e seus reis), nos embates esportivos, na famigerada família...E por aí nos perdemos.
O mais interessante é que os fanáticos creem que as Mães Valérias têm o poder. Na verdade, somente elas o possuem. Eles que ali apostaram suas fichas, suas crenças, suas expectativas, seus corpos à chuva e ao sol e ao ridículo, mas ainda à sua alienação paralisante, nada tem a ver com o jogo. Seus poderes não contam. Pior: pensam que não existem. Uma alienação mais confortável.
Desde o início que para nós, crianças humanas, repleta de limitações e impotências, as divindades com suas magias e farsas ( posteriormente denominadas de ciências e suas penicilinas tão boas ou a suas lobotomias más) instalam-se feito hardware no cérebro dos pequenos. O duplo salvação/salvador constitui uma das mais duras, até porque alucinada, e maléficas formações que invadem a mente infantil via cultura psicotizante. A brincadeira de fazer de conta- em não se esquecer que a vida não transcende a ela mesma- torna-se fato bruto feito pedra dura que não se comporta. No máximo, um furo feito por água que não descansa. Logo, as pedras e as águas também têm os seus poderes.
A alienação infantil é trajetória necessária, indelével. Elas não possuem outra chance de saída. Está inscrito no seu etograma. Portanto, nascemos escravos. Millôr Fernandes já dizia que o tal homem nascia original e morria um plágio. O que muitas vezes parece rebeldia - e a sociedade nos mostra nesses tempos de caminhadas que pode ser até possível - desloca-se tão somente para uma outra forma de servidão. Uma outra alienação. Daí que o macaco original pode ser mais ....original. Millorianamente falando.
E quem disse isso foi Millôr. Foi um alguém que produziu de verdade.Isolou-se e estava sempre por perto a dez mil anos pra frente. Não era nenhum anacoreta ou anti-social , e sim alguém que sacou que isso aqui é só isso aqui e é melhor a gente se apressar pois pode não haver mais tempo. Duro, não? Duríssimo e levíssimo. Millôr foi também um dos melhores cômicos que já houve por esses nossos cantos.Por isso também os poderes que serão apossados ou não para não se fingir que a base, o chão, desse lado deveras inadimplente nada tem a ver com o palácio e suas torres magnânimas que nos apedrejaram de volta há pouco. Aliás, qual foi o palácio que não apedreja e acaricia de volta? Molière, trezentos e trinta anos de sua morte agora, frequentou diversos. E como produziu....E tinha humor à vera. Quase à guilhotina. Caso contrário, como suportar a sua hipocondria? E aqueles reis meio fedidos, sujos feito o papelzinho da bruxa contemporânea? Cada alguém tem a bruxinha que merece. Contemplemos aquela lambisgoia de passarela meio sem bunda ( seria um sobrenome de família?) a desfilar?! E ela festeja trinta e três e não trezentos e trinta!! Molière está mais jovial.
Teria sido jogada de volta aquela pedra furada pelo pingo de água - que já afogara um poeta- feito objeto amoroso que a vidente para sonâmbulos promete também devolver, em uma semana? Trezentos e trinta anos é tempo demasiado até mesmo para as pedras. Há de se dar razão - e quem não a tem- aos alienados fanáticos que a adjetivaram de pragmática. John Dewey, aquele estadunidense tão genialmente pragmático, William James, um dos precursores da Psicologia, poderão até perdoar. Quem jamais não apelou para "bruxices" e outras crendices na vã tentativa (pragmaticamente?) de gozar definitivamente com o duplo salvador/salvação?
Naquele palácio apedrejado/apedrejador sobrou o espelho - ainda que côncavo/convexo- a refletir a turba nossa de cada dia. É que disseram certa vez a um rei, enamorado que estava de uma Mãe Valéria daquelas bandas mais orientais, que o espelho que retratava a corte em êxtase, visto que o pintor cansara das tantas pinceladas, refletia uma arte definitivamente ocidental. O pintor limitou-se a descerrar o pano que encobria o imenso espelho e a turba, fingindo-se aristocrática, espelhava de euforia .
Dizem até que não houve quem se recusasse ( podem até ser os ufanistas meio juvenis de várias idades, aqueles do início, sabe-se lá?), a proclamar otimismos naquele palácio. Palácio esse mais oriental ou até mesmo de um planalto central? Ou ainda, o palácio de um Tiradentes inconfidente? O fato é que não houve quem não deixasse de reconhecer no sorriso desbotado, mesmo que aristocraticamente extasiado, um ninguém no meio da multidão. E como fazia barulho!! Apesar do silêncio.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
quarta-feira, 3 de julho de 2013
A moça-velha.
Residia numa cidade do interior do Estado de São Paulo, fazia muito tempo. Mudara-se para lá na vã tentativa de se encontrar com Deus. Botara na cabeça oca que seria freira, não tanto por convicção religiosa, mas para disfarçar a humilhação de ter sido abandonada pelo noivo bem mais velho que ela. Naquele outro mundo, anos 40/50 do século passado, era comum nas famílias burguesas brasileiras que, com toda sintomática patrimonialista, mazombista, religiosa reinantes, os pais dirigissem os vínculos afetivos dos filhotes, sobretudo das filhas. Eles, os senhorios caras de pau, poderiam ter as suas amantes, frequentar os seus bataclãs, exercer seu machismo, despotismo, sem problemas e com bastante arrogância. Podiam arrogar-se até porque contavam com o apoio de boa parte das....mulheres. Afinal, eram tratadas - e algumas se consideram até hoje- como seres inferiores aos destemidos e estúpidos machos.
Portanto, era hábito arrumar marido, o chamado bom partido ( resta saber para quem?) , para filhas meio desesperadas e sem projetos outros. Sem projeto a libido fica doidinha. Aquilo força para lá, para cá, vai para frente, regride, estaciona, mas não cessa. Não deixa de aporrinhar. Meninas casadoiras. Muito arriscado esse ofício. Até hojendía.
A velha- moça que se mudara de mala sem cuia para uma cidade desconhecida - curioso é que ficou até o fim com sotaque de caipira- fracassou no seu encontro marcado com Deus. Mesmo agora, depois de morta, não mandou recado ou apareceu 'in loco' para contar sobre esse goooooooooozo divino!
Criou tantos problemas no convento, para onde se mudara decidida a se vingar do ex- noivo fujão, que foi expulsa. Existem muitas versões sobre o que se passou. Nenhuma é digna de se crer, pois só havia uma testemunha: a velha-moça tomada de ressentimentos. E alguém movido só por ressentimentos não se faz confiável. Feito a que tem a língua solta ou o seu oposto a língua presa.
A vingança teria sido a transa divina se possível houvesse. E amaldiçoaria por tabela o senhor que escapara a tempo. Palavra de algumas testemunhas familiares. 'Muy amigas'? 'Por supuesto que sí'!
Por essa e por muitas outras - mesmo que a maior parte delas jamais foi compreendida racionalmente pela própria- tentara voltar à casa dos pais. Foi recusada. Dizem que é porque o pai, religioso da boca para fora, não aceitara a decisão da filha - a sexta criança de um primeiro casamento que terminou com a morte da esposa, mãe das seis filhas, no parto dessa última pretensa freira- de se tornar, segundo ele, uma beata. É curioso que certos frequentadores de templos religiosos o façam sem muita fé. Regozijam-se ao afirmar que são católicos ou crentes, porém, não praticantes. O que seria uma fé praticante?
O destino em dado momento não poderia ter sido outro, pois pode-se imaginar o peso para uma criança, diante das cinco irmãs mais velhas e de um pai pouco democrático, pelo fato do seu nascimento ter causado a morte da própria mãe de todas. Barra pesadíssima! Jamais superou isso. Há outras tantas testemunhas.
Corajosamente, teve que se virar. Tornou-se uma professora primária. Um dos ofícios mais nobres que existem. Era também adepta dos esportes futebolísticos e torcia para um clube- dos mais antigos do Brasil- e que tem como mascote uma macaca. Frequentava estádios e palanques ( tradição familiar). Sindicalizada, perambulou por alguns partidos políticos e protagonizou episódios polêmicos e arriscados. Num deles, ofendeu o candidato à prefeitura da cidade. Noutro, atirou uma bandeira do partido que apoiava na direção do candidato adversário. Gritou palavras de ordens, leia-se, palavrões. E odiava um certo político barbado. Sindicalizado feito ela. Era uma incoerência de gestos, falas, discursos, opiniões. Aliás, língua solta, opinava sobre tudo. Nada mais brasileiro. O problema é que se recusava em não aprender a escutar. Daí a língua solta.
Rompeu com a política, afinal, ninguém lhe ofereceu emprego melhor. Nada mais brasileiro também.
Suas transas pessoais se esgotavam então. Aposentadoria, os estádios e palanques, perdas familiares, fofocas a menos. Mediando tudo através da televisão ( o que pode ser uma péssima aposentadoria) , indignava-se, incomodava-se ao ver o casal bonito, jovial, aquele garotão com aquela garotona ( duas garotonas ou dois garotões então, levariam-na ao pronto socorro!), beijando-se, beijo apaixonado, línguas soltas pela sensualidade, no faz de conta da teledramaturgia. " São umas putas essas atrizes'!- exaltava-se. Teria se permitido finalmente um orgasmo ? Quase diviiiiiiiiiiiiiiino?! Parece que não. Nem ao menos na realidade das virtualidades.
Morreu só. Até aí feito todos. Inclusive brasileiras, brasileiros. Imagina-se que no seu enterro compareceram políticos ofendidos, colegas professores, ex-craques de futebol, a macaca mascote, as testemunhas parentes, o fantasma de um pai. Quase um Deus.
Talvez uma única rosa sobre o túmulo- comprado e pago em prestações custosas- e um dizer, seu epitáfio: " Aqui tenta descansar aquela velha-moça que viveu oitenta e tantos anos sem jamais namorar, jamais beijar".
Portanto, era hábito arrumar marido, o chamado bom partido ( resta saber para quem?) , para filhas meio desesperadas e sem projetos outros. Sem projeto a libido fica doidinha. Aquilo força para lá, para cá, vai para frente, regride, estaciona, mas não cessa. Não deixa de aporrinhar. Meninas casadoiras. Muito arriscado esse ofício. Até hojendía.
A velha- moça que se mudara de mala sem cuia para uma cidade desconhecida - curioso é que ficou até o fim com sotaque de caipira- fracassou no seu encontro marcado com Deus. Mesmo agora, depois de morta, não mandou recado ou apareceu 'in loco' para contar sobre esse goooooooooozo divino!
Criou tantos problemas no convento, para onde se mudara decidida a se vingar do ex- noivo fujão, que foi expulsa. Existem muitas versões sobre o que se passou. Nenhuma é digna de se crer, pois só havia uma testemunha: a velha-moça tomada de ressentimentos. E alguém movido só por ressentimentos não se faz confiável. Feito a que tem a língua solta ou o seu oposto a língua presa.
A vingança teria sido a transa divina se possível houvesse. E amaldiçoaria por tabela o senhor que escapara a tempo. Palavra de algumas testemunhas familiares. 'Muy amigas'? 'Por supuesto que sí'!
Por essa e por muitas outras - mesmo que a maior parte delas jamais foi compreendida racionalmente pela própria- tentara voltar à casa dos pais. Foi recusada. Dizem que é porque o pai, religioso da boca para fora, não aceitara a decisão da filha - a sexta criança de um primeiro casamento que terminou com a morte da esposa, mãe das seis filhas, no parto dessa última pretensa freira- de se tornar, segundo ele, uma beata. É curioso que certos frequentadores de templos religiosos o façam sem muita fé. Regozijam-se ao afirmar que são católicos ou crentes, porém, não praticantes. O que seria uma fé praticante?
O destino em dado momento não poderia ter sido outro, pois pode-se imaginar o peso para uma criança, diante das cinco irmãs mais velhas e de um pai pouco democrático, pelo fato do seu nascimento ter causado a morte da própria mãe de todas. Barra pesadíssima! Jamais superou isso. Há outras tantas testemunhas.
Corajosamente, teve que se virar. Tornou-se uma professora primária. Um dos ofícios mais nobres que existem. Era também adepta dos esportes futebolísticos e torcia para um clube- dos mais antigos do Brasil- e que tem como mascote uma macaca. Frequentava estádios e palanques ( tradição familiar). Sindicalizada, perambulou por alguns partidos políticos e protagonizou episódios polêmicos e arriscados. Num deles, ofendeu o candidato à prefeitura da cidade. Noutro, atirou uma bandeira do partido que apoiava na direção do candidato adversário. Gritou palavras de ordens, leia-se, palavrões. E odiava um certo político barbado. Sindicalizado feito ela. Era uma incoerência de gestos, falas, discursos, opiniões. Aliás, língua solta, opinava sobre tudo. Nada mais brasileiro. O problema é que se recusava em não aprender a escutar. Daí a língua solta.
Rompeu com a política, afinal, ninguém lhe ofereceu emprego melhor. Nada mais brasileiro também.
Suas transas pessoais se esgotavam então. Aposentadoria, os estádios e palanques, perdas familiares, fofocas a menos. Mediando tudo através da televisão ( o que pode ser uma péssima aposentadoria) , indignava-se, incomodava-se ao ver o casal bonito, jovial, aquele garotão com aquela garotona ( duas garotonas ou dois garotões então, levariam-na ao pronto socorro!), beijando-se, beijo apaixonado, línguas soltas pela sensualidade, no faz de conta da teledramaturgia. " São umas putas essas atrizes'!- exaltava-se. Teria se permitido finalmente um orgasmo ? Quase diviiiiiiiiiiiiiiino?! Parece que não. Nem ao menos na realidade das virtualidades.
Morreu só. Até aí feito todos. Inclusive brasileiras, brasileiros. Imagina-se que no seu enterro compareceram políticos ofendidos, colegas professores, ex-craques de futebol, a macaca mascote, as testemunhas parentes, o fantasma de um pai. Quase um Deus.
Talvez uma única rosa sobre o túmulo- comprado e pago em prestações custosas- e um dizer, seu epitáfio: " Aqui tenta descansar aquela velha-moça que viveu oitenta e tantos anos sem jamais namorar, jamais beijar".
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Roniquito manifesta-se.
Boa noite. Meu nome é Ronald de Chevalier. Daqui a pouco, Roniquito.
Era dessa forma que um dos economistas e boêmios mais brilhantes, ruidosos e temidos da Zona Sul carioca, anos 60/70, apresentava-se.
Ronald era um economista com muitas erudições.Conhecia muito bem a obra de Shakespeare, diversas óperas, brasileiros ilustres - tão importantes quanto o escritor e mentor de Hamlet- , e gostava muito das mulheres. Homem, portanto, de muitas virtudes. Todos nós - exceto os misóginos invejosos- gostamos muito das mulheres. Independente do que se queira fazer juntinho ou não.
A mudança do personagem - Ronald para Roniquito- deve-se ao efeito etílico e suas doses gloriosas - e nem eram tantas assim segundo testemunhas menos enebriadas- daquele whisky parceiro e depois cruel. Ronald então tornar-se-ia Roniquito em pouco tempo. Uma mistura explosiva, uma metamorfose pós bebedeira de Ronald 'plus' faniquito.
Faniquito por sua vez era uma expressão muito usada naqueles tempos de Píer Posto Nove - aquela faixa de areia de Ipanema - e que há muito tempo já ganhara sinônimos mais cultuados tais como chilique, piti, ataque histérico, etc. Já a expressão, mais até que uma referência geográfica, Pier Posto Nove ( aquela turma), era um deboche que Luis Sérgio Person, cineasta, roteirista, ator e gozador dos mais sérios, fazia com a turma do Pasquim ( Revista produzida por importantes intelectuais e que foi uma marca da resistência à ditadura). Millôr Fernandes, o mais novo proprietário vitalício de um nobre trecho entre pedras e o oceano do Arpoador carioca, adorava essa sacanagem vinda de Sampa , através de Person. Achava-o brilhante sem perder o charme. Porque existem aqueles que são brilhantes, mas acham-se ainda mais brilhantes do que eles mesmos. Tudo bem que essa postura até evidencia as nossas múltiplas personalidades. porém há de se ter cuidados pessoais. Uma questão séria e talvez resultante dessa multiplicidade pessoal toda é saber quem vai fazer a prova, defender a tese, assinar a lista de presença, comparecer à festa ou às manifestações. E com que roupa se vai? A corte, seja a do Planalto Central quanto outras tantas espalhadas pelo país, está bem peladinha. Apesar das pelancas.
Ironias e seriedade à parte, Ronald Roniquito era tudo isso: Person, Millôr, Glauber, Jaguar..Esse último declara que caberia aos psicanalistas desvendarem esse singular mistério que é o fato de todos eles, exceto Person, Millôr, Glauber, nessa lista nobre e saudosa, ainda sentirem muita falta de quem os esculhambava com frequência. Roniquito tinha isso de ruim e bom: era deveras etilicamente sincero e ao mesmo tempo mal educado. Esculhambava na frente do cliente. Era o mais inconveniente dos inconvenientes de ocasião. O que o salvava era a inteligência, a erudição, a generosidade - quando estava menos tocado pelo fogo- enfim, argumentos de autoridade. Certa vez, dentre as inúmeras performances, avistou e auscultou Paulo Francis com seu estetoscópio único, metamorfoseado de vodka , declarar admiração profunda por Pasolini e o seu Teorema. O já festejado jornalista/escritor acabara de assistir ao filme do cineasta e gênio italiano ( cuja morte brutal nos anos 70 sempre foi um mistério), e num dos bares visitados por aquela turma toda debulhava-se em elogios. Ao passar rumo ao banheiro do bar pé sujo carioca, ou seja, um local feio, apertado, sujo, mas acolhedor nos seus mistérios de banheiro boteco Rio de Janeiro, não escapou da provocação ferina de Roniquito que se encontrava na mesa em frente da derradeira porta, anti-sala do fedor: " Quer dizer que finalmente, Paulo Francis, o senhor nos confessa o seu homossexualismo!" Não se sabe se Francis e o seu corpanzil lhe reponderam com uma bofetada - o que muitas vezes se passara na vida de Ronald/Roniquito- mas o estrago já estava feito.
E eis que esse personagem fantástico,Roniquito, retorna mediante o recém falecimento de sua irmã, não menos notável, Scarlet Moon de Chevalier. E nesses momentos onde bússolas bêbadas insistem na direção errada, ele pode ser uma companhia bastante pertinente. Gás lacrimogêneo na veia ou como afirma baiano célebre aquele 'spray' de pimenta. Tempero local, na boa terra.
Sentaram-se pois Roniquito e outros tantos nesse mesmo outro bar, no centro da cidade, ex-maravilha. A mesa oferece lugares a mais, entretanto, o ainda Ronald não quer mais ninguém. E já tinham tantos presentes! Todos eram testemunhas cautelosas diante da previsível transformação por vir. Porém, ele também está cansado, de saco cheio, feito o barulho que vem de fora. Ensurdecem bombas, gritos, hinos, faniquitos sob forma de homenagem, uns passos, muitos passos. São milhares de passos! Aonde vão? Seria em qualquer lugar? Um lugar bom, quem sabe? A vodka já marcava presença, a fala mistura russo com brasileiro, alguns quitutes bem gordurosos adentravam o ambiente sem a menor cerimônia e o comício tomava rumo incerto. Tudo será permitido exceto o politicamente correto. Até porque não se sabe o que é ou será (seria?) correto? Nunca se saberá por certo. A não ser em cada mesa, com a sua guloseima adorada, com a sua bebida parceira, naquele momento único de incorretos.Graças a Deus! E mesmo assim há de se ter suspeita. "Tem gente na parada, porra! Vamos acordar de fato, sonâmbulos!
Roniquito vai despertando de um sono profundo. Aos poucos.
- Morri faz tempo e as coisas não mudam. Quero dizer, os nossos fetiches sado-masoquistas com fisionomia religiosa de saída e chegada. Sabe quem vai resolver essa crise, esse faniquito, para os mandatários elitistas ( nossos vizinhos ou sócios)? O bicho papão Argentino! Chegará todo paramentado com a sua guarda pretoriana e alguns dos soldados em lua de mel. Colocarão música sacra, provavelmente Haendel, ou se melhor gosto tiverem, Bach, O Sebastião abençoado. Subirão aos céus e eu lhes mostrarei, mesmo marginalizado por eu mesmo, um não-caminho. É profecia minha. De lá para cá. O que já é novidade! Ao menos uma canção diferente.
Imaginem que a soberania parece ter desaparecido no mundinho dos terráqueos. Naquele tempo, em que vivi, ainda havia uma ou outra dando sopa. Na porrada, bem verdade, pois os milicos não eram fáceis. São treinados para matar e possuem aquela hierarquia curiosa de um ficar sacaneando o outro desde lá de cima. Deve ser do céu que o mais graduado expele para baixo. E o que está mais embaixo não pode jogar para cima de ninguém. Mas funciona de algum modo. No nosso caso específico, uma situação grave de exceção, de governança, ou a moça- ex-guerrilha- toma decisões mais pontuais ou a casa pode cair. E pode cair sim. Quem garante que sim ou não? Só pelo fato do meu querer - e o meu querer de última extração não consegue nem atingir o seu alvo, e não conseguiu, mesmo e apesar, sobretudo, depois de morto- não querer por não querer? Ficou confuso? Pergunte às crianças que sempre querem ganhar todos os jogos, todas as vantagens. E não estão erradas ou certas. É assim que a máquina humana funciona, engrena. É capital, voraz. O negócio, as mediações, ou seja, fazer política, devem ser balanceadas, mapeadas, discutidas à exaustão. Para dar início a um longo papo entre sociedade e instituições.
De última extração? Que tal tratarmos cada linha que se escreve, cada caminhada, como se fosse a derradeira? Já imaginastes o Marcel Proust ( aquele gênio francês) dando voltas nos rascunhos de sua Procura? Uma boa tradução brasileira para sua obra, em 7 volumes? Escreveria pelos lençóis adentro. Travesseiros rabiscados e que valeriam uma fortuna hoje! A Celeste, sua cúmplice-governanta, teria tido muito mais trabalho. Mas o faria com prazer! Escreveu de certo modo, juntinho, aquela maravilhosa chatice. Lá do inferno- pois o céu é um saco de melancolias e lamentações- ainda não os vi. Tem que se fazer teste rigoroso para uma ascese desse nível. Não recebem qualquer um. Feito governador por esses lados. E nós, babacas outros, acreditando em representação. Para quem? Como? Imagine se alguém iria se indispor a me representar? Com que roupa? Essa mania em supor que pode haver no haver correspondência biunívoca, isto é, ponto a ponto, uma simetria absoluta entre a gente ( Há gente?), atrapalha muito. Aquela coisa que poderia nos completar: aquele menino, aquela moça, aquele cachorro quente......Um belo teatro isso sim. Aí pode-se conversar melhor. Contar uma história....
Então nos faz supor que o saco cheio a 20 centavos era muito arriscado. E os arrogantes - e pelo que se tem visto não podiam se arrogar tanto já que engoliram tanta mosca, abusaram-, a crer na representação, no ponto a ponto, no Papai Noel...Esse já vi.!Muda de nível toda hora. É de uma infidelidade partidária e no matrimônio assustadoras! Cara de pau, ô canalha! Ilude tanto crianças quanto assombrações. No Natal de Hum mil novecentos e noventa e nove fui punido severamente pois lhe chutei o saco vermelho. E ele, que me deixou sequelas equivocantes , reagiu e soltou a mão. Tomei uma porrada do Papai Noel!!! Constrangedor, no mínimo. ' Mas, muito bem feito'!- gritara uma beata com as mãos cheias de dízimos sacralizados.Olhava-me com tamanho ódio que quase me apaixonei. Ela tinha as suas razões.
E quem não as tem , não é mesmo? Estamos tão orientados, pelo que vejo na continuação de certos modos de vida, de pensar, que nos perdemos todo dia. E eu que sempre fui - com o reforço pela ponta direita, que ainda havia no futebol, do álcool-, tresloucado, mas não burro, permiti a invasão de um aparente nonsense , como se fosse possível não haver sentido; uma desrazão lúcida.
Façamos então um plebiscito para decidir democraticamente o que é ter razão, o que é verdade, certo ou errado Ou seja: uma suposta maioria e os seus votos válidos contra uma verdadeira maioria e seus votos de oposição, votos em branco, anulados ou não presentes. A tal da abstenção. E isso num pleito que é obrigatório e aplica sanções para quem não justificar o saco cheio, ou melhor , a ausência. Faz sentido os 20 centavos? Fará sentido mais um fracasso? Esse teatro burguês está enganando muita gente. Olha mais uma bomba de efeito boçal sendo atirada em qualquer coisa! Bum! Bum! Estupidez bélica.
Plebiscitos custam caro e o tempo pode não ser suficiente. Lembram do velho Ulisses Guimarães? Não o conheci por essas bandas e parece que o cadáver jamais apareceu. Será que é por isso que não o vemos vagando, flutuando? Seu túmulo foi um oceano inteiro. Seu crime foi a precipitação. Uma outra forma de arrogância. Além do que, esquecera que o Brasil é Brasil. Antecipou o plebiscito sobre forma e sistema de governo pois tinha, desde o tempo de MDB, fetiche em se tornar primeiro-ministro. Troço mais sem graça. Por que não uma sodomia científica feito Pasolini, feito o Marquês De Sade? Na região da Provence, França, o aristocrata francês e seus castelos assombram crianças e outros fantasmas até hoje. Ele nunca escondeu. Mais descente que o Noel. Bum! Bum! Pacíficos se organizam diante das tropas inibidas, envergonhadas. E isso é um perigo! Tropas também são treinadas para ferir, matar.Qual será a artificialização adequada para os rapazes belicosos descarregarem sua guerra interna e constante? Feito a de todo mundo.
Uma televisão acaba de mostrar fatos que não constituem novela patética. Saiu do ar. Por quê? Muitos falam mal , mas não trocam de sinal. Vejam! A moça está nua! O rapaz também! Agora são muitos! Seria um estupro? Pasolini liga e desliga a câmera. Posso vê-lo com clareza! Minha visão periférica contempla gritos novos: terceira, quarta, ndimensões, 'games' interativos, paridades entre parentes de fato, vínculos afetivos dissolvidos pelo simples querer e excesso no saco ( Até do Noel!). Cada um na sua. O mito do egoísta não é mau sinal. O problema é quando seu sintoma se fundamenta enquanto olhar e ação para o mundo. Cegueira, perversidade....Algumas das vicissitudes dessa postura velha. Fala-se então de egocentrismo. E aí não haverá parceria, associação.
A emissora oficial também liga e desliga seus interesses. Sempre foram palacianos! Independente se quem está com o diário oficial no colo está na extrema esquerda ou na extrema direita. Mao Tsé -Tung ou Ronald Reagan? O que importa é SOMENTE o nosso lucro. O Estado a nosso serviço. A sociedade civil - e sem ela não há possibilidade de conversa, existência de nação, estado de direito- a serviço do bem estar do Estado a nosso favor. Tudo invertido! E quando a sociedade se rebela - e ainda bem senão SOMENTE daremos bom dia para o professor doutor Sr. cachorro- essa minoria, muito competente em antecipar algumas vontades e chiliques da massa, entra em pânico. Feito a tropa inibida, acanhada. Imaginem que os cães da Polícia usam fraldas nesse momento. A cavalaria pretende indiferenciar o gás lacrimogêneo. O garboso garanhão usa colírio especial. Seu hormônio passa no teste enquanto antidepressivo. E dizem que é ótimo! Olha o cavalinho todo animado! Quatro patinhas que ressoam somente três. Seu trote exuberante.
De repente, o silêncio. O ambiente boteco fica sob suspeita. Reacionários com a cara coberta - mostre a sua careta ainda que feia- surgem sem humor. Não conseguem rir das mesmas piadas. São da turma da parana também. Enxergam conspiração em tudo. Papo de vitimizado. E diante disso permaneço paralisado. Somos tão maravilhosos que o mundo não nos entendeu. Pra que mudar hábitos tão seculares? Ainda que fósseis. A luz piscou e voltou. Não era Paolo. Seria iluminação de Rousseffs? A Presidência da República no Brasil detém muitos poderes. Efeito de um federalismo de mentirinha. Desde a Independência. Farroupilhas, Balaiadas, Cabanagem, Conselheiro, o Antônio.....
O copo, estetoscópio mimético de Roniquito, que carrega uma cervejinha ao invés de vodka ( tempos de nacionalismo) mexe-se. Sozinho, faz aquele som que parece do além. -" E aí moço? Já fechamos. A coisa ficou feia , mas agora está uma beleza. Olha só aquelas mulheres ali fora. Loiras, morenas, negras, gordas
, magrelas, sem partido'.- diz o garçom que botava mesa sobre mesa. Sem partido?- Indaguei. Então estão disponíveis?- insisti. O garçom sorriu riso largo, bonito, poucos dentes. Perguntei-lhe em perplexidade:
-Mas e os amigos de Roniquito, ilustríssimo?-prossegui.
-Amigos e Roniquito? Por aqui, pelo pouco que sei, por tudo que vi, SOMENTE o Sr. e o seu sonho profundo.
Era dessa forma que um dos economistas e boêmios mais brilhantes, ruidosos e temidos da Zona Sul carioca, anos 60/70, apresentava-se.
Ronald era um economista com muitas erudições.Conhecia muito bem a obra de Shakespeare, diversas óperas, brasileiros ilustres - tão importantes quanto o escritor e mentor de Hamlet- , e gostava muito das mulheres. Homem, portanto, de muitas virtudes. Todos nós - exceto os misóginos invejosos- gostamos muito das mulheres. Independente do que se queira fazer juntinho ou não.
A mudança do personagem - Ronald para Roniquito- deve-se ao efeito etílico e suas doses gloriosas - e nem eram tantas assim segundo testemunhas menos enebriadas- daquele whisky parceiro e depois cruel. Ronald então tornar-se-ia Roniquito em pouco tempo. Uma mistura explosiva, uma metamorfose pós bebedeira de Ronald 'plus' faniquito.
Faniquito por sua vez era uma expressão muito usada naqueles tempos de Píer Posto Nove - aquela faixa de areia de Ipanema - e que há muito tempo já ganhara sinônimos mais cultuados tais como chilique, piti, ataque histérico, etc. Já a expressão, mais até que uma referência geográfica, Pier Posto Nove ( aquela turma), era um deboche que Luis Sérgio Person, cineasta, roteirista, ator e gozador dos mais sérios, fazia com a turma do Pasquim ( Revista produzida por importantes intelectuais e que foi uma marca da resistência à ditadura). Millôr Fernandes, o mais novo proprietário vitalício de um nobre trecho entre pedras e o oceano do Arpoador carioca, adorava essa sacanagem vinda de Sampa , através de Person. Achava-o brilhante sem perder o charme. Porque existem aqueles que são brilhantes, mas acham-se ainda mais brilhantes do que eles mesmos. Tudo bem que essa postura até evidencia as nossas múltiplas personalidades. porém há de se ter cuidados pessoais. Uma questão séria e talvez resultante dessa multiplicidade pessoal toda é saber quem vai fazer a prova, defender a tese, assinar a lista de presença, comparecer à festa ou às manifestações. E com que roupa se vai? A corte, seja a do Planalto Central quanto outras tantas espalhadas pelo país, está bem peladinha. Apesar das pelancas.
Ironias e seriedade à parte, Ronald Roniquito era tudo isso: Person, Millôr, Glauber, Jaguar..Esse último declara que caberia aos psicanalistas desvendarem esse singular mistério que é o fato de todos eles, exceto Person, Millôr, Glauber, nessa lista nobre e saudosa, ainda sentirem muita falta de quem os esculhambava com frequência. Roniquito tinha isso de ruim e bom: era deveras etilicamente sincero e ao mesmo tempo mal educado. Esculhambava na frente do cliente. Era o mais inconveniente dos inconvenientes de ocasião. O que o salvava era a inteligência, a erudição, a generosidade - quando estava menos tocado pelo fogo- enfim, argumentos de autoridade. Certa vez, dentre as inúmeras performances, avistou e auscultou Paulo Francis com seu estetoscópio único, metamorfoseado de vodka , declarar admiração profunda por Pasolini e o seu Teorema. O já festejado jornalista/escritor acabara de assistir ao filme do cineasta e gênio italiano ( cuja morte brutal nos anos 70 sempre foi um mistério), e num dos bares visitados por aquela turma toda debulhava-se em elogios. Ao passar rumo ao banheiro do bar pé sujo carioca, ou seja, um local feio, apertado, sujo, mas acolhedor nos seus mistérios de banheiro boteco Rio de Janeiro, não escapou da provocação ferina de Roniquito que se encontrava na mesa em frente da derradeira porta, anti-sala do fedor: " Quer dizer que finalmente, Paulo Francis, o senhor nos confessa o seu homossexualismo!" Não se sabe se Francis e o seu corpanzil lhe reponderam com uma bofetada - o que muitas vezes se passara na vida de Ronald/Roniquito- mas o estrago já estava feito.
E eis que esse personagem fantástico,Roniquito, retorna mediante o recém falecimento de sua irmã, não menos notável, Scarlet Moon de Chevalier. E nesses momentos onde bússolas bêbadas insistem na direção errada, ele pode ser uma companhia bastante pertinente. Gás lacrimogêneo na veia ou como afirma baiano célebre aquele 'spray' de pimenta. Tempero local, na boa terra.
Sentaram-se pois Roniquito e outros tantos nesse mesmo outro bar, no centro da cidade, ex-maravilha. A mesa oferece lugares a mais, entretanto, o ainda Ronald não quer mais ninguém. E já tinham tantos presentes! Todos eram testemunhas cautelosas diante da previsível transformação por vir. Porém, ele também está cansado, de saco cheio, feito o barulho que vem de fora. Ensurdecem bombas, gritos, hinos, faniquitos sob forma de homenagem, uns passos, muitos passos. São milhares de passos! Aonde vão? Seria em qualquer lugar? Um lugar bom, quem sabe? A vodka já marcava presença, a fala mistura russo com brasileiro, alguns quitutes bem gordurosos adentravam o ambiente sem a menor cerimônia e o comício tomava rumo incerto. Tudo será permitido exceto o politicamente correto. Até porque não se sabe o que é ou será (seria?) correto? Nunca se saberá por certo. A não ser em cada mesa, com a sua guloseima adorada, com a sua bebida parceira, naquele momento único de incorretos.Graças a Deus! E mesmo assim há de se ter suspeita. "Tem gente na parada, porra! Vamos acordar de fato, sonâmbulos!
Roniquito vai despertando de um sono profundo. Aos poucos.
- Morri faz tempo e as coisas não mudam. Quero dizer, os nossos fetiches sado-masoquistas com fisionomia religiosa de saída e chegada. Sabe quem vai resolver essa crise, esse faniquito, para os mandatários elitistas ( nossos vizinhos ou sócios)? O bicho papão Argentino! Chegará todo paramentado com a sua guarda pretoriana e alguns dos soldados em lua de mel. Colocarão música sacra, provavelmente Haendel, ou se melhor gosto tiverem, Bach, O Sebastião abençoado. Subirão aos céus e eu lhes mostrarei, mesmo marginalizado por eu mesmo, um não-caminho. É profecia minha. De lá para cá. O que já é novidade! Ao menos uma canção diferente.
Imaginem que a soberania parece ter desaparecido no mundinho dos terráqueos. Naquele tempo, em que vivi, ainda havia uma ou outra dando sopa. Na porrada, bem verdade, pois os milicos não eram fáceis. São treinados para matar e possuem aquela hierarquia curiosa de um ficar sacaneando o outro desde lá de cima. Deve ser do céu que o mais graduado expele para baixo. E o que está mais embaixo não pode jogar para cima de ninguém. Mas funciona de algum modo. No nosso caso específico, uma situação grave de exceção, de governança, ou a moça- ex-guerrilha- toma decisões mais pontuais ou a casa pode cair. E pode cair sim. Quem garante que sim ou não? Só pelo fato do meu querer - e o meu querer de última extração não consegue nem atingir o seu alvo, e não conseguiu, mesmo e apesar, sobretudo, depois de morto- não querer por não querer? Ficou confuso? Pergunte às crianças que sempre querem ganhar todos os jogos, todas as vantagens. E não estão erradas ou certas. É assim que a máquina humana funciona, engrena. É capital, voraz. O negócio, as mediações, ou seja, fazer política, devem ser balanceadas, mapeadas, discutidas à exaustão. Para dar início a um longo papo entre sociedade e instituições.
De última extração? Que tal tratarmos cada linha que se escreve, cada caminhada, como se fosse a derradeira? Já imaginastes o Marcel Proust ( aquele gênio francês) dando voltas nos rascunhos de sua Procura? Uma boa tradução brasileira para sua obra, em 7 volumes? Escreveria pelos lençóis adentro. Travesseiros rabiscados e que valeriam uma fortuna hoje! A Celeste, sua cúmplice-governanta, teria tido muito mais trabalho. Mas o faria com prazer! Escreveu de certo modo, juntinho, aquela maravilhosa chatice. Lá do inferno- pois o céu é um saco de melancolias e lamentações- ainda não os vi. Tem que se fazer teste rigoroso para uma ascese desse nível. Não recebem qualquer um. Feito governador por esses lados. E nós, babacas outros, acreditando em representação. Para quem? Como? Imagine se alguém iria se indispor a me representar? Com que roupa? Essa mania em supor que pode haver no haver correspondência biunívoca, isto é, ponto a ponto, uma simetria absoluta entre a gente ( Há gente?), atrapalha muito. Aquela coisa que poderia nos completar: aquele menino, aquela moça, aquele cachorro quente......Um belo teatro isso sim. Aí pode-se conversar melhor. Contar uma história....
Então nos faz supor que o saco cheio a 20 centavos era muito arriscado. E os arrogantes - e pelo que se tem visto não podiam se arrogar tanto já que engoliram tanta mosca, abusaram-, a crer na representação, no ponto a ponto, no Papai Noel...Esse já vi.!Muda de nível toda hora. É de uma infidelidade partidária e no matrimônio assustadoras! Cara de pau, ô canalha! Ilude tanto crianças quanto assombrações. No Natal de Hum mil novecentos e noventa e nove fui punido severamente pois lhe chutei o saco vermelho. E ele, que me deixou sequelas equivocantes , reagiu e soltou a mão. Tomei uma porrada do Papai Noel!!! Constrangedor, no mínimo. ' Mas, muito bem feito'!- gritara uma beata com as mãos cheias de dízimos sacralizados.Olhava-me com tamanho ódio que quase me apaixonei. Ela tinha as suas razões.
E quem não as tem , não é mesmo? Estamos tão orientados, pelo que vejo na continuação de certos modos de vida, de pensar, que nos perdemos todo dia. E eu que sempre fui - com o reforço pela ponta direita, que ainda havia no futebol, do álcool-, tresloucado, mas não burro, permiti a invasão de um aparente nonsense , como se fosse possível não haver sentido; uma desrazão lúcida.
Façamos então um plebiscito para decidir democraticamente o que é ter razão, o que é verdade, certo ou errado Ou seja: uma suposta maioria e os seus votos válidos contra uma verdadeira maioria e seus votos de oposição, votos em branco, anulados ou não presentes. A tal da abstenção. E isso num pleito que é obrigatório e aplica sanções para quem não justificar o saco cheio, ou melhor , a ausência. Faz sentido os 20 centavos? Fará sentido mais um fracasso? Esse teatro burguês está enganando muita gente. Olha mais uma bomba de efeito boçal sendo atirada em qualquer coisa! Bum! Bum! Estupidez bélica.
Plebiscitos custam caro e o tempo pode não ser suficiente. Lembram do velho Ulisses Guimarães? Não o conheci por essas bandas e parece que o cadáver jamais apareceu. Será que é por isso que não o vemos vagando, flutuando? Seu túmulo foi um oceano inteiro. Seu crime foi a precipitação. Uma outra forma de arrogância. Além do que, esquecera que o Brasil é Brasil. Antecipou o plebiscito sobre forma e sistema de governo pois tinha, desde o tempo de MDB, fetiche em se tornar primeiro-ministro. Troço mais sem graça. Por que não uma sodomia científica feito Pasolini, feito o Marquês De Sade? Na região da Provence, França, o aristocrata francês e seus castelos assombram crianças e outros fantasmas até hoje. Ele nunca escondeu. Mais descente que o Noel. Bum! Bum! Pacíficos se organizam diante das tropas inibidas, envergonhadas. E isso é um perigo! Tropas também são treinadas para ferir, matar.Qual será a artificialização adequada para os rapazes belicosos descarregarem sua guerra interna e constante? Feito a de todo mundo.
Uma televisão acaba de mostrar fatos que não constituem novela patética. Saiu do ar. Por quê? Muitos falam mal , mas não trocam de sinal. Vejam! A moça está nua! O rapaz também! Agora são muitos! Seria um estupro? Pasolini liga e desliga a câmera. Posso vê-lo com clareza! Minha visão periférica contempla gritos novos: terceira, quarta, ndimensões, 'games' interativos, paridades entre parentes de fato, vínculos afetivos dissolvidos pelo simples querer e excesso no saco ( Até do Noel!). Cada um na sua. O mito do egoísta não é mau sinal. O problema é quando seu sintoma se fundamenta enquanto olhar e ação para o mundo. Cegueira, perversidade....Algumas das vicissitudes dessa postura velha. Fala-se então de egocentrismo. E aí não haverá parceria, associação.
A emissora oficial também liga e desliga seus interesses. Sempre foram palacianos! Independente se quem está com o diário oficial no colo está na extrema esquerda ou na extrema direita. Mao Tsé -Tung ou Ronald Reagan? O que importa é SOMENTE o nosso lucro. O Estado a nosso serviço. A sociedade civil - e sem ela não há possibilidade de conversa, existência de nação, estado de direito- a serviço do bem estar do Estado a nosso favor. Tudo invertido! E quando a sociedade se rebela - e ainda bem senão SOMENTE daremos bom dia para o professor doutor Sr. cachorro- essa minoria, muito competente em antecipar algumas vontades e chiliques da massa, entra em pânico. Feito a tropa inibida, acanhada. Imaginem que os cães da Polícia usam fraldas nesse momento. A cavalaria pretende indiferenciar o gás lacrimogêneo. O garboso garanhão usa colírio especial. Seu hormônio passa no teste enquanto antidepressivo. E dizem que é ótimo! Olha o cavalinho todo animado! Quatro patinhas que ressoam somente três. Seu trote exuberante.
De repente, o silêncio. O ambiente boteco fica sob suspeita. Reacionários com a cara coberta - mostre a sua careta ainda que feia- surgem sem humor. Não conseguem rir das mesmas piadas. São da turma da parana também. Enxergam conspiração em tudo. Papo de vitimizado. E diante disso permaneço paralisado. Somos tão maravilhosos que o mundo não nos entendeu. Pra que mudar hábitos tão seculares? Ainda que fósseis. A luz piscou e voltou. Não era Paolo. Seria iluminação de Rousseffs? A Presidência da República no Brasil detém muitos poderes. Efeito de um federalismo de mentirinha. Desde a Independência. Farroupilhas, Balaiadas, Cabanagem, Conselheiro, o Antônio.....
O copo, estetoscópio mimético de Roniquito, que carrega uma cervejinha ao invés de vodka ( tempos de nacionalismo) mexe-se. Sozinho, faz aquele som que parece do além. -" E aí moço? Já fechamos. A coisa ficou feia , mas agora está uma beleza. Olha só aquelas mulheres ali fora. Loiras, morenas, negras, gordas
, magrelas, sem partido'.- diz o garçom que botava mesa sobre mesa. Sem partido?- Indaguei. Então estão disponíveis?- insisti. O garçom sorriu riso largo, bonito, poucos dentes. Perguntei-lhe em perplexidade:
-Mas e os amigos de Roniquito, ilustríssimo?-prossegui.
-Amigos e Roniquito? Por aqui, pelo pouco que sei, por tudo que vi, SOMENTE o Sr. e o seu sonho profundo.
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