Certos eventos são exemplares para se observar os comportamentos e sintomas praticamente incuráveis. Nesse momento,aqui na terrinha, dois eventos nos atingem nesse mar de ocultação cínica. O chamado julgamento do mensalão, um escândalo político em que se tentava comprar votos , obtenção de apoio político parlamentar para os projetos governamentais e os jogos de peteca e outros 'games' , realizados na capital britânica. Naquela metrópole cujo reino, não tão unido assim, se orgulhava da máxima- relativa aos seus poderes intervencionistas, invasivos- de ser o Império em que o sol jamais se põe. Todavia, depois da reincorporação de Hong Kong à China, a máxima poderá ser revista.
O primeiro esporte olímpico bretão é da ordem do cinismo cafajeste. Além do mais, transformam meritíssimos em celebridades cinematográficas. Jamais deixamos de ser aquelas crianças que querem se exibir a todo custo, a toda hora, nessa sociedade do espetáculo, assinaria embaixo Guy Debord,falecido em 1994, mas lembrando que o próprio pensador francês ao escrever sua obra também sobe no palco. O que chamo de eu, por exemplo, faz seu textinho burguês por aqui, agora, nesse palco chamado de blog. Vira-se tela de computador a tagarelar com o mundo.
Assim sendo, a dita mídia televisiva é o canal exemplar para essa postura. Obviamente , acrescenta-se uma dose considerável de vulgata - justamente por ser eficaz - o que se poderia acresentar , com o perdão da ironia, que a democracia alcançou o seu tento, o seu destino feito ônibus, para todos ,afinal. Julgamento para não haver julgamento, eis a questão.
Há , dentre os notáveis da magistratura, um prócer que advogou para gente interessada no não julgamento. Pesa sobre ele o fato de ser amigo íntimo de um dos principais articulistas do lamentável episódio. Ah! Sua consorte ,dir-se-iam os doutos com as leis e mexericos, advogou em defesa para certos reús envolvidos também.
Faz vinte anos, um outro importante magistrado, recusou participação própria por ser parente, ainda que distante, quarto grau, do acusado: o próprio Presidente da República , à época. Decisão, no mínimo, coerente, decente. Nesse caso de agora não se observa isso. O magistrado- rapaz - bastante jovem nessa função, o que não significa incapacidade para tal e que fora indicado ao cargo pelo Presidente, cuja gestão em certos aspectos é investigada-, recusa-se a não participar do jogo. Quer porque quer ajudar o ex-chefe-amigo.
O jogo portanto é bastante interessante e a paranóia está instalada desde sempre. Todos de olho uns nos outros e preocupadíssimos com o que cada um pensa sobre o que o outro magistrado fará, dirá ou sentenciará. Já aconteceu até bate boca. Sobe a audiência.
Depois que instalaram câmeras para transmitir cada sessão - Nossa ! Quanto interesse!-, ao mundo interesseiro , a situação parece piorar. Já houve bisbilhoteiro da imprensa que flagrou troca de mensagens entre uma toga e outra. E se fosse uma declaração amorosa? Cabe recurso? Transitado em julgado?
Faz pouco tempo, já se aposentou , um outro notório notabilizou-se por escrever textos eróticos. Eróticos? Como assim? Pornografia para babacas ou erotismo para taradinhos? Já sentenciou, e não cabe recurso, um grande pensante- poeta - vivo da língua brasileira,em Seminário proferido nos anos 90, do século que morreu : século XX. O erotismo oculta as taras e a pornografia erotiza as babaquices? Ou seria justamente o contrário?
Com audiência bem mais significativa do que os jogos jurídicos, os jogos olímpicos nos trazem aquele sentimento ontológico de vira lata. Já dizia o centenário rodriguianismo de Nelson que o nosso espírito olímpico rosnava mais ou menos por aqueles canis. E ele terá razão para quase sempre. O desagradável fica por conta da ocultação, da falta de vergonha nossa . Nas mãos, nas pernas, no nado das borboletas - e a cada braçada um tornado pode se formar láááá .....nos confins do Timor Leste -, nos achismos de cada brasileiro-técnico.
Deve ser fácil, sem educação adequada, nutrição, condições técnicas e materiais, o cidadão/ã chegar ao olimpo e ter que guerrear com as tropas poderosas, preparadas desde o berço para o combate. E mesmo para essas tropas que possuem a mesma configuração primária, biótica, de boneco mal acabado, as pressões culturais e também as pressões primárias da chamada natureza - entenda-se aqui o clima, o ambiente, o fuso horário, altitude ou não altitude- promovem alterações consideráveis no rendimento daquele organismo que , para alcançar objetivos maiores, deve funcionar feito relógio suiço ou de acordo com a engenharia mecânica daquele carrinho popular de propriedade da família real semi-unida: o Rolls-Royce.
Felizmente que, e infelizmente para as nossas pretensões arrogantes enquanto filhos de um geneticismo que caducou faz tempo, pretensões essas relativas às previsões possíveis, sempre haverá um herói, uma heróina.
Agora a pouco, uma senhorita magrinha , quase esquelética e que me faz recordar algumas das imagens impactantes do seu país , acaba de vencer uma competição de resistência. Desbancou britânicas, japonesas, européias...E ela veio, parece que chegou correndo, da poderosa Etiópia. Atravessou o Tâmisa correndo sobre as águas geladas do 'caloroso' povo inglês. Houve e ouve-se, da masmorra daquela torre shakesperiana ao 'pub' moderninho londrino, uma ovação: quase histeria.'Milagre'! - teriam vociferado alguns ébrios musculosos. De outros cantos, mulheres desmaiaram, crianças atônitas, velhinhas de porre com o próximo chá. No meio do caminho, não havia mais uma rocha, e sim lenços a acenar-lhe com a direção a seguir. Houve também quem lhe desse água. Ela , desconfiada , hesitou. Água potável na sua terra é uma formação tão rara quanto o ouro que ela carrega no peito, sob metamorfose de medalha.
Bertold Brecht, em um dos seus mais conhecidos textos, A vida de Galileu Galilei, afirmara que pobre do país que necessita de heróis. Aprendi que ele estava errado.
Precisamos muito dos heróis. Em todos os campos , em todas as áreas do conhecimento. O heroísmo reverte as impossibilidades regionais, modais.O heroísmo é ato de criação. Heroísmos transformam aparentes tragédias em dramas, comédias, poemas.... Bertold Brecht, esse grande dramaturgo alemão, foi um deles.
O mal - e desculpem-me pelo mau jeito maniqueísta ,talvez por efeito do pagamento mensal ainda não depositado e olimpicamante ,com a pistola na mão, aguardado -, confunde-se com concentrações financeiras demasiadas, apoio político aos de sempre ( mesmo quando fantasiados de novidade justiceira ), e ignorância não reconhecida enquanto tal.
Amanhã, pularemos corda outra vez, E assim ,chegamos ao olimpo. De mentirinha, é bem verdade. Mas será , ao menos, ainda mais divertido.
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