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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fotografias erradas

A quem pode interessar a alienação subserviente que se constata?

Quando se é bem jovenzinho o reino das ilusões é hegemônico.Com o passar do tempo é como se essa ilusão permanecesse por inércia,mas a lucidez ,dolorida quase sempre ,que a desilusão nos traz ,ao menos para quem acompanha o teatro da vida, torna-se ela sim hegemônica.

Você supostamente atravessou diversos processos,experimentou-os ,logo não cai tão facilmente noutras armadilhas.Digo outras ,pois não serão mais as mesmas por mais semelhantes ,análogas ou coisa próxima do que tenham um dia sido.Na minha ignorância acadêmica ,recordo Heráclito ,famoso pré-socrático mobilista ,e o seu mergulho que não era nunca o mesmo.'Um mesmo homem jamais se banha duas vezes no mesmo rio"- teria dito enquanto nadava.

A propagada experiência - e aqui revelo preferência pela idéia das experimentações ,sem ser positivista ou algo semelhante,mas o termo maturidade me irrita pelo simples fato de que o fruto quando maduro cai de podre- nos conduz a um distanciamento mais sereno,menos pré-conceituoso diante dos acontecimentos.Você já mapeou algumas-poucas na verdade- encruzilhadas e sacou que a fronteira não está mais lá.Não só se deslocou ,mas parece ter desaparecido de vez.É como se certas fundações não tivessem sido tão fundamentais assim.Um grande teatro repleto de possibilidades.É o que há.É o que certa caminhada nos apresenta.

Décadas atrás, e aí o tempo já nos dá essa autoridade de argumento´,ao menos enquanto trajetória percorrida,o futuro demorava mesmo muito tempo. Uma profecia do filósofo marxista Althusser.

'Now' , ele deixou de ser uma elocubração mítica e se aproxima.Afinal, caminha-se para frente.

Em outra certa ocasião, o hiper-democrata Michel Foucault, declarara o seu horror pela carteira de identidade.Considerava esse troço ,com a fotografia sempre errada ,algo muito invasivo.

Fico a vislumbrar esse tão importante pensador francês, se vivo estivesse , a conviver com celulares apitando em todos os bolsos, de quaisquer nacionalidade.A telefonia da loucura,sua clínica.

Resgatando Foucault ,lembrei-me portanto que esgueirar-se é preciso.Tornar-se eficazmente invisível,apesar das tentações que qualquer furor exibicionista possa nos suscitar.E somos espontaneamente exibidos,desde quando éramos,há poucos minutos-horas ,jovenzinhos.E também espontaneamente vinculados a um conceito Deus,confundido com algumas carteiras de identidade e suas fotografias erradas.

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