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domingo, 27 de novembro de 2011

Par ou ímpar.Vamos brincar de criança.

Aquelas mãos decididas pela aposta, iniciam a guerra.Par ou ímpar?-alguém com certa autoridade de ao menos perguntar,perguntou.
Um dedo assinala x o outro y.Não há a menor chance para o empate.Escolhas são fundamentais aqui.Não se tem tempo para postergações obsessivas e outros cacoetes estacionados.
Dos dois lados do campo,daquela escola secundária de precariedades, os meninos são escolhidos.Um a um.Você não.Não sabe jogar direito.Você sim.Vai jogar no plantel do Tempestade e do Coisa Ruim.Normalmente,os garotos que não estudavam e só gostavam de outros tesões que não os livros,praticavam esportes com afinco e confusões também.
Esforcei-me.Quase fiz curso para peladas eventuais a não ter que passar por aquele crivo quase sempre humilhante.Levava jeito.Praticara desde pequeno com primos e vizinhos.Salvei-me da expressão desolada que alguns colegas carregavam ao ficar por último....no tal "sorteio".
Comentei com pessoas sobre isso e os mais rodados pelo tempo me advertiam que era assim.A vida era assim.Você tem que mostrar certas competências se quiser prosseguir no jogo.E as crianças são perversas desde quase sempre também.
Quando Freud,no início do século XX ,anunciou o óbvio ,houve tentativas de linchamento.Ele acabara de dessacralizar a tal criancinha.
Pois bem...o jogo já começara e um amigo estava de fora.Ficara quase sempre de fora.Não levava jeito para esse tipo de pelada.Ainda por cima era chato.E feio .E o mais nocivo: um dos melhores alunos de toda história da tal escola.
Freud nos indicara também sobre um tal de Inconsciente.Se tivéssemos nos lembrado,entenderíamos o porquê daquela antipatia para sempre.
Queria ser diplomata,o tal chamado Cú de Ferro ou CDF.Sentava na primeira fila e terminava os testes antes dos demais.Virava-se para o lado,para trás e indagava do professor responsável:"Posso recolher"?
AH... Cú de Ferro....Cú de Ferro!Foi aí que vacilastes!Foi aí que assinaras a tua sentença de desprezo futebolístico perante seus outros colegas!Você era pedante,arrogante!E não era só no esporte bretão que não tinhas a menor habilidade,mas em todos!Lembra-se?Daquele jogo contra os meninos mais velhos e que se achavam donos da escola?Você pressionou autoridades competentes e forçou a sua escalação!Resultado: fostes para a zaga e entregou o ouro para a canalha adversária.
Queríamos o seu pescoço magro e comprido enquanto enfeite de fim de ano.Não lhe davam mais nem ao menos um bom dia sincero.Eu mesmo quis a sua alma.Um dia soubemos que estavas de cama,adoentado.Confesso-lhe, depois desses anos todos, que procuramos, junto à direção do colégio ,saber notícias suas. O diretor à época ,o primeiro capixaba que conhecera na vida, disse-nos que tudo ia muito bem.Silêncio naquele pátio decadente.Alguém chegara a perguntar:" Mas não tem como reverter para pior"?Levou o cartão vermelho.Pegou um gancho de uma semana.Impetramos recurso ,mas nada.Não se tinha contato político adequado por ocasião.Éramos amadores arrogantes.
Voltastes para a selva,isto é,para o convívio com os coleguinhas.
Inteligente,transformou-se em árbitro de quase todos os esportes praticados na escola.Era diligente.O levantador da partida de vôlei armava a jogada.Antes mesmo da preciosa atingir a altura adequada para o ataque,atravessar a muralha de braços e vontades adversárias,ele,o novo árbitro, já pulava no seu banquinho de autoridade.A cena patética sempre se repetia.Nunca errou um lance.Tornara-se um árbitro respeitado até por seus desafetos.E ficou popular.
Na eleição para o grêmio escolar foi o segundo colocado entre os 4 concorrentes.Ganhara poder.Juntava-se então às meninas.Elas reconhecem alguém que lhes faz companhia.Queriam poder.E era só o que o cú de ferro juvenil almejava:poder.E as meninas ,inteligentes ao menos, conquistaram prestigiosa companhia.
Durante o ano seguinte , ele comandou coisas por lá.Deixamos acontecer.Merecemos esse período sombrio,onde foi banido o par ou ímpar.
Houve até um concurso para formosuras. A eleita por simpatia,tornara-se um 'affair' do ex-rejeitado-feio.Ficara insuportável.O poder é um afrodisíaco maravilhoso e perturbador.
No seu aniversário, convidara os mais velhos e a direção e a sua camarilha. Soubemos pelo baixo clero."Ele não convidou nenhum membro do baixo clero?"-indaguei espantado. "Está emburrecendo.Ótimo!"-conclui esperançoso.
Tempos depois, a moça simpática partiu.Mudou-se para o estrangeiro e ,segundo colegas de partido,arrumou um outro poder por lá.Nunca mais a vimos.
O mancebo arruinou-se.Com frequência ,passou a ausentar-se.Tornou-se apagado.Suas notas decaíram.O baixo clero nos avisava sobre tudo.Aquela festa ainda espocava fogos de ressentimento,e o ressentimento é o mais deletério dos sentimentos.
A turma ressentida então organizava-se e escolhia os novos parceiros.Dessa vez a causa era periclitante.Fim de ano,perigo à vista,pois alguns correligionários ameaçavam tombar.Notas baixas,alertava o atento baixo clero.
'Eureka'!Retomemos o par ou ímpar democrático!!Urra,Urra!!
Mãos lançadas,imprevisibilidade no horizonte, escolhas abertas.
Dessa vez o critério também era claro.Os amigos que pudessem colaborar com o salvamento dos que estavam à deriva,teriam prioridade.
No meio da turba ,um rosto pálido surgia dos escombros.Era ele.O ex-feio-Cdf-árbitro-adulador de diretores e ruim de pelada.
Passou o tempo,minutos que não partiam.Um a um.Ele foi o último.
-Mas porque o último.Sou ruim de pelada ,mas sou menos ruim que muitos que aí estão.Além do mais ,sei apitar o jogo.- protestou com veemência.
- Você tem jogado muito mal com a Matemática,com a Física.....Lamentamos.
Decorridos muitos anos,e nenhuma notícia.Talvez tenha se tornado realmente um diplomata.Se bem que é preciso que se tenha aprendido a lidar com o clero mais baixinho.Nem que seja para atravessar com elegância mínima o par ou ímpar de qualquer pelada.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vinte anos essa tarde.

Vinte anos essa tarde.
Poderia ser o título de um filme.Aliás, adoraria saber produzir um roteiro para cinema.Quem sabe um dia não aprendo? O título ,porém, tenta falar sobre um momento fundamentalista: a discussão apaixonada.
A rua, cujo nome remete à certa pessoa de origem árabe,descia sob a companhia dos colegas de Universidade.Fim de ano,fim das aulas.
Nesses tempos de então ,tinha-se recesso veranil por um longo período.Universidades e  escolas em geral não eram creches para uma classe média sem rumo.
Fim de ano tinha cara e cheiro de fim de ano.Agora, há um massacre estético também.Poluem as ruas sem considerar aqueles que não aderem à festinha.É a chamada catequese disfarçada de democracia.
Já considerei o fato de obter conhecimentos aeromodelísticos e executar o meu "September eleven" particular ,nas águas de uma Lagoa famosa.Tolice.Seria pura tolice repetir aquilo que se condena,já que a Democracia ,em último nível, teria que provar do veneno que dera para Sócrates.Aquele grego que não gostava muito de escrever e que tinha como "Ghost Writer" o Dr.Platão.Agimos no' deixa pra lá'.... de agora.E esse agora perdura por milênios.Isso faz estrago.
A rua lá de cima ,escrita aqui,foi descida.Os seus passantes discutem posições.A menina defendia um autor que pouco conhecia e o menino fazia o mesmo.Ambos arrogantes.Ambos jovens.Ambos recém sáidos do forno,ou seja,recém saídos da Universidade.Todos.Ignorantes.E continua-se a descer e a ignorar outras riquezas ,outros conhecimentos.Até porque é impossível a todos todo o  conhecimento.Haja narcisismo!Haja pretensão de saber totalitário!E houve muita gente boa que fez disso sua arma principal.
E a catequese ali,do descer e subir rua, também se manifesta.Um tentando convencer o outro sobre o  seu achado.Que por certo é mentira,pois não fora dele ou dela,mas de um outro,provavelmente já morto e estrangeiro,tal achado,tal pensamento.Estamos no Brasil ó pá.Sabe-se bem que autoria por aqui é algo bastante condenável.Além do mais, não se deve ignorar que pensar é algo raríssimo.Repetir guloseimas é bem mais comum.
A discussão se acalorou em quase briga.Ela lindinha,ele metido."Mas será que você não percebe que isso é uma maneira cartesiana de considerar as coisas?"- dissera."Sim...mas estamos descendo e há uma esquerda e uma direita a se considerar"!- resposta."Será que não se pode abstrair um pouco?Curvar para perceber outras dimensões,outros espaços,outra estética?"-tropeçando no buraco abaixo.
 Olhamos para cima e enxergamos o dedo de outrem.Já era alguma coisa.Há pouco,algo foi olhado e o que se viu foi a imagem do dedo próprio.
De tropeços em tropeços ,viu-se o trem.Não era um trem.Era um ônibus.
A menina fugiu sorrindo entre o balanço dos cabelos,sedutoramente encaracolados, e a promessa de um novo embate.Não se conformara que as suas idéias eram boas,pertinentes ,mas somente idéias.
O menino,machinho,branquinho,machista,partiu contrariado,visto que não convencera àquela que tentara seduzir.
Entra-se no tal veículo.Desconfortável,ambos.Sentidos opostos e há direita,há esquerda.....O menino que, tentara entortar um pouco as coisas, põe as mãos no bolso.O que haveria de tão precioso naquele esconderijo de pano,próximo das cuecas?Uma chave.Sim,pois havia uma chave.Durante o caminho...Uma chave que presentificava uma idéia,uma lembrança.Fica-se triste.O mundo por vezes também se faz triste.A cidade mal iluminada,sem o sol dos humanos,apresenta rostos distintos e calados. Há quanto tempo não caímos na noite pra valer?Indagou um outro metido das ruas afora,o Sr.Poste.
Numa noite de início de século,milênio novo, a luz se foi.O carro foi acionado e as ruas continuavam por ali.Os olhos do veículo focavam o que podiam.Instinto de sobrevivência.O Sr.Poste perdera a soberba ,que vem a ser o pior dos pecados.Estava doente.Fatigado,apagou-se.Mas ainda restava aquela luz humana dos faróis do automóvel!Poucos se arriscaram a cair na noite.E era uma noite de araque ,já que ainda havia os tais olhos de metal a salvar o dia,ou melhor,a noite!E também tinham os ônibus com suas lentes gigantes.Deviam ser míopes.
Fomos ao encontro ,na noite-não noite , de alguém que lá não estaria.Não estava de fato.De direito sim.Imagina-se o que se pode ,ainda que se queira.Delírios,delírios!Quem pode evitá-los?Por acaso não há um dito mundo?Uma menina bendita e um menino metido?
E meteu-se na confusão da chave no bolso de pano.Lembramos dela?A tal chave era do tal carro com olhos para semi-noites.Escondera-se ali,quieta.Conspirava em silêncio de sabedoria.Devia ser mineira.
Olhos desolados e um pedido ao moço que acaricia dinheiro miúdo:' Vosmicê pode abrir aqui essa porta para eu poder retornar e encontrar o meu outro amor?'- disse-lhe a chave em suspiros.
Direita,esquerda,em frente,abaixo...Ufa!Namoro reencontrado!
Pouco depois,o telefone traz pra bem perto a voz do suposto embate: ' E aí?Reencontrou-se?Nada como um bom tropeço para poder acolher outros planos,outras idéias,outros poderes.Senão vira poste e se apaga de vez.'