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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pianistas do futuro. Onomatopéia contemporânea.

Porque chamar um filme que aborda singularidades da espécie homem de ficção científica? Tudo bem que ficção é praticamente tudo. Ou não seria?
Teríamos realidades mais realistas do que outras? A afirmação de que um fato por ser considerado enquanto produção da ciência ( mas qual?) tem maior importância, maior riqueza nas suas cosntituições do que outro invalida o que não é considerado por essa via? Seríamos adeptos fervorosos do positivismo de Augusto Comte e o 'slogan' de nossa bandeira verde e amarela que estabelece progressos mediante algumas ordenações? Ordenações supostamente cientificizantes?
Ciência para eles carecia de comprovação empírica e o nobre conhecimento- fazer ciência e suas observações decorrentes-  restringe-se  à matemática, à física, à biologia, à química.Virou igreja. Chama-se 'Igreja para humanidade'.
E o que não seria da ordem da ciência, da ordem do conhecimento - tal como indica O pensador e Psicanalista brasileiro MD.Magno- acresentando que o poder que alguns desses saberes, ditos científicos, exercem é da ordem do que chamamos milagre. Por milagre entende-se as possíveis alterações, transformações, em nível biótico, primário, na nossa espécie e até de outras formações do chamado haver, por vias secundárias, simbólicas, artificiosas. Nossa posição de gozo enquanto espécie. Algo que já contraria um ortodoxo positivista ( estaria embalsamado tal criatura?), aquele que crê possuir a opinião certa, correta, visto que essas configurações que denominamos de naturais, não humanas, não se transformam. São imutáveis aos seus olhos. E para as senhoritas, o destino lhes reservaria positivamente uma bela maternagem, um fogão e uma roupinha ordenada para passar. Isso pode parecer uma tolice, mas é importante já que envolve, no que tange as pesquisas e estudos sobre comportamentos e suas vicissitudes, considerações a respeito da saúde mental de alguém, por exemplo.
O cidadão/ã faz as suas considerações a respeito de quase tudo e acha que se faz entender já que alguém lhe responde. Mesmo que a resposta seja silenciosa. Esse fazer entender é porque acredita- e teve toda a formação escolar, familiar, repleta de sujeitos, objetos, cartesianismos, geometria euclidiana, catequeses, linearidades, etc- ,  que ao dizer algo, esse algo não lhe parece  nem um pouco delirante. Já que alguma coisa pelo lado de cá soltou umas frases que para esse emissor possuem algum sentido, alguma lógica. E possui.  Além do mais,  o receptor a recebe- essa frase, esse dito, esse gesto- e fará algo com isso nem ques seja coisa alguma.
Portanto, considerar um delírio só porque aquilo não me faz sentido pode ser grave. Qualquer pensante ou inventor de maluquices ainda não pensadas - os heróis da nossa história, e não confundam isso com adorações positivistas-  sabem disso. Distanciar-se da rotina, dos hábitos cujos sintomas triunfaram, das convenções estipuladas, pode implicar em risco de morte. Morte que não há. Logo, o preço pode ser altíssimo. É só lembrarmos de um Copérnico carbonizado, de um Galileu Galilei silenciado por lei sagrada e fascista ou de um Freud quase deposto para campos de concentração ( se não fosse o prestígio aristocrático de uma  ' Maria' Bonaparte).
Se não houver esse trato para com quem ou o quê se está conversando, considerando, ,ou seja, um analisando, um amigo, a esposa, a famigerada família , a areia da praia, o sol que queima, o Estado  - que nos diz que não podemos não saber sobre as leis que ele exara -, a situação permanecerá na sua precariedade, paralisia ou destruição dos vínculos estabelecidos. E não se vive sem eles! Como viver desvinculado da temperatura ambiente, da gravidade, do cuidado amoroso materno inicial? Felizmente, existe a mente humana ( e apresentada por Magno enquanto análoga ao Haver, à nossa Cosmologia) capaz de avessar nossas estupidezes primárias, bióticas, através do artificialismo dos múltiplos' gadgets'. As leis convencionadas em parlamentos e julgadas, apreciadas, nos tribunais, existem para coisas muito boas e outras tão tenebrosas....Mas necessárias. Uma anarquia é resistência à civilidade.
Estaremos condenados a uma solidão sem pares se isso tudo não for incorporado.  Até porque só  conseguirá mensurar uma pequena parte do que se apresenta. O que estiver em potência, em emergência, só será possível ( se o for) com as máquinas quânticas por vir. Diferente da solidão inarredável por se entender que -em última instância- estamos sós de fato e direito. Desde o início. E essa é feita de silêncio, susto. Nos sintomas humanos constitui a morada da angústia.
Freud, para sua didática, estabelecia uma dupla face desse angústia. Haveria um mecanismo de automatismo, mediante a força pulsional em direção ao muito além do que o desejo deseja,e que não há, e um traço, um sinal composto, formado, por essa formação-sensível que é da ordem de um desamparo absoluto. Ele denominava à sua época de sinal de angústia. No primeiro caso, estamos na possibilidade de escutarmos e considerarmos os dessa espécie semelhante nas suas singularidades, nas suas gramáticas pessoais. Temos companhia possível. No segunda face, e que engendra o automatismo do primeiro mencionado, a companhia já se foi desde sempre, pois nunca houve de fato. Somos pares porque únicos nessa singular viagem até o lugar sem papo possível. Só no retorno, porque não tem outra saída. Essa é a 'saída' de emergência possível. É sempre por dentro. Essa forma de vínculo é o que a Novamente, a Nova Psicanálise, chama de vínculo absoluto. Não há papo ali, mas estamos juntos na solidão.
 Millôr Fernandes, vizinho nobre, aristocrático na vida, declarou entender bem disso, isto é, dessa solidão do tamanho do haver, desde os onze anos de idade. Perdera os pais por essa época. Começou sua guerra pela sobrevivência. E ganhamos todos. Millôr foi um ótimo exemplo de uma posição anti-neurose, pois não fez dessa dor uma arma para se vitimizar. Ele não se perguntou o porquê e tampouco permaneceu tentando responsabilizar o mundo e  outrem pela sua saga. Ele prosseguiu com brilhantes. E é curioso que essa sensação única, singular de terror, de fim, para Pessoas ( meninos, meninas), está sempre reportada à idéia de perda. Quando na verdade a tal perda, essa ausência, esse desaparecimento, é uma metáfora possível de um excessivo querer eterno...Que não cessa em buscar - parece até adolescente com suas bebidas energéticas à procura do tesão indelével- uma configuração, uma formação, que não é desenhável, inscritível, comível. O que se inscreve constantemente é esse querer. Então é mais do que inteligível que um desaparecimento de uma formação, sobretudo uma Pessoa que nos seja muito cara ( e ela não nos salvou e nem indicou o caminho) provoque tanta afetação. Quase uma amputação. Aquilo se desprendeu daquele cidadão/ã por onde saem frases, gestos, ruídos, quereres. Estava colado.
Inconformados - o que pode ser ótimo, pois haverá guerra possível-, indaga-se sobre a possibilidade de se vislumbrar uma possível fronteira entre essa que sumiu e a que permanece. E quem ou o quê pode restar? Ambas. Existe memória, trauma. Existe o inconsciente. Os fatos são fixados, recalcados, e não se pode apagá-los como se não houvesse tido. Desliza-se, substitui-se, esquece-se, inventa-se. Caso contrário, como que a história dessa nossa gente teria se dado? Atravessaria milênios? Haveria futuro?
As crianças nas salas de aula devem se perguntar, espantar-se e serem espantadas. O seu mundo inclui um repertório que alguns adultos velhos acreditam ser menor, mais pobre. Por quê? São mais pobres em certos setores - até pela ignorância sobre tantos saberes pregressos ( iguais a todo mundo portanto)-, porém mais ricos em outras regiões constituindo assim fatos contemporâneos que os constituem por conseguinte. Devido à velocidade das novas tecnologias, as pessoas-crianças têm uma rede de conhecimentos, próteses possíveis, bem mais ampla do que tinham o Dr. Freud, Copérnico, Galileu, Giordano Bruno, Homero e muitos outros que também estão na lista de imortalidade dos positivistas.
Suas pequeninas mãos escrevem com barulhinhos de teclar teclados, teclar afetos. Observam materialidades virtuais em telas computacionais. Uma onomatopéia contemporânea mesclada com outros sons de todas as épocas. Ao mesmo tempo? Seria possível? Fantasia? Realidade?
 Uma nova forma de fazer ciência. Produção de conhecimento, sim. E tão delirante quanto o texto que lhe pretende ofertar significações, suposições. Seria possível uma gramática desconsiderando a semântica? Sonho lindo, logo um belo delírio, de um Chomsky pensante.Um outro pensador de brilhantes. Vive lá nas Américas ao Norte.
 São pianistas do futuro. E o futuro já era.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma casa d'agente. Dan La maison.

Dentro da casa havia uma vida diferente daquela que almejara. O sonho de um menino com suas bolas de jogar para o alto, para o lado, para o gol, para o mundo, sumiu. O abandono materno e a doença de um pai, inválido das pernas, encerrou esses sonhos. Curioso. Sempre há um enredo de abandono, violência outra, miséria financeira ou social a justificar certas posturas. Ao menos no cinema. Em outras ficções, há muito mais por muito menos. Encerrou esses para embarcar noutros.
A escola que menino sonhador estuda - dá a impressão de ser pública- , e de qualidade. Porém,  boa parte dos alunos são fracos, no que diz respeito às notas obtidas. O que traz um conforto para brasileiros que se acham sempre piores do que aqueles que vieram da estranja. 'Olha lá que aluninho ruim! Coisa de francês, hein! Quem diria? Pensávamos que era tudo precário só em Português!'
Essa sensação perigosa de conforto percorre o espectador vira-lata durante a exibição do filme. Afinal, existe porcaria semelhante no continente ao Norte, no país mais desenvolvido. O que não melhora o nosso quadro interno.
Há um idealista em cena. Um professor de literatura e seus óculos que lhe conferem ar intelectual. Na verdade, o que lhe confere existência é a sua perseverança pelo que é grande, relevante. Megalomaníaco? Certamente. Ele também possui os  seus sonhos. Desejava escrever AQUELE livro. Suas ilusões pedagógicas e seus tesões literários, porém, esbarram na maioria dos seus alunos. Eles se chamam de desinteressados. Insiste em ensinar-lhes a escrever, a apreciar um bom texto, um bom romance. Autores franceses são os mais contemplados nesse caso. Mas sempre haverá vaga para um Shakespeare vizinho. O 'teacher', para um lado do canal famoso, e o 'professeur', para o outro, garante essa presença nobre na película do país de língua latina.
Oriundo daquela nação orgulhosa, onde o sol jamais dizia adeus,  em tempos de um Império que se despede pouco a pouco, William, uma espécie de superego de Hamlet, presenciaria uma mudança britânica à tempo. Apesar das muitas decadências , a ilha soberana, com sua família-rainha longeva, tem muitos atributos. E continua a  sofrer  de chuva também. Quase o ano todo.
O professor-personagem mencionado é casado com uma pretensa conhecedora de artes plásticas. A pretensão fica a cargo do desprezo que esse marido nutre pelo trabalho da sua mulher. Ele a acha pretensiosa. Não é somente pelo trabalho feito de esculturas, gravuras ou pinturas - aquela superfície plana retratando infinitudes- que lá se exibem por duas horas, a duração do filme. E sim , para sempre. Com quase tudo. Segundo ele, todos os textos sobre esses e outros trabalhos do gênero são bastante ruins. Tal e qual os textos que tenta extrair - algum sentido, alguma beleza- dos seus adolescentes alunos. Só vê qualidade na produção literária. Subestima, por exemplo, o colega que é professor de matemática na mesma escola. Tudo bem que o material com o qual trabalham é menos rico ( Seremos mortos por isso?), mas a disciplina em questão tem a sua beleza, a sua elegância particular. Talvez a Lógica tenha surgido para ampliá-la, enriquecê-la. E esse desdém todo, do erudito mestre das letras, vai lhe custar muito caro.
Quando afirma-se que o material sensível é mais rico deve-se ao fato de que ele envolve uma complexidade de elementos que não se consegue mensurar. Elementos que se transformam, que interagem o tempo todo e cujo sentido dado quase sempre está atrasado. E já é outra coisa ao se falar, ao se considerar. Não há exatidão nas suas resultantes. A mente do bichinho homem, assim como  a vida, obedece a protocolos muito singulares, com tendência à infinitudes. Sua semântica não é linear.
O professor-ator, agora, recorta algo que fora escrito num pedaço de folha. Ele está na sala de aula, seu palco diário, sorvendo provas e testes de redação. Haverá naquele pedaço de papel a mais, o milionésimo de uma vida de correções, algo para se aproveitar? A maioria dos alunos, nessa mesma sala de todos os dias do mesmo gregoriano ano, estão loucos para fugir. É sempre a mesma imagem: uma sirene - seria um bombeiro inspetor tendo chiliques pelos corredores?- a soar retumbante, e a turma virando bando, fugindo por meio de berros primevos e o professor deixando de existir de fato. Por suposto, novamente. Atravessam a porta que divide o mundo que interessa mais, situado do lado chamado 'fora da sala de aula' , daquele lado oposto e que interessa bem menos. E os anos se vão, e pouco se muda.
Quem diria que jovens franceses, com um certo nível de socialização, condição econômica - não todos, mas outros sim-, apresentem os mesmos sintomas de alguns brasileiros jovens e encontrados nos mais antigos brasileiros também: ausência de alegria em estudar ou trabalhar. Muitos profissionais a tem, felizmente. Estão, contudo, tornando-se, infelizmente, mais raros. Em diferentes campos. Independente se é a atividade mais rentável financeiramente ou não. Normalmente, não o é. E no que diz respeito à certas atividades profissionais, se aquela que se exerce não for o que há de mais rentável para quem a exerce - financeira ou pessoalmente- tornar-se-á quase inviável esse trabalho. Mediante a dificuldade, a complexidade das formações que a compõem, para exercê-la.
A arte de transmitir conhecimentos é uma delas. É das mais importantes - senão a mais importante- sendo bastante desvalorizada, desrespeitada, cinicamente tratada por nós todos. Pudera! Basta olhar para alguns dos mandatários do planetinha terráqueo! Quando não são loucos - e aí pode-se ter até uma dose de lucidez, brihantismo, ou até certa dose de cura no caso do porra-louca-, estão estupidificados pela própria função de mandatários do entulho gigante. Na atual fase de reciclagem chamamos de rede global.
O filme prossegue, continua. O jovem, cuja vida lhe ensinou a incerteza como uma das únicas certezas presentes e futuras, seduz o mestre frustrado pouco a pouco. O mestre finge que não é com ele. Que não tem nada a ver com aquilo. Daí também a sua mestria. Depois, vai se perder. E talvez a quisesse. O quê? Essa perdição sem GPS possível.
Invadem vidas outras porque suas. Vidas outras que invadem. Arriscam-se. São arriscados. Quebram a cara e ficam lindos, após aquele parágrafo de dúvidas. Aquilo houve de fato ou não? Mas tudo não é fato? A fantasia é uma realidade psíquica! Já fantasiara Dr. Freud, o Sig. Nos comunicamos? Como uma única ação de ilusões? Parece que sim. E pode se escrever um montão de coisas por conta. Chamar de literatura? Aí chamemos quem pode chamar.
Eu - que  nós não conhecemos tão bem - fala para outros. Escreve para outros , pois não é tão maluco para tentar escrever para ninguém. E aí esses tais outros balançam a cabeça para lá e para cá e nós dizemos que ele estão concordando. Isso acontece quando o movimento da cabeça vai de cima para baixo e vice-versa. E  o seu contrário, onde o oscilar com a cabeça, no sentido horizontal, diz não. Coisa que os adoráveis cães, bichinhos prediletos da patota, não sabem fazer.
Gente é gente. Não é bicho. É mais difícil, mais complexo, mais destrutivo, mais rico, mais pobre, mais escroto, mais vingativo, mais bonita.... O artigo feminino é sintoma preferencial de quem é escrito por esse texto.
O artigo feminino- já que fora evocado- também norteia, acompanha, as fantasias do jovem ator personagem, mediadas pelo seu guru professor, nesse filme francês, produzido em 2012. François Ozon, seu idealizador.
O pretenso escritor - aquele que o professor estimula, equivoca, concorda e discorda, conspira, despertando sensações intensas, novas,  a toda aula, após a aula e que divide suas ambições e angústias com a esposa ignorada-, está encantado pela mamãe do seu melhor amigo. Não se envolveu sozinho. Essa moça confusa- desculpem-nos pelo pleonasmo- corresponde. Pergunta-se mediante o fato de que até o espectador se permite equivocar: terá sido? Terá havido? Linguagem contemporânea, bastante familiar, a ser posta: terá ficado? Parece que sim. Uma cabeça que se pensa atenta ( ou teria sido uma casa?) move-se na vertical. Que significado teria esse significante? Afirmativo ou somente um cacoete dos nervos. Minha avó paterna costumava dizer que uma de suas filhas, e que se tornou educadora, sofria dos nervos. Talvez tenha, a tal filha educadora da minha vovozinha, antecipado as suas salas para embates, ou melhor, as salas e as aulas que estavam por vir.
Já o escritor-professor, aquele que desprezara o livro que ele mesmo havia escrito, quando mais jovem, visto que ainda não era  AQUELE livro, ou seja, um romance ou poema repleto de Shakespeare, Stendhal, Proust, Rimbaud, Flaubert e outros egrégios principiantes, gozava, refestelava-se através do progresso do pupilo e suas andanças descritivas. Eram 'partners' nessa construção.
Intrometendo-se na trama, por via de um Flaubert mencionado, confabula-se de novo: " Seria aquela mamãe sensual, bonita, gostosa, dissimulada pela belezura, e mamãe do melhor amigo, uma Madame Bovary do século XXI?" Não. São outros tempos, outras formas. Outra história. Segue-se....
Temos então o professor traído traindo. O roteiro não é novidade. Aluno dileto-odiado. Pensamento do sonho, vide Freud, e que faz parte de qualquer afeto. Ambos se arriscando. A quê? A uma boa história- mundana, tradicional- ou a um fracasso novo. Mas também se arriscam com separações, perdas, humilhações, processos e ganhos. Sim, muitos ganhos! Para o menino que quer ser homem importante, casanova juvenil - de calça curta por opção-  parece visível. Preconceitos a considerar, diríamos que tinha menos a perder. O risco, entretanto, jamais escondeu a sua face de incertezas. Seu prognóstico é imaginário ( o que não caracteriza delírio necessariamente), logo, não é impossível que ocorra. É tão somente um palpite por causa daquilo que não conseguiu apresentar uma melhor definição , pois não se consegue mapear isso tudo inteiramente. Intuição? Sim. Do quê?  De toda uma composição gigantesca, pois indica infinito, de tantas formações da ordem da sensibilidade. De quem? De quem assiste, de quem escreve, aquele que dirige filmes, aquele que ensina, o outro que faz papel de ator e muda de carne... Gente é gente. Cachorro não frequenta sessão de cinema. A não ser no colo de mandatário estúpido.
Qual o pretenso escritor que não quer escrever AQUELE livro, AQUELE texto? Qual o pensador que não quer interferir no haver através dos seus achados, das suas idéias? Qual o professor que não quer interlocuções profícuas, ricas? E cada vez mais vislumbrar um crescimento pessoal abundante dos seus pupilos, apelidados de alunos ? A sirene histérica a tocar e sendo retumbantemente desprezada ou silenciada, eventualmente, por antigos bandos que só pensam em fugir, em se esconder? Exagera-se nos advérbios? Digamos que é vício momentâneo para aquilo que no teatro burguês chamam de nó dramático. Bobagem. É feito o que se pode. O que se tem no momento ou pela vida toda.
' Dan La maison' ( Dentro da casa) é filmado aqui também. Somos nós: professor, 'voyeur', carrasco, herói, aprendiz, psicanalista, oportunista, surdo, matemático, arrogante, insolente, vagabundo, desonesto, poeta, criança, mulher, veneno, culto e fodidos +.........Não tem fim.
Um roteiro, um olhar, descobertas, um sonho. Uma  casa, pouco importa se por dentro ou por fora, d'agente.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Coréia ao Norte ao Sul. Futuro? Bill Evans e seus 40 dedos.

A crise no Chipre e na Coréia do Norte. Não posso mais viver sem isso. Imaginem que mal sabia onde ficava o Chipre. Minha mulher, geógrafa atenta, adverte-me:" Se você tem o hábito de consultar o dicionário, seja ele em Português, Inglês ou qualquer outra língua estrangeira, para tirar dúvidas ortográficas, gramaticais ou semânticas, porque não consultar um Atlas, um mapa, virtual ou não, para se localizar"? Ponto. Intervenção de um GPS belo e bem pragmático.
Mapa devidamente consultado e estavam lá o Chipre, pertinho da Turquia, da Grécia....e a Coréia do Norte, escondidinha do mundo, ao lado da sua irmã mais adoravelmente odiada, Coréia mais ao Sul. Pertinho da China também. Só não peçam o nome das respectivas capitais, pois o desinteresse se apossa de quem escreve e de quem possa se aventurar a ler isso aqui. Além do mais, sou um mau guia para esses roteiros. Entretanto, parece que  não vivemos sem isso no momento. Perguntamos: teriam os maluquinhos -olhos apertadinhos, pele branquinha-amarelada, falando aquela língua sem predicações-, condições para explodir o planeta azulado? Existiriam tais competências? Poderia 'Yellowstone' e sua competência 'ianque' para destruição razões para invejar tal mérito destrutivo? Ainda mais vindo de lugar ignorado, desprezado, tão longínquo? Alguns ianques consideram Marte e sua configuração esverdeada mais próximo do que a Coréia do Norte. O Hulk, herói também esverdeado de amódio, é conterrâneo dos Obamas.
Um dia soube, pela primeira vez através de brinquedos infantis, da Coréia do Norte. Foi na copa do mundo de futebol da Inglaterra, em 1966. Ano que dizem ter eu nascido. E os olhinhos puxados, cheios de brio, aprontaram a maior zebra daquela competição. Uma das maiores de todas as épocas. Venceram os já campeões mundiais, os gladiadores italianos! Guarda pretoriana a postos. Palácios de Césares em ebulição. Vaticano à espreita da coloração da fumaça sagrada. 'Habemus vexame'!!!
Na última edição da famigerada pelada premiada pela Fifa, na África do Sul, eles, coreanos ao norte, por lá passaram novamente. Enfrentaram a seleção do Brasil e chegaram a causar reboliço. Todavia - lá vem esse texto cheio de adversativas- alguém conhece algum pensador, escritor importante, ator - fora os presidentes daquela família estranha-, atleta de ponta, enfim, uma frase inteligente que tenha sido bombardeada por um norte-coreano? O fato de não se conhecer não é sinônimo de que não haja. Pode existir. A ignorância é nossa.
Uma vez, uma foto de uma policial norte-coreana vazou nas redes do planeta que desejam explodir. Bonita a tal moça. Ela comandava o trânsito. Solitária. O fotógrafo que fez as imagens era estrangeiro. Ela soprava o seu apito para lugar nenhum. Não havia carro em torno. Por isso o espanto da máquina que fizera a tal fotografia, pois elas se fotografavam: a moça isolada da Coréia, a máquina, o 'voyeur',apelidado de fotógrafo, e a solidão.
O piano do ianque genial, Bill Evans, acompanha-me nessa madrugada insone. O mundo ainda não explodiu, visto que lá em Marte, ou melhor, na vizinha Coréia do Norte, as guardas, mas somente as meninas ( Porque assim desejamos. Feito ditador. Feito criança), continuam soprando apitos. Ainda bem que existem as meninas!! Até o maluquete do Presidente deles há de concordar. O anterior, não menos doido ruim, tinha um harém de apitos.
Essa crise do mundo- e crise tem o sentido da oportunidade também- diz respeito ao quê mesmo? Frases feitas evocando quebras de paradigmas, modelos, referências (algumas sacralizadas) parecem que estão com os dias contados.Na verdade morreram. E não são os coreanos ao norte os responsáveis. Aquilo é uma pintura fossilizada tal e qual tantos outros modelos. Aqui mesmo no Brasil vivemos uma doce ilusão. Tudo banalizado, não pelo esgarçamento de cada situação e o reconhecimento da sua artificialidade, do teatro efetivo que é essa vida toda. E sim pelo esquecimento, pelo recalcamento, de que somos os reis da nossa selva particular. Reis porque palhaços, escravos, plebeus , mambembes também.
 Uma borboleta pode bater as asas lá na Coréia ou no Chipre e passado algum tempo - que é uma espécie de contagem ilusória entre um fato e outro e o sonho de que mais um monte de fatos estão por vir-  uma combinatória infinita de elementos provocarem a emergência de um maremoto, de um despertar vulcânico pelos lados de cá. Garantem os cosmólogos, os físicos, a turma do caos contemporânea. Essa ordenação bagunçada! Já imaginaram uma nova guarda pretoriana ressurgindo pelo Vesúvio abaixo? Berlusconi a brandir sua nova invenção? A nova invenção seria o ressurgir de um Vesúvio, Berlusconiano!!
A mente é um aliado poderoso, necessário e extremamente perigoso. Feito viver. Já nos garantia Guimarães Rosa. Ela é isso e tanto mais ao qual nos submetemos de inconsciente. Lugar que hei,  pois não estamos por lá. Quando se diz sobre é porque já virou coisa outra. Estamos em atraso já que o nosso tempo é tardio. Não somos seres precoces. Mas isso - que é também um apelido para o inconsciente - é o que nos especifica.
Chamemos de pegadinha, sacanagem, coisa suja, mas também há muito de alegria. Circulando, obviamente, pelo haver que nós possuímos, que portanto somos. Até mesmo na Coréia do Norte há. Vejam o ignorado, ridicularizado até pelas modelos-manequins do resto do planeta ameaçado, Chipre, e que pregou uma autêntica pegadinha na Máfia Russa. Não é divertido? Quem poderia predizer que tal obra de arte ocorreria? Qual é a cara do futuro?
O Brasil me parece distante de uma certa contemporaneidade. Há muita saudade ressentida nas mentes que governam e de quem se finge governar.. E um certo odor de loucura ruim, porque existe a doidice boa, profícua, poética, inventiva e não destrutiva. Achamos que tudo que vem de fora é melhor do que a gente. Morar lá longe - Coréia do Norte ou Marte- é o máximo, sobretudo se sentir muita falta das coisas daqui. E quando se está aqui, sente-se falta de lá. É o exemplo do mazombo oswaldiano. Ao mesmo tempo, não nos abrimos para políticas externas, negociações comerciais para valer com o resto do mundo. Protegemos demasiadamente o nosso lixinho. No máximo, estendemos ' La basura ' ao Paraguai, Bolívia....Eles , 'los hermanos,' nos adoram, odiando-nos. É visível até  mesmo de Marte. A música daquele bonequinho que para lá foi passear, da nossa Beth Carvalho, mandou avisar.
Bill Evans avisa também que o expediente por hoje acabou. Seus dedos, e ele tem uns 40, adormecerão por algumas horas. Voltarão? Ele diz que sim, mas garante que não pode garantir. Insistir, persistir, desistir também pode.Quem sabe a cara de um futuro possível?