Marcadores

terça-feira, 23 de março de 2010

Assassinatos e crianças

O que nos faz escrever é vontade de contar uma historinha que lhe ocorreu.Li, recentemente, que as historinhas estão ganhando espaço no lugar das auto-ajudas literárias.Menos mal.
Mas o que me fez escrever algo aqui foi um e-mail saudosista de uma querida amiga,publicado no seu blog, e que me fez pensar:saudade agora é vez ou outra e olhe lá.
Tenho a impressão que estou me despedindo pra valer de certas coisas.Já não era sem tempo.Isso é um sintoma sujo-como todo sintoma,como toda idiossincrasia,como todo temperamento o são.
Portanto,tenho saudades que passam rápido hoje em dia.Saudades que se podem reencontrar,diga-se de passagem.Aquela outra que desapareceu e nunca mais,fudeu.É injeção na testa,porrada no estômago!
Mas insisto nas imagens e odores-seria praga proustiana?-, que me remetem aos lugares de minha juventude,de minha infância,onde por certo não fui feliz.Não existe infãncia feliz.Você ,esse moço que escreve essas linhas e todo mundo tem momentos de felicidade,mas infãncia feliz não há.
Imagine toda aquela contenção,todo o aparato repressivo ,porque necessário,a conter os nossos tesões e impulsos desde crianças!Felicidade postergada.Os aparelhos de repressão hoje parecem não funcionar muito bem em certas regiões.
Então jogamos crianças pela janela afora.Não que não se fizesse isso antes- antigamente vivia-se mais em casas térreas- ,mas era menos comum.Sobretudo, se foi o papai -com cara de maluco- de classe média,mulherzinha-monstrinho- bonitinha ao lado, etcetera.
Uma certa criança jogada já morreu vinte vezes,no gigantesco circo neurótico que é o mundo.Certamente, já entenderam que ela não morrerá nunca.Ela,tal e qual todos nós, perecerá tão somente.Essa experiência de morte,pelo nunca jamais visto,não há.
Talvez por isso que um importante advogado disse que o crime de homicídio ,com dolo ou não, tem que ser exibido mesmo,explorado.Ele só não disse o porquê.Será que é porque acredita na hipótese de que a exibição inibirá outras tentativas?Doce ilusão. Ou seria um ataque narcísico para exibições de magistrados ,em tempos de Robinhos,Sangalos e Batistas?Eu confesso: Tenho inveja!E não jogo crianças pela janela....até agora pelo menos.
A minha saudade então foi cínica.Relembrei os obituários onde crianças ,aos meus pobres olhos infantis, não apareciam mortas. No meu lindo mundinho de araque,pois a fome,a miséria, outras formas de violência,etecetera já rondavam berços mundo afora, retorno ao parque que um dia foi grande demais para as minhas pernas curtas.Lá, bati com o meu calhambeque na árvore plantada por um herói desconhecido.Sou outro que passeia no parque.

Um comentário:

Anônimo disse...

pra mim, saudade só de gente. A vida tá rolando, não dá pra sentir saudade do que é...