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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ai meu Deus!

Ai meu Deus!
Pode parecer prece , mas era o regozijo das meninas – digamos 90% delas- mediante a aparição , em idade real , do Sr. Brad Pitt, no filme curioso sobre Benjamim Button. Button foi inventado pela mente astuta e sábia de Scott FitzGerald, numa de suas mais interessantes e belas histórias.
Button nasceu velho e com o passar do tempo foi rejuvenescendo...ao menos fisicamente, pois acho que ele , no início, mais ou menos com uns setentinha, estava bem mais jovial. Era curioso, circunspecto, ou seja, olhava para vários lados, em circunferência, sem maiores preconceitos. Quando passou a interagir com outros e teve que entrar – não há outro jeito , pois somos condenados em haver e culturalmente determinados-, nas transas culturais, afetivas, começou a decair...ao menos mentalmente. Vai tornando-se tão jovem que apodrece...de infantilismo.
Não foi apenas FitzGerald que inverteu os vetores relativos ao que chamamos tempo –pura ficção- no mundo literário.Tantos outros o fizeram e indicaram a eternidade para os que vivem e não creem na morte. Se pegarmos a obra de Proust e o último volume, O tempo Redescoberto, ele retorna ao início e condensa todos os outros seis volumes em um único. Aliás, característica proustiana: condensar vários aspectos ou personagens seus em uma única formação. Um dos casos mais célebres – se não me equivoco, isso se passa no livro 3 ,Caminho de Guermantes- é o laço de fita utilizado por um de seus personagens ,A Madame Verdurin. São mais ou menos 40 páginas descrevendo o tal laço. Um saco não é mesmo?! Mas também é genial, pois todos os personagens estão presentes naquele laço de fita!
Finnegans Wake, de James Joyce, também começa pelo fim. O camarada desperta no seu próprio velório.
Aqui no Brasil, o gozador Chico Anísio já reclamara que o vetor do tempo – ao menos isso que chamamos de tempo- era cruel. Ele gostaria de estar jovem, cheio de vigor – talvez para fazer mais uns quinze filhos- e com toda a experiência adquirida ao longo dos anos grisalhos. O que esquece o nosso jovem-velho é o fato de que com todo esse vigor lhe faltará a serenidade suficiente para enfrentar os momentos derradeiros. Para isso , há uma entrevista exemplar do homem de todas as idades, Sigmund Freud, que está sendo difundida pela iNTERNET, A grande Rede. Entrevista essa que fora concedida a um jornalista que não entendeu muito bem o que o mestre lhe dizia. Tanta lucidez incomoda ! Freud alerta , e ele estava com 80 e alguns, morreu aos 83, sofrendo há anos com um câncer que lhe arrebentou o céu da boca, que o cansaço provocado pelo passar dos anos lhe deu tranquilidade suficiente para encarar o fim. É linda a entrevista. -“Viver para sempre seria um inferno’,- proclamou.
Porém, sabemos que a vida é eterna, já que o próprio conceito de Pulsão , apresentado por ele , indica essa impossibilidade de gozo absoluto, de transcendência, de Nirvana.Tudo isso muito bem requisitado pelo nosso tesão primordial , motor do nosso querer. Re-querer ( e isso repete, repete) é de direito, mas alcançá-lo, a tal completude, é impossível.
Logo, não se tem experiência de morte. Só quem morre – já dizia Salvador Dali- são os outros. A vida, portanto, é eterna.
O filme é sábio, apesar de muito longo. Creio que se estende tanto assim, a fim do Brad , o belo, aparecer mais belo do que nunca. Ai meu Deus! Suspiram as meninas todas. Todavia, e aqui não há nenhuma retaliação quanto a beleza de outrem, o grande show do filme, para mim, é dado pela verdadeira rainha , não da Inglaterra, pois é Australiana , ou seja, Inglesa que nasceu na praia, Cate Blanchett. Ela é o máximo.
Outro aspecto brilhante do filme é apontar para a imensa rede a qual estamos conectados e que escolhas não são tão escolhidas assim. Por isso a preposição ‘se’ , no caso do poder se inverter uma situação onde não cabe reversibilidade, isto é, passar esse filme de novo como antes fosse, ou seja, voltar a fita, mudando os acontecimentos, mais ou menos como o Pir Lim Pim Pim de Monteiro Lobato , nas preces da boneca de pano, Emília, é inútil.O trágico no tempo é que ele já foi e não se pode dizer que ele não foi, que não ocorreu, que não houve. Nenhuma garantia há para se supor que podemos intervir tanto assim no desencadear dos fatos. A não ser nos nossos sonhos, nos nossos desejos, na nossa onipotência juvenil. Aos 80 anos, Button não conjecturava tal coisa. Aos 30 e poucos, seus pensamentos mágicos rugiam sob a batuta de uma Harley Davidson.O atropelamento que acabou por juntá-los ( ele e a Rainha Australiana) ocorreu e ponto. Se ou If , em homenagem a língua do autor e dos atores, é pretensão e não é analisável. A não ser enquanto assanhamento neurótico.
Viva o cinema! Lá, as desilusões têm glamour, sonoplastia, trilha sonora, Brad Pitt e todas as idades. Igual o curioso Dr.'Button’ Freud.

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