Utilidade Pública. Sobre autoescola e pentelhos.
Um jornalista televisivo disse que o Detran faz exigências absurdas quando da realização do exame prático para a praticagem com os automóveis gravíticos. Veículos gravíticos são aqueles que só andam para frente e para trás. Não se movem para os lados nem para cima. Aqui na Terra Brasilis custam caro e são desvalorizados , no caso do veículo zero bala, na mesma proporção. Do ponto de vista de um investidor financeiro, isso pode ser uma roubada. Mas gostamos de certas roubadas e ainda é símbolo de status social, ter um carro bacana. Em alguns lugares do país, você ganha identidade mediante o carro que tem: ' AH.. o fulaninho ou fulaninha daquele carrão..'
Retornando ao que disse o jornalista, tenho essa experiência de absurdos do Detran RJ. Agora, que a exigência para a própria existência das autoescolas está em cheque, vou lhes contar. Primeiro, cabe esclarecer que os custos com as autoescolas se tornaram muito altos para o nosso povo. Uma quantidade imensa de postulantes não tira a carteira de habilitação ( Em SP , eles diziam carta) tanbém por isso.
Segundo, a historinha pessoal.
Tirei minha carteira em 1984, apesar de dirigir com o meu pai ao lado , desde 1981. E sem maiores denegações e enganações , sem aquele senhor ao lado também. Andei de Kart ( minha escola).
A carteira ou carta, mano, tinha validade até o cidadão/ã completar 40 anos! O Brasil funciona assim. Oito ou oito milhões.
Aos 40, disciplinado, fui renová-la. Para minha perplexidade , a minha carteira não era ilegal, mas não existia nos registros do Detran. A auto -escola , nome de uma Pessoa que começava com A, A de Afonso, acabara. A que comprou, tentou localizar nos arquivos mais antigos e.. nada. Rodei o país nesses 22 anos que me separavam da primeira vez...Com a carta.
Aluguei carro, parei em inúmeras abordagens policias ( Blitz) e tudo corria bem. Sofri acidentes, incidentes...
Um advogado procurou me auxiliar. Eu, ao saber pelo advogado que não conseguiria tão cedo ganhar a parada, pensei em acabar com tudo: jogar as perucas fora, mudar de time. Não. Isso jamais!
Palavra da moda, resiliência, tive que aceitar o destino, digamos, humilhante.
Porém, rebelde, driblei as aulas práticas e recebi alguns macetes do 'instrutor' da 'nova' autoescola. O carro a ser utilizado nessa guerra, era um gol bolinha , duas portas, geração 1333...Câmbio manual e direção não hidráulica. Para o público mais jovem cabe uma pequena digressão ( Eu já não gosto...) :
Direção manual é aquela que você trata, acaricia ,mais ou menos como um saco para treinos de boxe.
Lado a lado com o chamado instrutor, 'bubble car', no dia da batalha. Ilha do Fundão, o endereço. Só nós dois.
O tempo realmente é ficcional. A eternidade estava passando muito rapidamente. Chegou a minha vez. Tudo corria bem, coloco o carro na vaga. Pisca Pisca ou Alerta acionados, a senhora ao meu lado, a inspetora ou sei lá o quê, avisa e já pula fora daquela bolinha 2. Igual ao maldito em que treinei um tiquinho:
-'Reprovado'.- seca e grossa.
Encostei uma filigrana da borracha do pneu traseiro direito na maldita faixa amarela, com falhas na pintura. E mais: chovia nesse dia.
A coisa ruim disse que isso era suficiente para reprovação, pois ali poderia estar algum pedestre na calçada...Como é que é? Absurdos à parte , tive que retornar para mais uma prova ( Isso implica em gastos). Sobretudo, no seu saco! Para quem , obviamente, possui um e com dois auxiliares. E mais o VAR. E o dito cujo não é de forma alguma aquele do boxe.
Segunda vez, aprovado. Não fui a sós com o mesmo 'instrutor' , para a segunda e, felizmente, derradeira pancadaria. Tive a companhia de uma linda moça e dois pentelhos. Afinal, falávamos sobre partes baixas, boxe, golpe baixo... O outro suposto pentelho era discreto e mais quieto. Todos na faixa dos 19, 20 anos de idade.
Ao me ver, olhou seriamente e perguntou:
-Quantos anos você tem?- indagou o curioso.
- Um pouco mais que você. - resmunguei.
Estava de mal humor. Não era para menos.
Na volta do 'evento'- ele já tinha se informado sobre o ocorrido com esse pobre rapaz que recorda em letrinhas esses malfadados fatos- a poucos quarteirões da minha casa, éramos vizinhos de bairro, pedi para descer do bolinha 1. Rua atravessada , pouso seguro. Alívio em forma de gozo. O bolinha maldito tornara-se um aliado bacana. Ele segue o seu rumo
Opa.!O que, é o que é ? Um ser , parte do tronco para fora do agora saudoso bolinha, 'the first' , a falar em alto e inconveniente tom. E na rua em que nasci e moro:
- Na boa , tio ( Sobrinhos aparecem em cada hora...). Você era merrrrrmo ruim de roda.! Conta outra história!