Apresentada como um poste ,numa revista suspeita ,pois excessivamente parcial, a SRA. Dilma Rousself,Ministra da Casa Civil,continua na sua peregrinação tentando convencer o país de que ela vale à pena, de que ela é bacana ,séria e até simpática.
A fragilidade política do país - e não é só aqui que se dá esse infortúnio - faz com que o Presidente analfa apele para mais uma forma populista de governar ao lançar a candidatura ,com um ano e tanto de anecedência, da sua coelhinha ,retirada da cartola .
Dilma Rousself não tem trânsito junto aos parlamentares e é acusada ,vez e sempre ,de autoritária por quem já esteve por perto. No camarote vulgar carnavalesco (todo mundo adora boca livre!!!) quando a Ministra se foi alguns comentários se fizeram escutar: "A Madonna já se mandou e a Mandona também.Ufa"!
Já foi secretária de governo algumas vezes no Rio Grande do Sul, sua terra. Lugar onde mulheres de bombacha fazem bastante sucesso .
Ela foi líder estudantil,guerrilheira, torturada - pode ser cargo vitalício aqui- etcs.
Numa conversa hoje ficou claro a antipatia que as mulheres, e sobretudo as mulheres, têm pela Dona Dilma.Não é curioso?Logo as mulheres....
Um outro alguém , que tem opinião sobre tudo e por conseguinte fala um monte de asneiras, disse que a moça era subversiva.Aí Eu Pensei: então a Dilma é o máximo.Porque tudo o que temos na patifaria política brasileira ,salvo preciosas e raras excessões,é gente conformada,deprimida,perversa,desonesta,louca,etc.Alguém que quer subverter a baixaria deve ser interessante à beça...Engana-se quem se orientar por esse prisma.Dilma é o retrato do autoritarismo esquerdóide- tão nocivo quanto qualquer autoritarismo destro- .
Ela não suporta qualquer questionamento sobre a sua pretensa competência.No epísódio APAGÃO,em Novembro do ano passado,isso ficou muito claro.A EX-Ministra das Minas e Energia ficou às escuras .
E o Presidente Lula 'The Guy" parece que tem um partido Próprio: OPT DO L e D.
Faltam alguns meses para o circo eleitoral,e as chuvas devastadoras já trouxeram mais estragos do que se pode imaginar. José Serra,ao que tudo indica, mudou-se para o sertão.E ele não vira- mar.Ao menos até Outubro de 2010.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Quando os fundamentos caducam
Quando os fundamentos caducam,desabam, é hora de virar gente pra valer.
Contemporanizar-se com o seu tempo,vislumbrar as entrelinhas ,lembrar que se caminha o tempo todo sob e sobre as nuvens.Saber que paralisar-se olhando para trás ,só pelo fato de que lá frente talvez o que seja fim não seja e nem haja final algum,na verdade , é uma neurose muito antiga.
O chão, gravítico,tectônico por natureza desliza feito passista bamba do samba.
Picasso,também belo sambista, certa vez pintara sob encomenda o quadro de uma senhorita bela e socialmente importante.Diante do que viu,a moça esbravejou e disse que o pintor era louco.Ele apenas a retratou como a via.Ela ,por sua vez,tinha outro olhar para si.
A tal senhorita por certo não gostou das formas não euclidianas,simétricas,bem orientadas,em tons de cores neutras ( do tipo que pode combinar com o sofá da sala para visitas) e que não compunham o olhar, naquele momento, do grande artista.Na verdade,aquilo tudo estava sendo ultrapassado por ele.
Essa ditadura do euclidianamente correto invadiu o mundo todo há séculos.As artes plásticas,a música,o teatro ,seja ele burguês ou pra valer, etc.
Vejo-me vez em quando igualzinho a esses caretas quando diante de uma diferença radical, ao que é tão caro aos tantos sintomas que me norteiam, a dificuldade em reconhecer aquilo como mais um sintoma,mais um tesão vigente.
Você pode ter o direito de não gostar ,mas reconhecer que é válido. E matar sem ser por legítima defesa?
Aí não pode , pois a diferença é excluída de cara.Mas também pode,senão o que teria acontecido no mundo todo por esses tempos com sua história pouco louvável?
Temos ,porém, toda liberdade para desejar essas maravilhas que são meras consequências da nossa inadimplência ,pelo fato de que o nosso desejo de última instância,porque primeira, não se realiza.
Sem culpa.A culpa é uma vergonha indolente,preguiçosa.
Aprendi em livro recém publicado que Chinês que é Chinês não sofre de culpa alguma.Ele reconhece a bobagem que fez e tenta consertá-la.
Contemporanizar-se com o seu tempo,vislumbrar as entrelinhas ,lembrar que se caminha o tempo todo sob e sobre as nuvens.Saber que paralisar-se olhando para trás ,só pelo fato de que lá frente talvez o que seja fim não seja e nem haja final algum,na verdade , é uma neurose muito antiga.
O chão, gravítico,tectônico por natureza desliza feito passista bamba do samba.
Picasso,também belo sambista, certa vez pintara sob encomenda o quadro de uma senhorita bela e socialmente importante.Diante do que viu,a moça esbravejou e disse que o pintor era louco.Ele apenas a retratou como a via.Ela ,por sua vez,tinha outro olhar para si.
A tal senhorita por certo não gostou das formas não euclidianas,simétricas,bem orientadas,em tons de cores neutras ( do tipo que pode combinar com o sofá da sala para visitas) e que não compunham o olhar, naquele momento, do grande artista.Na verdade,aquilo tudo estava sendo ultrapassado por ele.
Essa ditadura do euclidianamente correto invadiu o mundo todo há séculos.As artes plásticas,a música,o teatro ,seja ele burguês ou pra valer, etc.
Vejo-me vez em quando igualzinho a esses caretas quando diante de uma diferença radical, ao que é tão caro aos tantos sintomas que me norteiam, a dificuldade em reconhecer aquilo como mais um sintoma,mais um tesão vigente.
Você pode ter o direito de não gostar ,mas reconhecer que é válido. E matar sem ser por legítima defesa?
Aí não pode , pois a diferença é excluída de cara.Mas também pode,senão o que teria acontecido no mundo todo por esses tempos com sua história pouco louvável?
Temos ,porém, toda liberdade para desejar essas maravilhas que são meras consequências da nossa inadimplência ,pelo fato de que o nosso desejo de última instância,porque primeira, não se realiza.
Sem culpa.A culpa é uma vergonha indolente,preguiçosa.
Aprendi em livro recém publicado que Chinês que é Chinês não sofre de culpa alguma.Ele reconhece a bobagem que fez e tenta consertá-la.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Carnaval e heróis
E quem diria que há carnaval em Sampa?
As transmisões carnavalescas nos apresentam um espetáculo de um esforço notável.Mas há algo que escapa...Não sei se é porque enquanto carioca estou acostumado com um quadro mais ou menos delimitado,há muito tempo....ou seja, o olhar está viciado.Se bem que baiano ,recifense, etc do nordeste fazem o seu próprio espetáculo,com estilo singular e que se danem as mulatas gostosas , ciliconadas ou não,do carnaval carioca.
Creio que se insistirem na imitação sempre ficarão para trás. É só olhar e comparar.
Lembro-me de uma época em que cada carnaval no Rio, falo de uns 15,20 anos atrás,o bacana era se mandar do Rio.Quem ficava ,sobrava.
Alguns ficantes - e nessa época o termo referia-se aos que permaneciam na ex-cidade maravilha e não aqueles que mudam de companhia a cada ida ao banheiro químico- sofriam até de depressão. Não encontravam viva alma conterrânea.O famoso bloco Suvaco de Cristo desfilava pelo Jardim Botânico tranquilamente,durante o carnaval. Hojendia,tem que ocultar o horário do seu desfile pré-carnavalesco.
Lembro-me do ano de 1986 quando sobrei.
Fui ao Clipper, boteco nobre do Leblon,localizado em frente do cinema que leva o nome do mesmo bairro, e por lá perdiam-se algumas almas.Um deles tinha o apelido de incrível Hulk.A única diferença é que não era verde.
O sujeito era enorme.Tinha de bíceps e tríceps uns 46 centímetros.
Travamos um empolgante carnavalesco monólogo e rumamos ao Clube Federal.
O Clube Federal,localizado no Alto Leblon,zona nobre da cidade , tinha um carnaval família maravilhoso até então.Carnaval maravilhoso-família até então significava : ainda se pensa que há virgens no samba.
Uma vez lá , apresentei o meu ingresso na porta de entrada assim que me foi solicitada.
Uma voz me dizia:" Quem tem ingresso ,por favor, levante a mão e exiba para o porteiro"
Crente,exibi o meu ingresso,cheio de orgulho.
Numa fração de segundos ,uma mão adestradíssima roubou-o. Vapt,Vupt!Já era o meu tão disputado ingresso.
Incrédulo, fiquei paralisado.Senti-me o último dos foliões,dos arlequins, dos rufiões, etc,etc.
O que fazer então?
Olhei para trás e vi dois marginais , estavam à margem da festa, com um sorriso lateral cínico,a triunfar sob meu desencanto.Eram grandinhos,maiores do que eu e decidi não indagar-lhes sobre o ocorrido.
Poderia levar um tabefe ou dois.Morrer e não concorrer a um dos prêmios do desfile de fantasia mais próximo.Aquele do Hotel Glória!Já imaginaram que sucesso...Ao lado daquelas bichas todas...
Desistindo inconformado,virei=me para ir embora.PEGAR o carro ,desmoralizado,estacionar no Cervantes ,no Leme, comer algo e tomar a saideira ,pareciam destino certo e mais apropriado.
De repente ,aquela mão quase verde acenou para mim.Acenei de volta e lhe disse que estava sem ingresso.'FUI ROUBADO. ALGUM FILHO DA PUTA AQUI ME ROUBOU!'Gritava a plenos pulmões!!!
FOi então que o meu HULk singular DESCEU A ESCADA QUE DAVA ACESSO AO SALÃO, FALOU COM O SEGURANÇA ,saiu porta afora e perguntou gentilmente:
"Quem foi o escroto que roubou o meu amigo aqui,quase careca"??!!!
Para quem é incrédulo em relação aos milagres, num átimo de segundo, o meu precioso ingresso estava de volta às minhas mãos.
Nada mais carnavalesco,nada mais mágico do que ser salvo no carnaval por um super-herói.
E tem gente que não acredita.....
As transmisões carnavalescas nos apresentam um espetáculo de um esforço notável.Mas há algo que escapa...Não sei se é porque enquanto carioca estou acostumado com um quadro mais ou menos delimitado,há muito tempo....ou seja, o olhar está viciado.Se bem que baiano ,recifense, etc do nordeste fazem o seu próprio espetáculo,com estilo singular e que se danem as mulatas gostosas , ciliconadas ou não,do carnaval carioca.
Creio que se insistirem na imitação sempre ficarão para trás. É só olhar e comparar.
Lembro-me de uma época em que cada carnaval no Rio, falo de uns 15,20 anos atrás,o bacana era se mandar do Rio.Quem ficava ,sobrava.
Alguns ficantes - e nessa época o termo referia-se aos que permaneciam na ex-cidade maravilha e não aqueles que mudam de companhia a cada ida ao banheiro químico- sofriam até de depressão. Não encontravam viva alma conterrânea.O famoso bloco Suvaco de Cristo desfilava pelo Jardim Botânico tranquilamente,durante o carnaval. Hojendia,tem que ocultar o horário do seu desfile pré-carnavalesco.
Lembro-me do ano de 1986 quando sobrei.
Fui ao Clipper, boteco nobre do Leblon,localizado em frente do cinema que leva o nome do mesmo bairro, e por lá perdiam-se algumas almas.Um deles tinha o apelido de incrível Hulk.A única diferença é que não era verde.
O sujeito era enorme.Tinha de bíceps e tríceps uns 46 centímetros.
Travamos um empolgante carnavalesco monólogo e rumamos ao Clube Federal.
O Clube Federal,localizado no Alto Leblon,zona nobre da cidade , tinha um carnaval família maravilhoso até então.Carnaval maravilhoso-família até então significava : ainda se pensa que há virgens no samba.
Uma vez lá , apresentei o meu ingresso na porta de entrada assim que me foi solicitada.
Uma voz me dizia:" Quem tem ingresso ,por favor, levante a mão e exiba para o porteiro"
Crente,exibi o meu ingresso,cheio de orgulho.
Numa fração de segundos ,uma mão adestradíssima roubou-o. Vapt,Vupt!Já era o meu tão disputado ingresso.
Incrédulo, fiquei paralisado.Senti-me o último dos foliões,dos arlequins, dos rufiões, etc,etc.
O que fazer então?
Olhei para trás e vi dois marginais , estavam à margem da festa, com um sorriso lateral cínico,a triunfar sob meu desencanto.Eram grandinhos,maiores do que eu e decidi não indagar-lhes sobre o ocorrido.
Poderia levar um tabefe ou dois.Morrer e não concorrer a um dos prêmios do desfile de fantasia mais próximo.Aquele do Hotel Glória!Já imaginaram que sucesso...Ao lado daquelas bichas todas...
Desistindo inconformado,virei=me para ir embora.PEGAR o carro ,desmoralizado,estacionar no Cervantes ,no Leme, comer algo e tomar a saideira ,pareciam destino certo e mais apropriado.
De repente ,aquela mão quase verde acenou para mim.Acenei de volta e lhe disse que estava sem ingresso.'FUI ROUBADO. ALGUM FILHO DA PUTA AQUI ME ROUBOU!'Gritava a plenos pulmões!!!
FOi então que o meu HULk singular DESCEU A ESCADA QUE DAVA ACESSO AO SALÃO, FALOU COM O SEGURANÇA ,saiu porta afora e perguntou gentilmente:
"Quem foi o escroto que roubou o meu amigo aqui,quase careca"??!!!
Para quem é incrédulo em relação aos milagres, num átimo de segundo, o meu precioso ingresso estava de volta às minhas mãos.
Nada mais carnavalesco,nada mais mágico do que ser salvo no carnaval por um super-herói.
E tem gente que não acredita.....
domingo, 7 de fevereiro de 2010
O automóvel,o délírio,o bloco e as moças
Sobrevivo a um calor cruel.Clamar pela água que brota dos céus carregados é temerário.Na metrópole maior já se cogitam barcos ao invés de outros veículos gravíticos.Aliás, será que haverá automóvel num futuro não tão distante? Gosto muito dos automóveis desde pequeno, quando da janela do meu quarto debruçava-me sobre o parapeito a contemplar as máquinas de então.
O filho da síndica - já falecido- possuía um dos modelos mais novos do mercado precário do país.E ele o tratava com cuidado extremo. Essa perna a mais ,ou ainda, essas pernas mecânicas eficientes também podem matar e o fazem em demasia por esses lados.Mas quem é o comandante da jeringonça?Ela ,por enquanto,não sai sozinha estrada afora.E tem, como o resto de nós,de nossas tripas, de outros órgãos,limitações.Não se movem nem para cima e nem para os lados.
O s automóveis daqui nos invadiram no fim dos anos 50.Seu mentor, em companhia com os estadunidenses,fora o presidente Bossa-Nova,Juscelino K. De Oliveira.Como se escreve o nome do meio mesmo?Será que já se enquadrou na nova reforma ortográfica?
Ao invés dos trens,eficientes ,menos perigosos,a um bom custo,a nação Brasilis tornar-se-ia um país dos automóveis. A atual capital (sempre tenho a esperança de que um outro Presidente terá um outro sonho e mudará pela quarta vez a sede da nossa capital), Brasília, tem mais de um milhão de carros e um sistema público de transporte precário.O tal metrô de lá ,encoberto por denúncias de corrupção,é insignificante e desprezado pela classe média e alta burguesias locais.Parte dessa população é oriunda de pequenas cidades do inteiro do país ou de Estados Nordestinos, onde automóvel funciona quase como um título ,um brasão,uma comenda ,uma conquista importante. Em algumas cidades brasileiras o motorista ,seu nome, ocupação ou o último poema escrito pouco importam. Sua identidade está atrelada ao modelo de automóvel que ele tem.'Ah! Aquele fulano do calhambeque tal"!Claro que eu o conheço.É um canalha que dirige o....Não gosto dele ,mas a minha filha gosta'! Seria um plágio daquela versão musical de Chico Buarque?E assim se estabelecem alguns vínculos importantes para certas criaturas motorizadas.
Conheci um sujeito num boteco certa vez.Homem que hoje está com quase 80 anos e bem doente.Sempre achei que ali habitava algum comprometimento emocional um pouco mais sério,visto que ele acreditava demais nos próprios delírios. Era o recordista de cartas para o falecido Jornal do Brasil.Alertava os jornalistas na redação sobre o que estava a produzir e que aquilo que fora publicado tinha ressonância com a sua obra.
Engenheiro de formação,é homem culto.Fascinado pelo cinema ,desistiu do mesmo.Iria perder muito tempo ali dentro.E ele não poderia perder tanto tempo,afinal a sua produção lhe consumia muito.Desenhava muito bem e as artes plásticas o atraíam mais.
Desenvolveu afeição por mim ,não só pelo meu trabalho e estudo em torno da Psicanálise,mas pelas minhas aventuras pelos textos políticos,obras literárias, etc. Chamava-me de Carlinhos.
Diversas vezes fugi dele.Era cansativo. Parecia uma usina de força que não cessa de não cessar.Outras vezes,deixava-o falando só para ir ao banheiro.Quando retornava ,ele estava a prosseguir com sua matraca delirantemente disparada. Num desses ataques,perguntei-lhe:
-Não entendi o que disse.
O silêncio foi ruidoso,quatro oitavas. Ele estava mexido.Teria que organizar as loucuras de um modo mais inteligível.Sorriu e mudou de assunto.Eu ,precavidamente, não insisti que voltasse ao tema.Não estávamos num consultório de psicanálise e nem ele havia demandado tal intervenção para mim.Contudo,desenhava-se um quadro cada vez mais claro de como funcionava,ao menos um pouco, a sua mente.
Freud sempre tivera razão quanto aos sintomas psicóticos.
Os delírios nada mais são do que uma produção de idéias,frases,imagens,sons,dentre outras inúmeras formações possíveis que tentam dar conta do que se chama realidade.Seja ela virtual ou não.E quem pode garantir o contrário?Todavia,ao chamar aos fatos aquele que a anuncia ,ou seja, a fala, a articulação de idéias,conceitos, etc, costumamos surpreender os que realmente não sabem o que estão a dizer.Aquilo quase sempre não se deu ou não foi bem daquele jeito que o rebolado aconteceu.Agora, por exemplo, estou escrevendo esse texto e escutando uma canção.Não estou num avião rumo à China ou submerso na métropole molhada.Há pelo menos uma testemunha.
O engenheiro não gostava de automóveis.Considerava-os todos armas do demônio.Parece que perdera amigo querido em acidente.O que apreciava mesmo era caminhar pelas ruas ensolaradas de nossa cidade ex-maravilha a contemplar as mocinhas e suas minúsculas fantasias de verão.Chamava-as de deusas com venenos mortais! Era também inventor.Fabricava por conta própria utensílios domésticos brilhantes.Copos gelados para bebidas,guarda-sol portátil e fácil de carregar, cadeira elétrica feita com rodas de poliuretano para não arranhar o assoalho de casa e facilitar o deslocamento na mesma, controle multiuso -muito antes de colocarem no mercado-, entre outros inventos.
Não sei se continua vivo o meu então amigo.É que hoje ,retornando para casa numa tarde ensolarada de meninas vestidas venenosamente,não vi os carros abominados por ele.Estavam de castigo para ver o bloco de carnaval passar. O diabo estava de repouso.
O filho da síndica - já falecido- possuía um dos modelos mais novos do mercado precário do país.E ele o tratava com cuidado extremo. Essa perna a mais ,ou ainda, essas pernas mecânicas eficientes também podem matar e o fazem em demasia por esses lados.Mas quem é o comandante da jeringonça?Ela ,por enquanto,não sai sozinha estrada afora.E tem, como o resto de nós,de nossas tripas, de outros órgãos,limitações.Não se movem nem para cima e nem para os lados.
O s automóveis daqui nos invadiram no fim dos anos 50.Seu mentor, em companhia com os estadunidenses,fora o presidente Bossa-Nova,Juscelino K. De Oliveira.Como se escreve o nome do meio mesmo?Será que já se enquadrou na nova reforma ortográfica?
Ao invés dos trens,eficientes ,menos perigosos,a um bom custo,a nação Brasilis tornar-se-ia um país dos automóveis. A atual capital (sempre tenho a esperança de que um outro Presidente terá um outro sonho e mudará pela quarta vez a sede da nossa capital), Brasília, tem mais de um milhão de carros e um sistema público de transporte precário.O tal metrô de lá ,encoberto por denúncias de corrupção,é insignificante e desprezado pela classe média e alta burguesias locais.Parte dessa população é oriunda de pequenas cidades do inteiro do país ou de Estados Nordestinos, onde automóvel funciona quase como um título ,um brasão,uma comenda ,uma conquista importante. Em algumas cidades brasileiras o motorista ,seu nome, ocupação ou o último poema escrito pouco importam. Sua identidade está atrelada ao modelo de automóvel que ele tem.'Ah! Aquele fulano do calhambeque tal"!Claro que eu o conheço.É um canalha que dirige o....Não gosto dele ,mas a minha filha gosta'! Seria um plágio daquela versão musical de Chico Buarque?E assim se estabelecem alguns vínculos importantes para certas criaturas motorizadas.
Conheci um sujeito num boteco certa vez.Homem que hoje está com quase 80 anos e bem doente.Sempre achei que ali habitava algum comprometimento emocional um pouco mais sério,visto que ele acreditava demais nos próprios delírios. Era o recordista de cartas para o falecido Jornal do Brasil.Alertava os jornalistas na redação sobre o que estava a produzir e que aquilo que fora publicado tinha ressonância com a sua obra.
Engenheiro de formação,é homem culto.Fascinado pelo cinema ,desistiu do mesmo.Iria perder muito tempo ali dentro.E ele não poderia perder tanto tempo,afinal a sua produção lhe consumia muito.Desenhava muito bem e as artes plásticas o atraíam mais.
Desenvolveu afeição por mim ,não só pelo meu trabalho e estudo em torno da Psicanálise,mas pelas minhas aventuras pelos textos políticos,obras literárias, etc. Chamava-me de Carlinhos.
Diversas vezes fugi dele.Era cansativo. Parecia uma usina de força que não cessa de não cessar.Outras vezes,deixava-o falando só para ir ao banheiro.Quando retornava ,ele estava a prosseguir com sua matraca delirantemente disparada. Num desses ataques,perguntei-lhe:
-Não entendi o que disse.
O silêncio foi ruidoso,quatro oitavas. Ele estava mexido.Teria que organizar as loucuras de um modo mais inteligível.Sorriu e mudou de assunto.Eu ,precavidamente, não insisti que voltasse ao tema.Não estávamos num consultório de psicanálise e nem ele havia demandado tal intervenção para mim.Contudo,desenhava-se um quadro cada vez mais claro de como funcionava,ao menos um pouco, a sua mente.
Freud sempre tivera razão quanto aos sintomas psicóticos.
Os delírios nada mais são do que uma produção de idéias,frases,imagens,sons,dentre outras inúmeras formações possíveis que tentam dar conta do que se chama realidade.Seja ela virtual ou não.E quem pode garantir o contrário?Todavia,ao chamar aos fatos aquele que a anuncia ,ou seja, a fala, a articulação de idéias,conceitos, etc, costumamos surpreender os que realmente não sabem o que estão a dizer.Aquilo quase sempre não se deu ou não foi bem daquele jeito que o rebolado aconteceu.Agora, por exemplo, estou escrevendo esse texto e escutando uma canção.Não estou num avião rumo à China ou submerso na métropole molhada.Há pelo menos uma testemunha.
O engenheiro não gostava de automóveis.Considerava-os todos armas do demônio.Parece que perdera amigo querido em acidente.O que apreciava mesmo era caminhar pelas ruas ensolaradas de nossa cidade ex-maravilha a contemplar as mocinhas e suas minúsculas fantasias de verão.Chamava-as de deusas com venenos mortais! Era também inventor.Fabricava por conta própria utensílios domésticos brilhantes.Copos gelados para bebidas,guarda-sol portátil e fácil de carregar, cadeira elétrica feita com rodas de poliuretano para não arranhar o assoalho de casa e facilitar o deslocamento na mesma, controle multiuso -muito antes de colocarem no mercado-, entre outros inventos.
Não sei se continua vivo o meu então amigo.É que hoje ,retornando para casa numa tarde ensolarada de meninas vestidas venenosamente,não vi os carros abominados por ele.Estavam de castigo para ver o bloco de carnaval passar. O diabo estava de repouso.
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