Existem aquelas pessoas que são especiais pois não morrem.Morre aquele esqueleto que de jovem vira velho,mas a autoria ,cujo esqueleto também porta e vice-versa não.Permanece.
Uma dessas figuras chama-se Clarice Lispector.Escritora,ou melhor,amadora que escrevia ,segundo ela mesma.Dizia isso porque gostava de um compromisso menos compromissado.Tinha razão. A folha,agora tela de alta definição,em branco é pesadelo previsto por qualquer um que se intrometa com as letras.
Clarice era Ucraniana feito a minha amiga que me prestigia aqui no meu pretensioso Blog.Casou-se com diplomata e teve 2 filhos.Pouco se ouve falar deles.
Li tudo ou quase tudo sobre Clarice.Esqueci boa parte para poder retornar quase sempre. Li também sua correspondência com um dos seus melhores interlocutores:o também escritor brasileiro Fernando Sabino.
Já escrevi seu nome com dois ss...Creio que ela me perdoaria sem jamais ter me conhecido.
Morreu de câncer em 1977.Portanto,celebramos 35 anos de saudades e presença constante.Clarice tinha 57 anos e morava no bairro carioca do Leme,cuja densidade demográfica é das maiores do mundo,na rua Gustavo Sampaio.Clarice é uma espécie de heroína da nossa literatura.Viveu seus últimos anos numa rua cujo nome rende homenagens a um herói do exército brasileiro.
Segundo aqueles que investigam cuidadosamente a sua vida e obra,a escritora saía a passear com seu cachorro e permanecia sentada numa pracinha do bairro.A fazer o quê,Clarice? Observar e anotar.Onde? Pouco importava.No canhoto do talonário de cheques,num papel perdido e recuperado em ótima hora,pelo corpo todo.
Trabalho de amadora realizado,retornava para o seu 'bunker'.Ali, transformava algumas palavras em movimento permanente de sentido pleno e vazio.
Outra estudiosa Clariciana nos ensina que os fatos para ela não importavam tanto.Ela ampliava muito tudo aquilo que sentia,via,vivia.
Essa senhora ,Clarice,influenciou-me.
Quando vejo um vídeo,rara entrevista concedida à Televisão Cultura de São Paulo,sinto-me tão distante pois pertinho dali.Ela fala como se estivesse guardando algo na boca.Seriam novas palavras para a descoberta do mundo?Talvez sim ,mas talvez não.
Clarice falava brasileiro com sotaque.Sotaque singular de Lispector.
Macabéa,heroína que nasceu estrela,foi o primeiro que li.Estava lá.Minha família,meus vizinhos,o mundo todo estava lá.
A nossa Ucrânia fica aqui ao lado.Pertinho daquelas pedras que seguram os ânimos de um oceano que chamamos de mar.
Parece que foi ontem.E quem pode garantir que não foi?
Ela talvez tenha dito que sim,pois as coisas mudaram,mas ela permanece.
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