No metrô lotado e apertado, a moça que se dirigia para o jogo de futebol ( Aliás, íamos para o mesmo evento) saca da bolsa um estojo de maquilagem e inicia seu ritual de embelezamento ferroviário subterrâneo. Chamou a atenção de quem estava por perto. Era simpática e foi logo antecipando indagações: " Vou encontrar com o meu namorado' . Será que ele , o namorado, também estava se preparando, quero dizer, passando maquilagem também.? Por que não? Você é que é maldoso com esse risinho invisível diante dessa pergunta!
Sair daquele inferno - parecia o caminho para o matadouro mais próximo. Normalmente, é uma estação mais adiante do que essa em que o trem se encontra- foi tarefa árdua.
A moça da maquilagem amorosa sabia todos os passos: ' Faz isso, faz aquilo; arma o cotovelo, protege o rosto...'
Ufa. Conseguimos. De preferência para nunca mais.
Mas , resta uma última curiosidade:
' Sabias que existem vagões só para mulheres nesse horário? E eles estão vazios'...
'Ah...Não ligo para o aperto..'
Entendemos a Black Friday ?
Aquela porta da loja se escancara e a mesma turma- igual aquela que estava para morrer sufocada no metrô ou ficar ensopada na chuva que não cessava - invade os brinquedos; destrói os brinquedos.
Eu não sei brincar disso. Logo, preciso escolher um outro play para jogar.
sábado, 30 de novembro de 2019
sexta-feira, 11 de outubro de 2019
A Chata
A chata.
Ela passa na sua frente e se dirige- na verdade interrompe- a sua, nesse caso a minha conversa com o livreiro, para pedir uma dica de livro. ????. Ela não tem ideia do que seja.
Ela quer dar um presente a uma amiga ( por um lado, eu fico contente porque até essas criaturas conseguem ter amigas, amigos) e não sabe.. Como não sabe?
O rapaz - que é antigo ali e parece ter cultura porque conhece sobre vários autores - pergunta sobre os interesses de leitura dessa AMIGA. " Ah...É uma pessoa densa. Tem que ser algo profundo" ...🍄🍌🍉🍆
Ele me olha com aquela cara que só quem não tem receio de dar na pinta, o tempo todo ou todo o tempo, sabe fazer. Antes que eu comece a rir, pensei em sugerir um vibrador ( já que ela queria mexer com profundezas) , mas por prudência, desisti. Sabemos que o Rio não está para boa pescaria.
Foi então que decidi dar uma dica, menos libidinosa , sei lá- até para colaborar com o amigo livreiro-, dizendo assim: " Que tal um livro sobre as plataformas petrolíferas e aqueles rapazes, mergulhadores, e que vão FUNDO pra valer?
Acho que ela não entendeu..
Além de chata era burrinha...
E o pior é que esses tipos andam em bando, hoje em dia. Agora mesmo... Vejam só! Entraram mais duas.
Ah... São as amigas. Pronto e ponto.
Vai ver que uma delas é a tal das fantasias pro-fun-das...😎😏😏.
Saudades de quando a Livraria da Travessa era só um lugar para quem queria fazer pequenas travessias; certas travessuras...😇
Ela passa na sua frente e se dirige- na verdade interrompe- a sua, nesse caso a minha conversa com o livreiro, para pedir uma dica de livro. ????. Ela não tem ideia do que seja.
Ela quer dar um presente a uma amiga ( por um lado, eu fico contente porque até essas criaturas conseguem ter amigas, amigos) e não sabe.. Como não sabe?
O rapaz - que é antigo ali e parece ter cultura porque conhece sobre vários autores - pergunta sobre os interesses de leitura dessa AMIGA. " Ah...É uma pessoa densa. Tem que ser algo profundo" ...🍄🍌🍉🍆
Ele me olha com aquela cara que só quem não tem receio de dar na pinta, o tempo todo ou todo o tempo, sabe fazer. Antes que eu comece a rir, pensei em sugerir um vibrador ( já que ela queria mexer com profundezas) , mas por prudência, desisti. Sabemos que o Rio não está para boa pescaria.
Foi então que decidi dar uma dica, menos libidinosa , sei lá- até para colaborar com o amigo livreiro-, dizendo assim: " Que tal um livro sobre as plataformas petrolíferas e aqueles rapazes, mergulhadores, e que vão FUNDO pra valer?
Acho que ela não entendeu..
Além de chata era burrinha...
E o pior é que esses tipos andam em bando, hoje em dia. Agora mesmo... Vejam só! Entraram mais duas.
Ah... São as amigas. Pronto e ponto.
Vai ver que uma delas é a tal das fantasias pro-fun-das...😎😏😏.
Saudades de quando a Livraria da Travessa era só um lugar para quem queria fazer pequenas travessias; certas travessuras...😇
terça-feira, 10 de setembro de 2019
O pecador e a pescaria
O pecador e a pescaria.🤔🤫
O ex- Ministro da Pesca, hoje, ele é prefeito do Rio, infelizmente para mim, utiliza esse novo modo de fazer política que parece paradoxal visto que faz e diz uma série de sandices, tolices e o troço , muitas vezes ( do ponto de vista político ) dá certo. Resulta em dividendos eleitorais, cartoriais e outros tantos quetais. Não necessariamente virtuosos e proveitosos para grande parte da população ( Nós) que depende dessas decisões governamentais para simplesmente sobreviver. Porém, eles faturam.
Mediante o fato de que certas formações vivas podem revirar, avessar , essa lógica , supostamente idiota, de dirigir-se principalmente aos seus supostos eleitores; os votos em branco e as abstenções , mesmo que através de frases ou atitudes patéticas, reacionárias, tem funcionado mundo afora. A imitação - sempre mais pobre do que a formação original- vem da estranja. No caso presidencial nosso é claramente surrupiado ( com consentimento e todo o resto) dos setores mais radicais da direita religiosa estadunidense.
Poderíamos até conjecturar uma espécie de novo populismo soft. Um refrigerante com novos venenos..Um fascismo light.
O voto nulo não foi aqui indicado porque tem voz própria . E inacreditavelmente não é considerado um voto válido.
Todos sabem , portanto, que a atitude do Sr Pastor-prefeito-pecador foi muito bem calculada. Assim como entrar em hospital para visitas de família exibindo uma pistola, ao lado do enfermo mais famoso, e para o self vulgar.
Se a gente pensa tão somente com referências euclidianas essa lógica pode parecer paradoxal. Mas não é.
Uma outra razão para essas posturas deve-se ao fato de que a classe política anda um tanto quanto desmoralizada mundo afora. Existem pouquíssimos bons exemplos de gestão eficaz, postura contemporânea, etc.
Proibir a venda de um livro- na última Micareta Literária- sobre tema que o incomoda tanto - Moralistas são figuras muito perigosas. Eles podem estar escondendo um tarado incurável, insaciável- incrementa ainda mais reações racistas, deletérias e pouco proveitosas de todas as partes. Dizendo pragmaticamente: reforço ainda mais as minhas posições e o meu eleitorado conhecido e o que posso faturar. Mesmo que isso cause um estrago social, econômico. Perversidade a todo vapor. Essa é a ideologia do momento.
Eu, por exemplo, procuro tomar conta e cuidado com as minhas estupidezes; com os meus racismos. Algumas tratadas como sintoma progressista pelo cinismo contemporâneo. Que aliás, está na crista da moda...
Referências tão somente euclidianas podem fazer supor que a terra é plana realmente. Mas como indica a sabedoria do mestre : ' Se você estiver embaixo... fica plano.'😂
O ex- Ministro da Pesca, hoje, ele é prefeito do Rio, infelizmente para mim, utiliza esse novo modo de fazer política que parece paradoxal visto que faz e diz uma série de sandices, tolices e o troço , muitas vezes ( do ponto de vista político ) dá certo. Resulta em dividendos eleitorais, cartoriais e outros tantos quetais. Não necessariamente virtuosos e proveitosos para grande parte da população ( Nós) que depende dessas decisões governamentais para simplesmente sobreviver. Porém, eles faturam.
Mediante o fato de que certas formações vivas podem revirar, avessar , essa lógica , supostamente idiota, de dirigir-se principalmente aos seus supostos eleitores; os votos em branco e as abstenções , mesmo que através de frases ou atitudes patéticas, reacionárias, tem funcionado mundo afora. A imitação - sempre mais pobre do que a formação original- vem da estranja. No caso presidencial nosso é claramente surrupiado ( com consentimento e todo o resto) dos setores mais radicais da direita religiosa estadunidense.
Poderíamos até conjecturar uma espécie de novo populismo soft. Um refrigerante com novos venenos..Um fascismo light.
O voto nulo não foi aqui indicado porque tem voz própria . E inacreditavelmente não é considerado um voto válido.
Todos sabem , portanto, que a atitude do Sr Pastor-prefeito-pecador foi muito bem calculada. Assim como entrar em hospital para visitas de família exibindo uma pistola, ao lado do enfermo mais famoso, e para o self vulgar.
Se a gente pensa tão somente com referências euclidianas essa lógica pode parecer paradoxal. Mas não é.
Uma outra razão para essas posturas deve-se ao fato de que a classe política anda um tanto quanto desmoralizada mundo afora. Existem pouquíssimos bons exemplos de gestão eficaz, postura contemporânea, etc.
Proibir a venda de um livro- na última Micareta Literária- sobre tema que o incomoda tanto - Moralistas são figuras muito perigosas. Eles podem estar escondendo um tarado incurável, insaciável- incrementa ainda mais reações racistas, deletérias e pouco proveitosas de todas as partes. Dizendo pragmaticamente: reforço ainda mais as minhas posições e o meu eleitorado conhecido e o que posso faturar. Mesmo que isso cause um estrago social, econômico. Perversidade a todo vapor. Essa é a ideologia do momento.
Eu, por exemplo, procuro tomar conta e cuidado com as minhas estupidezes; com os meus racismos. Algumas tratadas como sintoma progressista pelo cinismo contemporâneo. Que aliás, está na crista da moda...
Referências tão somente euclidianas podem fazer supor que a terra é plana realmente. Mas como indica a sabedoria do mestre : ' Se você estiver embaixo... fica plano.'😂
sexta-feira, 19 de julho de 2019
O que pensa o deputado 'Froda' sobre surf?
Não cabe ao excelentíssimo capitão-presidente decidir sobre a produção cultural no país. Ele não tem condições políticas nem tampouco intelectuais para isso.
Quer bancar o novo F. Collor que destruiu a Embrafilme, em 1990, e pagou uma conta muito alta junto à classe artística? Thereza Rachel e o esposo dela, o ex-ministro da cultura à época- ambos falecidos- que o digam. Somente as memórias falarão. Agora, os fuzis ( tátátátatátátarátatá) dirigem-se para Ancine.
O filme 'Bruna Surfistinha' foi um sucesso de público ( você pode gostar ou não; achá-lo uma porcaria; tanto faz) , e toca num ponto delicado para o moralismo classe média- cristã ( Saudades de Nelson Rodrigues, seu melhor analista).
História verídica. O que deixa a turma - os reacionários de sempre, apavorados ( e eu tenho os meus momentos de marcha ré também) - com aquela praticagem que não os incomoda tanto quando a realizam junto às filhas dos outros. Preferencialmente se for adversário político, clubístico, acadêmico - está repleto disso- ou ainda, daquele parente por quem sempre acalentou certo AMÓDIO explícito.
Recentemente, tivemos o COAF palaciano de Tóffoli ( antigo aliado do PT ) e que faz, agora, vista cega ao milhão e meio com motorista amigo de família, assim como milhão saindo de pizzaria;somos uma nação com farras de gastronomias!
Por isso os hambúrgueres e suas 'frituras'. Quem será o próximo?
Um filme de terror- daqueles tipo Z- ainda não terminou. Quem autorizou, por exemplo, o fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do seu motorista? Um ano e meio de tempo corrido.
Não há fome no país- o jornalista estrangeiro está em choque- e tampouco para trabalhar numa embaixada tão importante, estratégica, faz-se necessário o mínimo de credenciamento, expertise ou compostura. Eu, por exemplo, sei algumas palavras em Guarani. Querem ver? 'whisky'.
O pior do EUA instalou-se com tudo. E toda imitação tende a ser ainda pior.
Permaneço com essa indagação de cinéfilo incauto:
O que pensar da produção artística que trouxe popularidade vulgar ( não sou contra , muito pelo contrário, mas acho o filme da Surfistinha uma história infantil diante do 'ator parlamentar') a uma das novas lideranças mais ativas ( não sei se houve ato passivo na contra-cena) no parlamento federal ( ele é filiado ao mesmo partido palaciano do aqui-agora), o indefectível, Sr. Alexandre Frota? O que pensa a Cadillac? A 'embaixatriz' Gretchen quer a palavra? Também atuantes.
Faça um bom arroz com feijão - delícias saudáveis e afetuosas da nossa gente- para depois então checar se tens condições favoráveis para se arvorar na direção de algo um pouco mais requintado. Lamentável.🤮
Quer bancar o novo F. Collor que destruiu a Embrafilme, em 1990, e pagou uma conta muito alta junto à classe artística? Thereza Rachel e o esposo dela, o ex-ministro da cultura à época- ambos falecidos- que o digam. Somente as memórias falarão. Agora, os fuzis ( tátátátatátátarátatá) dirigem-se para Ancine.
O filme 'Bruna Surfistinha' foi um sucesso de público ( você pode gostar ou não; achá-lo uma porcaria; tanto faz) , e toca num ponto delicado para o moralismo classe média- cristã ( Saudades de Nelson Rodrigues, seu melhor analista).
História verídica. O que deixa a turma - os reacionários de sempre, apavorados ( e eu tenho os meus momentos de marcha ré também) - com aquela praticagem que não os incomoda tanto quando a realizam junto às filhas dos outros. Preferencialmente se for adversário político, clubístico, acadêmico - está repleto disso- ou ainda, daquele parente por quem sempre acalentou certo AMÓDIO explícito.
Recentemente, tivemos o COAF palaciano de Tóffoli ( antigo aliado do PT ) e que faz, agora, vista cega ao milhão e meio com motorista amigo de família, assim como milhão saindo de pizzaria;somos uma nação com farras de gastronomias!
Por isso os hambúrgueres e suas 'frituras'. Quem será o próximo?
Um filme de terror- daqueles tipo Z- ainda não terminou. Quem autorizou, por exemplo, o fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do seu motorista? Um ano e meio de tempo corrido.
Não há fome no país- o jornalista estrangeiro está em choque- e tampouco para trabalhar numa embaixada tão importante, estratégica, faz-se necessário o mínimo de credenciamento, expertise ou compostura. Eu, por exemplo, sei algumas palavras em Guarani. Querem ver? 'whisky'.
O pior do EUA instalou-se com tudo. E toda imitação tende a ser ainda pior.
Permaneço com essa indagação de cinéfilo incauto:
O que pensar da produção artística que trouxe popularidade vulgar ( não sou contra , muito pelo contrário, mas acho o filme da Surfistinha uma história infantil diante do 'ator parlamentar') a uma das novas lideranças mais ativas ( não sei se houve ato passivo na contra-cena) no parlamento federal ( ele é filiado ao mesmo partido palaciano do aqui-agora), o indefectível, Sr. Alexandre Frota? O que pensa a Cadillac? A 'embaixatriz' Gretchen quer a palavra? Também atuantes.
Faça um bom arroz com feijão - delícias saudáveis e afetuosas da nossa gente- para depois então checar se tens condições favoráveis para se arvorar na direção de algo um pouco mais requintado. Lamentável.🤮
quinta-feira, 11 de julho de 2019
O Nelson, Rodrigues, e o VAR. Sempre a des-razão.🤓🤔
Nelson Rodrigues já criticava o vídeo tape, o replay. Dizia que esse artifício padecia de uma certa burrice.
Imagino o Nelson diante do novo jogador, um décimo terceiro, visto que o décimo segundo é o torcedor, chamado de VAR. Na verdade, o VAR envolve outros jogadores-operadores.
O VAR, esse apetrecho novo que vem atormentando a vida dos boleiros/as, nasceu por acidente? Não. O VAR nasceu pela evolução tecnológica do nosso olhar.
O nosso olhar ou a nossa cegueira surge quando aparelhos eletrônicos, câmeras de alta definição, imagens tridimensionais, bisbilhoteiros, alcaguetes disfarçados de torcedores ou jornalistas ( muitas vezes , eles se confundem) passam a vigiar e interferir na jogada do craque ou do perna de pau. Até leitura labial do que dizem os atletas em campo já foi feita. O cidadão atleta tem que murmurar com a mãos cobrindo-lhes a boca. Caso contrário, o VAR e os dedo-duros vão te pegar. Detesto dedo-duro.
E após o encerramento das peladas, os profissionais da comunicação esportiva repetem, exaustivamente, através das suas resenhas e jornadas exportivas, um linchamento público daqueles olhos não tão tecnológicos, ou sejam: os antigos árbitros e suas constituições bióticas feitas de miopias, glaucomas, astigmatismos. E que antigamente, esses seres falíveis, vestiam-se só de preto. E usavam shortinho.. da mesma cor. Hoje, eles são multicoloridos.
Esses 'pobres diabos' que têm suas mamãezinhas expostas por anos ( agora, o ataque é direto a eles ) também não contam com pernas biônicas potentes e capazes de acompanhar a rapidez dos lances no decorrer das partidas de futebol.
Corre-se como nunca nos campos de jogo ( Parecem velocistas enrustidos: atletas e árbitros ), mas a habilidade foi ficando em segundo plano na maior parte dos embates.
A não ser a figura dos bandeirinhas, ainda falando sobre as autoridades em campo, e que permanecem 'estatuados' à beira do gramado. Dizem que esses- também nomeados auxiliares -estão mais introvertidos que os demais por causa desses tais pontos eletrônicos, biônicos. Porém, continuam errando como sempre.
O VAR é esse novo componente, bastante ativo e polivalente, do jogo de bola.
Mudou o jogo, portanto. Podemos gostar ou não. Podemos nos lixar para ele também.
O jogo agora é bem outro e as regras sempre foram claras para quem as conhece. O que não quer dizer que sejam os mesmos a decidir sobre essas mesmas tais regras.
Esse jogo o Rodrigues não conheceu. Por certo, esbravejaria; diria uns impropérios no asfalto. Jamais um beijo; jamais seria engraçadinha: a piada impropério.
Contudo e apesar de tudo, talvez, ele concordasse com o que um amigo meu costuma dizer: ' O que foi marcado é o fato acontecido. E ponto'.
O mundo é um lance cheio de ilusões. Por isso que o VAR é chato. E talvez também um asno. Ponto: Nelson continua com alguma des- razão.
Imagino o Nelson diante do novo jogador, um décimo terceiro, visto que o décimo segundo é o torcedor, chamado de VAR. Na verdade, o VAR envolve outros jogadores-operadores.
O VAR, esse apetrecho novo que vem atormentando a vida dos boleiros/as, nasceu por acidente? Não. O VAR nasceu pela evolução tecnológica do nosso olhar.
O nosso olhar ou a nossa cegueira surge quando aparelhos eletrônicos, câmeras de alta definição, imagens tridimensionais, bisbilhoteiros, alcaguetes disfarçados de torcedores ou jornalistas ( muitas vezes , eles se confundem) passam a vigiar e interferir na jogada do craque ou do perna de pau. Até leitura labial do que dizem os atletas em campo já foi feita. O cidadão atleta tem que murmurar com a mãos cobrindo-lhes a boca. Caso contrário, o VAR e os dedo-duros vão te pegar. Detesto dedo-duro.
E após o encerramento das peladas, os profissionais da comunicação esportiva repetem, exaustivamente, através das suas resenhas e jornadas exportivas, um linchamento público daqueles olhos não tão tecnológicos, ou sejam: os antigos árbitros e suas constituições bióticas feitas de miopias, glaucomas, astigmatismos. E que antigamente, esses seres falíveis, vestiam-se só de preto. E usavam shortinho.. da mesma cor. Hoje, eles são multicoloridos.
Esses 'pobres diabos' que têm suas mamãezinhas expostas por anos ( agora, o ataque é direto a eles ) também não contam com pernas biônicas potentes e capazes de acompanhar a rapidez dos lances no decorrer das partidas de futebol.
Corre-se como nunca nos campos de jogo ( Parecem velocistas enrustidos: atletas e árbitros ), mas a habilidade foi ficando em segundo plano na maior parte dos embates.
A não ser a figura dos bandeirinhas, ainda falando sobre as autoridades em campo, e que permanecem 'estatuados' à beira do gramado. Dizem que esses- também nomeados auxiliares -estão mais introvertidos que os demais por causa desses tais pontos eletrônicos, biônicos. Porém, continuam errando como sempre.
O VAR é esse novo componente, bastante ativo e polivalente, do jogo de bola.
Mudou o jogo, portanto. Podemos gostar ou não. Podemos nos lixar para ele também.
O jogo agora é bem outro e as regras sempre foram claras para quem as conhece. O que não quer dizer que sejam os mesmos a decidir sobre essas mesmas tais regras.
Esse jogo o Rodrigues não conheceu. Por certo, esbravejaria; diria uns impropérios no asfalto. Jamais um beijo; jamais seria engraçadinha: a piada impropério.
Contudo e apesar de tudo, talvez, ele concordasse com o que um amigo meu costuma dizer: ' O que foi marcado é o fato acontecido. E ponto'.
O mundo é um lance cheio de ilusões. Por isso que o VAR é chato. E talvez também um asno. Ponto: Nelson continua com alguma des- razão.
terça-feira, 25 de junho de 2019
Volpi&Giogi
A Pinacoteca de Botafogo é um casarão lindo, ali na São Clemente, perto do Morro Dona Marta, do Palácio da Cidade, do motel Panda 😚; daqueles casarões centenários que , heroicamente, sobrevivem.
A exposição nos presenteia com as obras- esculturas e quadros- desses dois rapazes da Toscana e que transformaram o Brasil na sua terra adotada e local de criação artística de alto nível. Confesso que prefiro as esculturas. Viveram muito e plenamente.
Abaixo duas obras de Bruno Giorgi.
O Meteoro é uma das suas mais celebradas. Segundo ele , a que mais o emociona. Sobretudo aquela versão gigante que fica no laguinho do Palácio Itamaraty em Brasília. Fica até o final de Julho. Aproveite.👏👏
A exposição nos presenteia com as obras- esculturas e quadros- desses dois rapazes da Toscana e que transformaram o Brasil na sua terra adotada e local de criação artística de alto nível. Confesso que prefiro as esculturas. Viveram muito e plenamente.
Abaixo duas obras de Bruno Giorgi.
O Meteoro é uma das suas mais celebradas. Segundo ele , a que mais o emociona. Sobretudo aquela versão gigante que fica no laguinho do Palácio Itamaraty em Brasília. Fica até o final de Julho. Aproveite.👏👏
Botafogo e seus caminhos
Vale a dica.
Ainda por Botafogo, esse casarão onde fica o consulado de Portugal. É uma beleza.Faz tempo que a minha cegueira não o avistava. Passava por ali e só vislumbrava a Casa Rui Barbosa, o Palácio da Cidade, Colégio Santo Inácio, Colégio Corcovado ( alemão imponente ); e tudo na mesma São Clemente. E depois, o reformado- está muito melhor-Aurora. Desde 1898 ( 121 anos) . Comida simples, mas boa.😉
Ande e se perca pelas ruas e ruelas do bairro. Tem umas vilas deliciosas. 😋
Ainda por Botafogo, esse casarão onde fica o consulado de Portugal. É uma beleza.Faz tempo que a minha cegueira não o avistava. Passava por ali e só vislumbrava a Casa Rui Barbosa, o Palácio da Cidade, Colégio Santo Inácio, Colégio Corcovado ( alemão imponente ); e tudo na mesma São Clemente. E depois, o reformado- está muito melhor-Aurora. Desde 1898 ( 121 anos) . Comida simples, mas boa.😉
Ande e se perca pelas ruas e ruelas do bairro. Tem umas vilas deliciosas. 😋
Aconteceu num avião
Aconteceu no avião. 🛩
Uma jovem dormiu no avião que fazia a rota Quebec- Toronto. Não foi esclarecido, contudo, se a dorminhoca tomou algo ou consegue- mesmo no cata jeca que é a classe econômica- dormir bem nesses locais nada apropriados para uma soneca.
Será que ela relaxa inteiramente ou de tanto medo apaga? Pode ser também. O certo é que esqueceram - não de mim, mas dela, dentro do avião! Todo mundo se mandou- tripulação e passageiros- , e ela ficou. Feliz? Dormindo. Roncavas? Não havia testemunha para tanto.
Apagaram todas as luzes, desligaram tudo e rebocaram o avião para o hangar, para que ele, sim, pudesse descansar, após jornada de trabalho. Nada mais justo.
A senhoria então acordou na maior escuridão e ainda dentro do avião.😫Sacou do celular e, aflita,🤪 abandonada , avisou um amigo sobre o que estava ocorrendo. Antes disso, ela diz que saiu enfiando o dedo em tudo quanto era botão que conseguia enxergar para ver se operava um milagre qualquer. Nada. Milagres dependem de muita imaginação. A conversa com esse amigo, entretanto, foi logo interrompida porque a bateria do celular morreu. Por sorte , o amigo , bem vivo, foi bastante eficiente e a situação se resolveu😊. Mas demorou. No caso dessa moça, a duração da eternidade.
Será que ela não pensou, ao acordar naquela situação, que algo poderia ter acontecido? Algo trágico?
Você que é religioso e acredita em transcendência , vida depois que morre, morrer vivendo ou viver morrendo.. Essas fantasias todas: será que existe conexão 3D, 5D, por essas bandas? Quando se fala em nuvem e seus segredos- telefones rastreados de ministros imprudentes, por exemplo- é desse " mais além " que se trata?
Hoje ou amanhã é dia de Santo Famoso por aqui. Será que a mensagem passou por esse intermediário santificado para então chegar ao amigo? Esse, obviamente , o verdadeiro salvador?
A companhia aérea se chama Air Canadá. 😏🤔
Uma jovem dormiu no avião que fazia a rota Quebec- Toronto. Não foi esclarecido, contudo, se a dorminhoca tomou algo ou consegue- mesmo no cata jeca que é a classe econômica- dormir bem nesses locais nada apropriados para uma soneca.
Será que ela relaxa inteiramente ou de tanto medo apaga? Pode ser também. O certo é que esqueceram - não de mim, mas dela, dentro do avião! Todo mundo se mandou- tripulação e passageiros- , e ela ficou. Feliz? Dormindo. Roncavas? Não havia testemunha para tanto.
Apagaram todas as luzes, desligaram tudo e rebocaram o avião para o hangar, para que ele, sim, pudesse descansar, após jornada de trabalho. Nada mais justo.
A senhoria então acordou na maior escuridão e ainda dentro do avião.😫Sacou do celular e, aflita,🤪 abandonada , avisou um amigo sobre o que estava ocorrendo. Antes disso, ela diz que saiu enfiando o dedo em tudo quanto era botão que conseguia enxergar para ver se operava um milagre qualquer. Nada. Milagres dependem de muita imaginação. A conversa com esse amigo, entretanto, foi logo interrompida porque a bateria do celular morreu. Por sorte , o amigo , bem vivo, foi bastante eficiente e a situação se resolveu😊. Mas demorou. No caso dessa moça, a duração da eternidade.
Será que ela não pensou, ao acordar naquela situação, que algo poderia ter acontecido? Algo trágico?
Você que é religioso e acredita em transcendência , vida depois que morre, morrer vivendo ou viver morrendo.. Essas fantasias todas: será que existe conexão 3D, 5D, por essas bandas? Quando se fala em nuvem e seus segredos- telefones rastreados de ministros imprudentes, por exemplo- é desse " mais além " que se trata?
Hoje ou amanhã é dia de Santo Famoso por aqui. Será que a mensagem passou por esse intermediário santificado para então chegar ao amigo? Esse, obviamente , o verdadeiro salvador?
A companhia aérea se chama Air Canadá. 😏🤔
domingo, 7 de abril de 2019
Trin trin.
Não é esse o som do telefone, mas foram os que vieram à tona nesse momento de vã literatice.
'Alô. -algum chato dá a partida. Nesse caso era uma chata.
Alô- respondi. Ia responder o quê?
'Aqui é da operadora do cartão de crédito tal e tal.Tudo bem com o senhor?
- Estava. ( Isso é o máximo que a minha " vontade" de ser incomodado enquanto faço algo ou coisa nenhuma permite responder. Dizer letrinhas ).
- 'O senhor acaba de receber uma promoção blábláblábláblá .'.
E tome blá blá blá blá blá blá..
- Não tenho interesse nessas coisas.- Respondi com trejeito de casmurros.
-' Como assim? - comenta indignado aquela voz feminina. O senhor não gosta de vantagens?'
- Não. Não me chamo Gerson, não faço leis e tampouco fumo.- Finalizo na direção do gol.
- 'O senhor é muito estranho..'
- Sim. Bastante.E isso por telefone. Imagine ao vivo? - EU, o esquisito, é que pergunta.
- Deus me livre. - suspirou e.. desligou.
Tem sempre esse mediador poderoso e sua varinha mágica intrometendo-se na conversa dos outros. Impressionante o andamento das civilizações.
Ponto para o sorumbático.☺
Trin trin...
Não é esse o som do telefone, mas foram os que vieram à tona nesse momento de vã literatice.
'Alô. -algum chato dá a partida. Nesse caso era uma chata.
Alô- respondi. Ia responder o quê?
'Aqui é da operadora do cartão de crédito tal e tal.Tudo bem com o senhor?
- Estava. ( Isso é o máximo que a minha " vontade" de ser incomodado enquanto faço algo ou coisa nenhuma permite responder. Dizer letrinhas ).
- 'O senhor acaba de receber uma promoção blábláblábláblá .'.
E tome blá blá blá blá blá blá..
- Não tenho interesse nessas coisas.- Respondi com trejeito de casmurros.
-' Como assim? - comenta indignado aquela voz feminina. O senhor não gosta de vantagens?'
- Não. Não me chamo Gerson, não faço leis e tampouco fumo.- Finalizo na direção do gol.
- 'O senhor é muito estranho..'
- Sim. Bastante.E isso por telefone. Imagine ao vivo? - EU, o esquisito, é que pergunta.
- Deus me livre. - suspirou e.. desligou.
Tem sempre esse mediador poderoso e sua varinha mágica intrometendo-se na conversa dos outros. Impressionante o andamento das civilizações.
Ponto para o sorumbático.☺
Trin trin...
quinta-feira, 21 de março de 2019
Nossas políticas e suas inconsequências.
Esse texto foi influenciado pela leitura de um livro
despretensioso, porém, muito esclarecedor e delicioso de se ler, do
escritor gaúcho, Paulo Schmidt, ' Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes
da República'. Editora Leya/2016-2017.
O marechal Deodoro da Fonseca resolveu
trair o imperador. Até aí, nenhuma novidade no 'front'. Se por aventura, o
traído não fosse um imperador importante e seu antigo amigo, ainda por cima,
correligionário. Isso ocorreu em novembro de 1889.
Pressões
anti-abolicionistas, cafeicultores vorazes, latifundiários gulosos, os mineiros
e suas minas, e mais ainda, os paulistas. Acrescidos dos privilégios a
sustentar mimos plutocráticos, somando-se a uma disputa amorosa com o Sr.
Silveira Martins. Um político influente e protegido pelo Império. Aliás, um
grande Imperador: Pedro II.
A
disputa envolvia uma jovem e bela senhorita. Era amante de ambos, a gulosa. Mas
as razões do seu coração optaram pelo rival do traidor do Imperador. Esse
Silveira arrebatou-lhe o coração e outras formações corporais.
Gosto
não se discute. É extremamente difícil estabelecer um ponto comum. São tantas
as razões estéticas em jogo que não haverá condições muito favoráveis nem
tampouco ferramentas para mensurá-las.
Portanto, abaixo a
Monarquia! Foi o que fizeram.
A recém
proclamada república brasileira- final do século XIX- começa mais ou menos
assim. Alguém que jurava lealdade ao
então chefe de governo e homem sério, culto, brilhante, comportou-se como um
sargento raso. Contemporâneos seus afirmavam que nem ao menos era respeitado
pelas tropas. Renunciou ao mandato tempos depois. Talvez tenha sido o seu gesto
mais nobre.
Esse Deodoro era uma espécie de Sarney
do século 19. É bem provável que exitasse também ao ficar convictamente de pé
quando solicitado, por efeito de uma votação qualquer, uma decisão em grupo, na
espada, sabe-se lá. Explica-se: algumas votações no Brasil - no seu parlamento-
já no século XX, solicitavam aos votantes presentes que ficassem em pé,
posicionando-se assim a favor ou contra determinado projeto ou moção. Por
conseguinte, os demais deveriam permanecer sentados.
No fim dos anos 50, século XX, um jovem
deputado nordestino ficava de cócoras, vez e sempre, durante essas votações.
Mas por quê? Ele espiava diligentemente como se movimentava o plenário para
depois se posicionar com a maioria triunfante. Recebeu o apelido de 'Zé
Bundinha' por conta dessa coreografia tão sua.
Teria o Fonseca, Marechal, feito algo semelhante
capaz de influenciar futuros mandatários? Teria feito série, essa coreografia
oficial? Não há registro conhecido ou divulgado. Quanto ao 'Zé Bundinha' ,
voltaremos ao personagem daqui a um século. Passa rápido, no contexto de um
texto.
Proclamada então a Velha República, houve
uma sucessão de presidentes incompetentes.
Floriano Peixoto, também marechal (patente
mais elevada do exército brasileiro e que há muito deixou de existir), e que
assume a presidência, após a renúncia do farsante anterior. Era visto
como sanguinário. Relembremos o massacre que comandou (Guerra de Canudos, Bahia)
contra os maluquinhos beleza - inspiração para um poeta da MPB, décadas depois,
- capitaneados pelo apóstolo de então, o mítico, Antônio Conselheiro.
No
cinema, também uma invenção do século XX (Irmãos Lumière) , o ator José Wilker
fez um dos seus melhores personagens ao vestir a pele de Conselheiro. Tudo isso
se fez possível- o nosso conhecimento sobre esse importante fato e o
desbravamento daquela aridez sertaneja- graças a uma das maiores e mais
difíceis obras literárias jamais escrita: 'Os Sertões' do engenheiro, Euclides
da Cunha. Assassinado por mais um sargento. Muito bem-apessoado como se dizia à
época. O coadjuvante que mata o gênio. A esposa que não entendeu coisa alguma.
Ou teria ficado muito entediada? O Brasil se recusa a respeitar hierarquias.
Floriano foi tão sanguinário que durante um
certo tempo a população de Florianópolis quis mudar o nome da capital de Santa
Catarina. Sentia-se ofendida com essa suposta honraria.
Floriano, um alagoano
que fez carreira no Rio, capital federal nesse período, morre em Barra
Mansa, interior do Estado, e vizinha de Volta Redonda. Cidade do interior
fluminense e que é mais conhecida pela existência da CSN (Companhia Siderúrgica
Nacional).
Na sequência, o
primeiro presidente civil do Brasil: O senhor Prudente de Moraes.
Já faz algum tempo que
se tornou nome de rua, em Ipanema, zona sul do Rio. Somos vizinhos desde o
tempo em que nasci. Devem existir outras homenagens pelo país. Nome de rua
supostamente é homenagem. Uma patota de 'floripa' não concorda com isso.
Versões e versões
fazem uma certa história. Em algum autor imprudente, teria lido que ele morreu
louco. Sim! O primeiro presidente civil do país, paulista de nascimento e muito
zeloso com os benefícios concedidos aos ricos e poderosos da região sudeste (sobretudo,
Minas e São Paulo), havia morrido insano. Não. Ele não morreu amalucado.
Segundo outras fontes,
ele morreu mesmo de morte morrida já que não gozava de boa saúde.
Chama-se isso de morte
natural...
Aos cinquenta e poucos anos,
aparentava quase oitenta. Porém, segundo certas fofocas, ele foi austero e
conseguiu conter um pouco a fúria militar deixada por Floriano. Inclusive,
recomeçou as relações diplomáticas com o Paraguai, após aquela guerra covarde.
Uma outra controvérsia.
Informações oficiais sempre
deram conta de que o responsável pelo conflito teria sido a megalomania
expansionista do ditador paraguaio, Solano Lopes, provocando assim uma tríplice
aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai (aliança mal explicada), e que na
verdade escondia a pressão britânica na região, incomodada pelo poderio que a
indústria têxtil paraguaia possuía. Algo ignorado pela maioria das pessoas.
O Paraguai nessa época
era uma potência nesse ramo. Concorrência, portanto, que os piratas imperialistas
anglicanos não permitiam e ainda por cima tinham poderes bélicos e
financeiros para atrapalhar os negócios do país vizinho ao nosso. Logo, a gente
entende um dos porquês de o Mercosul funcionar como funciona. Desde sempre,
temos tradição de subserviência às potências do Hemisfério Norte. Subserviência
mental, sobretudo. Afinal, somos ou não somos pretensiosamente o máximo, aqui
no Sul da América? Ou seríamos um monte de fodidos que comem carne seca- que
pode ser bastante saborosa- , mas pensam que se trata de iguaria nobre e cara?
Nossa resistência em assumir, e tentar destruir, muitas das nossas riquezas
culturais, intelectuais, apontam para isso.
A sucessão continuou
oscilando entre Minas e São Paulo. Houve Afonso Pena- mineiro- Nilo Peçanha e
Campos Sales - que segundo o autor gaúcho, Paulo Schmidt, tentavam disfarçar o
fato de serem mulatos. Envergonhavam-se por isso. Quando é que alguém pode
fazer um governo de excelência funcionando mentalmente dessa forma?
Contudo, há quem
defendesse o mandato de Sales- apesar da truculência- no que diz respeito à
probidade no uso do dinheiro público. Houve cortes de gastos, demissões,
redução no número de servidores públicos, ou seja, medidas impopulares -
normalmente benéficas num futuro próximo-, porém, demonizadas pelo sedento
imediatismo da massa incauta. Corroborada, a bem dizer, pelo oportunismo das
oposições. Deixou, o paulista Campos, o Palácio do Catete, sob uma chuva de
tomates. Seu sucessor foi um outro paulista. Dessa vez de Guaratinguetá, no
Vale do Paraíba: Rodrigues Alves. Schmidt não alivia a cara de ninguém em seu
'Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes'. Com a nobre exceção imperial de
Pedro II e a acadêmica gestão de FHC. Concordo com ele. Mas acrescentaria nessa
lista o segundo Getúlio, que viabilizou um JK ambicioso no melhor sentido das ousadias,
mas também um primeiro mandado de Lula, surpreendente, que, após o término do
mandato, infelizmente, revelou-se enganador. O segundo mandato de FHC também
deixou muito a desejar.
A figura do
intelectual sério, contemporâneo, brilhante, poliglota, democrata, flexível,
não foram capazes de evitar tantos estragos. Na gaiola das loucas que se tornou
o PSDB, uma boa dose de arrogância, soberba (o pior dos pecados para os
cristãos), mesclada com futricas, omissões e também- reveladas pelo tempo-
seríssimas irregularidades, provocaram as derrotas seriais e contundentes que
sofreram. E ainda sofrem. Hoje, temos as prisões de correligionários seus e
condenações dos 'senhores' que controlavam o dinheiro das campanhas milionárias
do partido.
Voltando à Velha
Republiqueta, Rodrigues Alves, segundo diversos autores e ao contrário do
libelo de Schmidt, foi um bom mandatário. Sobretudo, para a capital federal.
Nesse caso, nessa época, o Rio. À essa altura, a gestão de Rodrigues Alves
iniciou o processo de industrialização da cidade/estado. O vice-presidente
desse outro paulista mandatário era Delfim Moreira, um mineiro. Dizem que esse,
sim, era maluco. Morreu por um erro médico. Exageraram na morfina e o sujeito
apagou. Tinha somente 51 anos.
Naqueles tempos, uma
pessoa de 51 anos já era um senhor. Perspectiva de menos tempo de vida diante
de um '´déficit' tecnológico, farmacológico, hábitos alimentares, sedentarismo,
entre outros, contribuíam para esse envelhecimento que, hoje, seria datado de
precoce. A epigenética e um monte de coisas que desconhecemos, e que não
impedem que existam, mudaram expressões de certos genes. E a tecnologia avançou
em sua terapêutica farmacológica. Além do quê, o relógio do tempo- ficcional,
mas aí está- acelerou. Universo em expansão, entropias, fractalizações,
aceleradores de partículas.... Os cosmólogos apresentam suas teses.
Hermes da Fonseca,
Venceslau Brás e até um paraibano, Epitácio Pessoa, ocuparam a presidência da
República. Artur Bernardes foi o último mineiro, antes do paulista Washington
'galã ' Luís, a tomar conta da nação, nessa fase do café com leite e outros
quitutes.
O 'Compadre'
Washington era garboso e tinha uma amante de 20 e poucos anos. Uma chamada
'DR'- aquela conversa necessária entre casais- terminou tragicamente. A moça
lhe enfiou uma bala no abdômen e depois cometeu suicídio, lançando-se do alto
do prédio em que vivia. O presidente foi internado para uma suposta cirurgia de
apêndice. A censura às informações oficiais vem de longe. Até hoje, o Brasil é
considerado um dos lugares que mais retém informações oficiais aos seus
habitantes.
O sucessor deveria
ser- na ordem do rodízio- um mineiro. Mas o bonitão, atingido por uma bala
amorosa, queria eleger o governador de SP, Júlio Prestes. Por sua vez, o nome
que o antecessor, Artur Bernardes, desejava era o do político mineiro, Antônio
Carlos. Impasse. O então ministro da Fazenda e que confessara que nada entendia
sobre essa pasta, caminhava com Bernardes. Chamava-se, Getúlio Vargas ou 'O
Gaúcho'. Quem sabe poderíamos frear os ímpetos golpistas de Pinheiro Machado,
conterrâneo de GV, e arrivista de bombachas. Influente político gaúcho desse
período. O Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio, está situado na
rua que leva o seu nome. Bairro das Laranjeiras, zona sul da capital
fluminense.
Então eis que um
atrito regional, nordestino, causa o assassinato de João Pessoa, governador da
Paraíba. E o quê que a gente tem a ver com tudo isso? Os senhores e
senhoritas não sei ao certo..., mas, eu me comprometi. Entenda-se:
geneticamente, em alguma disposição cromossômica, ao menos, pois o assassino
da Pessoa de Pessoa era parente meu.
Um irritado cabra da
peste de nome João Dantas. Rivalidade local, regional. Disputa por poderes. E a
capital do Estado que 'Nega' mudou de nome: passou a se chamar João Pessoa.
Conspirações sempre
integraram o jogo político e sua distribuição de poderes.
Ruy Barbosa, acima de
qualquer suspeita e um dos intelectuais mais importantes do país, foi roubado
em pelo menos três eleições presidenciais.
O Primeiro período Getulista.
Getúlio chega ao poder e no seu primeiro mandato, uma ditadura, combateu uma turma que se alternava no trono e queria, a todo custo, manter-se e conservar com força os privilégios. Uma classe média que, à reboque de uma oligarquia plutocrática, sempre se mostrou reacionária, racista, escravocrata.
O Brasil foi um dos
últimos países a se livrar da terrível mácula da escravidão. Sabemos,
cinicamente fingimos que não, que de fato, ela ainda existe.
Em 1932, uma Revolução
Constitucionalista fez ousadias. Foi sufocada. Em 1934, uma nova Constituição
promulgada. O mundo à beira de uma guerra mundial, a pior da história
'moderna', harmonizava com truculências, nazi-fascismos, facínoras. O Brasil
fez aliança com esses estados. Um dos líderes de oposição ao governo Vargas, o
comunista Luís Carlos Prestes, morto em 1989, além de preso, viu o seu partido
ser posto na clandestinidade. Pior: sua esposa, a estrangeira e judia, Olga
Benário, foi deportada para um campo de concentração, na Europa. Estava
grávida. Foi assassinada por lá. A criança, Ana Leocádia Prestes, sobreviveu e
até pouco tempo era professora de História em Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Enquanto houve 'background', o chamado caudilho Vargas comandou o
país.
Em 1945, uma nova
geopolítica se estabeleceu. Eleições à vista. Um general esquisito e que
devia muito ao seu antecessor, Getúlio Vargas, vence as eleições onde o
candidato de oposição, um Brigadeiro (segundo o slogan: bonito, jovem e
solteiro) era a atração principal da disputa. Vitória dada como certa e eis
que, ganhou Getúlio. Ou melhor: o seu candidato.
O general Dutra ficou
mais conhecido por batizar aquilo que se tornaria a rodovia mais importante do
país: a Via Dutra. Àquela que promove a transa, aquele sexo de vai e vem de
pernas mecânicas, automotivas, entre o Rio e São Paulo. Por certo, houve muito
mais do que isso nessa gestão, mas segundo Paulo Schmidt, o 'presidente rodovia
' fora insignificante e ainda por cima se expressava muito mal. Pouquíssimo
carisma, e ainda por cima, era bastante feio.
Para não ser tão cruel
com todos eles, o autor gaúcho citado livra a cara do cearense, Nilo Peçanha.
Vice de Afonso Pena e que morreu antes de terminar o mandato. Ele só o critica
pelo fato de ter se envergonhado a vida toda das suas origens afro descendentes.
Curioso que grande
parte da população brasileira só pensa o Brasil a partir de Getúlio Vargas.
Também conhecido como o 'pai dos pobres'.
O Segundo período de Vargas e o início dos 50 anos em 5 (Juscelino Kubitschek).
Foi no segundo mandato de Getúlio, 1950-1954, que as leis trabalhistas foram promulgadas e avanços sociais conquistados. O país vai aos poucos deixando de ser tão ruralista e vai conquistando as capitais. São Paulo alternou com Minas Gerais o poder político da nação e na segunda metade do século 20 assumirá a condição de Estado mais rico da Federação. E houve alguns historiadores que proclamavam que a prosperidade do Estado de SP teria se dado à revelia da sua força política. Um grave erro.
O segundo mandato do
caudilho de São Borja foi marcado por uma oposição ferrenha do seu maior
adversário, o conterrâneo, Carlos Lacerda. Lacerda, líder da UDN, era uma
espécie de Pinheiro Machado dos anos 20, 30. Apelidado de corvo, era um
conspirador nato.
Anos depois, quando se
elegeu governador da antiga Guanabara, fez um excelente governo. Retornara do
exterior, após o suicídio do velho Vargas. Lacerda e sua turma protagonizaram
uma das maiores perseguições políticas até então declaradas. O que era mentira
ou calúnia se mesclaram.
A família de Vargas já
o abandonara. O único que lhe permanecera fiel era o
motorista/secretário/segurança, apaixonado (sem nenhuma conotação vulgar),
Gregório Fortunato.
Ao morrer, o pai dos
pobres, deixara tão somente uma pequena propriedade no Rio Grande do Sul e um
apto ainda em construção, aqui no Rio.
Aos 24 dias de Agosto,
madrugada de 1954, no Palácio do Catete, então residência oficial do Presidente
da República, o homem de São Borja estourou os peitos com um balaço que o fez
deixar a vida e entrar para a história, segundo sua carta testamento. O pijama
que trajava na hora do suicídio permanece exposto no Museu da República, antigo
Palácio do Catete, onde se deu o fato.
O tal de Gregório
tinha armado um atentado contra a vida daquele corvo. Segundo alguns especialistas,
um corvo pode ser abatido através de singelo estilingue. Mesmo que sejamos
contra essa violência contra certas aves que, não atrapalham, esse corvo
resistiria a uma boa estilingada. E o que aconteceu de fato foi pura
simulação.
Lacerda, segundo
investigações e evidências posteriores, atirou no próprio pé simulando a
simulação. O tiro que Fortunato disparou atingiu o militar que tentara defender
Carlos Corvo, aplicando uma gravata no Fortunato Fiel. Acertaram-no
mortalmente. Hoje, o major Rubens Vaz está imortalizado, metamorfoseado de
túnel. Aquele que leva o seu nome e que desliga a Rua Tonelero acionando a
Rua Pompeu Loureiro - ambas em Copacabana-, e que por sua vez acessa o
Cantagalo, a Catacumba, a Lagoa Rodrigo de Freitas. Lagoa essa que poderia ser chamada de Laguna,
segundo alguns geógrafos, pois ela recebe água tanto de rios quanto do oceano.
Sendo assim possui água salobra. Mistura de doce com sal.
Acabou o governo e
assumiu o vice. Um traidor pequeno para muitos adversários. Um café requentado,
o norte rio-grandense, Café Filho.
Nesse caso específico
vale mais uma observação mediante informação familiar. Café Filho- que devia a
Getúlio Vargas quase toda a sua carreira política-, havia convidado meu avô
paterno para um evento social. O convite foi recusado. A intriga diz que por um
problema familiar de saúde, sabido previamente por quem fez o convite ao também
norte rio-grandense conterrâneo, o nosso avô não pode ir e tampouco iria.
Afinal, sabia-se da proximidade e bem querer que ele tinha por Getúlio.
Tempos depois,
quando Café se escondeu e Carlos Luz assumiu, um convite - do lado de cá da
família- foi feito ao então ex-presidente. Por razões mais ou menos óbvias, o
convidado não apareceu. Melhor dizendo: driblou qualquer norma de etiqueta
razoável e sequer respondeu. Também conhecia de políticas e suas grosserias.
Houve também o Nereu
Ramos (também próximo até do meu pai num momento futuro), e que virou
presidente porque o Luz obscureceu e pulou fora. Luz era uma espécie de Rodrigo
Maia de então. O terceiro na linha sucessória. O Brasil tem essas
peculiaridades.
Conspiraram então contra o
mandatário mais popular e querido de todos os tempos, e após o suicídio que
comoveu toda a nação, não seguraram os graves efeitos colaterais previsíveis.
O Corvo Lacerda também
se exilou na Europa por um tempo. Não esperavam pelo ato certeiro do presidente
suicida. Acabava ali com os planos de Lacerda e de outros militares candidatos
pelo sonho da presidência. Os milicos que chegaram ao poder o fizeram a partir
de um golpe de estado - o quarto golpe desde a proclamação da república,
incluindo essa traição ao Imperador Pedro II, a de 1932, a de 1964 e a de 2016,
recentemente.
A bem dizer, Lacerda é
considerado por muitos, até hoje, um dos melhores governadores que o Estado já
teve. Governador do antigo Estado da Guanabara.
Ficou marcado por
grandes obras realizadas. Muitas delas de infraestrutura - o que é raro por
aqui-. Afinal, o brasileiro não enxerga por baixo da terra, por dentro dos
canos, pelo alto das encostas que desmoronam. Não percebe que uma boa gestão se
apresentará nos anos subsequentes; seus benefícios. Também não são poucos os
cariocas e fluminenses (dentre eles estão professores e médicos) que elogiam o
governo do maior algoz de GV.
Numa prosa
despretensiosa de boteco falador, o interlocutor amigo demonstra a sua
admiração ao fazer uma pausa e advertir: 'Cuidado com a intimidade. Pode ser
perigosa. O nome do prezado governador é Carlos Frederico Werneck de Lacerda'.
Sebastião Nery,
jornalista atento às histórias e historietas do país, relembrou, certa vez, que
Leonel Brizola ao falar do ex-governador e seu desafeto político, mencionado
acima, dizia: ' Aquele Sr. Carlos Frederico’.
O Brasil pós Getúlio
viabilizou um Juscelino mineiro que prometeu transformar o que poderia ser
feito em cinquenta anos em apenas cinco. Era um entusiasta, empreendedor e
visionário para os desafetos. Visionário numa conotação negativa.
Eugênio Gudin-
economista dos mais notáveis, liberal de formação e ex ministro do Café
Pequeno, sempre disse que a dívida externa brasileira começara com a construção
megalomaníaca de Brasília. 'Obra daquele 'ex-médico' , dizia. Ficava estupefato
com o fato de que grande parte de tudo o que fora transportado para a construção
de uma cidade, nova capital e no meio do país (Brasil Central/ Goiás) , tinha
sido realizado por meio de transporte aéreo. O óbvio ululante- diria Nelson
Rodrigues. São mais de 1.200 km de distância que separam o Rio de Janeiro de
Brasília. Pelas rodovias o tempo gasto seria enorme. E o país não dispõe de
malha ferroviária adequada, suficiente. Seria muito mais econômico se possuísse
tal meio de transporte. Tal como acontece em países mais desenvolvidos. Além da
necessária mudança da maior parte dos servidores públicos federais,
funcionários públicos, sem contar os respectivos membros dos 3 poderes
governantes: legislativo, executivo e judiciário.
O professor Gudin,
conterrâneo carioca, viveu 100 anos. E até o fim, foi crítico contumaz das
peripécias de JK.
O presidente bossa
nova tomou posse na segunda metade dos anos 50. Retirar a capital do então
Estado da Guanabara era uma questão central de sobrevivência política e de
governança. Não foram poucas as tentativas para derrubá-lo do governo.
Militares aliados com a oposição chegaram a cercar a cidade do Rio com navios
de guerra ancorados na praia de Copacabana prontos para o ataque. Conseguiu
resistir, e mediante um sonho, acrescido de um pedido vindo de um popular,
num comício seu, ergueu a capital em 1960, num 21 de Abril. José Joaquim da
Silva Xavier, outro mineiro, passa a ter essa companhia feita de sonhos, suor,
delírios, genialidade arquitetônica (questionada por muitos) , secura e tantas
outras coisas, num feriado nacional.
Qualquer cientista
político responsável sabe que uma capital localizada em área oceânica corre
mais riscos de sofrer um ataque naval. As muitas tentativas para derrubar o
governo de Juscelino e a tradição brasileira em conspirar e destruir governos
dos outros continuam latentes. Sobretudo, com o crescimento já
desenfreado, sem planejamento urbanístico pertinente da então capital federal,
o governo ficava cada vez mais exposto. Até a primeira metade do século
passado, o Rio de Janeiro, capital, tinha maior poderio econômico e população
maior do que São Paulo. Assim como o Estado de Pernambuco foi o mais
desenvolvido e próspero no século 18.
Juscelino promoveu
então - assim como no mandato de Rodrigues Alves - um segundo salto
desenvolvimentista industrial no Brasil. Antes agrário, o gigante sul
americano - ao menos territorialmente- começa sua migração para as
capitais. Tentaram derrubá-lo - militares- mas o visionário mandatário com a
ajuda do seu ministro da guerra, o empedernido e rígido, Marechal Lott,
conseguia abafar e aniquilar com esses movimentos revoltosos.
Defensor da democracia
e construtor de obras e ilusões, JK preparou o solo para sua sucessão.
Temeroso, ressentido com algumas lideranças militares toma uma decisão
temerária e que custaria duas décadas e meia de atraso, tirania, direitos civis
cassados, corrupção, impunidade e outros desastres. Não apoia a candidatura do
seu subordinado, que apesar de militar, era seu ministro e pessoa confiável,
apesar de excêntrico -segundo fontes seguras. Apoiou então uma chapa esdrúxula
que trazia João Goulart - jovem vistoso, fazendeiro rico e que fora lançado na
política pelo conterrâneo e fantasma presente, Vargas-, e um populista
paulista que vinha crescendo regionalmente nas terras bandeirantes, considerado
por muitos imbatível nas urnas. Inventara um modo distinto de fazer promessas e
remendos sempre malvestido, mal trajado. Apelo populista, caricato. Fez
história e discípulos.
Jânio/ Jango. E o Pós 1964.
Meu pai me relatava com certa ironia de espantos que, numa certa tarde, estando em São Paulo a trabalho, convidado por um amigo, assiste a um comício no Vale do Anhangabaú desse 'novo' personagem. Sanduíche de mortadela nas mãos, identificava-se com os populares. Porém, muitos ignoravam o fato de que ele já tinha se refestelado num banquete bancado por empreiteiros solidários. Aliás, empreiteiros que lhe permaneceram fiéis até o fim.
Nessa época, podia-se
votar para vice-presidentes - de partidos diferentes- e a chapa conhecida
pela simpática alcunha de Jan-Jão venceu com facilidade as eleições. Jânio
Presidente e seu vice, Goulart. Mal se falavam. Um não respeitava o outro.
Jânio referia-se ao seu vice com uma das suas muitas expressões em desuso e
inabaláveis mesóclises. Dir-se-íamos então que Jânio chamou Jango de mamparra,
matumbo. O que na linguagem dos homens chamar-se-ia amador.
Perfeita a intuição do
professor de língua portuguesa. O único senão é que todos eram amadores. O vice
e o povo que os elegeu. Jânio Quadros renunciou ao mandato pouco tempo depois,
segundo sua particular razão histérica, por pressão de forças ocultas...
Forças ocultas são
forças normalmente recalcadas e mantidas na escuridão do inconsciente. Toda boa
neurose, naquela vertente histérica/histórica conhece, mas finge que não.
Segundo alguns historiadores
e cientistas políticos, Jânio renunciou porque queria dissolver o parlamento
federal e estabelecer uma ditadura. Diziam sobre a viagem realizada para Cuba,
algum tempo antes, e que o esposo da Dona Eloá teria ficado fascinado com
a multidão de populares cubanos que, diante da ameaça de renúncia por parte de
Fidel Castro, após a tomada do poder em 1959 ( quando puseram fim ao cassino de
Batista e de muitos estadunidenses e estabeleceram uma ditadura de esquerda que
perdura até hoje , só que com outras marionetes, já que o grande líder morreu
recentemente) , ocuparam as ruas da capital caribenha, Havana, e exigiram o seu
retorno ao cargo.
Jânio revela, através
dos seus atos, que também praticava certo amadorismo visto que não conhecia
muito bem o povo brasileiro. Brasileiro é uma formação maneirista (conforme nos
indica o pensamento de Magno Machado Dias) - uma terceira via que não clássica
nem tampouco barroca, nem tampouco uma mistura das duas e também gaiata,
macunaímica, vira-lata, brejeira, traiçoeira, malandra, criativa (logo,
inteligente), multicolorida, violenta, desavergonhada. E do ponto de vista
político, digo eu, que costuma virar as costas para o que deposita na urna.
Hoje, não mais depositado, e sim, teclado.
Uma boa parte dessa
turma- que somos nós- costuma votar e se livrar do que acaba de fazer. Depois,
retira o seu da reta. Uma amnésia calculada por um cinismo tropical singular.
Assume Jango e sua
primeira dama, Maria Thereza. Lindíssima por sinal. Teria sido marxista? Pouco
provável.
Jango tentou iniciar
uma reforma agrária. A começar pelo seu estado natal, o Rio Grande do Sul. No
seu time ministerial havia um parente: San Tiago Dantas. Deputado, jornalista,
embaixador, ministro das relações exteriores, ministro da fazenda. Gosto mais
de chamá-los de ministro do tesouro ou da bufunfa.
Tentou salvar o
governo atrapalhado e confuso do vice que assumiu após a renúncia do velho amalucado.
Chegou a ser nomeado para o cargo de primeiro ministro- pois o parlamentarismo
estava vigente com Tancredo Neves ocupando o cargo- mas nada disso evitou que
se pudesse salvar um governo que também não o queria muito. Jango viajava para
a China comunista quando O rei das mesóclises (a escritora Hilda Hilst
'adorava' os adoradores de mesóclises) renunciou nesse período. Pegou sua
vassoura - guiada por forças 'ocultas'- e partiu, mandando o Brasil para a
'puta que os pariu'. Não havia prova de DNA nesse período. Melhor para Jânio.
Pior para a gente.
Naquele 31 de Março, o
comício no centro do Rio, diante de um QG do exército. e o mancebo presidente
do Rio Grande mais ao Sul desafiando os militares que já estavam a postos, faz
tempo. Pelo menos nas Minas Gerais do Sr. Magalhães Pinto, Governador do Estado
mineiro, banqueiro milionário e um dos líderes civis do golpe que se seguirá.
Resumindo sem rodeios:
chamou para a porrada um punhado de tanques portando tão somente a bela figura
de sua esposa, ao lado no palanque, e alguns meganhas com estilingues. Entramos
na era obscura, inspirada por uma segunda grande guerra recente - a maior
carnificina que se tem notícia- fascista, racista, xenófoba, lunática. A
ditadura militar que prometera ser rápida, era essa a intenção do Marechal
Castelo Branco, cearense, e rival de Lott, pois estabeleceriam uma 'ordem' para
afastar de vez a ameaça comunista- um fetiche cultivado pela maldita Guerra
Fria entre EUA E URSS (A guerra da Coréia acabara fazia pouco tempo e o Vietnã
seria a próxima estocada estadunidense).
O Vietnã tornou-se uma
vedete Hollywoodiana nas mais diversas versões. Até comédia se fez sobre o
tema. Mas aquelas bombas que arrancavam a pele das pessoas, depois de
queimá-las, não faziam rir. Como de costume, os estadunidenses subestimaram
seus adversários e não contaram com a resistência extraordinária das formações
primárias dos asiáticos para suportar tamanho poderio bélico.
Castelo Branco - rival do marechal Lott na escola militar, assumiu a presidência e prometera um período curto de intervenção militar. Pretendia inclusive convocar eleições. Morreu num acidente aéreo. Até hoje, restam dúvidas e mistérios. Um outro filme.
Castelo Branco - rival do marechal Lott na escola militar, assumiu a presidência e prometera um período curto de intervenção militar. Pretendia inclusive convocar eleições. Morreu num acidente aéreo. Até hoje, restam dúvidas e mistérios. Um outro filme.
Veio Costa e Silva e
sua Yolanda. Quando teve um derrame, garantiam que era ela que passara a
governar o país. Ali, começa o período mais difícil. Fechamento do
Congresso, fechamento das bocas, ideias, da lucidez. A sigla famigerada; um
AI-5. Ato institucional número 5.
O gaúcho ou 'o Costa’, o modo
como dona Yolanda o chamava, inicia a fase mais cruel da ditadura. Sua esposa-
que segundo as pesquisas de Paulo SCHMIDT- era comparada àquela personagem de
Shakespeare, a temerária, ardilosa e cruel, Lady Macbeth, aprontou tanto- até
mesmo na sua vidinha pessoal para além do corte e costura das recatadas
primeiras damas- que é acusada de ser a principal personagem, ou melhor,
a causa do AVC que matou o gaúcho, Costa. Seu atrapalhado marido.
O milionário e hoje
preso residencial terminal, Paulo Maluf, ainda nos relatos do outro Paulo, Schmidt,
escritor e também gaúcho, foi alçado para vida pública através dos pedidos
da primeira dama a quem oferecia regalos. Era Maluf quem pagava as dívidas de
jogo do presidente Silva, apagando as pistas deixadas pelo rombo escandaloso
nas suas finanças pessoais.
Morto, os colegas de
farda e ditadura nomeariam uma junta militar. Porém, mantendo a direção
progressiva da perversidade, recorreram ao chefe do Serviço Nacional de
Informação, SNI, General Médici. Considerado o mais cruel dessa trilogia
inicial. Inventou um milagre econômico que, durou muito menos tempo do que o
que se confabula hojendía, para garantir uma dose de seriedade ao candidato
militar à presidência do Brasil, em 2018. Durou muito menos. A ignorância
perdura bem mais.
Direitos civis cassados.
Lábios cerrados. Imprensa retalhada ou cumpliciada. Prisões, torturas,
assassinatos. E corrupção. Todos eles deixaram seus familiares ricos
financeiramente. Escândalos como Coroa Brastel, Capemi, mega obras super
faturadas, canais de televisão e rádio ( que são concessões públicas )
distribuídos à granel, mantendo-se assim a indestrutível plutocracia
patrimonialista brasileira. Uma sacanagem quase perfeita porque não havia
possibilidade alguma de investigação. Opiniões, escolhas, quereres, teses
amordaçadas, recalcadas. Silêncio e censura nas redações.
Veio um outro. O
quarto e com jeitão de alemão. Creio que era descendente. Não fiz pesquisa
qualquer. Foi vizinho, bem próximo, aqui em Ipanema. Mas há quem me diga que
ele detestava o Rio.
Geisel/ Figueiredo. Diretas/Indiretas.
Foi no seu mandato que houve a fusão desastrada do antigo Estado do Rio, capital Niterói, e a Guanabara. Chagas Freitas nomeado governador. Chamo-o, carinhosamente, de 'Doença de Chagas'. Enquanto digitamos, a palavra teratológica surge na tela do imaginário. Teratológica ou monstruosa. Absurda. Esse é o adjetivo para o patrimônio que, segundo pesquisas e denúncias, um dos grandes latifundiários urbanos do país reservou aos seus descendentes. E as favelas crescendo, a cidade decaindo. Tornando-se cruel, desumana, bárbara. Nessa época 'geiseana'.
Um dos prefeitos foi o
Sr. Marcos Tamoio. Sua viúva residiu com as filhas numa das cobertura mais
caras do país , até umas duas décadas atrás. Aqueles marcadores desse tempo
contado em segundos, minutos, horas, também chamados relógios, que são vistosos
por toda a nossa orla, e em outros cantos da cidade (marcadores digitais eram
novidades para os anos 70) custaram uma grana teratológica, sem dúvida. O pior:
não é fofoca. A farra irresponsável com o dinheiro público vem de longe. Quanto
tesão em vilipendiar o país que se vive. Portanto, estamos estúpidos, faz
século.
O que eles pensam?
Supõem que estão imunes aos imprevistos, aos acidentes, às tragédias
irreversíveis? Delirantes na sua onipotência e arrogância.
Geisel tinha projetos
e um ministério de excelências. Seu mandato foi marcado também pelo assassinato
do jornalista Vladimir Herzog. Há poucas semanas, escândalos em forma de Dossiê
emergiram dos calabouços fardados. Houve muita truculência e barbárie no seu
mandato. E também errou ao superestimar e prolongar as produções da indústria
pesada brasileira e com o aumento colossal das taxas de juros no mercado
internacional, crise do petróleo, etc. Nossa dívida interna, fiscal, aumentou demais.
Resultado: inflação sem freio. Mas como poderíamos supor que um governo em
forma de bolha poderia agir de um outro modo?
Uma pequena digressão
e vamos nos permitir uma analogia com o esporte mais popular por aqui: o
futebol.
Em 1974, início do
governo do General Ernesto, a tecnologia disponível nos mantinha
'confortavelmente' a uma distância dos países acima do Atlântico-
que hoje pode-se dizer- como daqui até Marte. Mediante isso, e a nossa
bolha fardada, a seleção desconhecia radicalmente o que acontecia com o futebol
dos países baixos, especialmente na 'desconhecida ' Holanda. E o Ajax?
Poderia ser um personagem mitológico ou um produto de limpeza? Pode ser até um
conjunto de técnicas para desenvolvimento de programas computacionais...Mas nesse
caso específico, dizia respeito ao time de futebol de lá e bicampeão do velho
continente. E o Van Gogh? O resultado por conta da nossa ignorância foi um olé
de um dique ao outro. Principalmente, aqueles que desafiam leis da física.
Zagallo, o maior nome vivo, ao lado de Pelé, da seleção brasileira no meu modo
de reconhecer, caiu. Não no Mar do Norte, mas aos pés de um carrossel. O
carrossel holandês do técnico Rinus Mitchels. Conhecido na Holanda como o
'General'.
Esse tal time do Ajax,
base da seleção nacional holandesa, nesse ano de 1974, feito um insignificante
carrossel mudou para sempre o modo e as estratégias táticas de se jogar bola
com os pés. Há quem diga que Pelé fez bem em não ter ido àquela competição
mundial. Foi um baile de girassóis.
Figueiredo, Um João.
Depois, surgiu uma abertura, cavalos, cavalgaduras, eleições para o parlamento e governos estaduais. Um outro egresso do SNI -comandante general- carioca, torcedor do Fluminense, Figueiredo, mais um João. Que na bolha - iniciando um furo através das anistias políticas para quem foi expulso do país - resolveu proteger a reserva de mercado e não entendeu a computação.
Decidiu produzi-los
por aqui. Só que a herança recebida não permitia esse tipo de isolamento e
rigidez. O país engatou a marcha ré definitivamente. Foi talvez um dos governos
mais corruptos daquele período. Houve até ministro da justiça contrabandista de
pedras preciosas, segundo a impressa divulgou por diversas vezes. Isso, depois
que o regime já tinha acabado no câmbio oficial. Só que no Brasil, temos três
cotações. Uma lembrança:
Residi na capital
federal do Centro Oeste 'Juscelínico' na metade do 'Governo' Geisel e quase
todo 'Governo' Figueiredo.
Lembro-me desse início
dos anos 80 e dessa grande e importante novidade que era a anistia política,
iniciada no fim dos anos 70 . E que conduziria de volta presos políticos e
exilados durante a ditadura militar, inaugurada em abril de 1964.
Retornaram Brizola, Gabeira, Miguel Arraes, César Maia, José Dirceu, Fernando
Henrique, José Serra, o sociólogo Betinho e o seu irmão Mário. Dentre muitos
outros compatriotas.
O governo foi uma
confusão. Uma gestão que se tivesse sofrido investigações- impossíveis num
regime assim- análogas às lavas jatos contemporâneos, teria despencado também.
Hiperinflação,
reajuste de preços na calada da noite, atentados com bombas na ABL RIO e no
Riocentro. Ambos com vítimas fatais. A anistia dos exilados políticos foi
o ponto positivo do mandato.
O ataque no Riocentro
, zona oeste do Rio, ocorreu durante um grande show de primeiro de Maio e que
reunia a nata da MPB. Grande parte desses músicos/cantores/compositores eram
aliados dos movimentos contra a ditadura e simpatizantes dos recém legalizados
partidos de esquerda. Seria um massacre se os dois terroristas fardados e
trapalhões não tivessem explodido os artefatos no próprio colo, no interior de
um automóvel Puma. Um dos oficiais morreu no local. O outro vive em Brasília
até hoje. Anos depois, descobriram que quase todas as portas de emergência do
local, onde o evento se desenrolava, estavam trancadas. O que evitaria assim a
saída do público e aumentaria o número de vítimas fatais. Trapalhadas podem vir
para o bem. Mortes também...
Também houve eleições
gerais, menos para Presidentes e prefeitos. Governadores, deputados estaduais e
federais, senadores. Em 1982, alguns inimigos do regime elegem-se para 4 anos
de mandato. Dentre eles, Brizola, no Rio; o ex-primeiro ministro Tancredo
Neves, em MG- derrotando Eliseu Resende, ministro dos Transportes de João Figueiredo-;
Franco Montoro, em SP, e por aí vamos.
O Brasil tem hoje
cinco mil quinhentos e setenta municípios. Esse número aumentou demasiadamente
entre os anos 2000-2016. Existem municípios brasileiros que não atingem os
4.000 habitantes. A população de rua de São Paulo e Rio são maiores
do que isso.
Prefeitura dita a
regra e os futuros eleitos no país. São as eleições mais importantes.
Entendemos muito bem isso quando vemos o agora.
Comícios e suas Diretas.
E houve as diretas. Eu fui. Não. Não se pense que é um slogan para festivais de Rock, mas ao gigantesco comício diante da igreja da Candelária, centro do Rio, em março de 1984. Um milhão de pessoas aproximadamente. São Paulo saiu na frente, dois meses antes. Emenda do deputado do MDB de Mato Grosso, Dante de Oliveira, já falecido. Artistas da bola e da vitrola. De hoje e de outrora. Uma iludida e acomodada Sra. Esperança sacudia multidões.
E que será desfeita em
abril, desse mesmo ano. Derrota no Congresso Nacional. A próxima eleição ainda
seria indireta e marcada para janeiro de 1985.
O mineiro Tancredo
Neves- o anticandidato- derrota o indelével, Paulo Maluf, paulistano. Candidato
do PDS- antiga arena. Mas não era o candidato do general. O general bradou, e
um dos seus capachos, diretor do serviço nacional de informação, SNI, levou a
ferro e chicote, que não daria posse ao Sr. Paulo. Milionário e não muito
honesto, Salim Maluf. Hoje, preso em sua mansão.
Dizem as línguas
soltas que Figueiredo nunca gostou de Maluf pela intimidade excessiva e
ajuda financeira que o político de SP dava a um desafeto a quem ele,
Figueiredo, desprezava: o ex Presidente Costa e Silva e sua esposa determinada.
Existem até aqueles que afirmam que a ex primeira dama, Yolanda, teria
influenciado a digníssima Dulce, esposa do General João, em assuntos íntimos,
matrimoniais. Ambos os matrimônios, segundo tantos biógrafos e línguas
precisas, não eram dos mais exemplares. Mas isso é foro íntimo.
Tancredo ganhou?
Sim! Mas também não! Ele não levou.
Tancredo adoeceu antes
da posse. Para ser mais preciso, na véspera, foi hospitalizado com fortes dores
abdominais.
A princípio
suspeitava-se de diverticulite. Tempos depois, diziam que era um câncer. Teve
médico especialista que afirmava que havia um tumor do tamanho de uma bola de
tênis na região abdominal do presidente eleito.
Na eleição indireta
que vencera contra Paulo Maluf houve rumores. As visitas aos chefes de
governo internacionais que o presidente idoso fizera à Europa, no segundo
semestre de 1984, não foram só para apresentar suas ideias e propostas para um
novo país, Uma Nova República, mas também para consultas médicas.
O ex-deputado federal
e cantor, Agnaldo Timóteo, pediu em plenário que os candidatos à presidência se
submetessem a um exame médico rigoroso, a fim de mostrar ao país que tinham
condições físicas e mentais para governar o Brasil. Intuição?
Timóteo não envelhece.
É uma espécie de Dorian Gray da canção popular.
Morto na mesma data em
que Tiradentes- conterrâneo mineiro- foi assassinado, Tancredo Neves morreu num
hospital em São Paulo, num domingo, à noite. Seu porta-voz, jornalista gaúcho,
Antônio Brito, trouxe a notícia. Domingo de 1985.
Saí para caminhar. Por
volta de umas 22 horas e tristes minutos. Calçadão da praia deserto.
Cidade calada em oitavas ruidosas.
Chegou, oficialmente,
o vice: o maranhense, José Sarney. Aquele que levantava ou permanecia sentado-
quando parlamentar federal aqui no Rio, aqui na Guanabara- antes de
votar. Um homem prudente. Eu prometi que ele voltaria em cem anos E ele ainda permanece...
O general João Batista
Figueiredo não daria posse se o vencedor dessa enganação tivesse sido
Maluf. Todavia, não daria posse também ao ex-aliado, José Sarney, e que se
tornara desafeto. Tensão na sucessão.
O fato é que José
Sarney, dinastia maranhense, assumiu e fez de tudo para ficar mais um ano - o
mandato passou para cinco anos na sua 'gestão'- e conseguiu realizar um dos
piores governos da história da proclamada Nova República. O mérito do PMDB,
então MDB, e, agora, MDB, novamente, foi brigar pela recuperação de uma
certa dose democrática na nação. Um feito que não é pequeno. Sobretudo, com a
tradição de golpes de estado que por aqui se repetem. E não somente no Brasil,
mas em todo continente.
Hiperinflação no fim
do mandato, corrupção desenfreada- reveladas anos após o término dessa tortura-
, dezenas de greves gerais convocadas pelas centrais sindicais, sob o comando
de Luís Inácio Lula da Silva; desabastecimento de produtos de gênero
alimentício, combustíveis e outros; criação de vários ministérios visto
que Sarney entendia que o servidor público e sua malfadada estabilidade seriam
os seus maiores cabos eleitorais. O Brasil oferece uma estabilidade de emprego
para os servidores públicos que não existe em nenhum outro país: fez escola.
Décadas depois, um
corrupto que destruiu o Estado do Rio, o carioca Sergio Cabral Filho, o imitou
e revelava sua admiração pelo plutocrata nordestino.
No seu mandato, 'O
imperador do Maranhão'- alcunha dada por humorismo gaiato- ainda permitia a
interferência de comandantes militares.
Um fato chamou a nossa
atenção para certos poderes ainda conservados;
Pouco antes das
eleições municipais de 1988, um atentado com bombas matou dois siderúrgicos da
CNN , em Volta Redonda, RJ. Poucos dias após esse fato, a esquerda brasileira
vencia as eleições para algumas prefeituras, dentre elas, a surpreendente
vitória de Luísa Erundina, pelo PT, na capital do estado mais rico e populoso.
Foi a primeira vitória do PT para comandar o executivo numa grande capital. No
Rio, Marcelo Alencar, então no PDT Brizolista, quase perdeu a eleição para o
engenheiro conterrâneo, Jorge Bittar, do partido dos trabalhadores.
A constituição tinha
sido promulgada pouco antes e as palavras de Ulisses Guimarães, presidente da
Câmara, ao promulgá-la ainda ecoavam; ' Temos ódio e nojo da ditadura'.
Sarney teve o mérito
de conduzir o processo sucessório à presidência sem traumas maiores. Até porque
o seu desgoverno já era por si muito traumático. Mas Sarney ainda teria uma
maldade a mais para nos premiar: entrou para Academia Brasileira de Letras. O
que para muitos foi o seu maior pecado.
Eleições Diretas. Color 'caçador de marajás'
1989, ano de eleições presidenciais. Eleição só para eleger o principal mandatário do país. Nenhum outro cargo público estava em disputa. Mandato de 4 anos sem direito à reeleição. Vinte e cinco anos se passaram sem que um país com dimensões continentais e uma população gigantesca pudesse ter o seu dirigente maior escolhido. Foram tantos debates e meses de campanha. Muito do material recalcado e escondido no inconsciente emerge naquelas candidaturas e em milhões de compatriotas. Tivemos de tudo. Até mesmo, acredite, dois partidos comunistas concorrendo com seus respectivos candidatos, num estado laico de direito, mas não de fato. Noves fora, aqueles que queriam seus 15 minutos turbinados tiveram essa oportunidade. A tecnologia era mais precária. Quem diria que dois anos mais tarde, avanços tecnológicos ajudariam a derrubar um atarantado egocêntrico- proveniente de uma outra oligarquia político-econômica, nordestina, dessa vez alagoana: Fernando Collor de Mello. Cujo ideal de ego seria tornar-se uma espécie de czar com habilidades de carateca e sessões de magia negra na mansão, ainda que cafona, uma mansão. Apelidada de 'Casa da Dinda'. No pitoresco e nobre Lago Paranoá, lado norte, da Capital Federal.
Collor, o bem-disposto,
aquele que fez campanha com mirabolantes acrobacias aéreas e que fugiu dos
debates todos, no primeiro turno com os seus adversários, ganha a eleição
contra Lula Da Silva, no segundo turno, num cinzento e melancólico domingo de
dezembro (Deixo registrado que gosto de cinza e não vejo simetria entre o cinza
e a melancolia. Foi apenas um hábito de literatices e por falta de inspiração
maior).
Assumiu e confiscou
parte da grana da população- inclusive a que estava, sagradamente para muitos,
preservada na Caderneta de Poupança- ; reduziu o número de ministérios para 12
ou 15 - excelente desde que fosse presidente da Alemanha ou Canadá, mas não
aqui. Tendo sido eleito por uma legenda partidária- que ele próprio inventou e
financiou-, chamada de PRN e que não tinha nem 10% de representação no
Parlamento Federal, Fernando Collor era uma espécie de suicida político. Além
da antipatia contundente que despertara em parte da oposição onde se postulavam
principalmente lideranças sindicais e estudantis; figuras do meio artístico, do
meio jornalístico, intelectuais, cientistas, professores, enfim, os
profissionais formadores de opinião.
Recordo o dia do
confisco. Perplexidade geral. Cada brasileiro correntista passava a ter tão
somente 50.000 cruzados para sacar, acessar. Tanto nas suas contas quanto nas
suas aplicações financeiras.
O restante era
confiscado e seria aplicado para reestruturação do país e estabilização da
moeda, redução dos déficits, diminuir a inflação (que no Governo anterior
atingiu picos de três dígitos ).
O partido da
'reconstrução nacional' (PRN) pretendia arrumar a terra arrasada.
A ministra da
economia, Zélia Cardoso de Mello, paulistana, foi a comandante da pasta
econômica e algoz dessa medida que depois se revelou um gravíssimo equívoco.
O presidente da Sra.
Ministra teve dois méritos. Na verdade, foram três. Alavancou as importações e
posterior abertura de fábrica de automóveis no país - chamando nossos veículos
(e com toda razão) de carroças; trabalhou com um número reduzido de ministérios
(acho que foram 12 ou 15), diferentemente do seu antecessor. Surpreendendo até
mesmo os liberais mais aguçados. Seu antecessor, muito pelo contrário, inchou a
máquina pública com mais de 20 e tantos ministérios. Sabedoria de
oligarca, pois sabe que melhor cabo eleitoral do que os servidores públicos não
há.
O governo Collor,
porém, também foi marcado por escândalos, corrupção, e com índices de
impopularidade muito grandes. De nada adiantou exibir-se correndo, praticando
arte marciais, andando de Jet ski. Carisma forçado, arrogância e megalomania em
alta. Não foram poucas as vezes em que transmitia uma imagem de alguém que
estava alterado emocionalmente.
Seu assessor de
estimação e braço direito em angariar fundos nada honestos para campanhas, para
o governo e para uso pessoal, foi condenado pela justiça. Fugiu, retornou e foi
morto ao lado da namorada bem mais jovem. Perícia feita, jamais soubemos ao
certo o que realmente aconteceu. Contudo, já estavam fora do poder oficial
quando ocorreu o crime.
Numa agradável casa de
praia do litoral nordestino. No belo Estado das Alagoas. Terra de Graciliano
Ramos, Paulo Gracindo, Lêdo Ivo.
Collor desceu a rampa-
mediante impedimento impetrado por advogados, apoiados pela sociedade civil,
pelo parlamento, enfim, a suprema corte.
Um detalhe quase
sempre ignorado por muitos: no dia que desce a rampa do palácio pela última
vez- sem perder a pose imperial- era o prazo derradeiro para a devolução do
dinheiro confiscado, dois anos e meio antes. Collor saiu em setembro de 1992.
Assume o seu vice. O
mineiro de Juiz de Fora, Itamar Franco. Mais um vice. Brasileiro não vota em
vices, mas eles, por essa banda, já assumiram o poder diversas vezes. Desde o
primeiro golpista, Marechal Deodoro da Fonseca, substituído por Floriano
Peixoto, passando por Nilo Peçanha, Prudente de Moraes, Jango e o mais recente,
Michel Temer.
O período Itamar/ Fernando Henrique.
Habilidoso, adepto da política da conversa ao pé da orelha e toda suspeição que cabe a um bom mineiro, Itamar conseguiu garantir uma transição serena para o próximo presidente eleito em 1994.
Através do seu
ministro da fazenda, em substituição ao intempestivo, Ciro Gomes, Fernando Henrique
Cardoso, juntamente com economistas do mais alto gabarito, inventam o Plano
Real. Essa nova unidade monetária que salvou o país. Um país até então sem
crédito internacional. Ninguém conseguia entender as peripécias e cambalhotas
das finanças brasileiras e seus preceptores.
Fernando Henrique, um
intelectual, sociólogo, então senador da república, professor em renomadas
universidades, um dos combatentes contra os regimes ditatoriais e ex-exilado
político, era um ótimo nome. Ao seu lado, sua companheira, Ruth Cardoso, que
tinha o mesmo brilho acadêmico e que se tornou a primeira dama mais importante
que o país já teve.
Paulista de
Araraquara, Ruth Cardoso foi mentora de um dos projetos sociais mais
importantes e que visavam o combate à miséria e inclusão social:
Comunidade Solidária. Uma espécie de precursor do Bolsa Família, criado pelo
PT, em seguida. Detestava o título de primeira dama já que não sofria de
vaidades ou veleidades e uma das obras mais bonitas sobre a sua
trajetória (deixou vários livros publicados) , fora escrita por seu
conterrâneo, o escritor Ignácio De Loyola Brandão.
Itamar quis o Fusca de
volta e ficou de chamego com uma 'modelo' vulgar que 'esquecera' a roupa
íntima, também apelidada de calcinha, para o deleite de fotógrafos, futriqueiros
e sobretudo, inimigos políticos, numa 'cândida' noite de carnaval carioca em
sua passarela oficial para sambas e suas escolas afamadas.
FHC vence a eleição,
em 1994, ao derrotar Lula, Brizola e chegar ao palácio do planalto. Chamado por
muitos desafetos de 'encantador de serpentes', o carioca de classe média, filho
de militar, radicado em São Paulo, ex professor da Sorbonne e que perdera
sua primeira eleição para o poder executivo, em 1985, para o histriônico, Jânio
Quadros, assume o trono em 1995. Era Janeiro. Acho que chovia.
O governo do plano
real - que tirou o país de uma inflação que chegou a 3 , 4 dígitos-
restabeleceu a ordem financeira, a credibilidade internacional; derrubando
inflações; inventando uma nova ordenação progressista para o Brasil. O projeto
de comunidade solidária - tendo a socióloga e primeira dama, Ruth Cardoso, como
uma das suas preceptoras, por exemplo, (projeto que antecede o Bolsa Família de
Lula) também viabilizou uma mudança de status social considerável ao retirar
milhões de brasileiros da linha da miséria.
Um governo que buscou
na diminuição dos gastos públicos, cortando despesas ao diminuir drasticamente
o número de repartições públicas. Não foi um número de ministérios menor do que
o czar alagoano impetrou e também não poderia. Como teria apoio num parlamento
que tradicionalmente é opositora ao mandatário eleito?
O voto no Brasil não é
distrital e temos mais de 5000 municípios - mil deles nascidos entre os anos
dois mil e dois mil e dezesseis- espalhados por todos os cantos e de
forma desproporcional.
Já que falamos do
presidente mineiro, Itamar, cabe recordar que o Estado de Minas Gerais é o
que tem mais municípios. Cerca de 830 mais ou menos. O Estado de São Paulo tem
seiscentos e tantos, mas uma população maior. Em torno de 45 milhões de
pessoas. Constituem os dois maiores colégios eleitorais do país.
A realidade desses
municípios passa ao largo desse sistema representativo tosco e com cerca de 35
partidos políticos existentes. E custa muito caro. Além de ser mais traumático
quando da existência de uma grave crise política. O parlamentarismo teria sido
uma escolha mais interessante - ao meu modo de ver-, porém foi derrotado num
plebiscito, em 1993. Caciques manipularam as opiniões e propagandas em
detrimento do parlamento e enalteceram o presidencialismo republicano como
melhor alternativa enquanto sistema e forma de governo. Na verdade, nada mudou.
A própria Constituição
de 1988, uma constituição necessária para bloquear possíveis intenções de
governos autoritários e suas práticas ilegais, hediondas, permitiu um
coeficiente eleitoral que estabeleceu tetos relativos ao número mínimo e máximo
de parlamentares por cada Estado. Sendo o número máximo igual para todos.
Aliás, o futebol brasileiro é organizado assim.
Por uma maioria
simples, os dirigentes da bola são eleitos. As federações têm o mesmo peso para
eleger o presidente da instituição. Logo, tudo é falso. Temos um federalismo de
mentirinha! Nas terras onde portugueses ficaram língua e lendas, os estados
brasileiros não têm autonomia mínima para se autogerir. Obedecem aos trâmites
da carta 'sagrada' da união. E perambulam com as panelas vazias na outra
mão. Um repórter novato, após atravessar parte do Brasil e das suas
particularidades, recentemente, afirma o óbvio: ' Brasília está muito distante
das realidades do país'.
José Bonifácio de
Andrade -figura ímpar da política nacional e homem de confiança do imperador-
ao retornar dos seus estudos na Dinamarca, teria dito: 'Impossível um governo
central num país tão extenso, tão complexo'. E naquela época, os transportes e
a tecnologia eram toscos. São extensas as nossas singularidades. Uma nação tão
rica sob comandos tão pobres.
Fernando Henrique
Cardoso não é o José Bonifácio, apesar da riqueza cultural, erudição,
elegância, mas iniciou uma transformação considerável.
Privatizações
necessárias, exemplaridade de conduta, flexibilidade ao tratar com a oposição.
Quando indicou para vice, o 'esbelto', Marco Maciel (político pernambucano da
velha guarda da Arena, PDS e crias), à essa altura no PFL, hoje, DEM, foi
criticado pesadamente por quem, anos depois, indicaria um outro velho guarda de
SP, capital, e que lhe aplicaria um 'ypon’ (golpe marcial, não Maciel,
utilizado pelo judô e que concerne a vitória ao lutador que aplica esse
movimento), chamado, Michel Temer.
O tucano, símbolo do
partido criado em 1988, não tinha aonde ir, seguramente. Sabe, mas aprendeu
novamente, que o Brasil é um país viciadamente de centro. Feito esse
federalismo criado em cativeiro a partir do golpista Deodoro e que,
infelizmente, quando cai desaba para extremos de um lado ou de outro buscando
permanência longeva.
Voto dos letrados, dos
analfabetos, dos delinquentes e de gente decente. Até fichas sujas votam. Não
podem mais concorrer, mas conspiram, articulam, manobram votantes que votam. O
Brasil é um oásis de polaridades explícitas e denegadas.
FHC - que se
considerava mais inteligente do que o próprio FHC, segundo o intelectual
carioca, Millôr Fernandes - ficou mais 4 anos. Houve uma votação para aprovar e
legitimar à reeleição. Um mensalão no tucanato? Certamente.
Os quatro primeiros
anos foram muito bons e a arrogância, teimosia e falta de sorte fizeram do
segundo mandato um fiasco. Até apagão houve! Racionamento de energia na marra
por falta de planejamento. Incompetência mesmo. Falta de investimento no setor-
logo, infraestrutura- trouxe perdas enormes para a indústria. A teimosia com a
paridade do câmbio - indicada por opositores sérios tal como a economista de
origem lusitana, Maria da Conceição Tavares- transformou complexos de
vira-latas em complexo de dólares, euros, libras, enfim, os patrões ricos. Com
a crise que atinge países emergentes na Ásia e na Rússia, início de 1999, o
Real sofreu sua primeira desvalorização braba.
A morte de seu líder
na Câmara Federal, presidente naquele momento e possível sucessor em 2002, Luís
Eduardo Magalhães (filho de uma famosa oligarquia plutocrática baiana) e do seu
líder de governo (uma espécie de super-ministro; super secretário|) conhecido
como 'Serjão' pelo porte físico robusto e uma dose de truculência, deixaram-no
completamente sozinho, isolado politicamente. Aliás, uma prática que se tornou
usual no partido de FHC. Vejam como andam as coisas por lá.
Na solidão da secura
do planalto e ao lado do cinismo de outros tucanos, o Presidente Cardoso vê,
perplexo, seu antigo aliado e antecessor (nunca foram amigos ou próximos) , O
Presidente Itamar Franco, assumir o governo de Minas Gerais e decretar uma
moratória da dívida do seu estado. Entenda-se: devo e sei muito bem. E não
pago.
Advém, portanto esse
calote e o país padece de credibilidade - conquistada arduamente-
diminuindo consideravelmente os investimentos internacionais. Justo no
estado que tem uma das maiores mineradoras do mundo. A maior empresa de mercado
de ferro do planeta: A Vale e o seu Rio Doce. Hoje, doente crônico. Entenda-se,
o rio.
Desde que houve o
terrível desastre numa das subsidiárias da Vale, a Samarco, há dois anos e
meio. A Vale foi privatizada em 1997. E a operação de privatização foi
considerada por muitos um desastre. ¹
Além de Itamar, o
pacto por alternâncias no poder também atingia o PT com quem FHC, antes da
vitória em 1994, firmara compromissos e acordos. O já falecido- e homem público
sério, correto, inteligente-, Plínio de Arruda Sampaio, sempre relembrou o
caso. Ele participara desses encontros e desencontros.
Ainda existe palavra
dada?
A política brasileira
é inteiramente personalista. Donde o sintoma patriarcalista - leia-se machista;
de vocação transcendente.
Haverá então um
salvador divino, uma formação transcendente, que resolverá tudo. Portanto,
posso me coçar e me vitimizar à vontade-, sintoma esse, claramente,
religioso.
FHC enfrentou as
crises cambiais ocorridas na Rússia e nos tais tigres asiáticos, no final dos
anos 90. A paridade cambial do real em relação ao dólar, sustentada pelo
ministro de FHC, Gustavo Franco, custou caro. O tombo foi grande.
Tempos depois, veio um
onze de setembro nova-iorquino e que inicia uma nova área nos conflitos e na
geopolítica mundial. Racionamento de energia no país visto que os devidos
investimentos infra estruturais não foram realizados. Prejuízo para empresas,
produção em queda. País mais empobrecido, população também. Aqueles 1% que
detém mais de 50% da nossa riqueza, incluindo umas cinco famílias que recebem
ou receberam dividendos astronômicos pagos por empresas (na casa de bilhão de
reais), sempre se coçando. Mudam tão somente as moscas e a sua gula. Quase
sempre insaciável. E o movimento canibalístico, deletério, prossegue.
Infraestrutura é algo
desprezado irresponsavelmente - e poderíamos dizer propositadamente- pelas
ditas elites políticas e financeiras do Brasil. Infraestrutura não aparece
muito. Não 'paga' tão bons dividendos para classe dirigente. Dependendo do que
seja, fica por baixo- não dos panos- mas do asfalto; das galerias pluviais; no
saneamento básico que evita e previne doenças graves e crônicas; da gestão
prudente que olha para o devir.
O então senador
Fernando Henrique Cardoso redigiu projeto de lei em que propõe taxação de
imposto, proporcional, às grandes fortunas do país. Atravessou todos os 8 anos
do seu mandato e sequer foi posto em votação. Até hoje. E olhem que dois mil
milionários brasileiros já fugiram para o exterior, desde a derrocada em
2103. Portugal e Estados Unidos têm sido os destinos mais procurados. São
várias as razões. Desde tributações mais vantajosas- até para empreender no
país escolhido- , mas sobretudo pela qualidade de vida a ser desfrutada.
O mau
republicano, Trump, de agora e sempre, não gosta de imigrante remediado. O que
dizer dos mais pobres? Porém, em relação aos muito ricos, ele não só gosta como
apoia. Oferece até uns vistos especiais, vantagens tributárias, etc.
1- No início da tarde, do dia 25 de janeiro, de 2019, a quebra da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), provoca a morte de mais de 300 pessoas e um dano ambiental imensurável. A Vale e sua direção novamente no banco dos réus.
Fernando Henrique/ Lula. 2002/2006.
Em 2002, houve eleições para Presidência. A disputa se concentrava novamente entre o PSDB paulista e o PT paulista. Eles se reportam às respectivas legendas como nacionais. Não é bem o que ocorre. Basta verificar a procedência política dos principais postulantes dessa disputa. Lula sempre; Serra, Alckmin alternando-se.
2002. Lula contra José
Serra.
Lula da Silva: o eterno candidato petista ou aquele que orienta- para o partido- quem deve ser. Dessa vez contra o parlamentar paulistano. Ex exilado político nos anos chamados de chumbo, um bom ministro da saúde e péssimo aglutinador (não somente no PSDB) mas no parlamento. Nessa campanha, inclusive, quando ameaçaram - o mesmo centrão direitista que apoia o candidato do PSDB, Geraldo, 2018- lançar a candidatura de Roseana Sarney, filha de um dos piores presidentes e que supõe ser um bom escritor, José Sarney, Serra se enfureceu e já que era membro da situação palaciana federal conseguiu provas e denunciou em cadeia nacional uma pequena fortuna em notas de real e dólares ( dinheiro não declarado e vultoso) encontrados no escritório do marido da pretensa candidata e filha do ex-presidente. Quebrou a 'boa intenção' do clã. Contudo, arrumou uma baita confusão na sua candidatura em termos de apoio nacional. Sarney tinha ainda muitos poderes. Ajudou muito no projeto de reeleição de FHC. Sem a colaboração dele (por interesse pessoal do próprio ex-presidente, é claro) e de outros líderes das oligarquias políticas nacionais tais como: ACM, na Bahia; Jáder Barbalho, no Pará; Marco Maciel, PE; Jorge Bornhausen, SC, entre outros, não teria acontecido um segundo mandato para Fernando Henrique. A intenção de Sarney não era disputar eleição tendo a sua filha como candidata. O mau escritor pode não ser um mau personagem no trato com questões políticas. Muito pelo contrário. Sabia que não teria a menor chance de vitória. Vinda de um estado pequeno e pobre; num país muito machista; reputação do pai-mentor, em nível nacional, péssima; e uma candidata desconhecida da maior parte da população. E questionada, até por aliados, sobre se teria preparo adequado para o tamanho da função. A intenção do ex-presidente era que ela fosse convidada para ser a vice-presidente na chapa do candidato, agora inimigo, Serra.
Serra, por sua vez,
não é ingênuo politicamente. Inteligente, astuto e inábil, sabia que aceitando
Roseana, muito provavelmente, teria que se submeter a um tipo de pressão que
lhe seria inconcebível e indesejado. A voz superegóica dos tucanos, na alta
corte do tucanato, ecoou. Vices empossados têm tradição no Brasil. E a
tradição hipocondríaca do tucano candidato poderia ser reforçada. Vai que tem
um colapso? Uma conspiração? O pai da 'candidata' bem sabe o que é chegar à
presidência pelo tombo fatal do titular da pasta.
Em dois mil e dois, um
assassinato de político repercutiu com força no país. Era Janeiro e ainda
esquentava o verão.
O prefeito de Santo
André, pelo PT, Celso Daniel, fora sequestrado e poucos dias depois seu corpo
aparece numa estrada rural, sem asfalto. Sem regalias ou considerações dignas.
Dizem que foi uma boa pessoa. Houve comoção. Logo, vieram evidências envolvendo
membros do partido dos trabalhadores. O prefeito morto tinha contatos
questionáveis. Parece que resolveu dizer não à gula e sem vergonhice que
ganhava força e envolvia uma máfia de transporte regional. Sabia da situação.
Foi negligente, no mínimo.
Seu assassino o
convidou para jantar em conhecida casa de carnes paulistana. O prefeito de
Santo André foi vítima de 'um Sombra' - nome do mentor do crime e com quem
jantava naquela noite. Na Alameda Santos, São Paulo. Santos por demais, diria
um herege.
Um dos primeiros a
chegar ao velório do prefeito, foi o então governador de SP, Geraldo Alckmin.
Prefeito prestigiado, não? E da oposição? Deve ter sido o efeito dos raios
solares do verão tropical. Ele acelera as moléculas.
Investigação truncada,
prisões e desconfianças de que haveria algo extremamente grave envolvendo
políticos graúdos do partido do assassinado no caso.
O ex-deputado por SP e
delegado, Robson Tuma, numa longa entrevista concedida à TV Cultura/SP, abriu o
jogo, o verbo, língua solta. O que ele disse, num país sério, teria mudado
muito o rumo de futuras eleições.
A família do falecido
prefeito se exilou na França. Ameaças de morte. Mas não estavam presos? O
atirador não morreu de morte matada? O mandante já não morreu? O que mais?
Várias testemunhas morreram ou desapareceram nos meses e anos seguintes.
Lula: o guerreiro que veio de Pernambuco.
Saído de Garanhuns, uma pequena cidade no interior do estado de Pernambuco, onde o inverno é frio e seco, o ex-metalúrgico de origem muito pobre galgou muito mais do que poderia sonhar. Até mesmo quando ainda trabalhava- antes do acidente que lhe arrancou um dedo das mãos, nos tornos mecânicos, para logo depois se tornar o líder sindical mais importante da história do Brasil. Lula passou fome. Hoje, o país tem mais de 16 mil sindicatos. Só para entender, os Estados Unidos têm 130. Com cem milhões de habitantes a mais.
Uma linda história de
vida e trajetória e que termina da forma mais constrangedora visto que o
ex-presidente encontra-se preso, desde Maio de 2018, num presídio de Curitiba.
Sob as mais diversas acusações. Seus defensores declaram que se trata de uma
prisão política. Na minha opinião, acrescente-se à detenção por razões
políticas outras tantas acusações contra o ex-mandatário. E poderia haver
outras.
Ainda assim,
institutos de pesquisa eleitoral- desses que a gente pouco ou nada vê, mas
sobretudo desconhece muitos dos seus métodos de averiguação- o apontavam como o
favorito para o pleito presidencial de 2018 com quase 40 % das intenções de
voto. Já que é considerado ficha suja- condenado em segunda instância -não
poderá concorrer de direito e fato. Sua guarda pretoriana defende que ele só
poderia ser preso se condenado em quarta instância, como prevê artigo
constitucional. Existem diversas leituras e modos de entendimento jurídico
sobre o caso. E o imbróglio prosseguiu.
Lula assumiu o posto
de maior mandatário do país em janeiro de 2003. Dia nublado, no planalto. O
ex-presidente, FHC, passou-lhe a faixa presidencial emocionado. Não era
mentira. Anos depois, FHC afirma que sempre defendeu que certas reformas
estruturais que não foram ou não puderam ser realizadas na sua gestão deveriam
ser feitas por uma liderança mais à esquerda. Alguém comprometido - ao menos na
trajetória dos discursos e contando com apenas um mandato parlamentar como
deputado federal constituinte- com as reivindicações e necessidades, urgentes,
da população mais humilde.
Lula Ignácio era a
figura perfeita. E ele iniciou muito bem o seu primeiro mandato. Do temor
por atitudes mais radicais na sua gestão, mediante a tradição dos discursos
inflamados, o que se viu foi alguém bastante hábil, diplomático. Na montagem do
seu ministério, principalmente. Ainda que já inflacionado. O número de
ministérios no fim do governo dos tucanos atingia o patamar de 16. Na época do
PT, esse número chegou a quase 40.
Sabemos que os
servidores públicos são excelentes cabos eleitorais. Mesmo que algumas pastas
sejam inteiramente desnecessárias. Ninguém até hoje entende muito bem a função
do ministério da Pesca, por exemplo. Nem menos um dos ocupantes dessa
enigmática pasta. O hoje prefeito do Rio, o Pastor Marcelo Crivella. O preço
desse tipo de 'generosidade' é muito custoso aos cofres. Ainda mais quando se
tem um número desmedido de funções comissionadas e que podem se perpetuar
mediante reeleições futuras. O agrado aos parlamentares e prefeitos dos mais
diversos cantos do país- o toma lá dá cá inescrupuloso, sem meritocracia alguma
e propiciador de corrupções, porque o controle e fiscalização das pastas e
aplicação de recursos se perde inteiramente - perpetuam um modo de se gerir as
políticas públicas e cujos resultados bem sabemos e passamos a sentir. Apenas
uma ressalva: toma lá dá cá tem a mesma idade da nossa civilização. É transa
familiar. Tomar isso enquanto algo imoral, sujo, covarde é desconhecer as
necessidades básicas e interesseiras de cada um; de cada setor. Ser humano,
assim como qualquer ser vivo, tem seus interesses. Pergunte a uma bactéria ou a
um vírus ou fungo que habitam nosso corpo aos trilhões? Autores da biologia
contemporânea, a britânica Alanna Collen dentre elas, afirmam que somos apenas
10% humanos.
A inclusão social foi
uma conquista extraordinária. Dezenas de milhões de compatriotas mudaram de
vida. A gente trata a turma por classes sociais e então as classes sociais com
as letras D ou Z tiveram um crescimento socioeconômico significativos. Já tinha
ocorrido um grande avanço com o programa Comunidade Solidária e cuja
preceptora era a figura pensante de Ruth Cardoso, ex - primeira dama do país,
na gestão de seu marido, FHC. Mas o Bolsa Família ou o Programa Minha Casa
Minha Vida, dentre outros, foram muito mais inclusivos.
Houve um momento de
muito orgulho e surpresa, até para os mais incrédulos, pelos resultados obtidos
na primeira administração nacional do PT. É certo que receberam um país em
condições muito melhores de governança do que os seus antecessores imediatos:
Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Mas o início indicava que o país
finalmente poderia, enfim, tornar-se uma nação para valer.
Nesse primeiro mandato
de Lula houve uma clara preocupação com a estabilidade econômica. A instabilidade
que poderia gerar alta de inflação, juros elevados, enfim, todo o desastre que
ocorreu nos anos seguintes, e perdura até o momento, deveria ser evitado a todo
custo. O cenário também era outro: ou seja, acontecia no mundo. Até que veio
2008, segundo semestre.
O presidente Barack
Obama, recém-chegado à presidência, herda a loucura da política de créditos
para quem não poderia pagar- ficou comprovado- e as operações financeiras
temerárias de alguns dos principais banqueiros de lá. O idolatrado JP.Morgan e
outros enfiaram os EUA e por conseguinte o resto do mundo numa das mais gaves
crises econômicas das últimas décadas. Por certo, a pior desse início de século
21. A quebradeira nas bolsas de investimentos do mundo chegou a ser comparada
com a quebradeira de 1929. Houve mortes, crimes, chiliques. Tal e qual.
Não foi, Presidente
Lula, apenas uma marolinha. Ainda bem que vossa excelência nunca se aventurou
no mundo do surf.
Lula/ Dilma . 2010/2013.
Mensalão, petrolão.
Lula faz questão de
fazer a sucessora. Indica sua ex-ministra chefe da casa civil e ex ministra das
Minas e Energia e ex presa política-torturada nos anos de horror, Dilma
Rousseff. Mineira de nascimento, gaúcha por adoção, e de origem búlgara.
Segundo autores
atentos, e por vezes desafetos, o 'Peron ' brasileiro conseguiu transferir seu
carisma e conquistas sociais ( apesar do preço que se paga até hoje mediante os
escândalos políticos e financeiros da sua segunda gestão) para um chamado
'poste sem carisma'. Sim, porque poste carismático dá luz.
Carisma inexistente e
experiência de gestão idem, além de frases e posturas adotadas que se tornaram
motes para programas cômicos, ridicularias. E isso já tinha sido percebido
quando ela exerceu o cargo de ministra chefe da casa civil. Nesse cargo, uma espécie
de primeiro ministro no regime parlamentarista, uma certa falta de habilidade
para o exercício da função era visível. Tinha um flagrante horror- quase
fóbico- para mediação necessária que existe entre o Palácio do Planalto e os
membros do Parlamento. Também se recusava a estabelecer uma agenda razoável
envolvendo delegações e dirigentes estrangeiros.
O pior é que
esquecemos que vivemos num regime parlamentarista de fato. Porém, num
presidencialismo de direito.
O mandato foi
turbulento. A crise mundial deflagrada desde 2008 pelos 'meninos levados' de um
liberalismo radical, cínico e covarde se revelou bem mais mortífera do que pela
tal marolinha proclamada pelo seu antecessor.
Não era difícil
observar os devoradores de 'Wall Street' repensando posições e evocando até-
pasmem- referências socioeconômicas marxistas ou marcuseanas durante
o baque provocado ( esse, por certo, mais sofisticado).
Para quem supõe que o
mercado financeiro é capaz de resolver tudo, conclamar o Estado para dar um
jeito no rombo deve ter sido humilhante. Mas o cinismo logo se resolveu. Vejam
inclusive quem comanda o país deles, desde 2017.
Vencedor direto de um pleito
indireto. Um personagem belicoso e bilionário (é quase simétrica essa transa, e
que não gosta de apresentar o seu próprio imposto de renda), torna-se um ultraliberal,
adotando uma política econômica tão protecionista que até companheiros seus,
alguns radicais, do partido republicano estão assustados.
Dilma não só pedalou.
Essa metáfora para decisões econômicas praticadas não era novidade
irresponsável, temerária. Mas não foi só isso. O conjunto da obra incluía
gastos demasiados, máquina inflada, dificuldades pessoais nas negociações com o Congresso
Nacional e o surgimento de mais evidências e provas de corrupção envolvendo a
cúpula do partido dos trabalhadores. Sobretudo, o chamado escândalo do Petrolão
que devastou a Petrobrás influenciando para o enfraquecimento cada vez
mais evidente de uma presidente que se revelava despreparada, incompetente para
o cargo.
Fazendo um adendo ao
que foi dito sobre práticas temerárias da política econômica, lembremos
do uso de precatórios - cobranças impostas pelo poder judiciário à União,
Estados , Municípios, autarquias, para pagamento de dívidas ,etc. Algo que
aconteceu em várias gestões do país.
Transformavam esse
pagamento das dívidas em emissão de títulos públicos atrelados aos valores do
mercado financeiro. Isso foi proibido a partir da constituição de 1988.
No episódio mais
conhecido, Celso Pitta 'plus' Maluf (prefeito e ex-prefeitos à época, de SP)
não tomaram conhecimento. Emitiram títulos à vontade, alguns falsos e outros superfaturados,
além de não usarem o dinheiro arrecado para o bem-estar social, obras de infraestrutura,
benfeitorias. Um prejuízo de 3 bilhões de reais ao município paulistano.
Há mais de duas décadas atrás.
Em Pernambuco, o
falecido ex-governador, Eduardo Campos, também usou dos precatórios para
reverter, diminuir as dívidas do estado que se encontrava praticamente quebrado
quando assumiu o governo. Contudo, por lá, ele teve êxito. Melhorou as finanças
do Estado. Sem contar o prestígio que a família Campos detém na sua terra
natal. E a mãe do ex-governador obteve, alguns anos depois , um cargo de chefia
no Tribunal de Contas da União: ministra do tribunal. Eram aliados de Lula, até
então. Ela foi indicada ao cargo por ele.
2013/2016. Epitáfio do previsível.
Em 2013, manifestações grandiosas ocorreram no país. Começou em SP e no Rio, e o mote para passeatas era o aumento de 20 centavos nas tarifas dos ônibus. Balela. O motivo era o descontentamento geral com os rumos que a política tomara. Era como se dissessem: ' Não queremos mais um país desse jeito'. Razões de sobra para se gritar. A manifestação que aconteceu em Junho (todas aliás se deram nesse mesmo mês) , na capital federal, foi a mais impactante. Ameaçaram invadir o Congresso, o Palácio do Planalto e agrediram o Palácio do Itamaraty, ou seja, atentaram contra um herói brasileiro: Oscar Niemeyer. Brasileiro não zela pelas suas joias. Abriram-se, pois, a tampa do esgoto e de lá saiu de tudo: ótimas e detestáveis posturas, ações ou ideias. Até que aloprados- desses que têm cabeça, rabo e patas- calcularam mal o tamanho do estrago e assassinaram um cinegrafista de televisão: um funcionário da Rede Bandeirantes de televisão. Se fosse um funcionário de emissora mais poderosa, creio que outras forças já estariam a desfilar seus blindados pelas ruas da capital fluminense.
Um ano depois, veio a Copa
do Mundo de futebol. Conhecida tragicamente como sete contra um ou um passeio
alemão. Logo em seguida, eleições. Rousseff concorre novamente e numa disputa
cabeça contra cabeça vence o Senador por Minas, O neto do Dr. Tancredo.
Após a derrota, ele
passa a desmerecer a vitória adversária e cria um precedente perigosíssimo que
foi desacreditar as instituições responsáveis por apuração, pelo julgamento.
Enfim, colocou um incêndio na lareira vasta do país tropical. Começava por aí o
golpe oficial que se desencadearia um ano e meio depois com o apoio das mesmas
instituições, colocadas irresponsavelmente, sob suspeição pelo senador que,
três anos depois, quase foi cassado após ser flagrado em conversas telefônicas
com empresário corrupto em tom e contexto delinquentes.
Hoje, 2018, ele
concorre para deputado federal. O partido lhe negou a legenda para um outro
mandato no senado federal. Alegaram risco de derrota - e logo para a Presidente
cassada em 2016, e que concorre ao Senado- e lembraram-no que ele talvez precise
de foro privilegiado por causa dos processos que podem bater à porta do seu
gabinete.
A presidente cassada
não perdeu os seus direitos políticos. Incrível, isso! O golpe que levou à sua
destituição, colocou no seu lugar o vice, Sr. Temer, MDB.
Político ardiloso,
antigo jurista e bem considerado por essa função no estado natal, São Paulo.
Professor e velho parlamentar. Já tinha presidido a Câmara dos Deputados.
Indicado por Lula, duas vezes, para ser o 'melhor aliado' da presidente. Não a
chamo nem a chamarei de 'presidenta' pois não conheço 'estudanta' nem tampouco
'presidento'.
Uma colocação pessoal:
parece que a presidente fora eleita para não terminar o mandato. Isso ficou um
tiquinho claro com o decorrer, ainda que breve, do seu mandato interrompido.
Abriu-se a chacrinha do poder. A xepa da feira ainda está disponível.
A inabilidade política
da presidente diante de um quadro gravíssimo, tanto econômico quanto político,
empurraram essa sua tentativa de um segundo mandato direto para o fracasso.
As manifestações de
2013 aliadas ao poder crescente de um PMDB/MDB e que detém o maior número de
prefeituras e parlamentares em todo o país reforçaram essa tese. A de que um
golpe poderia ocorrer. Não um golpe nos moldes de 1964 com baionetas e tanques
num clima mundial de uma guerra nada fria. Porém, através de outros mecanismos
oficias. Ora: vejam o futebol com suas múltiplas câmeras e vídeo 'tapes' a
olhar por nós e o que acontece tantas vezes? Nos gramados e fora
deles. São muitas formações de poder articulando e articuladas o tempo
inteiro.
A eleição do novo
Presidente da Câmara, o conterrâneo e hoje ex deputado e presidiário,
Eduardo Cunha, deu início às manobras para tomada do poder. A inconsequência do
senador derrotado, nas eleições presidenciais de 2014, o Sr. Aécio Neves,
botando chama alta no fogo já deflagrado, ao insinuar fraude eleitoral nesse
pleito em que perdeu, foi outro fato relevante. 'Um terceiro turno'.. Era o que
pregava cinicamente. Hoje, quatro anos depois, diz que foi algo para 'provocar',
'cutucar'. Atitude inconsequente, semelhante às malcriações dos pequenos
mimados, mas bem distante de um político responsável, estimado. Como foi o seu
avô.
Um patriota que deu a
própria vida pelos seus nobres objetivos. Mesmo que eu não concorde com
aquele conservadorismo cristão irritante, paralisado, paralisante, dando a
impressão de um titubear e não decidir com certa contundência necessária nos
momentos mais delicados. Essa por exemplo: democrata cristão palaciano da
plutocracia mineira brasileira. Partido Novo? Não.
Quase tão antigo
quanto os velhos hábitos patriarcalistas do Brasil. Somando-se a uma
característica do brasileiro que é a de apostar nesse direito de considerar-se
uma figura com poderes herdados perpetuando-se na chefia de governos. Uma
oligarquia rica financeira e economicamente. Daquelas que misturam, confundem o
que é da ordem pública com o que é privado. Isso se multiplicou para todas
as camadas sociais. Não é difícil emporcalharmos a nossa própria cidade,
sacanearmos os nossos vizinhos, desrespeitarmos acordos e protocolos firmados....
Seguimos atirando na nossa própria cara. Uma forma de 'self' deletério.
Em abril de 2016, após
uma ladainha de medidas, de julgamentos, recursos, discursos, reuniões,
comissões, brigas, a presidente foi afastada pelo período previsto na Lei. Uma
votação realizada na Câmara Federal e que paralisou o Brasil, numa tarde/noite
de Domingo. Um vexame.
A postura dos
parlamentares foi no mínimo constrangedora. Naquela noite, fez-se um silêncio
ruidoso. Era como se todos- independentemente das posições políticas -
estivéssemos derrotados. E no primeiro turno. E com direito a gol roubado. No
último momento de uma tragédia encenada: sem volta. Para sempre.
Assumiu o seu vice, o
descendente de libaneses, Michel Temer, e que já tinha lhe enviado umas
missivas de mágoas e que se tornaram fofocas públicas.
Ele a avisara, fazia
muito tempo, que não aceitaria aquela condição de coadjuvante. Sabia dos
gravíssimos erros e das negligências cometidas pelo partido dos trabalhadores,
nos 13 anos (número quase cabalístico) em que estiveram à frente do país. Até
porque o PMDB é muito maior que o PT em termos de presença no país.
Acrescente-se a isso a longevidade da legenda. Ah! Agora, golpearam uma
letra. E que não se pense que foi por causa dos gastos e despesas ou
decisão altruísta. Muito pelo contrário: temos, portanto, de retorno um
cacoete, imitação proposital, do velho MDB. Sabemos, pois, que aquele
MDB- dos tempos de Tancredo, Ulisses Guimarães, Pedro Simon, Teotônio Vilela,
entre outros egrégios homens públicos- era bem mais eficiente e
respeitável. A 'novidade' é puro oportunismo eleitoral, 'marketing' e enganação
na PÁTRIA dos, digamos, 'distraídos' eleitores.
A decisão por afastar
definitivamente- não da vida pública- mas da presidência- ocorreu alguns meses
depois.
Após o encerramento
dos primeiros jogos olímpicos realizados no país- e no continente- e
durante as Para Olimpíadas. Nada mais normal em se tratando de uma república
deficiente.
O 'Centrão' de volta.
Posição e grupo político que se notabilizou no período de Fernando Collor no
poder. O Centrão se consistia no seu principal apoio político partidário.
Geralmente reunia parlamentares ultraconservadores e posicionados
mais à direita do suposto 'imperador' das Alagoas.
'O conservadorismo a
serviço do atraso'. Frase do jornalista Elio Gaspari.
2017/2018. En-fim.
O ano das bisbilhotices e suas gravações premiadas. Escândalos e mais escândalos fazendo emergir de um pouco quase tudo.
O governo passou a
operar diretamente de presídios de segurança máxima. Delatores condenados
dedurando quem os promoveu, ajudou, cumpliciou. Malas milionárias transitando,
após a refeição, até modesta, numa pizzaria paulistana. Malas corrompidas.
Houve outros milhões- modestos 53 milhões de reais- encontrados na casa de um
tradicional político baiano. E bota tradição nisso. Está em cana. Até o
presente momento. Mas que não se apoquente porque já encontraram uma outra
bufunfa de mais de 100 milhões em ninhos de tucanos. Brasileiro perdoa?
Temer resistiu. Fitas
promíscuas revelando seus encontros com um 'empresário' poderoso que subiu
feito foguetão- matando boi- assustaram até quem não se assusta mais com o desenrolar
das políticas nacionais e seus comandantes.
Uma intimidade
invejável que o tal 'empresário ‘possuía’ com o atual presidente da república.
Justo quando se indaga: ' Mas ele não é casado? Sim. E com uma bela, jovial e
recatada esposa.' Dito por ela, inclusive.
Pulamos
propositadamente as eleições de 2016. Um erro, por certo. E o trauma? Aqui na
Guanabara o resultado foi desastroso. Talvez tenhamos hoje uma das prefeituras
mais confusas (eufemismo proposital) da história. Eleições municipais são
fundamentais. Influenciam decisivamente nas eleições gerais. Afinal, temos mais
de 5 000 municípios.
2018. Prisões de caciques. Terra de índios?
Lula Preso. Lula livre? Ex governadores presos.
No Rio, a cúpula do
velhaco PMDB fluminense está detida. O ex-governador, Cabral, pegou uma pena
que , se for cumprida, o manterá preso para sempre. Duvidamos, obviamente. Além
desses empresários, advogados, médicos, secretários de governo e deputados também
estão cumprindo pena. A lista é enorme. Muitos em regime domiciliar e vestindo
adereços nada dignos nem tampouco confortáveis. Tornozeleiras eletrônicas são
as preferidas do momento nada elegante ou virtuoso.
O ex-presidente Lula
está detido desde maio de 2018, num presídio em Curitiba. Terra do egrégio juiz
de primeira instância, Sérgio Moro. Uma espécie de herói para muitos
brasileiros. O poderoso juiz da poderosa operação, Lava Jato.
Inimaginável que
aquela liderança política, nascida em 1980, no ABC (hoje ABCD) , e vencedor com
dezenas de milhões de votos, duas vezes consecutivas das eleições
presidenciais, esteja encarcerado. Os defensores alegam ser o ex presidente um
preso político. Recordemos que ele ao deixar o poder, ao menos oficialmente,
possuía índices de aprovação relativos ao seu mandato e popularidade
altíssimos.
Não foi por aquisição
de imóvel de luxo, pago por empreiteira sem a vergonha de ser a oportunista
voraz que sempre foi ou outros quitutes, algumas das razões de sua detenção. O
conjunto da gula, do apetite exagerado, associado à negligência mediante a
roubalheira extraordinária na Petrobrás, por exemplo, -e que ele sabia de
sobejo- além da ambição desmedida pelo poder ( o plano do seu não amigo,
ex-aliado, e temerário irresponsável, José Dirceu) despertaram a ira dos
adversários e a indignação popular. O Brasil, sempre imprudente, mergulhou num
poço fundo sem proteção adequada ou boas técnicas para sobrevivência mais
apropriada.
Eleições. Outubro/18.
As eleições chegaram em outubro. A princípio e em princípio muitas especulações sobre candidatos e candidaturas. Muitas figuras se apresentaram, logo no início de uma conhecida pré-campanha, para em seguida desistirem.
Uma ex-apresentadora
do jornal televisivo mais popular também marcou presença. Ela inclusive foi a
primeira mulher a dividir a bancada do telejornal com um colega jornalista. Sua
campanha, 'infelizmente', naufragou antes mesmo de zarpar.
Campanha iniciada
oficialmente em agosto, depois da Copa do Mundo de Futebol e dos festejos
juninos, os candidatos se apresentaram. Alguns, como o favorito para vencer as
eleições, o ex- militar do exército e deputado federal no seu sétimo mandato, o
paulista de nascimento, mas radicado e adotado politicamente no Rio, Jair
Bolsonaro, estavam em campanha há mais tempo. Se prestarmos atenção à
ex-empresa privada (uma potência do setor petroquímico) onde o seu
'super-futuro-ministro' destacou-se nacionalmente, tornou-se, notoriamente, uma
das maiores anunciantes das emissoras de televisão existentes no Brasil. Isso
já se dá, há pelo menos 5 anos.
Nos canais de
televisão por assinatura, ela é a principal anunciante antes, durante e depois
de eventos esportivos. Esses eventos esportivos, principalmente os jogos de
futebol, sejam eles nacionais ou internacionais, na maioria das vezes, atraem
muito mais espectadores do que os outros programas da rede. Eles se constituem
nas maiores audiências da televisão brasileira. Duvidas? Pergunta lá? E como se
portam os expectadores?
A derrocada e a
desmoralização da classe política que levou à bancarrota empresas, indústrias,
comércio, autônomos, trabalhadores em geral, o mercado financeiro, logo, a
maioria de nós, contribuiu decisivamente para candidaturas muito demagógicas,
populistas e radicais. Especialistas as chamam de 'outsiders'. Nós as
chamaremos de os 'Sem Noção' ou 'Oportunistas de Ocasião' e 'bem-intencionados'.
Nesse momento, o Brasil tem quase 14 milhões de desempregados. Sem contar os
outros milhões de subempregados. O que eles têm em comum? Uma pletora de
infelicidade diária.
O ex-presidente Lula -que é temido politicamente até os dias de hoje por todos os seus adversários- não conseguiu participar, oficialmente, da disputa presidencial. Oficialmente, porque oficiosamente, ele está comandando o jogo, há muito tempo, orientando seus companheiros, mexendo suas peças em busca de sobrevivência pessoal e política. O faz, desde Maio de 2018, trancado numa constrangedora e humilhante cela de cadeia, numa gélida Curitiba.
Cidade onde reside o
juiz federal, Sergio Moro, que o condenou. Dependendo de quem saia vitorioso na
eleição presidencial, o juiz paranaense é cotado para ocupar algum cargo
público no Executivo Federal ou até receber, futuramente, indicação para a
Suprema Corte. Ele nega, frequente e contundentemente, que possa vir a ocupar
algum cargo na esfera política.
Escolheu e ordenou
quem seria o candidato do partido- seu aliado, ex-ministro da educação do PT e
ex-prefeito de SP, Fernando Haddad. Ele teve tão somente três semanas para
engatar a sua campanha. Chegou ao segundo turno das eleições em segundo lugar.
O Presidente eleito. ( 2018)
Jair Bolsonaro foi esfaqueado por um lunático, em Juiz de Fora. Nos braços dos seus seguranças desatentos, em frente à tradicional Loja Riachuelo, que pertence a um daqueles pré candidatos que desistiram, lá atrás, e conhecido como 'o homem do imposto único, Flávio Rocha.
Quase morreu. Foi
salvo por uma competente equipe médica local, para em seguida, transferir-se (ainda
em estado grave) para um dos melhores hospitais do país, na capital paulistana.
Quando a situação aperta, brasileiro com prestígio ou grana corre para os
braços de um Albert Einstein de jaleco branco.
Faz-se notar os acenos
amigáveis e gentis que o ex-capitão do exército brasileiro, agora eleito
presidente, para estadunidenses e israelenses. Estão sempre presentes nas suas
manifestações públicas.
Levou fácil no
primeiro turno. As pesquisas de opinião que são quase sempre manipuladas e
manipuláveis, dependendo dos interesses de certos poderes, engoliram um ranário
e não somente um 'sapo de barbas'. O que acontece nesses fenômenos?
Inteligência e perspicácia eleitoral dos protagonistas eleitores? Mentiras e
omissões- Quando respondem às perguntas dos pesquisadores sobre as preferências
para o outubro cor de rosa- equivocam e alteram todo o quadro de
previsibilidades recortadas. Logo, temos uma amostra. Tão somente isso. Sou a
favor. As pesquisas podem manipular? Por que não as manipular de volta?
Por certo, existem
orientações partidárias, regionais, religiosas, para que muitos assim se
comportem. Mas existe a espontaneidade, no e do direito, de se estar menos
apegado, súbdito às formações opressoras de cabresto, obedecendo ao seu desejo
soberano. Catequese é prática cruel e opressiva. O recurso são as
disponibilidades secundárias, mentais, de reversão do que lhe é imposto.
Rosa é rosa. Azul é
azul. Não são simétricas a nenhuma anatomia ou preferência de gozo. Pode ser também,
'goethianamente', uma luz na escuridão. Ou uma onda luminosa com comprimentos
distintos e frequência x ou y.
O candidato do PSL,
Jair Bolsonaro, iniciou sua campanha há mais de um ano e a agressividade,
sobretudo, contra minorias, gays, negros, índios e opositores diretos foi uma
característica de sua postura. Na votação que proclamou o afastamento e pedido
de impedimento da ex-presidente Dilma, vociferou no microfone do plenário da
Câmara Federal homenageando torturadores (assassinos assim por reconhecer, em
algumas situações) , diante do parlamento lotado e com transmissão televisiva ,
ao vivo, para todo o país. Repetiu o feito diante de dois jornalistas e que
foram vitimados por essa atrocidade, numa entrevista para um canal de televisão
por assinatura. Porém, há de se reconhecer que a sua campanha eleitoral foi
muito inteligente, articulada, sobretudo, astuta. Obviamente, para o que
pretende alcançar e a quem dirigir-se. Utilizaram com perspicácia a tecnologia
das redes e mensagens.
Ferido quase de morte,
na região do abdômen, ele convalesceu observando os seus adversários mais
diretos na disputa eleitoral aumentarem e espalharem agressões,
ataques, piadas jocosas e ofensas contra a sua campanha e pessoa, sem que
esses se preocupassem que os seguidores e/ou pretensos apoiadores do deputado
gravemente machucado. Esses adeptos ou correligionários passaram a se
sentir do mesmo modo: esfaqueados. As imagens do atentado são bastante
fortes. São horríveis, na verdade. Pequeno detalhe sobre o ataque: ele ocorreu
na véspera do feriado de Independência do Brasil. Foi num 6 de setembro.
Quando você coloca o
oponente nas cordas (numa comparação com algumas artes marciais
disponíveis) , e ele já não está conseguindo mais se defender, se insistes com
a surra ou massacre, pode haver reação mais agressiva contra ti ou punição
rigorosa por essa atitude, digamos assim, inclemente. Isso existe em qualquer
combate. Independente da arena em que ocorra.
Recentemente, uma
pesquisa oriunda de importante centro internacional universitário declarou que
a saúde mental global se agravou muito. Não só as comportamentais, mas as que
atingem nossas formações primárias. Estão entre elas as chamadas doenças degenerativas.
Envelhecemos e podemos votar. Podemos também disputar, concorrer. Sempre haverá
um custo alto a ser pago.
Jair Messias Bolsonaro
(a maioria dos eleitores, incluindo os seus, não sabiam desse 'apanágio') ganha
a eleição presidencial no dia 28 de Outubro de 2018, no segundo turno.
Teve 55 % dos
votos válidos. Isso representou cerca de 10 milhões de votos a mais do que o
seu adversário, o pólo oposto, do partido dos trabalhadores - que na minha
opinião ajudou a criá-lo- Fernando Haddad, ex prefeito de São Paulo.
Um ex-capitão do
exército e há 27 anos deputado federal- defensor, publicamente, de militares
que estiveram envolvidos com torturas, assassinatos e desaparecimentos de
presos políticos no país, nos anos 70, e cujo vice é um general, - vence
eleições democráticas no Brasil. Após 35 anos, um militar do exército retorna
ao comando político do país.
Oitenta e um
anos também se passaram desde o nascimento de um outro capitão, desertor do
exército, Carlos Lamarca, e oitenta anos da morte de Lampião. O terror do
cangaço, do sertão nordestino. Uma outra forma de capitão.
Lamarca voltou
impressionado, repleto de encantos, após uma missão oficial no oriente médio e
se impressionou com a miséria dos beduínos, dos pobres do deserto de lá. Foi
fuzilado por ex-colegas de farda, no deserto baiano, em 1971. Dedurado por
sertanejos. Homens simples do povo nordestino. Tinha a idade de Cristo. Trinta
e três anos. Um outro Messias? Para alguns, sim.
Virgulino, o Lampião,
e que gostava de corte e costura, foi fuzilado pelas tropas oficiais, no deserto de
Sergipe. Foi dedurado pelo seu próprio coiteiro. Aquele que lhe abrigava e
informava sobre os passos inimigos a cada região que o bando do cangaceiro
aterrava. Foi barbaramente torturado pelas forças oficias. Não há notícia de
qualquer discurso proferido em homenagem à tortura praticada. Em compensação,
as cabeças degoladas de parte do bando do cangaceiro mais famoso- incluindo a
de sua companheira, Maria Bonita- foram exibidas publicamente. Opinião pública
que contempla.
1-Simone Weil e sua filosofia.
2-Nova Psicanálise. Um
pensamento para o século XXI.
Simone Weil viveu muito pouco, mas o fez intensamente. Morreu aos 34 anos, em Londres. Passou um tempo por NY. Exilada após lutar e denunciar o nazismo e o fascismo que varriam a Europa. Parisiense, de origem judaica, lutou na Guerra Civil Espanhola contra o 'generalíssimo' Franco. O ditador sanguinário que sobreviveu à pensante francesa 32 anos mais. Francisco Franco morreu em dezembro de 1975. Dois anos após aquele que o denunciou, artisticamente para o mundo, algumas das tantas barbaridades produzidas pelo 'franquismo’, através da sofrida Guernica. O malaguenho, Pablo Picasso.
Simone surge como
referência importante nesse texto pela fortuna que uma arrumação doméstica na
biblioteca habitada por mofo e outros parasitas inconvenientes se fez
necessária. Caindo da prateleira, despretensiosamente, o livro se mostrou.
Ficou aquela vontade de dizer, parafraseando o romantismo de Lamartine, poeta
francês, século 19 '... que o livro se abriu na página em que se morre'. Ou
seria ‘.na página em que se ama?'
A filósofa
experimentou os horrores da ascensão hitlerista na Europa e a partir daí inicia
uma série de reflexões sobre política e representações partidárias. O que nos
interessa é que ela, lá nos idos dos anos 30/40, século XX, questiona o
conceito de partido político e cogita a sua supressão. Sua obra mais conhecida
se chama justamente 'Pela supressão dos partidos políticos'.
No momento em que o
Brasil inaugura uma cláusula de barreira partidária e que irá provocar a
extinção de pelo menos dez ou quatorze partidos, nesse universo absurdo de 34
partidos que 'existem' aqui, quem sabe não conseguimos diminuir ainda mais essa
partição toda (exagerada por demais e proposital) mitigando sem piedade (seria
possível?) esse modo de 'articulação' política? De se guerrear politicamente
com os poderes e suas formações, equivocadamente, mas de acordo com o modelo
adotado, há séculos, chamadas de representações.
A confusão é
proposital. O Brasil possui um sistema federativo de faz de conta, por exemplo.
À época da Monarquia, antes da traição de Deodoro, Bonifácio de Andrade, homem
de confiança do imperador, já temia por um poder central com tantos poderes,
sobretudo, num país continental e com tantas diferenças culturais, sociais.
Weil relembra a herança anglo saxônica do conceito de partido político, mas acrescenta que no período do terror (chamado por muitos também como Revolução Francesa) existia considerável temor com a existência e consolidação desses partidos políticos.
Weil relembra a herança anglo saxônica do conceito de partido político, mas acrescenta que no período do terror (chamado por muitos também como Revolução Francesa) existia considerável temor com a existência e consolidação desses partidos políticos.
Uma frase vinda de um
pensador russo, século vinte, anos 20, Tomski, exemplifica essa preocupação:
'Um partido muito poderoso no poder e os outros na cadeia'. Tomski foi
dirigente importante pelo lado bolchevique em oposição à ditadura stalinista
posterior. Foi morto sob as ordens de Joseph Stálin.
Uma das críticas que a
autora faz é que as disputas entre partidos quase sempre produzem um triunfo do
que ela chama de 'paixão coletiva sobre a razão e a justiça'. E essas paixões,
predominantemente de grupos específicos, partidários, sobre a vontade geral.
Nada diferente do que Rousseau já tenha ensinado. Algumas avaliações que ela
dispõe acerca da ideia de justiça, verdade e bem público:
" Um partido
político é uma máquina de produzir paixões coletivas.
Um partido político é
uma organização construída de modo a exercer uma pressão coletiva sobre cada um
dos seres humanos que são membros dele.
O fim primeiro (
e, em última análise, único) de todo partido político é seu próprio
crescimento, sem limite.
Tendo em vista essa
tríade de características, todo partido é totalitário, em potencial e
aspiração. Se ele não o é expressamente, é apenas porque aqueles que o rodeia
não o são menos do que ele. "
O partido político, segundo Simone, funciona tão somente para atender aos interesses específicos de um determinado grupo e concepção de bem público.
E ela continua em
diversos momentos de seu livro esse autêntico libelo contra os partidos:
'A supressão dos
partidos estenderia sua virtude de limpeza para bem além dos assuntos públicos.
Pois o espírito de partido conseguiu contaminar tudo.' E acrescenta: '...a
obrigação de se tomar partido, de se posicionar contra ou a favor, substituiu a
obrigação de pensar. ...Trata-se de uma lepra... '
Sem a supressão desse
mal, os partidos políticos, essa praga nos condenará à morte. É o sentido que
ela indica.
Os partidos políticos,
nesse período que ela retrata, eram totalitaristas. Tanto para o lado esquerdo
quanto para o seu contrário direto. Fascismos, franquismos, stalinismos,
hitlerismos.... Após a segunda guerra mundial, o macarthismo, nos EUA. Esse era
o cenário com o qual se deparava e guerreava contra.
A autora não apresenta
uma saída para a supressão dos partidos políticos. Ela prefere apostar na ideia
de um compromisso estabelecido através da palavra dada. Contrapondo-se aos mais
diversos conceitos do direito, defende a virtude de um direito natural evocando
o mito de Sófocles, Antígona.
O Brasil na sua
singularidade bipolar maníaco depressiva pretende insistir na manutenção desse
modo radicalmente fractalizador, pulverizador de rostos e possíveis ideias,
projetos, posturas mais ou menos contemporâneas.
Muitos autores do
nosso tempo vislumbram um futuro comandado por corporações gigantes. Muitas
unificações empresariais - conglomerados poderosos nos mais diversos ramos de
atuação- exemplificam esse modo de funcionamento para frente. Uma chamada
quarta revolução industrial cujo protagonismo virá da robótica, de um
minimalismo quântico e seus computadores que poderão se rebelar...Resta saber
quem serão os 'guardiães' desses novos vínculos culturais, interpessoais,
hábitos, modelos educacionais futuros que derrogam os modelos anteriores,
muitos deles ancorados num modelo estruturalista já superado. Guardião no
sentido de um zelador - não é pessoa, nem tampouco um demiurgo- dessas novas
corporações. Lembram daquela 'brincadeira' que indaga sobre a necessidade de se
inventar uma instituição que pudesse tomar conta, zelar, pela ONU, por exemplo?
As decisões da ONU,
sobretudo nos últimos tempos, não são do agrado da maioria, por certo. Uma
ditadura de minorias cujos poderes econômicos, financeiros e bélicos se impõem
sobre as demais formações estatais, governamentais.
Os viciados em Estado
forte, grandioso, onipresente, tal qual a maioria das pessoas no Brasil e em
outras partes do mundo, sofrerão o baque. A sociedade brasileira não foi
criada por um movimento de massas. Diferentemente do que ocorreu na Inglaterra.
Por aqui, O Estado é que nos apresentou as regras, as leis, o cardápio a ser
seguido. Conforme todos sabem, mas denegam, os direitos políticos surgiram
primeiro. Os direitos civis vieram depois. Ao menos, no Brasil. No mundo
ocidental civilizado a ordenação foi outra. Até porque alguns desses direitos
políticos foram 'conquistados' em períodos de governos autoritários, ditaduras,
vigentes no país.
A política é o modo como os poderes se articulam, transam. É uma disputa de poderes, entre poderes e pelo poder. Do mesmo modo que não existem inocentes numa guerra, não existem intenções outras senão tentativas de imposição desses poderes de uma formação qualquer - seja ela pessoal, jurídica, estatal, privada, natural ou artificiosa- sobre outras formações. É assim que se guerreia no campo do haver. O tempo inteiro, constantemente, melhor dizendo: pulsionalmente. O tesão que rege essa nossa espécie e tudo o que há.
A política é o modo como os poderes se articulam, transam. É uma disputa de poderes, entre poderes e pelo poder. Do mesmo modo que não existem inocentes numa guerra, não existem intenções outras senão tentativas de imposição desses poderes de uma formação qualquer - seja ela pessoal, jurídica, estatal, privada, natural ou artificiosa- sobre outras formações. É assim que se guerreia no campo do haver. O tempo inteiro, constantemente, melhor dizendo: pulsionalmente. O tesão que rege essa nossa espécie e tudo o que há.
Somos tão somente as
marionetes de uma agonística perene por poderes e suas dominações e
consequências (no campo da medicina chama-se efeito colateral), no reino dos
humanos. Conforme nos indica a Nova Psicanálise.
Em tempos constantes
de guerra e já que não vamos obter nenhuma simetria absoluta ou paz, uma
espécie de sadomasoquismo pulsional indestrutível e estrutural, qual seria
então a mais profícua das guerras? Como
nos situarmos melhor para travessias cada vez mais turbulentas onde a ordenação
pode ser caótica? Não há resposta única para isso a não ser considerar cada
situação, cada formação, a cada momento. A necessária consideração do
aqui/agora enquanto travessia possível de um alucinado futuro.
Estamos numa nova era sem a
hegemonia epistemológica clássica, cuja abordagem representacionista, estruturalista,
mostram-se inteiramente superadas mediante a emergência de uma produção
tecnológica tal que derrogou conhecimentos e pensamentos anteriores e
hegemônicos. Tanto no campo religioso, quanto no campo científico/filosófico, etc.
Na consideração do que a
Nova Psicanálise chama de uma produção de performance genérica da nossa espécie
, no desenrolar da história, as
referências anteriores e que foram geradoras de modelos de organização social e
produtora do que também nos singulariza ( vínculos, produção de próteses, criações) ou seja, um matriarcado ( Chamado de Primeiro Império)
; um patriarcado ( Chamado de Segundo ) com o avanço obtido pela abstração
simbólica desses dois impérios anteriores
, na verdade, a passagem de um para o outro, exemplarmente desenhado e
praticado politicamente pelo pensamento cristão. Chamado de Terceiro Império ou
Império do Filho.
O pensamento
monoteísta indica um referente mais abstrato, acolhedor de outros saberes e
práticas anteriores, ao inventar uma divindade, um transcendente que os chama e
os adota enquanto filhos de um único Deus.
Não mais um Deus encarnado de ossos, vísceras ou vinculado à partido
político ou empresa de comunicação.
As
articulações dessa série infinita de linguagens (E tudo é da ordem da linguagem)
e suas resultantes criativas, inventivas, múltiplas formas, e que nos levaram
às condições em que estamos hoje, enquanto pessoas, transformam radicalmente
nosso modo de se vincular; de pensar. Enfim, estar.
Pensamento único,
certezas incontestáveis, paixões e amores que denegam o ódio, saberes que se
supõem hegemônicos, portanto, opressivos ao agir sobre outros saberes, muito
provavelmente, não se estabelecerão num futuro não muito distante. Esse é o novo rosto do que esse pensamento
chama de um Quarto Império. A possibilidade de varrer o passado (Aliás, o que é
compatível numa análise), buscando assim uma ordenação que seja compatível com
a contemporaneidade. Movimento esse
ainda mais abstrato do que os impérios judaico-cristãos mencionados.
Portanto, políticas a
serem praticadas são da ordem de uma hiper consideração pelos agentes em jogo e
passíveis de mapeamento ‘ad hoc’. Decisões e regras que podem se estender por
bastante tempo até que a eficácia e pertinência da mesma esteja saturada,
esgotada. Essa é a ideia de tempo para
esse teorema . O tempo da durabilidade de uma formação.
Como sustentar então a
ideia de representação partidária? Creio
que será quase impossível.
Hoje, presenciamos, frequentemente,
o ajuntamento de empresas dos mais diversos setores, bastante poderosas, conhecidas
também como conglomerados, cada vez mais fortes, apátridas e dominadores de
produções, novas invenções, prestações de serviços: são os donos do novo mercado. Liberalismo de
última instância?
Ações que produzam
efeitos e que sejam passíveis de alternância no aqui/agora das mudanças. Esse é
o pragmatismo político para os próximos tempos.
Carlos Henrique
S.Dantas ( Carlucho. ) .
Segundo semestre de
2018/ Março de 2019.
Bibliografia:
Revirão 2000/2001: ‘Arte da Fuga; Clínica da
Razão Prática/ M.D. Magno, Rio de Janeiro,
Novamente Editora,
2003.
Velut Luna, A Clínica
Geral Da Nova Psicanálise,; MD. Magno;Seminário 1994, Rio de Janeiro, Novamente
Editora.
Pela Supressão Dos
Partidos Políticos, Simone Weil, Ed Âyné, 2016.
Crise e Reivenção Da
Política No Brasil, Fernando Henrique Cardoso, 1ªed, São Paulo, Companhia das
Letras, 2018.
Guia Politicamente
Incorreto dos Presidentes da República, Paulo Schmidt, Editora Leya, 2016/2017.
10% Humanidade ; Como
os micro-organismos são a chave para a saúde do corpo e da Mente, Allana
Collen, Rio de Janeiro, Ed. Sextante, 2016.
A trajetória do Presidente/ Marcos Lisboa.
Assinar:
Postagens (Atom)