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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Melancolia e bolo de carne.

Foi então que o Dinamarquês Lars Von Trier,diretor de cinema polemista e talentoso,avançou com a sua melancolia azul,arredondada,forma de bola que flutua,suavemente em direção ao nosso planetinha.
Fizeram cálculos ,os tais cientistas,e asseguraram que não havia risco maior de colisão.Ela,a melancolia,daria uma lambidinha no nosso prezado e insignificante planeta,para depois partir.
Sabe como é o cálculo preciso de um matemático.Ele quer explicar o mundo por aquela via.Aí vem um lógico,um pouco mais chegado aquilo que dizem ser abstrações , e bagunça tudo.Vem um Físico e bagunça um pouco mais:'Mas o nosso universo está em expansão....a velocidade da luz passa a ser questionada inclusive.Einstein se remove nas tumbas de um universo dito elegante..." E vem psicanalista meter o bedelho,falar sobre o comportamento dos personagens,vem o filósofo discorrer sobre o ser ,sobre a ontologia do planeta e do diretor, e tudo isto está valendo.Podemos falar com vontade.Até porque aquilo nos remete à certas falas.
O diretor já declarara que sofre de depressão,ou seja,é um homem contemporâneo do seu tempo. Depressão está na moda e isso pode ser preocupante ,já que os medicamentos - úteis e em alguns casos imprescindíveis- não são vitaminas e não deveriam ser prescritos de qualquer forma,pois afetam o sistema nervoso central e tem efeitos colaterais.Ganho de peso,impotência - nos meninos sobretudo-, alteração na qualidade do sono,aumento da pressão arterial - no caso dos hipertensos é preciso cuidado-, dentre outros sintomas.
No caso da película não melancólica, ao contrário, pois tenta reverter o sintoma não somente esclarecendo sobre os mecanismos que a compõem ,mas agindo sobre o mesmo,algumas sequencias no filme são exemplares. O cientista que supõe saber tudo e crê que o cálculo diz tudo sobre o que há.Decepcionado,não segura a peteca e é o primeiro a abandonar o barco;a criança cuja inscrição de um fim,de um término definitivo, não se dá enquanto tal, e tudo aquilo virá mais um sonho, repleto de tias heroínas a salvá-lo; a irmã salvacionista -companheira e gentil é bem verdade,mas insuportável no seu papel de salvacionista do outro e rainha do lar,rainha mãe,mulher dedicada e exemplar do tal cientista afortunado; e a melancólica cujo mundo já tinha sido faz tempo...apesar da farsa que sustenta,já que ainda vive,se alimenta,gosta de cavalgar um garanhão,dá uma trepadinha com o garotinho-aprendiz,para que os convidados se divirtam.E gosta também de bolo de carne.
Já o papai e a mamãe são malcriados do mesmo modo que o diretor.Mamãe de melancólica só diz coisas certas nas horas erradas.Comporta-se bem-mal.O papai é um taradinho inconsequente que coleciona talheres sofisticados. Ah! Existe o corno....E pediu para sê-lo.Fez questão de não sossegar na sua vocação para escravo amoroso de um desprezo anunciado desde sempre.
A festa é sofisticada,o local lindo.Comidas e bebidas e uma promoção no emprego.Demais não é?
É.
A farsa de quem finge não ter mais mundo é essa arrogância em supor que pode se atravessar o que não há,o abismo mais fundo.Até o garanhão e o carrinho de golfe não conseguiram cruzar aquela ponte.Aquela ponte vai a nenhum lugar,a um não lugar.É uma espécie de silêncio wittgenstaniano.Não há mais o que dizer.
Uma melancolia me parece feito menino mimado.Conheço bem ,pois fui um.Rebelei-me a tempo de não me ferrar um pouco mais. Se você banca o salvacionista ou o provedor incansável e oferece e oferece e oferece,esse massacre de ofertas e coisas e luxos só reforçará o sintoma paralisante ,quase catatônico.Na verdade,catatônico.
Criança mimada sabe correr atrás quando tem fome.Não precisa ficar empurrando nada goela abaixo,até porque nada já é muita coisa.Uma anorexia parece alimentar-se de coisa alguma.E o bolo de carne,sabor de infância ,passa a ter gosto de cinza.
Se bem que....Aquilo lá não é uma neurose um pouco mais apimentada,não?Aquele desinteresse não tem um certo charme histérico de quem quer todas as coisas ao mesmo tempo e que de algum modo já sacou que o que interessa é impossível,mas não quer se mancar quanto a isso?O que seria se mancar,por exemplo?
Num Seminário de 1992,intitulado Pedagogia Freudiana,MD Magno já nos ensinou que pode-se beber o vinho,a festa,o maldito casamento,enfim, a existência do dia a dia, com Nirvana.O capítulo se chama "Sorvete com Nirvana".Antídoto contra melancolias e cinismos
Lembram daquela anedota: quer eleger um mestre para em seguida destituí-lo,jogá-lo no lixo.
É disso que padecemos vez ou outra,vez e sempre.Discípulo é confiável?

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