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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Um banco. Um negócio.

O melhor do pior do capitalismo você pode encontrar quando tem que passar pelo desprazer de ter que comparecer ao banco mais próximo, a sua agência por exemplo, a fim de negociar alguma aplicação financeira, solicitar algum empréstimo ( algo que nunca fiz e espero não precisar), encerrar a sua conta, recadastrar-se, enfim, o que quer que venha a ser efetivado por lá presentifica a sensação de que a marionete que se costuma ser a maior parte da vida acaba de ser afanada de algum modo. A tecnologia aliviou bastante isso, isto é, a necessidade do comparecimento àquele hospício cínico, pois há a disponibilidade de se  dirigir a uma voz metálica, via telefone, normalmente aprisionada a umas 3 ou 4 instruções provenientes  da chefia, sem sair da sua casa ou local de trabalho e/ou vagabundagem, e até mesmo através das máquinas computadorizadas - ainda que por binarismos limitadores nas suas constituições básicas- , evitando assim aquele constrangimento presencial junto ao chamado Sr. Gerente. Em alguns casos, 'Sir'. Sempre detestei tal compromisso.
Abri a minha primeira conta aos 18 anos. Fui até lá com uma tia cujo conhecido era  funcionário trabalhando enquanto caixa ( nesse exato momento vem a sua imagem e o seu nome Geraldo) era na verdade um amigo familiar de muitas jornadas. Onde estaria Geraldo? Naquela época deveria ter uns 40 e tantos anos, creio. A idade, esse passar de tampo tão ilusório, nos engana quase sempre. E ainda bem. E isso é fruto da inútil ilusão de que as aparências que se apresentam são as únicas que existem. Por isso é que elas não enganam. Não comparecem todas. Isso é impossível. O cair de uma máscara revela outras tantas. Portanto, Geraldo tinha a idade de Geraldo. Para as impressões que dali recolho, ele tinha aqueles anos que lhe conferiam um saber desconhecido, ignorado pelo garoto presunçoso e com os olhos arregalados e curioso pela inserção naquele cassino oficial chamado banco. Uma tecnologia rudimentar de máquinas, com ruídos de tic-tac, eram atrações de época. Talões com cheques eram as armas para se negociar os desejos. Prometia-se algo ao se rasurar com nome próprio aquele pedaço de papel. No sistema financeiro existe - um fenômeno brasileiro- que vem a ser a promessa da promessa, a postergação da postergação que é o cheque para depois de amanhã; para o mês que vem ou para o que Deus quiser. Apelidaram-no de cheque pré-datado. A formação brasileira também acredita que um cartão de crédito possa não ter limites e que estrelinhas na sua conta, um mimo quase  cenográfico com taxas de juros malcriadas, confere-lhe poder ilimitado. Doce ilusão, amarga ignorância.
Pois sim, o banco de Geraldo - e que vinha das Minas Gerais- acabou e nem ao menos fechei a conta. Já havia pulado para outro.Um outro igual.e vizinho. Porta ao lado. Vizinhos também podem ser assim: concorrentes, rivais, bisbilhoteiros. E o contrário disso tudo também. E essa rede pode não ter fim.
Tempos depois, mudei de novo de banco. Diriam que sou leviano, mas preferia a adolescência da época. Desde quando mudar de lá para cá é da leviandade seu irmão mais próximo? Tem aquela turma que fica paradinha. Nem para frente nem tanto para trás.
O novo banco escolhido era mais popular. Tem em tudo quanto é canto. Não havia, de saída, nem um cheque general com 4 ou 5 estrelas. A maioria é meio soldado raso, recruta zero. Lá também não havia nenhum Geraldo familiar. Havia sim uns meninos e meninas começando no ofício de trabalhar em banco.
E foi justamente com um desses, de quem presenciei certo nascimento, que num dia, para ser menos obscuro um outro dia que faz tão pouco tempo, decidi negociar aquilo que juntamos, porque somos afinal otimistas para um fim em que não se haverá, por longos anos. O incômodo começa a partir do momento em que para alguém que gosta de investimentos mais voláteis, isto é, mercado de prostituição com ações- aquele jogo de mercado do faz de conta que somos sócios do Bill Gates-  essas coisas mais conservadoras para você e progressivas ao extremo para os donos dos cassinos-bancos não ressoam lá muito bem com os meus intestinos e certos gases. O principal contudo foi a pergunta que me deixou perplexo e seguro de que a marionete tem que andar sempre com os olhos circunspectos de quem não será pego por algum veículo que virá na mão contrária: " Esse produto é ótimo. Possui inclusive auxílio funeral"- disse-me um soco.
-Para quem?- perguntei-lhe reativamente.
Decididamente, não se entrará em questões mais elaboradas pois tão claras. A morte para quem se ela não há e nem haverá. Qual seria o benefício mesmo? E tinham outros.... Sorteios, por exemplo. Jamais ganhei uma rifa sequer! Enfim, uma sacanagem com índices oficiais e discursos oficiosos.
Após uma hora de equívocos, outros passos foram lançados. Quase que randômicos. Fui subido a um outro andar e diante de uma outra criatura, que também presenciara desmamar, escuta-se o papo de estranja." Usted puede para cá ...Mejor al otro lado". Não era tão pouco um Kama Sutra financeiro, mas alternavam posições. O rapaz já crescido e o gringo cliente novo perdido.
Saudade é algo que presentifica umas ausências. Por certo, presenças. Aquilo que o rei Roberto cantarola lindamente: ' ...Você é a saudade que gosto de ter. Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.' Saudades de Geraldo e da minha tia. Jogávamos num time parecido. Muitas aparências.

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