Armando e eu tínhamos muitas coisas em comum. Gostávamos das mulheres,do vinho,da boa mesa,do futebol,da música...e Armando gostava ainda de alçar voo. Pilotava aeronaves céu aberto no Rio de Janeiro, a cidade que escolhera para sobrevoar eternamente.
Foi aí que desvelei então que as aeronaves não eram indestrutíveis,que elas poderiam se chocar e se incendiar ,e que elas não interromperiam seu passeio mesmo que os seus freios fossem teimosos em não ceder aos apelos desesperados do seu comandante. Portanto, comecei a ter certos receios tão logo os brinquedinhos com asas se assanham na pista. Armando,ao contrário, começou a decolar com toda a ousadia prudente que ele consentia ao próprio Nogueira .Tornou-se piloto.
Para se ter uma ideia de sua coragem e destemor ,iniciou seus estudos de gaita já por volta dos sessenta anos e a jogar tênis também em idade superior àquela em que usualmente a maioria inicia suas raquetadas.
Um dia,o já consagrado jornalista , teve que retornar à terra natal,lá no Acre,pois alguém insistia na sua morte. Visto que por telefone não fora possível convencer o conterrâneo algoz,nosso cronista partiu em viagem . Chegando no longínquo Estado do Norte Brasileiro se apresentou:'sou Armando Nogueira,o morto'.
O rapaz ou a moça – não me lembro ao certo,mas creio que moça alguma faria isso com o poeta do esporte – não se fez de rogado e insistiu que ele estava morto:'Armando Nogueira morreu em tal dia ,tal hora,.tal lugar e ponto.'Seria um ponto final ou uma exclamação aflita?
ENTÃO ME DIGA COMO É QUE EU POSSO PROVAR QUE ESTOU VIVO?-TERIA IMPLORADO O POETA.
O final dessa história você poderá encontrar num dos seus 10 ótimos livros publicados ao longo de sua longa e profícua vida.
Essa discussão,dependendo do grau de saúde mental dos envolvidos,promete elucubrações das mais diversas. Poderão alguns podem apelar para argumentações metalinguísticas,tola ambição ainda presente. Estou morto,mas ainda falo?Falo ,logo sou?Se vivo ,sei escutar?Escuto,logo hei?
Ele,nosso amigo, que segundo o filho acaba de decolar, provavelmente não cairia nessa. Sabia bem que não há nenhuma língua e/ou linguagem capaz de resolver todas as coisas,falar sobre tudo o que há,superar tudo o que já se falou,englobar todas as línguas já existentes. Essa sempre foi a expectativa ingenuamente neurótica da ciência ,das religiões,da própria Filosofia. Um teorema,isto é, uma máquina de repetição, que procura dar sentido, de explicar minimamente sobre fatos ,conseguir abranger todos os saberes,todos os conhecimentos pode ser extremamente sedutor ,mas não convence mais. Pelo menos a um computador quântico.
Quando discordei de Armando,num texto que somente 5 ou 6 leram, foi tão somente uma cutucada para esquentar o debate entre futebol vistoso x futebol competitivo.
Debate inócuo no meu entender. O futebol da melhor seleção de todos os tempos,a de 1970,não era competitivo e altamente vistoso,belo?Mas o que importa não é ganhar? Infelizmente – ou não?-, o romantismo,que acompanhou esquemas táticos,posturas e cronistas e torcedores por muito t empo, morreu nos gramados de hoje.
O dinheiro em profusão nas mãos ainda juvenis,imaturas, e a exploração dessas mesmas almas ,para mim, estão acabando aos pouquinhos com o esporte bretão. Sem contar com o exílio voluntário dos ditos craques. Creio que ele concordaria
Armando decretou: Garrincha era aquele que fazia de um pequeno lenço de papel um latifúndio.
Armando Nogueira foi o cronista-poeta que re- inventava o salto, o drible,o passe,o bloqueio, a cada momento, a todo lance. Ele conseguiu transformar o mal-dito “replay” em algo humanamente viável. Nélson,O Rodrigues, que dissera que todo vídeo tape era burro talvez implicasse um pouco menos com o tal apetrecho tecnológico.
A folha em branco não o intimidava. Ela o instigava tal como bola de meia de menino pequeno descalço que corre, que salta e continua a correr,agora levanta o braço ,dá um salto no ar e gira gritando é GOL!!!!É gol do Seu Armando!!!
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