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domingo, 14 de janeiro de 2024

 Certa vez, ao lado de um tio nordestino para lá de destemido, na capital do Rio Grande do Norte, de onde vieram os meus saudosos pais, avós, bem no centrinho antigo daquela então pacata e acolhedora cidade, a seguinte cena acontece:

Meu tio se dirige a um cidadão, elegantemente trajado com seu chapéu panamá, e prosa tem início.
Eu, pessoinha com seus 10 anos de idade à época, desfrutava naquela tarde de verão, tempo das férias mais longas, de um delicioso sorvete que titio me havia, gentilmente, comprado.
Prometera retornar logo. Passaram-se eternos minutos que iniciaram a destruição do meu sorvete. Ele derrete explicitamente, sem cerimônia. Na frente de todos.
Naquele momento, o moribundo sorvete era a formação mais relevante da minha existência juvenil em tempos quentes de verão . Achei abusivo o fato de não ter avisado que poderia demorar um pouco mais e tal a conversação com o homem do chapéu panamá. E não é que o tal senhor também exibia um processo de... derretimento? Ao menos a sua testa indicava algo assim: Suava, suava, a pobrezinha.
Decidi me aproximar, após meu generoso titio, primogênito de mais dois irmãos e duas irmãs, oferecer um lenço de pura seda ao Homem de Testa Feito Sorvete no Sol de Verão. Era esse o seu novo nome para mim e para quem lê esse devaneio, o primeiro de 2024. Segue a prosa entre eles. Sou testemunha ativa do processo.
-Porque você sabe que és um corno.- afirmava, convicto, o meu tio.
-Sim, sim...- balbuciava o Sr. Sorvete Testa Derretida.
Passo curto, curiosidade alta.
-Sr, meu tio: o que é um corno?- eu juro que tentei.
O primogênito do meus avós não me explicou o significado de tal honraria , porém me apresentou ao suposto homenageado:
- Esse aqui é um sobrinho querido , lá do Rio, Não do Rio Grande mais ao Norte , mas aquele de Janeiro. Estácio de Sá, Mem de Sá, Sebastião...Esse aqui, querido, é um corno.
Prontamente, apertei a mão já estendida pelo pré moribundo, seguida da saudação que não poderia não haver:
- Muito prazer, Sr. Corno.
-Encantado,encantado...-retribuiu um pouco trêmulo.
Não sei qual fora a razão para esse encantamento todo, mas ele se despediu feito um raio. Quase levou ao chão o famigerado chapéu e que já estava com uma parte amarrotada.
Titio não me disse o significado do tal termo, corno.
A história dizia respeito ao romance do irmão de titio, o segundo na lista de irmãos, mais bonito e solteiro convicto, com a ex. mulher do quase derretido e de chapéu com nome de país latino americano. O derretido ameaçava dar uma surra nesse titio mais repleto de bonitezas. Só que tinha esquecido do temperatura apimentado do irmão da belezura, o destemido.
Tão simples. Para que essa digressão toda?
O primeiro corno a gente pode não esquecer. De preferência, não imitar .
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M Fernanda Erdocia, Andrea Dutra e outras 14 pessoas
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