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domingo, 3 de abril de 2011

Gota d'água.(Em tempos de Tsunamis)

Uma Gota D'água foi tema de redação num vestibular.Um aluno,bastante inspirado ( e sabe-se lá o que isso significa) ,deslocando a ansiedade que lhe ,por certo acometia,respondeu: ' E nela eu me afoguei". Recebeu a nota zero. Nunca entendi muito bem os critérios de avaliação da turma que julga certos concursos.Parâmetros pouco flexíveis.E eu ia quebrando a cara em todos eles. Na época do meu vestibular,e aquilo foi horível,pois ofertei poderes demasiados a essa babaquice tipicamente brasileira,sofri à beça.Na tal da família minha a cobrança sobre esses fatos eram cruéis.A gente adoecia,passava mal,sentia-se estúpido mediante alguma fracasso.Era quase uma humilhação.Se bem que sempre existiram aqueles menos doentes,capazes de um desvio pra lá ,acolá.Admiro essas pessoas. No primeiro exame,em que a febre alta me perseguiu em todas as avaliações,lembro-me da reação do meu pai diante do resultado não desejado:balançava a cabeça em sinal de reprovação,e não quis muito papo.Minha irmã que,experimentara algo semelhante,acompanhou-me ao clube ,à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas.Lá,permanecemos sentados e eu fiquei um longo tempo olhando aquela gota d'água imensa. Frequentara à beira daquela lagoa desde sempre.Fui moleque travesso de calça curta e sonhos longos.Jogava pedras ao longe para não machucar. Uns gatos desgarrados nos seduziam - a mim e aos outros pirralhos- e lá íamos nós atrás da caça.Jamais tocamos num bichano qualquer ,mas o sem jeito,a pouca prática - expressão maravilhosa cunhada de uma loteria humana que ganhei na vida- de alguns fedelhos,fez com que um incidentezinho ocorresse: um garoto caiu na gota d'água.Escândalo. A deslumbrada da mamãezinha dele teve um ataque ,não ficou somente à beira ,e eu fui responsabilizado pelo fato.Era tido como o chefe do bando,ou seja, era bastante importante para o meu meio-metro. Lembro-me dele todo ensopado,o tal garoto. E ele estava feliz e me agradecia com os olhos azuis.Enquanto isso a senhora minha mãe me passava uma descompustura pública e prometia a ela mesma que não me levaria mais a nenhuma festa."Você não sabe se comportar"- dizia mamãe.Momentos de felicidade que existiram em dias de festa. Não fora preciso tal promessa existir,já que um ano depois fomos exilados no Planalto Central para uma temporada que parecia não ter mais fim. Tudo isso me acossava naquela tarde de céu límpido e águas serenas de um verão carioca,fim de tarde,na verdade,fim de mundo para mim.O mundo havia terminado pela segunda ou terceira vez .E agora?O quê fazer com esse mundo que terminara novamente? Aquela gota d'água inteira na minha frente e eu sem me afogar com o mínimo de elegância.Afinal,tinha mamãe na parada! Não sabia nadar direito e o passo adiante não vinha.Se bem que...o que faço mesmo direito? Há gente tão pretensiosa no mundo que cursa até.... o Direito. Eu que sempre fui "maladroit",uma espécie de Mr.Bean carioca,cursei faculdades erradas.E na errância, a gente até acerta.Ainda que sem querer.É a tal da sorte,fortuna,paranormalidade,magia,lá sei. Creio que dei meia volta ,ao lado da irmã, e retornei.Um papel ,agora tela em branco, aguardava-me.Rabisquei algumas coisas,outras letras,mesmo troço.A gota d'água e eu somos coisa só.

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