Certa vez, Afonso Romano de Sant'Anna escreveu no Jornal O Globo sobre a queda do Muro de Berlim.Dizia então que algo se erguera nele com a queda do tal muro,com o fim do comunismo na União Soviética.Afonso Romano é poeta consagrado no Brasil.
Janeiro se encerra com o desmoronamento de um prédio que assassinou mais dois.Ele,o desmoronado primeiro,primeiro a cair,a beijar a lona (expressão comum nos lutadores,agora na moda,do UFC) impôs a sua compleição física avantajada e engoliu os oponentes menores.Nocaute.Correria ,pânico,perplexidade,vexame.
O que se ergue em mim (passados mais de 20 anos da poesia bela de Afonso Romano e cujo papel amarelado pela implacável passagem dos dias, trazendo a lembrança daquele ato que derruba para erguer em seguida) após o horror que a negligência estúpida e arrogante daquele gesto que a gente faz nos traz?
Vez ou outra resolvo responsabilizar a estação quente do ano, o verão tão celebrado nos trópicos,por certas estupidezes.Ora! Quanta estupidez,a minha?
A estação retrata tão somente momentos de um até logo, de uma voltinha, de um dar de ombros feito cabrocha bonita, do planeta em relação a certas estrelas que ardem de paixão.E que podem se apagar.Quem disse que era eterno?Eterno só pra mim enquanto eterno,enquanto vivo.
Yellowstone" não é ficção.Se naquele belo parque ,o mais antigo dos EUA,houver uma outra erupção vulcânica violenta,podemos mergulhar o haver numa nova era glacial.
Pois sim...Nada torna responsivo o verão ou o inverno pelas burrices da nossa espécie.Além do mais,narcisismos suspensos,o planeta não quer ser salvo não!Aí está 'yellowstone' e um certo movimento de quadril - nada que se possa comparar ao das mulheres- denominado terremoto.Placas tectônicas que enlouquecem ou pedem passagem de direito e surtam.Suas formações enlouquecem e gritam alto,rangem,desmoronando o que se pode.São cruéis os passos mal executados pelas tectônicas.Nos deixam ,na verdade,"atetctônicos",sem chão.O mesmo efeito depois do balançar da cabrocha que passa.
Não precisamos contudo abreviar a destruição do planetinha.Podemos agir civilizadamente por mais um bom tempo.Nosso Caetano Veloso já ensinou a letra.
Nas minhas tectônicas abaladas pelo prédio que cai e assassina a gente,ergueu-se tão somente essas linhas de agora.Tal e qual para Afonso,lá nos idos dos agora longínquos anos 80.Qual seria a idade da minha memória?
Ontem,ou seja,em 1989,1999 ou 2012,no meio daqueles escombros,revi um colega de infância.Ele fazia um curso para conversar melhor com os computadores.Pretendia alçar outros vôos.Era noite clara no planetinha azul (azul?) e a lua ,superego daquela estrela com quem nossa terra mantém romance antigo,exibia-se bela,feito moça do Rio, no verão que gosto de implicar.Implicar pra quê?Só para implicar.Sou deveras malcriado.
Não tanto quanto certas tectônicas que nos equivocam contundentemente.Sem perdões.
Ergue-se também ,naquilo que digo de mim, a incerteza naquele chão duro ,quente/frio,que é para todos e lugar algum.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Passarinho na gaiola.
Em tempos de Chico Buarque no Rio,saudades do Canecão, e do mate-limão na praia ,sabor de infância,reencontro um conhecido cuja vida correu paralela a minha.Estudamos no mesmo colégio,frequentamos o mesmo clube ,moramos no mesmo bairro e nunca nos vimos.
Tentei lhe perguntar sobre algumas almas penadas em comum,mas ele não havia sido assombrado por nenhuma delas.Já que não era muito afeito às fotos pessoais,minha máquina de época era uma Kodak Xereta e deformava os rostos alheios,não tínhamos provas irrefutáveis da nossa não-amizade ,apesar da trajetória tão próxima.
Passei uma parte do tempo entrevistando-o ,pois a minha presença parecia não lhe despertar nenhum interesse.Nada quis saber a meu respeito.Poderia eu então ser um espião ,um agente secreto....e ele ,talvez,um astro de rock in roll.
Passo parte do meu tempo tentando ser invisível ao me mostrar demais.
Calado,fiz-lhe uma última pergunta: "Você se lembra de um garçom, daquele nosso clube da vida toda em que jamais trocamos duas palavras sequer,e que se chamava Passarinho?"
A resposta que recebi foi a prova de quem ainda pode se surpreender,e muito, com as surpresas da vida.Tal qual aquela frase do ex-Beatle John Lennon " A vida é o que nos acontece enquanto planejávamos outras coisas".
Passarinho,homem tímido e gentil e que servia o melhor milk shake de chocolate do planeta,já que o planeta da minha época era meu clube e nada mais,tinha saído do emprego,há algum tempo.
Disse-lhe então que a última vez que o avistara tinha sido numa festa de reveillon,onde trabalhava num bar improvisado ,no segundo andar ,logo acima da quadra de esporte coberta.Era noite de bebedeira e ilusões.Desejávamos prosperidade até para os inimigos.Noite de cinismo estrelada e o espocar de fogos de artifícios compondo a cenografia.
Alguns poucos anos antes, eu voltara a frequentar o clube com certa assiduidade.Localizei-o e obviamente voltei aos sabores dos tempos em que comecei a sentir sabores pra valer.Reconheceu-me ou fez um belo teatro.Eu,entrando na Universidade, e ele ali,o mesmo.Ao menos para meus olhos não tão cansados.E era isso que importava.
Agora,Passarinho não se fez gavião.Assaltou bancos e foi preso.Vive numa outra gaiola.Confinado,humilhado.Não sei o que o levou a tal ato de herói.Em bancos não há alpiste,e sim muita grana e também desejos cínicos de prosperidade.
Passarinho não serve mais milk shake de chocolate, à beira da piscina dos burgueses do clube, à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas,à beira do paraíso,sempre com o mesmo sorriso de canto de boca.
Está no centro do inferno.
Tentei lhe perguntar sobre algumas almas penadas em comum,mas ele não havia sido assombrado por nenhuma delas.Já que não era muito afeito às fotos pessoais,minha máquina de época era uma Kodak Xereta e deformava os rostos alheios,não tínhamos provas irrefutáveis da nossa não-amizade ,apesar da trajetória tão próxima.
Passei uma parte do tempo entrevistando-o ,pois a minha presença parecia não lhe despertar nenhum interesse.Nada quis saber a meu respeito.Poderia eu então ser um espião ,um agente secreto....e ele ,talvez,um astro de rock in roll.
Passo parte do meu tempo tentando ser invisível ao me mostrar demais.
Calado,fiz-lhe uma última pergunta: "Você se lembra de um garçom, daquele nosso clube da vida toda em que jamais trocamos duas palavras sequer,e que se chamava Passarinho?"
A resposta que recebi foi a prova de quem ainda pode se surpreender,e muito, com as surpresas da vida.Tal qual aquela frase do ex-Beatle John Lennon " A vida é o que nos acontece enquanto planejávamos outras coisas".
Passarinho,homem tímido e gentil e que servia o melhor milk shake de chocolate do planeta,já que o planeta da minha época era meu clube e nada mais,tinha saído do emprego,há algum tempo.
Disse-lhe então que a última vez que o avistara tinha sido numa festa de reveillon,onde trabalhava num bar improvisado ,no segundo andar ,logo acima da quadra de esporte coberta.Era noite de bebedeira e ilusões.Desejávamos prosperidade até para os inimigos.Noite de cinismo estrelada e o espocar de fogos de artifícios compondo a cenografia.
Alguns poucos anos antes, eu voltara a frequentar o clube com certa assiduidade.Localizei-o e obviamente voltei aos sabores dos tempos em que comecei a sentir sabores pra valer.Reconheceu-me ou fez um belo teatro.Eu,entrando na Universidade, e ele ali,o mesmo.Ao menos para meus olhos não tão cansados.E era isso que importava.
Agora,Passarinho não se fez gavião.Assaltou bancos e foi preso.Vive numa outra gaiola.Confinado,humilhado.Não sei o que o levou a tal ato de herói.Em bancos não há alpiste,e sim muita grana e também desejos cínicos de prosperidade.
Passarinho não serve mais milk shake de chocolate, à beira da piscina dos burgueses do clube, à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas,à beira do paraíso,sempre com o mesmo sorriso de canto de boca.
Está no centro do inferno.
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