Certa vez, li num jornal de bairro, aqui de Ipanema, que uma famosa escritora havia pego um livro de Drummond para reencontrá-lo ( prefiro a forma encontrar novamente), assim que soube da sua morte. Ele morreu poucos dias após a morte da sua única filha, Julieta. Eram apaixonados. Julieta, soube dela através de uma nota que escrevera, indignada, a respeito do assassinato de um mendigo que habitava a rua que me habitava " cette époque-lá": A rua Barão da Torre.
Atiraram pedras ou balas de fogo nele. Morreu deitado no chão frio, cruel, imundo. Julieta ficou uma fera.
O episódio me atingiu e agora eu somente coloco aqui um traço que deveria se tornar curva para falar da morte de um heroi brasileiro, carioca conterrâneo: Oscar Niemeyer. Morreu ontem, dia 5 de Dezembro de 2012, aos quase 105 anos de vida e curvas. O maior arquiteto brasileiro e um dos maiores de todos os tempos. Nada sei de arquitetura, mas sei que ele era maior e ponto! Desculpem-me: curvas e curvas.
Oscar foi sofisticado e simples, difícl e complexo. Generoso e firme. Entre o que tinha, ou seja, o que era, a sua referência teórica e sua prática, o seu agir, não havia fronteira nem divisa. Era único.
Habitei e fui habitado por ele. Carioca - assim como ele- fui nascendo, tornando-me. E em Brasília vivi oito anos. Ele, por sua vez, tornando-se a cada sopro uma espécie de gênio imortal. Tudo por ali foi grandioso: 600 obras, sendo uma centena de altíssimo nível, 76 anos de parceria em seu primeiro casamento e depois mais um outro casório aos 99 anos de idade. Quase uma criança. Trabalhava com tesão sem igual. E se espantava quando qualquer deferência lhe era prestada. Elegante.
Hoje, ele viajou tanto num tal de avião - uma formação que desafia um pouquinho a gravidade e com a qual mantinha distância seletiva- que cansou de vez.
A aeronave - contemporânea sua desde os primórdios- fez uma curva sobre o Pão de Açúcar. Passou pertinho. Oscar calado e quieto sem se incomodar com o entortar para cima e para o lado daquele abutre de aço, ferro, querosene e gente.
Houve quem dissesse: " E quem disse que ele não esculpiu o Pão de Açúcar"?
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