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quarta-feira, 2 de março de 2016

Dançar à beira do abismo. Então tá.

Dançar à beira do abismo traz uma certa controvérsia em relação ao autor/a dessa frase. Já disseram que ela foi plantada nos grotões do Nordeste brasileiro, mas também creditam a tal sentença a um observador inglês.
Observadores estrangeiros fazem muito sucesso por aqui. Isso não é novidade, visto que temos aquela característica em aceitar sem maiores quastionamentos qualquer saber advindo de fora, e por tabela destruir alguma produção caseira que ainda não tenha feito sucesso nas terras, mantendo o GPS ligado, do tal comentador inglês.
Pegando a versão que parece ter vindo do longínquo sertão nordestino, a frase que baila em torno de precipícios fora acompanhada da suspensão imediata dos festejos carnavalescos em diversos municípios do Estado do Ceará. As cidades, dezenas delas, estavam com dificuldades financeiras sérias e os mais diversos serviços públicos e pagamentos dos servidores paralisados ou atrasados.
O comentador inglês deve bem saber que do ponto de vista da produção em série, uma seriação, o nosso Brasil estatal desenvolve, faz muitos anos, um binarismo em que se escreve populismo-corrupção. Não são sinônimos ou simétricos. É uma resultante e que se põe em prática enquanto forma e sistema de gestão governamental. Independente de ideologia ou inscrição partidária. Uma espécie de metástase cancerosa crônica. Existirão aqueles que vão chamar essa nosologia descrita como um neologismo , mas o fato existe. É óbvio. E não só no nível da fala ou escrita.
Estaríamos suicidas? O quanto de loucura - não que o ato de querer por ponto final na sua vida seja ato tresloucado necessariamente- está governando os nossos vínculos, nossas atitudes, nossos poderes?
O fato de não haver a experiência de morte coloca essa espécie - e aqui nesse caso, uma gente brasileira- com enorme tesão para provocar a sua destruição? Desafiando perigos que podem se tornar irreversíveis? Temerários? Infantis? Mito? E não seria mito tão pouco supor que amanhã haverá pelo simples fato de que se deseja que haja?
Alguns intelectuais discutindo o futuro político existencial do Brasil se perguntavam qual seria o messias- o ser transcendental - a emergir enquanto uma 'salvação' ( as aspas são do texto) para questões tão importantes. Messias tem que ter essa pegada transcendente, caso contrário, toma posse como santo do pau oco. A conversa entre os ditos pensantes não foi presenciada por quem tecla essas letrinhas, mas relatada. Parece que falavam seriedades. Mas é um tanto estranho que um grupo de pensantes possa evocar justamente aquilo que creio ser um dos maiores problemas que norteiam as mentes quase todas e que diz respeito a certas crenças e as suas vicissitudes. Então porque não elegemos, em novo plebiscito, um Rei? Aquele primeiro plebiscito no início dos anos 90 foi de araque. Precipitação de um Ulisses - nosso senhor democracia e os seus olhos da cor do oceano que lhe serviu de túmulo- que parecia antever o próprio fim.
São muitos os reis que dividem o imaginário poderoso do nosso povo. Rei do bacalhau, da canção, rainha dos baixinhos, rei do futebol, da putaria, da cara dura. E assim vivemos uma semi-monarquia popular de fato, mas não de direito. Portanto, somos uma galera que aprecia os fatos...mas não tanto. Se nos é conveniente ou ao menos o for para a nossa patota envolvida tanto melhor. Caso contrário, guilhotina neles.
Nessa mesma época, após rodopios dançantes e confiscos de capital diante do buraco fundo Collorido, um conhecido e respeitado sociólogo teve o nome flagrado na lista de doações de um poderoso contraventor do indelével jogo dos bichos carioca ( assim mesmo no plural. A lista de bicharada é extensa) . A patota aliada disse que tratava-se de um erro político. Porém, tinham dito anteriormente - pouco antes da divulgação da lista completa dos beneficiados e ao saber que um adversário político estava na lista- que esse adversário era um anti-ético e calhorda. Pertencia a uma coligação política tida como reacionária, ultrapassada. E olha que esse 'reaça' havia recebido bem menos da bufunfa. Logo, concluímos que o erro político foi ter sido descoberto enquanto mais um contemplado. E a ideia de ética fica também comprometida e ao sabor do tamanho da sacanagem praticada e dos interesses e seus poderes para decidir. Onde? Localmente ou Global? Todos os humanos nascem iguais e por isso... "Sorry", mas não nascem e não são iguais. Brad Pitt- Bradley para poucos- tem a constituição fenotípica que tem e eu não. A genética e a epigenética foram mais generosas com o estadunidense de Oklahoma. Fora todas as outras formações que podem nos ferrar a vida. Imaginem a criança nascida em ambiente hostil das comunidades miseráveis do Brasil ou as novas crianças afegãs, sírias ou as sobrinhas de Donald Trump? Qual seria a canção de ninar possível? Um Brahms' Lullabye com arranjos explosivos, 'wagnerianos', amputações, sangue no teclado, canalhice racista republicana? Para não se esquecer, não há recordação se o dinheiro-contravenção foi devolvido. A causa era nobre.
À beira do abismo só cabe quem se atreve.  E de atrevimento em atrevimento rodopia a canção dessa pátria amada mãe deveras gentil.

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