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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Onde você está?

Onde você está? Essa é a pergunta de agora.Substituiu o famigerado alô.Ninguém mais diz alô!!!.Quem é?Quem está falando?!Por obséquio,o fulano está?Essa é do tempo do sr.meu pai.Cansei de observá-lo a dizer obséquios afora.Tudo era obséquio.Um dia lhe perguntei: 'E aí papai?Como está o seu amigo obséquio?'Papai não me respondeu.Na verdade,ele me disse depois:"Por favor não me perturbe com suas chatices".Papai não estava de bom humor.Quem sabe obséquios a mais ou de menos,faltaram-lhe.
O telefone traz ,além da saudade cumpliciada, uma ansiedade que pode até matar.Aquele chamado que insiste em não acontecer.Você esperou,esperou e ...nada.Não houve retorno.Jamais haverá aquele retorno.Talvez se houvesse tido um distanciamento menos doentio do que saudades mal ditas, a expectativa se diluiria tal qual um toque na tecla mais próxima.
Distanciar-se é também perceber o quanto somos tolos e ingênuos a maior parte do tempo.Um telefone dito ocupado não é desfeita alguma.Ele só está dando bola para outro telefone.Quanta pretensão.E o tempo em que havia telefonista para fazer chamadas?E o tal do interurbano?Caríssimo!Minha mãe a viajar pelo mundo e esse mundo era um outro planeta.Era muito mais distante.Tinha medo ao viajar e pela viagem alheia.
Entretanto, há de se ter certa nostalgia dos tempos em que éramos tão somente tolos e babacas.Agora,há um narcisismo barato que,mediado pela mídia, modula comportamentos cada vez mais estúpidos, fascistas.
E a turma se recusa a distanciar-se um pouquinho.Olhar de lado,espiar mineiramente,suspeitar vez ou outra.Parece até que a famigerada democracia fez com uma rede de esgoto fosse despejada para todos os lados e direções ,sem muita contenção. Afinal,foram décadas de cala a boca.
Elegemos um papai ditador.Sim,elegemos!Ninguém se apodera sozinho.Esvaziamentos e boicotes anteriores nos enfiaram naquele hospício fardado.Nasci ,sem conhecer telefone algum,sob a égide do cajado assassino.E o mundo era aquilo lá,mas tinham coisas gostosas também.
Já acreditei até em televisão.Punha fé que o mundo todo estava ali.O mundo tão somente uma novela.E me apaixonei também.E depositava dinheiro ganho sem esforço num cofrinho ridículo e pretensioso,tal qual o seu mantenedor. Educação financeira em cabeça de incauto é isso.
As economias não foram suficientes para enamorar-me da diva televisiva.Quando consegui alguma grana relevante,ela não estava mais.Tornara-se outro personagem.Claro,seu idiota crescido!Ela mudava de lado,de pele,de sentido,frequentemente.E isso é o que nos assusta!
Confundimos flexibilidade,distanciamento,lucidez,criação,rebeldia,serenidade,reflexão,angústia e o que mais nos faz gente com maluquice.Até mesmo telefone que, não responde ou que avisa que aquele/aquela não estão no momento,corre risco de morte,de corte,de silêncio prolongado.' O coitado ficou mudo de repente'!Risco de se haver vivo.
Folheando a minha agenda de páginas saudosas,amareladas pelo tempo,descubro outras vidas de outros mesmos personagens.Com eles conversei por telefones a fio.Ouço cada voz como se fosse a primeira chamada.De minha mãe escuto uma sonoridade onomatopéica -e sei lá o que isso quer dizer- de alegria por falarmos.Restou esse som.
- Onde estás?Aonde fostes?
Falações que se movem.Só falações....

Um comentário:

andrea dutra disse...

fiquei emocionada com esse texto lindo e sensível. beijo pra vc, querido. Aliás, liga pra mim? ;)