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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um novo ano?

Esse ano não acabará.Decidi que ele continua.Será eterno.Mas
é preciso tão somente um movimento desejante próprio para que algo assim se
perpetue?Nas ilusões nossas de todo o dia, sim.De fato, não.
Todo ano é singular ,pois único,assim como cada um e seus tesões
particulares,únicos também.
O que há de genérico em cada coisa que habita por aí são as
intercessões que nos compõem.É essa coisa em comum e que nos vincula também.Mas
ela é uma só, numa miríade sem fim.
O que faz a cultura e os seus próceres senão nos catequizar
a todo momento. O curioso é que isso se
assemelha a uma posição opositiva,contrária,àquela que está no comando.Qualquer
um que se opõe ,por exemplo, a uma liderança política qualquer deve adotar tal
postura,ou seja, a da insistência na sua posição contrária àquela dominante de
momento.Mas a diferença reside no fato de que não se deve tentar convencer.É
inútil se do lado de lá tem alguém que raciocina um pouquinho só.É muita
pretensão achar que se convence alguém que não quer ser convencido,manipulado...por
aquilo.Visto que será pego por outra coisa ou outro alguém.Inarredavelmente.Porém,pode
operar juízos menos preconceituosos,mais abstratos.Conteúdo demais atrapalha.
Mas o que se faz mediante o fato bruto de que somos nós
também os comandantes dessa nau repleta de furos?Justamente por esse comando...
Engana-se quem crê no poder absoluto do que quer que haja
.Manipuladores,hipnotizadores,adivinhos,máfia branca ou de qualquer
coloração...Tudo isso são contribuições nossas.
A quem suponha – cínica ou ingenuamente- que o parlamento e
seus participantes são seres transcendentes e que não nos dizem respeito.Chegaram
lá por mera providência divina. Deve ter sido.....E o fato de não ter elegido
esse ou aquele candidato, ou então, não ter participado do jogo ,abstendo-se ou
anulando a sua decisão, não nos exime de responsabilidades.Estamos no mesmo
jogo.Não há como não estar no jogo!E ele é cada vez mais amplo e incomensurável.
As informações estão quantitativamente mais rápidas e mais numerosas.Um preço a
ser pago pela tecnologia vigente.Como filtrar tudo isso sem enlouquecer?Sem dar
razão às tentações egocêntricas, e ou histéricas, de querer dar conta de tudo?Haja
narcisismo para tanto. E é típico dos que transformam sua própria existência
enquanto fundamento para se olhar o mundo e ser olhado pelo mesmo. Aliás, quem
olha pra quem e para quê?
A minha questão diz respeito a uma vã tentativa de não
encerrar esse ano agora. Quero poder dizer não a esse calendário religioso,de
cepa gregoriana,vez ou outra,já que inteiramente é praticamente impossível.As
formações culturais – definidas pela Nova Psicanálise de um modo geral-
enquanto modos de existir dessa chamada espécie humana são poderosíssimas.São
hábitos ,costumes ,arraigados por milênios.
Portamos um organismo frágil na sua origem. Sim ou
não?Alguém se candidata a uma briguinha ,digamos um vale-tudo, contra um leão
ou um urso famintos?Uma corridinha na água,valendo medalha, contra um tubarão ?
Isso sem falar nos microorganismos,nos parasitas, que matam centenas
de milhares todos os anos,há tanto tempo.
Contudo ,temos uma mente capaz de avessar o que quer que
esteja posto para ‘nosotros’.E esse é o nosso maior poder.Ali,nas grimpas das
nossas oposições,nas nossas binariedades,similares ao computador, na verdade
para além dessas polaridades sim/não dia/noite/ morte/vida mania/depressão, 0/1
etc, temos a chance da novidade sempre em progresso,da chamada criação.Um salto
bem maior do que a já tão útil e relevante criatividade que mistura opostos
existentes,mesclando o que já está posto e decantado na vida, e inventa outra
coisa.Todavia, criar é fazer brotar algo radicalmente novo,jamais
pensado.Talvez estivesse até em potência,o que é muito comum,mas não havia
pintado e reverte o jogo jogado.
Esse organismo idiota pode sofisticar-se. Fez
roupa,remédio,residência,aprendeu a química dos alimentos,desenvolveu técnicas
de guerra,instrumentos para caça,bolsa de valores ,música ,cinema,tudo isso aí
junto que vem a ser arte.
Existe gente –gregoriana demasiadamente ou não- que acha que
a natureza humana é a das florestas,a dos botos.Não.Nada mais natural para essa
nossa espécie do que os artifícios que produzimos e de tantos outros que ainda
seremos capazes de gerar.O que não implica em ter que destruir a natureza outra
e que já estava aí desde sempre.Além do que ,necessitamos dela para sobreviver.Ao
menos enquanto a espécie permanecer feito carbono. E ela tem belezas extraordinárias,o
tal haver natureza. Nunca viram um ornitorrinco?Um Tsunami?Uma chacoalhada mais
irritadiça dos deuses das camadas mais profundas dessa terra, chamada Terra,
conceituada enquanto terremoto?
Certa vez o meu mestre indagou:”E se o verde for a
poluição?E se o tal Deus –que tantos conjecturam – não gostar da gente?”E não
há como não conjecturá-lo.O problema é que não se toma isso enquanto mais uma
prótese,uma criação da espécie,capaz de aplacar algumas angústias e
desamparos.Se não for por essa via o que se vê são ataques delirantes de
sacralização de meros personagens ,assim como nós.Agora mesmo vive-se isso numa
tribo distante,lá pela Ásia do mundo, em que o ex-mandatário,ex-presidente,ex-rei,
cometeu o seu maior pecado.Para além da soberba,pecado maior para os cristãos
,por exemplo, o cidadão morreu.Tadinho: ele não podia fazê-lo.
As reações do seu dito povo são as piores possíveis.Aquilo
chega a assustar,sobretudo quando sabemos que ele desenvolvem armas capazes de
explodir o haver por inteiro.Então que tratemos de desenvolver a nossa
também!Por que um grupo de psicóticos privilegiados pode possuir esse poder e
nós outros, da Ameriquinha ao Sul, não podemos? Qual o porquê de tanta
subserviência?
Num sistema prisional ,os bons moços e moças residentes de
lá se respeitam.Sabem que ali só tem gente boa....capazes de quase tudo.Numa
academia de artes marciais idem.Já freqüentei.Todos sabiam dar porrada e tomar
de volta.Por que somente a certas criaturas,independente de suas convicções
religiosas ,políticas, lhes é dado o direito de poder apontar os seus
brinquedos belicosos e destruir o mesmo planetinha que, hoje em dia,
articula-se em rede cada vez mais ampla?Manda quem pode e obedece quem tem
juízo?”Maybe”,talvez.
Pois é. Resolvi então implicar com Deus.Decidi não encerrar
o ano.Tampouco pretendo morrer antes que ele se eternize enquanto único-ano.
Papai Noel,aquele gordo escroto que funciona bem no país de
onde veio ,pois o inverno é tão intenso e implacável,restringindo a tal luz
natural, que também tem as suas inadimplências enquanto luz, que a turma que
por lá gorjeia fica melancólica.Logo,o tal rapaz barbudo de saco vermelho
alivia a melancolia das crianças.Pronto.Ele partiu.Partir não é morrer.Outro
dia usei tal expressão para homenagear uma figura importante para minha
existência. A quem iludir com isso?
O tal velhinho saiu de novo.Pegou seu carro popular e enganou
as crianças mais uma vez.Quem trouxe o presente então foi aquele escroto?Não
foi não!Fui eu quem comprou aquele troço com o dinheiro que roubei,ou
melhor,ganhei com o tal trenó, cheio de suor e lágrimas de cada dia,de tantos
anos.Sou somente mais um mero flanelinha do haver!
Esse ano inventarei ano novo.Não será bi sexto.Fevereiro
continuará mais preguiçosa em seu charme único de estar Fevereiro.E eu já desmunhequei aqui com
Fevereiro,pois ele pode ser menino e também ter preguiça e usar cor de rosa.
Afinal,a cor do sexo é cor que corta, que secciona,que sabe que para além de
tudo o que há não há transa possível,não
há sexo possível,nem morte.A cor do sexo já misturou o azul e o amarelo e o
preto e o branco e o rosa e avesso tudo isso.Tá tudo de cabeça pra baixo e
novamente recomeçar.
Esse ano será como a frase sábia dita por um pai ,cuja
memória se despede passo a passo.Perguntado sobre o dia de hoje,ou melhor: “Que
ano é hoje? – Um ano bom”.

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