Além da luz do fim do túnel.
O que haveria por lá?
Era o que tentava descobrir o jovem jornalista vindo do Recife ao iniciar a travessia, pela invencionice lacerdista, e que vincula a Zona Norte do Rio de Janeiro à Zona Sul: o eficiente e abominável túnel Rebouças. Geralmente escuro, fedido , claustrofóbico para muitos, mas uma invenção fundamental na transa do vai e vem na cidade partida. Título do livro de um outro conhecido jornalista: Cidade Partida.
No depoimento que ele, o jornalista, fornece sobre a sua chegada à declamada cidade maravilha , uma frase chama a atenção; 'Mais cedo ou mais tarde o destino para quem vinha do nordeste e desejava prosseguir na carreira de jornalista era uma das duas cidades da região sudeste do Brasil: São Paulo ou Rio. Vejamos quão provinciano esse Brasil continente se apresenta.
Talvez por ter nascido numa Recife tropical e brejeira, a escolha por pousar no balneário carioca não deve ter sido muito difícil. Difícil era atingir aquela luz além do fim do túnel.
E nesse instante o táxi - provavelmente um Volkswagen quatro portas, também conhecido como Zé do Caixão, e da cor vermelha- aproximava lentamente os opostos: a escuridão do túnel fedorento com a luminosidade do outro lado daquele mundo novo. Os contrastes são explícitos. E não se faz necessária qualquer mediação.
Destemido, o perguntador, mas excelente escutador- vislumbrava as luzes. Contudo, mantinha a devida prudência com as sombras e assombrações.
E assim foi habitando e habitado pela luz que pôde ver para além do fim daquele túnel primeiro.
Desenvolveu seu estilo de perguntador de intimidades e escutador atento, mas flutuante. Usava lápis e papel. Um outro multiverso.
Habilidoso. Não esperava por resposta. Sabia, feito menino, que as desejava no plural: respostas. Logo, prosseguia. Teimoso.
Realizou um dos documentários mais bonitos e importantes sobre um jornalista, ou melhor, repórter e também seu mentor: Joel Silveira. O documentário se chama : ' Garrafas ao Mar. A víbora manda lembranças'. Dentre outros tantos.
Soubemos então que ele morreu. Mas como assim? Estava doente? Foi acidente? Sim e não. Estava tão somente vivo. 'Corta"! E a câmera, teimosa e insistente, afasta-se com pruridos.
Já nos tinha dito aquele filósofo, também destemido, e cuja família milionária lhe dava certa garantia para prosseguir ousando, o austríaco Wittgenstein, que desse ponto derradeiro só nos resta o silêncio.
E Wittgenstein também lhe honraria com uma outra afirmação sua: ' O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo'. Geneton , perguntador-escutador, tinha de sobra.
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