Vinte anos essa tarde.
Poderia ser o título de um filme.Aliás, adoraria saber produzir um roteiro para cinema.Quem sabe um dia não aprendo? O título ,porém, tenta falar sobre um momento fundamentalista: a discussão apaixonada.
A rua, cujo nome remete à certa pessoa de origem árabe,descia sob a companhia dos colegas de Universidade.Fim de ano,fim das aulas.
Nesses tempos de então ,tinha-se recesso veranil por um longo período.Universidades e escolas em geral não eram creches para uma classe média sem rumo.
Fim de ano tinha cara e cheiro de fim de ano.Agora, há um massacre estético também.Poluem as ruas sem considerar aqueles que não aderem à festinha.É a chamada catequese disfarçada de democracia.
Já considerei o fato de obter conhecimentos aeromodelísticos e executar o meu "September eleven" particular ,nas águas de uma Lagoa famosa.Tolice.Seria pura tolice repetir aquilo que se condena,já que a Democracia ,em último nível, teria que provar do veneno que dera para Sócrates.Aquele grego que não gostava muito de escrever e que tinha como "Ghost Writer" o Dr.Platão.Agimos no' deixa pra lá'.... de agora.E esse agora perdura por milênios.Isso faz estrago.
A rua lá de cima ,escrita aqui,foi descida.Os seus passantes discutem posições.A menina defendia um autor que pouco conhecia e o menino fazia o mesmo.Ambos arrogantes.Ambos jovens.Ambos recém sáidos do forno,ou seja,recém saídos da Universidade.Todos.Ignorantes.E continua-se a descer e a ignorar outras riquezas ,outros conhecimentos.Até porque é impossível a todos todo o conhecimento.Haja narcisismo!Haja pretensão de saber totalitário!E houve muita gente boa que fez disso sua arma principal.
E a catequese ali,do descer e subir rua, também se manifesta.Um tentando convencer o outro sobre o seu achado.Que por certo é mentira,pois não fora dele ou dela,mas de um outro,provavelmente já morto e estrangeiro,tal achado,tal pensamento.Estamos no Brasil ó pá.Sabe-se bem que autoria por aqui é algo bastante condenável.Além do mais, não se deve ignorar que pensar é algo raríssimo.Repetir guloseimas é bem mais comum.
A discussão se acalorou em quase briga.Ela lindinha,ele metido."Mas será que você não percebe que isso é uma maneira cartesiana de considerar as coisas?"- dissera."Sim...mas estamos descendo e há uma esquerda e uma direita a se considerar"!- resposta."Será que não se pode abstrair um pouco?Curvar para perceber outras dimensões,outros espaços,outra estética?"-tropeçando no buraco abaixo.
Olhamos para cima e enxergamos o dedo de outrem.Já era alguma coisa.Há pouco,algo foi olhado e o que se viu foi a imagem do dedo próprio.
De tropeços em tropeços ,viu-se o trem.Não era um trem.Era um ônibus.
A menina fugiu sorrindo entre o balanço dos cabelos,sedutoramente encaracolados, e a promessa de um novo embate.Não se conformara que as suas idéias eram boas,pertinentes ,mas somente idéias.
O menino,machinho,branquinho,machista,partiu contrariado,visto que não convencera àquela que tentara seduzir.
Entra-se no tal veículo.Desconfortável,ambos.Sentidos opostos e há direita,há esquerda.....O menino que, tentara entortar um pouco as coisas, põe as mãos no bolso.O que haveria de tão precioso naquele esconderijo de pano,próximo das cuecas?Uma chave.Sim,pois havia uma chave.Durante o caminho...Uma chave que presentificava uma idéia,uma lembrança.Fica-se triste.O mundo por vezes também se faz triste.A cidade mal iluminada,sem o sol dos humanos,apresenta rostos distintos e calados. Há quanto tempo não caímos na noite pra valer?Indagou um outro metido das ruas afora,o Sr.Poste.
Numa noite de início de século,milênio novo, a luz se foi.O carro foi acionado e as ruas continuavam por ali.Os olhos do veículo focavam o que podiam.Instinto de sobrevivência.O Sr.Poste perdera a soberba ,que vem a ser o pior dos pecados.Estava doente.Fatigado,apagou-se.Mas ainda restava aquela luz humana dos faróis do automóvel!Poucos se arriscaram a cair na noite.E era uma noite de araque ,já que ainda havia os tais olhos de metal a salvar o dia,ou melhor,a noite!E também tinham os ônibus com suas lentes gigantes.Deviam ser míopes.
Fomos ao encontro ,na noite-não noite , de alguém que lá não estaria.Não estava de fato.De direito sim.Imagina-se o que se pode ,ainda que se queira.Delírios,delírios!Quem pode evitá-los?Por acaso não há um dito mundo?Uma menina bendita e um menino metido?
E meteu-se na confusão da chave no bolso de pano.Lembramos dela?A tal chave era do tal carro com olhos para semi-noites.Escondera-se ali,quieta.Conspirava em silêncio de sabedoria.Devia ser mineira.
Olhos desolados e um pedido ao moço que acaricia dinheiro miúdo:' Vosmicê pode abrir aqui essa porta para eu poder retornar e encontrar o meu outro amor?'- disse-lhe a chave em suspiros.
Direita,esquerda,em frente,abaixo...Ufa!Namoro reencontrado!
Pouco depois,o telefone traz pra bem perto a voz do suposto embate: ' E aí?Reencontrou-se?Nada como um bom tropeço para poder acolher outros planos,outras idéias,outros poderes.Senão vira poste e se apaga de vez.'
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