O pai ninava a criança numa guerra de gramados. Eram duas as
crianças. Uma já o imitava nas macaquices. Vestia a mesma roupa deselegante e entoava
os mesmos cânticos. Não é só um hino francês- agora na moda- que conclama
guerras e sangramentos. Muitos outros conclamam barbaridades também.
A criança ninada parecia conformada. Não se mexia. Estaria
morta? Não. Estava fugindo daquilo tudo, e bem ali, com as únicas armas que
dispunha. O pai, atento, olhava para ela a todo o momento. E aquela madame
gorduchinha, chamada de bola , seguia maltratada
por uns marmanjos – maus guerreiros- naquele domingo de céu emburrado. Seria
pelo péssimo espetáculo que se exibia? Não. O céu não perdia mais seu precioso
tempo com essas crendices.
Depois de todos esses Nãos que tal um substancial SIM? Sim!
O jogo com bola, senhorita de círculos, passou a não interessar tanto, mas sim -
olhem a afirmação de novo em campo- o que o maluco com as duas crianças por
ninar e educar poderia fazer se por um milagre a equipe pela qual rendia
homenagens fizesse um gol? Vencesse, finalmente, a partida?
Ele poderia arremessá-la para o alto ou para o lado. Poderia
lhe arrancar a cabeça. Esmagá-la com seu corpanzil de 100 quilos e ainda
arremessar o outro filho para o gramado. Lá, junto aos gladiadores que se debatem e se beijam
mediante o gozo da vitória, celebrariam. Poderia, poderia. Isso poderia também
virar uma paranoia daquelas. Tão frequentes nas políticas contemporâneas.
Nada disso, porém, aconteceu. A criança despertou e foi
colocada no seu colo de pai. Sentada, ereta. Clássica. Minutos depois, pouco
antes de o árbitro encerrar a batalha, ela, inadimplente criatura, bocejou
graciosidades de criança e mijou sem privacidades toda a cafonice do seu papai.
Foi a melhor jogada naquele fim de dia, fim de mundo.