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domingo, 22 de novembro de 2015

GOL DE CRIANÇA.


O pai ninava a criança numa guerra de gramados. Eram duas as crianças. Uma já o imitava nas macaquices. Vestia a mesma roupa deselegante e entoava os mesmos cânticos. Não é só um hino francês- agora na moda- que conclama guerras e sangramentos. Muitos outros conclamam barbaridades também.

A criança ninada parecia conformada. Não se mexia. Estaria morta? Não. Estava fugindo daquilo tudo, e bem ali, com as únicas armas que dispunha. O pai, atento, olhava para ela a todo o momento. E aquela madame gorduchinha, chamada de  bola , seguia maltratada por uns marmanjos – maus guerreiros- naquele domingo de céu emburrado. Seria pelo péssimo espetáculo que se exibia? Não. O céu não perdia mais seu precioso tempo com essas crendices.

Depois de todos esses Nãos que tal um substancial SIM? Sim! O jogo com bola, senhorita de círculos, passou a não interessar tanto, mas sim - olhem a afirmação de novo em campo- o que o maluco com as duas crianças por ninar e educar poderia fazer se por um milagre a equipe pela qual rendia homenagens fizesse um gol? Vencesse, finalmente, a partida?

Ele poderia arremessá-la para o alto ou para o lado. Poderia lhe arrancar a cabeça. Esmagá-la com seu corpanzil de 100 quilos e ainda arremessar o outro filho para o gramado. Lá,  junto aos gladiadores que se debatem e se beijam mediante o gozo da vitória, celebrariam. Poderia, poderia. Isso poderia também virar uma paranoia daquelas. Tão frequentes nas políticas contemporâneas.

Nada disso, porém, aconteceu. A criança despertou e foi colocada no seu colo de pai. Sentada, ereta. Clássica. Minutos depois, pouco antes de o árbitro encerrar a batalha, ela, inadimplente criatura, bocejou graciosidades de criança e mijou sem privacidades toda a cafonice do seu papai. Foi a melhor jogada naquele fim de dia, fim de mundo.

A MENINA GRINGA


Virgínia tinha um metro e muito de altura. Pele clara, olhos a lhes acompanhar. Em tempos de hoje, com essas exigências forçadas, harmonizavam perfeições.  Era uma menina gringa. E pessoa gringa, naqueles mesmos tempos, eram bichos raros pelo simples fato de que o Brasil sempre foi muito distante do velho mundo. Se bem que ela não vinha de outro mundo tão velho. Além do mais, o modo de deslocamento dos corpos de então tinha precariedades. As distâncias eram bem maiores; um telefonema de saudades vindo da estranja trazia muitos ruídos juntos; sem contar as tarifas – os famigerados interurbanos- que eram bastante caras. E os postais? Retratos coloridos que viajavam de charrete. Muitos se perderam sem deixar pistas (crime perfeito?) ou chegavam bem depois do retorno de quem partiu brevemente.

Virgínia andava de patins. Bailava com seus pés feitos de rodinhas pela única quadra de futebol de salão que existia naquela superquadra. Segundo conspiradores, esse espaço foi construído mediante intervenção estadunidense, a pátria da patinadora. E qual seria a razão que mobilizaria uma embaixada para esse fim? Nunca ficou claro, mas parece que era uma simples política de boa vizinhança. Afinal, o prédio da embaixada- lá eles apelidam essas construções de blocos- ficava praticamente em frente.

Após as peladas de salão, a moça loira patinava seus encantos. De tanto que o fez que um amigo se apaixonou. Desengonçado nos estudos e com as pernas, esforçava-se com a língua....inglesa.  Era o único saber em que se esmerava por melhores resultados. Tinha intenção definida, alvo vislumbrado, arma apontada, uma pequena guarda pretoriana de discos de vinil (coleção até invejável) e nada mais. Ao que tudo indica não teve êxito.

A jovem patinadora, filha de um funcionário da CIA (cuja sede fica no estado da Virgínia/EUA, e por isso o seu nome próprio), não correspondeu ao cerco quase bélico do nosso companheiro iludido, ou melhor, apaixonado. Talvez o aspecto belicoso é que tenha atrapalhado. Corria uma ditadura militar por aqui- com todo o apoio norte-americano- e eles não queriam financiar outras forças que não as suas. Todo brasileirinho que se aproximava daquele edifício pertencente à embaixada deles era observado de perto pela segurança. Quase hostis. Mas não estavam errados. Eles sabem muito bem o rabo preso que têm.

Virgínia um dia sumiu. Isso mesmo: desapareceu, escafedeu-se. Teria sido roteiro para algum sucesso premonitório de cinema Hollywood? Teria essa bela jovem se tornado mais uma vítima do terror que certo regime impôs no continente perdido, durante os anos 60, 70 e 80?

Os boquirrotos e boquirrotas garantem que não. Ela só desapareceu por não dizer Adeus. Voltou para algum canto do planeta onde seu papai seguia conspirando, bisbilhotando alheios.

Contudo, ainda resistem àqueles que sentem o som e as curvas daquele deslizar, sem concorrência, daquelas pernas longas e estrangeiras. Nunca uma conspiração foi tão adorável.

 

 

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cada tempo tem o jogo de xadrez que lhe Merece.


Diante do fato que boas ideias- ao menos contemporâneas, provenientes da cabeça dos mandatários mundiais estão cada vez mais raras, diversas elocubrações surgem sobre o ocorrido na França ou com aquele avião russo ou no mercado em Beirute.Um outro mergulho de sangue no balneário tunisiano contra os turistas ou também contra turistas mexicanos, no Egito Duas coisinhas; estamos enfiados na mesma lama- seja a criminosa de MG ou de Bataclans ( Aliás, os proprietários são judeus franceses e já tinham sido ameaçados) -, e a outra é uma pitoresca historinha que recordo e mostra o quanto de flexibilidade ( flexibilidade?) um partido político e seus mandatários podem ter, exibir.
1989, eleições presidenciais. Após 25 anos. Leonel Brizola- candidato desde o berço em Carazinho/RS- caminha a passos de bombacha em direção ao palco do programa - até aquele momento com elogios superlativos- do Sr.Sílvio Santos. Todo mundo sabe que Leonel era obcecado para ter espaço maior em emissoras televisivas e que não conseguia coisa melhor junto à família Marinho, aqui na antiga Guanabara. No meio do caminho, não mais uma pedra, e sim , uma BOMBA. Avisaram-no que Sílvio poderia sair candidato no lugar do colega de partido, o ex-Vice Presidente, Aureliano LEXOTAN 6MG Chaves. A disputa já corria suas últimas voltas e se o Homem do Baú resolvesse participar, o estrago para os adversários seria enorme. Menos para o inatingível candidato, Fernando Collor. Esse nadava de jet ski em céu com brigadeiros.
Sem nenhuma mediação e sem diminuir os passos ( portanto a neurose ficou descansando um bocadinho) , passou a dizer desaforos publicáveis, sutis , contra o Agora, Sr. Abravanel. Espanto na comitiva.
O Jogo de xadrez- Ainda que sem MESTRIA nesse momento- pode trazer sutilezas feitas de cavalos ou torres, traições da realeza ou de peões, conspirações de bispos ( a palavra está gasta de paranoias , mas ainda EXISTE) feito o disparo de uma doce Kalashnikov.